Quem é o paicassino buzzgovernadoracassino buzzSC, professorcassino buzzhistória que negava holocausto:cassino buzz

Crédito, Mauricio Vieira/Secom

Legenda da foto, Governadora interinacassino buzzSanta Catarina, Daniela Reinehr (sem partido) titubeou ao ser perguntada por jornalista sobre passado do pai

Até se aposentarcassino buzz1998, Altair Reinehr lecionava história para crianças da escola estadual Nossa Senhora da Salete,cassino buzzMaravilha, cidade catarinense com 26 mil habitantes, onde indicava a seus alunos livroscassino buzzconteúdo antissemita da editora Revisão, aponta a antropóloga doutora pela Unicamp, Adriana Dias, que pesquisa sobre nazismo no Brasil há maiscassino buzz20 anos.

"Altair indicava livros da editora Revisãocassino buzzsalacassino buzzaula para crianças, isso é muito grave. Durante a minha pesquisa, conversei com alguns alunos que confirmaram que os exemplares eramcassino buzznegação do holocausto, algo que ele mesmo mencionava nas aulas", disse a pesquisadora.

Ex-sindicalista da categoria, Reinehr chegou até a atuar na organizaçãocassino buzzgreves dos professores na décadacassino buzz1980. Em 1985, foi presidente da Associaçãocassino buzzProfessorescassino buzzMaravilha. Ao mesmo tempo que defendia melhores condiçõescassino buzztrabalho para os professores, o catarinense negava crimes da Alemanha nazista.

Para o professorcassino buzzhistória, tudo não passoucassino buzzuma "lenda" criada para ocultar crimescassino buzzguerra dos Aliados,cassino buzzacordo com texto assinado pelo próprio Reinher e publicado no jornal A Notícia,cassino buzzJoinville,cassino buzz2005.

A pesquisa da antropóloga Adriana Dias mostra que Reinehr chegou a colaborar com textos para a editora, criadacassino buzz1987 e que pertencia ao antissemita confesso Siegfried Ellwanger Castan (1928-2010). A publicaçãocassino buzzlivros que afirmavam que "quem sofreu com o holocausto foi o povo alemão" resultoucassino buzzuma condenação por crimecassino buzzracismo no Tribunalcassino buzzJustiça do Rio Grande do Sul. A decisão foi depois confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF),cassino buzz2002, quando teve grande repercussão na imprensa.

No julgamento do STF, ministros leram trechoscassino buzzlivros da editoracassino buzzCastan, que também era autorcassino buzzobras favoráveis ao regime hitlerista. O ministro Maurício Corrêa chegou a citar o livro Holocausto Judeu ou Alemão? Nos Bastidores da Mentira, onde Castan escreveu que "os únicos gananciosos da Grande Guerra foramcassino buzzfato os judeus".

Mesmo assim, o pai da governadora interinacassino buzzSanta Catarina considerou que não havia qualquer indíciocassino buzzdiscurso racista, como ele afirmoucassino buzzdepoimento como testemunhacassino buzzdefesacassino buzzCastan. Na transcrição, é relatado que "Altair Reinehr, ao ser inquirido, declara ter lido todas as obras descritas na inicial, informando que nunca vislumbrou qualquer resquíciocassino buzzracismo a quem quer que seja. Diz nunca ter observado qualquer conduta racista do acusado".

Em 1998, a Justiça do Riocassino buzzJaneiro determinou o recolhimentocassino buzzlivros da editora Revisão na Bienal do Livro por conta do conteúdo antissemita. Dois anos depois, a participaçãocassino buzzCastan na Feira do Livrocassino buzzPorto Alegre também gerou protestos e um embate judicial.

Crédito, Divulgação/nuances - Grupo pela Livre Expressão Se

Legenda da foto, Protesto da organização nuances - Grupo pela Livre Expressão Sexual contra a editora Revisão na Feira do Livrocassino buzzPorto Alegre,cassino buzz2000

As sucessivas derrotas na Justiça brasileira,cassino buzzdiferentes instâncias, geraram a proibição dos livros antissemitas da editora Revisão. Mas até hoje é possível comprar exemplarescassino buzzsitescassino buzzlivrarias virtuais.

"Em 2004, pouco depois do julgamento, lembro que vi livros da editora Revisão na banca no aeroportocassino buzzSalvador", conta Adriana Dias. "Avisei a Polícia Federal, o dono da banca foi detido, obrigado a retirar os livros e a pagar uma multa. São livros com conteúdo falso sobre a história e não deveriam ser vendidos, mas qualquer pessoa pode achar hojecassino buzzlivrarias na internet, infelizmente."

Governadora muda discurso

Na coletiva realizada na manhãcassino buzzterça-feira, o repórter Fábio Bispo, do The Intercept Brasil, perguntou à governadora interina Daniela Reinehr se esta concordava "com as ideias neonazistas e negacionistas sobre o holocausto"cassino buzzseu pai.

Daniela evitou responder diretamente à pergunta e disse que "me cabe, como filha, manter a relação familiarcassino buzzharmonia, independente das diferençascassino buzzpensamento".

O caso ganhou as manchetescassino buzzvários veículoscassino buzzimprensa e também comentárioscassino buzzredes sociais, criticando o que consideraram uma "passadacassino buzzpano"cassino buzzideias nazistas. A repercussão negativa fez Daniela se pronunciar novamente na quinta-feira (29/10), desta vezcassino buzznota*, onde diz ser "contrária ao nazismo, assim como sou contrária a qualquer regime, sistema, conduta ou posicionamento que vá contra os direitos individuais, garantiascassino buzzsegurança ou contra a vida das pessoas".

A reportagem da BBC News Brasil questionou a governadora interina, através da assessoriacassino buzzimprensa, se ela teria lido as obras da editora Revisão que o pai indicava aos alunos, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

Crédito, Reprodução/Instagram

Legenda da foto, Postagemcassino buzzmarço na contacassino buzzDaniela no Instagram mostra a governadora aparentemente ao lado do paicassino buzzvisita à escola Nossa Senhora da Salete

'O Brasil não passou por uma desnazificação', diz pesquisadora

O assunto nazismo não chega ser novidade no Brasil, muito menoscassino buzzSanta Catarina. Emcassino buzzpesquisa, Dias encontrou 334 células nazistascassino buzzatividade no Brasil, sendo 69 delascassino buzzSanta Catarina. A antropóloga diz que a eleição do presidente Jair Bolsonaro deu ainda mais espaço a esses grupos, que apregoam supremacia racial e religiosa.

"Há grandes semelhanças na forma como o nazismo usava a religião para controlar o povo e como o governo Bolsonaro usa as igrejas aqui. É inegável também que muitos grupos e pessoas perderam qualquer pudorcassino buzzexpor pensamentos antissemitas e preconceituosos. Há uma permissividade maior com esses atos", afirmou a pesquisadora.

Com 84% dos moradores se autodeclarandocassino buzzcor branca, segundo o Censo 2010 — maior percentual do país — e com uma fatia significativacassino buzzdescendentescassino buzzalemães vivendocassino buzzvárias cidades —, partescassino buzzSanta Catarina parecem ser um terreno fértil para a circulaçãocassino buzzideais simpáticos ao nazismo.

Contatado pela BBC News Brasil via whatsapp, Odair Batistello, diretor da escola estadual Nossa Senhora da Salete, onde Reinehr lecionou, não quis dar entrevista, mas enviou um áudio dizendo que o professor Reinehr é "um dos ícones da escola e que mais se identificaram com a [escola] Salete".

Em Blumenau, cidade do Vale catarinense que se orgulhacassino buzzsuas origens germânicas, um dos candidatos a vereador nestas eleições é Wandercy Pugliesi, professorcassino buzzhistória conhecido por ter uma suástica pintada na piscinacassino buzzcasa e por ter dado o nomecassino buzzAdolf ao filho.

Para Adriana Dias, o país inteiro possui células nazistas por conta da faltacassino buzzuma divulgação adequada dos crimes praticados pelo regime liderado por Hitler.

"A Alemanha passou por um processocassino buzzdesnazificação após a guerra, mas o Brasil não. Aqui alguns jornais falavam bem do nazismo até o governo Vargas determinar a mudançacassino buzzposição. Então, do dia pra noite, os brasileiros mudaramcassino buzzlado. É por isso que o nazismo é punido com rigor na Alemanha e aqui é algo aceitável", afirma Dias.

A reportagem da BBC News Brasil não conseguiu contato com o professor aposentado Altair Reinehr.

A governadora do Estado, Daniela Reinehr, disse que deve realinharcassino buzzgestão ao governo do presidente Jair Bolsonaro e que revisará decretos sobre a pandemia, focando na retomada econômica. "Minha fala sempre foicassino buzzprevenção,cassino buzzcuidado, mas sem prejudicar o setor econômico", disse. "Nunca fui a favor da generalização do fecha tudo. Eu acredito que precisamos cuidar dos doentescassino buzzacordo com o quadro clínicocassino buzzcada um."

*ÍNTEGRA DA NOTA DA GOVERNADORA INTERINA DANIELA REINEHR:

Antescassino buzzmais nada é preciso declarar que sou contrária ao nazismo, assim como sou contrária a qualquer regime, sistema, conduta ou posicionamento que vá contra os direitos individuais, garantiascassino buzzsegurança ou contra a vida das pessoas, e sinceramente, pensei ter deixado isso claro quando fui questionada durante entrevista coletiva concedida na terça-feira (27/10), independente das palavras usadas. Consigo entender a reação das pessoas ante o posicionamento que me imputaram, e principalmente porque isso aconteceucassino buzzforma injusta, a partircassino buzzuma atitude antiética, que apresentou um vídeo editado, com uma pergunta alterada. Sou amigacassino buzzIsrael e dos Judeus, e qualquer ilação contrária não corresponde com a verdade.

Daniela Cristina Reinehr Governadora Interina do Estadocassino buzzSanta Catarina

Florianópolis, 29cassino buzzoutubrocassino buzz2020.

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