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Guinada socialBolsonaro tende a desidratar 'memória do lulismo', diz antropóloga:
"O punitivismo se refere à abordagemBolsonaro sobre segurança pública. Já a família são os valores e costumes conservadores, que se aliam à base religiosa. Por fim, a assistência social se manifesta nas políticastransferênciarenda", diz ela à BBC News Brasil.
Pinheiro-Machado acrescenta que o último eixo, o da assistência social, que nunca foi o forte do atual governo, ganha força agora, com a concessão do auxílio emergencial e o lançamento do plano Renda Brasil.
"O lulismo já havia perdendo memória nas camadas mais pobres da população e isso deve se acentuar ainda mais agora", assinala ela.
"O dinheiro do auxílio emergencial, por exemplo, já muda a vidamuitas pessoas - e dinheiro significa autonomia", acrescenta.
Ela ressalva, no entanto, que esse fenômeno é regionalizado e não pode ser observadoforma homogênea entre todas as periferias do Brasil. As zonas mais carentes do Nordeste, onde o lulismo é mais forte, precisam ser acompanhadas com mais atenção, acrescenta.
Contexto da pandemia
Anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes,junho, o Renda Brasil é um programarenda mínima permanente, com a unificaçãovários programas sociais, incluindo o Bolsa Família.
De acordo com Guedes, devem ser incluídos no programa os 38 milhõesbeneficiários do auxílio emergencial,três parcelasR$ 600, pagorazão da pandemiacovid-19.
"Aprendemos durante toda essa crise que havia 38 milhõesbrasileiros invisíveis e que também merecem ser incluídos no mercadotrabalho", disse ele na ocasião, durante reunião ministerial coordenada por Bolsonaro.
A mais nova pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada na sexta-feira (14/08), sustenta a análisePinheiro-Machado. A sondagem mostra que a aprovação a Bolsonaro subiu e é a melhor desde o início do mandato.
Segundo o levantamento, 37% dos brasileiros consideram o governo ótimo ou bom, frente a 32% do anterior, realizado23 e 24junho.
Houve uma queda ainda maior na rejeição ao governo. Anteriormente, consideravam ruim e péssimo 44% dos entrevistados. Agora, são 34%. Já 27% consideram o governo regular, ante 23%junho.
Foram entrevistadas 2.065 pessoas por telefone nos dias 11 e 12agosto. A margemerro da pesquisa édois pontos percentuais, para mais ou menos.
Mas mesmo no Nordeste, um reduto oposicionista, a rejeição a Bolsonaro caiu52% para 35%. Ali, ele tempior avaliação: somente 33% consideram seu governo ótimo e bom, altaseis pontosrelação a junho.
A correlação com a distribuição do auxílioR$ 600 é sugerida, ainda que não direta.
No Nordeste, onde vive quase um terço da população brasileira, 45% dos moradores recorreram ao benefício.
Mudançatom
Pinheiro-Machado também faz coro com outros especialistasque Bolsonaro "mudoutom" recentemente.
Desde a prisãoFabrício Queiroz, ex-assessorseu filho Flávio Bolsonaro, investigado no caso das "rachadinhas" e elo entre o gabinete do hoje senador e milícias no RioJaneiro, o presidente vem diminuindo as aparições públicas e incitando menos os apoiadores radicais.
Além disso, também vem estreitando laços com os partidos do chamado "centrão", distribuindo cargos e verbastrocaapoio.
Reeleição
Na visãoPinheiro-Machado, Bolsonaro caminha para fortalecer suas chancesreeleição, ao ter o apoio das massas via programas sociais e das elites, com a agenda liberalPaulo Guedes.
Porém, o manejo da pandemiacoronavírus pode frustrar seus planos, ressalva.
"Tudo vai dependercomo será a gestão da crise daqui para frente. Se continuar morrendo muita gente, aos milhares, isso pode se tornar um calcanharAquiles para Bolsonaro e prejudicarreeleição", conclui.
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