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Combinaçãoblaze é apostapandemia e governos autoritários no mundo é preocupante, diz Lilia Schwarcz:blaze é aposta
Co-autora, com a historiadora Heloisa Starling, do livro Brasil: uma biografia, Schwarcz lançou há cercablaze é apostaum ano o livro Sobre o Autoritarismo Brasileiro, considerado a primeira reação impressablaze é apostaformablaze é apostalivro ao governo Bolsonaro.
De lá para cá, o presidente continuou a demonstrar uma sérieblaze é apostaatitudes autoritárias, afirma a pesquisadora.
Eleito sem participar dos debates públicos, o presidente segue até hoje governando para uma minoria, com discursosblaze é apostapalanque e à frenteblaze é apostauma equipe ministerial formada "à própria imagem e semelhança", quase que exclusivamente por homens brancosblaze é apostaclasse média alta na faixa dos 60 anos, deixando assimblaze é apostacumprir o papel da políticablaze é apostaconstruir consensos na sociedade, afirma.
"O nosso presidente tem atuado com claro negacionismo, tem incitado manifestações, tem tratado com desdém os protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS), quando não deturpa tais protocolos, e isso vai custar muito caro, sobretudoblaze é apostaum paísblaze é apostamarcada desigualdade social", diz a historiadora, que é professora da USP e global scholarblaze é apostaPrinceton.
"Analistas já têm dito que os brasileiros terão problemas para viajar por conta da má condução da pandemia aqui no Brasil".
Na política, enquanto líderes mulheres se destacam criando uma bem-sucedida maneira "feminina e feminista"blaze é apostagovernar na criseblaze é apostapaíses como Dinamarca, Islândia, Finlândia, Taiwan, Cingapura, Bélgica, Nova Zelândia e Alemanha, há o perigoblaze é apostaque a situaçãoblaze é apostaemergência global favoreça o avanço do autoritarismoblaze é apostagovernos que já seguiam essa tendência, como Estados Unidos, Israel, Itália, Hungria e Brasil.
"A pergunta é: o que a pandemia fará frente a líderes mundiaisblaze é apostaraiz e matriz autoritária? Eu tenho muito receio".
Leia os principais trechos da entrevista.
blaze é aposta BBC News Brasil - A senhora acha que a crise política no Brasil atrapalha o foco na saúde?
blaze é aposta Lilia Schwarcz - Piora muitíssimo. Escrevi um artigo no jornal Nexoblaze é apostaque eu chamava atenção para uma sérieblaze é apostanovas dirigentes mulheres que estão, na minha opinião, criando uma nova formablaze é apostafazer política. Eu me refiro às primeiras-ministras e presidentesblaze é apostapaíses como Dinamarca, Islândia, Finlândia, Taiwan, Cingapura, Bélgica, Nova Zelândia e Alemanha.
O que háblaze é apostacomum nessas mulheres? Elas foram bastante rigorosas nas medidas, ou seja, fecharam fronteiras, estão testando massivamente, o que o Brasil não está fazendo, investiramblaze é apostaequipamentos médicos, investiram na saúde, equipando também a populaçãoblaze é apostamáscaras, e sobretudo deram diretrizes muito claras, falaram com a população. Então eu penso que existe talvez uma nova maneira feminina, feminista, já que as mulheres têm esse papel estrutural do cuidado, uma nova maneirablaze é apostapensar na política.
No caso brasileiro a situação é caótica. Você deve ter visto queblaze é apostapesquisas internacionais o Brasil aparece como um dos piores países no que se refere à condução da pandemia.
Analistas estrangeiros já começam a dizer que, quando voltarmos à normalidade - eu acredito que não existirá normalidade depois da pandemia, existirá o que se tem falado uma espécieblaze é apostanovo normal -, analistas já têm dito que os brasileiros terão problemas para viajar por conta da má condução da pandemia aqui no Brasil.
O nosso presidente tem atuado com claro negacionismo, tem incitado manifestações, tem tratado com desdém os protocolos da Organização Mundial da Saúde, quando não deturpa tais protocolos, e isso vai custar muito caro, sobretudoblaze é apostaum paísblaze é apostamarcada desigualdade social.
blaze é aposta BBC News Brasil - No seu trabalho, principalmente para o livro blaze é aposta Brasil: uma biografia blaze é aposta , a senhora pesquisou bastante sobre a gripe espanhola. Em entrevista à BBC News Brasil, o médico Drauzio Varella, por exemplo, disse que não dá para comparar aquela pandemia com esta dos dias atuais. Mas existem lições ou comparações que dá para fazer sobre o que aconteceu com o Brasil naquela ocasião e agora?
blaze é aposta Schwarcz - Eu acho que sim. A gripe espanhola é até hoje considerada e chamada a "mãe das pandemias". Matoublaze é aposta20 a 50 milhõesblaze é apostapessoas e foi,blaze é apostafato, uma pandemia porque afetou o mundo todo. Afetou as Américas, afetou a Europa, afetou a Ásia, os relatos falamblaze é apostacasosblaze é apostatodos os lugares. E afetoublaze é apostatrês grandes ondas.
A primeira foi mais nos Estados Unidos, a segunda tomou a Europa e a terceira, o mundo todo. Foi uma gripe mais curta, ela começablaze é aposta1918 eblaze é aposta1920 já são pouquíssimos os casos. Ela foi uma gripe que pegou a população mundial enfraquecida por conta da Primeira Guerra Mundial, que foi uma guerra muito sanguinolenta.
Encontrou soldados famintos, soldados exaustos, soldados exauridos. Então esses todos são contextos particulares da gripe espanhola.
No entanto, o que háblaze é apostacomum? O tipoblaze é apostamedida que foi adotada no combate à gripe espanhola. As pessoas usavam máscaras, os hospitais foram mais equipados, os teatros foram fechados. Os transportes públicos andavam mais esvaziados.
Enfim, essas medidasblaze é apostaquarentena foram tomadasblaze é aposta1918 e 19, o que é muito interessante pra gente pensar.
Então, algumas lições: primeiro; as pandemias voltam, ou seja, elas vêm por ciclo. Isso faz parte da História. As pandemias vão se tornando às vezes mais violentas, ainda mais agressivas.
Outro ensinamento: é preciso aprender com as experiências dos outros países.
E é preciso aplicar essas experiências às especificidades do nosso próprio país. Isso nós não estamos fazendo.
blaze é aposta BBC News Brasil - Na gripe espanhola o Brasil fez isso?
blaze é aposta Schwarcz - Isso, a gripe espanhola chegou ao Brasilblaze é apostanavio (o navio Demerara, que veio da Europa com 72 passageiros), muito parecido com o nosso caso da covid-19,blaze é apostaque a doença chegoublaze é apostaavião. No caso da gripe espanholablaze é aposta18, o navio paroublaze é apostaRecife, Salvador, Rioblaze é apostaJaneiro e Santos.
E ele veio contaminado, e a contaminaçãoblaze é apostaum primeiro momento foi negada, os brasileiros achavam que a gripe espanhola nunca chegaria ao Brasil.
Mas a partir do momentoblaze é apostaque a gripe se instala, a atitude do governo brasileiro, a depender do Estado, masblaze é apostauma maneira geral, foi muito mais propositiva do que a nossa atitude agora.
Não existia o ministro da Saúde, portanto as atitudes eram centralizadas na figura do presidente da República. E os presidentes no Brasil acabaram se transformandoblaze é apostalíderes nesse sentido, assim como os cientistas. Ganharam vulto pelo combate à gripe espanhola.
A gente teria muito o que aprender. Não é igual, eu concordo com o doutor Drauzio (Varella), porque os contextos são sempre distintos, mas as lições são boasblaze é apostaaprender. Mas a humanidade é teimosa, né? Não aprende.
blaze é aposta BBC News Brasil - blaze é aposta Fora todos os problemas, vê marcas ou impactos ou lições que vão ficar? Mudanças que teremos na sociedade depois da pandemia?
blaze é aposta Schwarcz - Quem diz que sabe,blaze é apostageral... nós não sabemos o que vai acontecer. Muita gente tem feito previsões bastante otimistas,blaze é apostaque sairemos diferentes.
Usando o que eu conheçoblaze é apostaHistória eu acho que nunca se saiblaze é apostauma crise dessas da mesma maneira. Mas também não se sai tão revolucionado como se imagina.
Eu tendo a dizer que eu sou, talvez, otimista no varejo e pessimista no atacado.
blaze é aposta BBC News Brasil - Quero saber se a senhora está mais pessimista ou mais otimista.
blaze é aposta Schwarcz - Não estou nenhum. Eu acho que a gente estáblaze é apostaum momentoblaze é apostaque a gente não pode dizer o que está. Eu acho que muita gente tem falado que as relações nas casas e no lar tem se alterado, se nós pegarmos as últimas pesquisas têm mostrado o contrário: que durante a quarentena, durante o isolamento, as mulheres profissionalizadas estão sendo muito mais prejudicadas do que os homens. Então eu discordo da ideiablaze é apostaque estamos revolucionando as relaçõesblaze é apostagênero dentroblaze é apostacasa.
Também penso que as pessoas não estão parando para olhar o que é uma casa e o que é um larblaze é apostauma sociedade tão desigual como o Brasil. Nós sabemos que 30% dos brasileiros vivemblaze é apostacasas com seis ou mais pessoas, e muitas dessas pessoas têm o seu espaçoblaze é apostasociabilidade na rua, não dentro das casas, onde não é possível a convivência entre todos.
Nós também sabemos que os númerosblaze é apostaviolência doméstica estão aumentando, o númeroblaze é apostaviolência contra as crianças está aumentando. De novo, quando você me pergunta você é mais otimista ou mais pessimista, eu digo: não sei. Acho que existem as duas coisas.
Existe uma classe média, uma classe média alta, que pode estar refletindo mais sobre a divisão do trabalho nas casas, mas existe uma classeblaze é apostabaixa renda que está sofrendo demais com a impossibilidade da quarentena.
A mesma questão vale para a gente pensar nos sistemas políticos. Nós acabamosblaze é apostaconversar que talvez a quarentena esteja mostrando novas dirigentes, novas líderes, líderes mulheres. No entanto, a pandemia também abre uma porta grande para governos mais autoritários.
O grande modelo é o modelo da Hungria, do (Viktor) Orbán, que dá um golpeblaze é apostacima do golpe. Então uma coisa é nós falarmos que estamos vivendo estadosblaze é apostaanomalia,blaze é apostaemergência. Mas isso não quer dizer que esses dirigentes têm o direitoblaze é apostausar esse estadoblaze é apostaanomalia para dar um novo golpeblaze é apostaEstado.
Então, eu tenho muito medo, eu elogio e vejo com muita alegria esses novos governos, essas novas líderes mulheres, mas vejo com muita preocupação o enrijecimento do autoritarismo. A gente não pode esquecer que a pandemia pegou o mundoblaze é apostaum momentoblaze é apostauma nova onda autoritária.
Se a gripe espanhola pegou o mundo no contexto da Primeira Guerra Mundial, e teve consequências terríveis, vamos trazer agora para o nosso contexto. A pandemia está pegando o nosso mundoblaze é apostaum momentoblaze é apostacrescimentoblaze é apostagovernos autoritários, nos Estados Unidos,blaze é apostaIsrael, na Itália, na Hungria, que já citamos, e no Brasil.
Então, a pergunta é: o que a pandemia fará frente a líderes mundiaisblaze é apostaraiz e matriz autoritária? Eu tenho muito receio.
blaze é aposta BBC News Brasil - Na blaze é aposta H blaze é aposta istória do Brasil, já houve momentos tão desafiadores, difíceisblaze é apostacolocarblaze é apostauma caixinha para análise? Como você vê este momento na biografia do Brasil?
blaze é aposta Schwarcz - A biografia do Brasil eu escrevi junto com uma grande historiadora, a Heloísa Starling, e nós, na conclusão do livro, dizemos que o Brasilblaze é apostavários momentos já se encontrou e se desencontrou. Ou melhor, já viveu muitas crises, mas achou boas soluções.
Eu gostoblaze é apostacitar o momentoblaze é apostagrande crise que foi o momentoblaze é apostaque Getúlio Vargas comete suicídio. É possível dizer que o povo na rua evitou, por alguns anos, a chegada da ditadura militar. Mas era um momentoblaze é apostatremendo caos político,blaze é apostatremendo caos econômico, e talvez semelhante ao que nós vivemos agora.
Todas as testemunhas que participamblaze é apostaum momento tendem a achar que o seu momento é único. Porque faz parte da ideia da testemunha. Segundo a Hannah Arendt, a testemunha é aquela que fica para contar. E a gente só pode narrar aquilo que nós experimentamos. É por isso que o passado fica sempre mais longínquo nesses momentos.
Mas talvez essa experiência não seja tão única, talvez seja horablaze é apostaa gente pensarblaze é apostasaídasblaze é apostamais longo prazo, saídas que tornem mais forte a nossa democracia, ou seja, que a gente não adie o problema mas que gente enfrente cada vezblaze é apostamaneira forte. Enfim, todo momento é único, mas todo momento dialoga no momento da História, não é?
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