Coronavírus: os sete erros que põem Brasil na rota do 'lockdown', segundo especialistas:bônus da bet365

O Brasil começou bem com o isolamento social com alguma antecedência, mas cometeu alguns erros ao longo do caminho que colocou o país na rota do lockdown. A BBC News Brasil falou com cinco especialistas da áreabônus da bet365saúde para entender que erros foram esses e por que o confinamento total pode ser a melhor solução para algumas regiões.

1) Adesão irregular ao isolamento social

O primeiro motivo citado por especialistas para uma eventual necessidadebônus da bet365restrição severabônus da bet365circulaçãobônus da bet365pessoas ou o confinamento compulsório é que simplesmente muitas pessoas não fizeram o isolamento social proposto até agora ou abandonaram a quarentena no meio do caminho.

"Se formos pensar no país como um todo, o isolamento foi muito irregular. Em alguns lugares, praticamente não existiu", avalia Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileirabônus da bet365Infectologia.

Na visão da epidemiologista Raquel Martins Lana, "o isolamento começou a ser afrouxado no momento mais crucial". Como o vírus demorou um tempo para chegar ao Brasil, regiões do país até começaram a se preparar com antecedência.

"A gente estava indo relativamente bem, com tempo para construir hospitaisbônus da bet365campanha, aumentando o númerobônus da bet365leitos e ganhando certa vantagem para deixar a transmissão mais devagar", diz ela.

"A epidemia ficou um pouco mais lenta no Brasil e houve um pequeno retardo no colapso do sistemabônus da bet365alguns lugares. Mas quando a gente ia ver isso, o isolamento foi abandonadobônus da bet365muitos lugares, e rapidamente houve um aumentobônus da bet365casos graves."

Lana é integrante do Mave, grupobônus da bet365trabalhobônus da bet365pesquisadoresbônus da bet365computação científica da Fiocruz e matemática aplicada da Fundação Getúlio Vargas que vem analisando a situação da disseminação do vírus no Brasil.

"Se tivéssemos continuado com o isolamento como no início, provavelmente não precisaríamos agorabônus da bet365uma medida radical como o isolamento obrigatório. A gente tinha adesão alta. Não era uniforme, não era igualbônus da bet365todos os Estados, mas estava funcionando", afirma.

2) Anunciar futura flexibilização da quarentena

Para o epidemiologista da USP Paulo Lotufo, gestores que anunciaram a flexibilização da quarentena no futuro cometeram um grande erro. O Estadobônus da bet365São Paulo, por exemplo, comandado por João Doria, acertoubônus da bet365adotar o isolamento social com certa antecedência enquanto simultaneamente aumentava a capacidade do sistemabônus da bet365saúde.

Masbônus da bet36520bônus da bet365abril, Doria anunciou que a quarentena seria flexibilizada, caso alguns critérios fossem cumpridos. A data prevista para essa flexibilização era abônus da bet36511bônus da bet365maio, três semanas depois do anúncio do governador.

Para Lotufo, teria sido um erro aventar essa possibilidade. "A leitura que passou para a população foi que 'opa, tudo bem, está liberado'", diz ele. "O que estamos percebendo é que quando você sinaliza com uma data, as pessoas já assumem a postura na hora."

Não foi só no governo do Estado. Algumas cidades paulistas também quiseram flexibilizar a quarentena ainda antes da data estipulada por Doria, e isso foi comunicado para a população.

Stucchi, da Unicamp, diz que anúncios assim passam a impressãobônus da bet365que está "tudo bem". "Essas notícias acabam confundindo muito. A leitura das pessoas é: 'Se ele já está falando que vai flexibilizar no futuro, é porque está tudo bem agora, eu posso abrir minha lojinha aqui, reunir meus amigos'."

3) Faltabônus da bet365restriçãobônus da bet365circulação durante feriados

Outro erro,bônus da bet365acordo com Lotufo, foi não ter havido restrições durante a Semana Santabônus da bet365São Paulo. No período do feriado,bônus da bet3655 a 11bônus da bet365abril, muita gente viajou para o interior do Estado e para o litoral. "Deveria ter havido um bloqueio, ninguém poderia entrar nem sair da cidade. Teve ida e vinda muito grande entre os municípios", diz ele.

Stucchi menciona que houve três feriados consecutivos no último mês: Páscoa, Tiradentes (21bônus da bet365abril) e 1ºbônus da bet365maio. "Deveria ter havido maior bloqueio e restriçãobônus da bet365estradas para dificultar a locomoçãobônus da bet365pessoas", opina.

4) Comportamento do presidente minimiza riscos e confunde população

Desde o começo na pandemia no Brasil, Bolsonaro tem abertamente desrespeitado as regrasbônus da bet365distanciamento social, incentivando, participando e inclusive causando aglomerações na capital federal.

No dia 15bônus da bet365março, quando o Ministério da Saúde recomendava que aglomerações fossem evitadas e a Organização Mundialbônus da bet365Saúde (OMS) já recomendava o afastamento social, Bolsonaro celebrou embônus da bet365conta do Twitter atos que estavam acontecendo pelo país — depoisbônus da bet365negar que ele mesmo os tivesse convocado.

Chamou a covid-19bônus da bet365"gripezinha", minimizando a doençabônus da bet365rede nacional no dia 24bônus da bet365março.

No dia 29bônus da bet365março, um dia após seu ex-ministro Mandetta defender o isolamento social e recomendar que as pessoas não saíssem às ruas, Bolsonaro deu um passeio por várias partesbônus da bet365Brasília. Entroubônus da bet365uma farmácia ebônus da bet365uma padaria, causando aglomeração e tirando fotos com apoiadores — entre eles, pessoas com maisbônus da bet36560 anos, parte do grupobônus da bet365risco para o coronavírus. Depois disso,bônus da bet365outras duas ocasiões, nos dias 9 e 10bônus da bet365abril, voltou a sairbônus da bet365passeios por Brasília, causando mais aglomerações e abraçando e dando apertosbônus da bet365mãobônus da bet365apoiadores.

Bolsonaro também chegou a participarbônus da bet365uma manifestação. No dia 19bônus da bet365abril, endossou e estevebônus da bet365corpo presentebônus da bet365um protesto com bandeiras contra a democraciabônus da bet365Brasília. O presidente até discursou na manifestação.

A últimabônus da bet365suas aparições claramente violando as recomendações da OMS ebônus da bet365seu próprio Ministério da Saúde foi neste domingo, 3bônus da bet365maio, quando foi à rampa do Palácio do Planalto falar com apoiadores. Sem máscara, não respeitou o distanciamento social e pegou crianças no colo para tirar fotos.

Além disso tudo, desde o começo da pandemia, o presidente do Brasil vem fazendo uma sériebônus da bet365declarações minimizando a doença causada pelo coronavírus e rechaçando medidas para conterbônus da bet365disseminação pelo Brasil. "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?", disse ele quando o país ultrapassou a marcabônus da bet3655 mil mortos na semana passada.

"É um desserviço imenso, e influencia muito a população", avalia Stucchi. "De um lado, vemos na televisão notícias sobre a pandemia, sobre o coronavírus. De outro, vemos o presidente dando beijinhos, abraços, andando sem máscara e atraindo multidões", diz ela, citando como contraponto a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden, e seus pronunciamentos sobre o coronavírus e a importância do distanciamento social.

Para ela, "a postura do presidente tem dificultado o trabalhobônus da bet365todos que tentam mostrar, a área da saúde e da imprensa, qual é o caminho que deu certo nos outros locais e o que é importante para controlar a transmissão". "Certamente não é um caminho com essa faltabônus da bet365exemplo, essa remada contra a maré que vem sendo feita pelo presidente."

5) Dissonância entre Bolsonaro, governadores e prefeitos confunde e dificulta diretriz única

À postura inadequadabônus da bet365Bolsonaro frente às recomendações da OMS para o enfrentamento do coronavírus, soma-se a dissonânciabônus da bet365discursos entre presidente, governadores e prefeitos.

Enquanto Bolsonaro minimizava a pandemia no Brasil e defendia a continuidadebônus da bet365serviços para evitar danos econômicos, governadores foram os primeiros a adotar medidasbônus da bet365isolamento social nos Estados brasileiros para tentar achatar a curvabônus da bet365infecções no país.

A disputa vem se arrastando desde o início da crise. Na semana passada, Bolsonaro disse que a "fatura"bônus da bet365mortes deveria "ser enviada aos governadores".

Para Ana Maria Malik, professora da Fundação Getúlio Vargas e coordenadora do centrobônus da bet365gestãobônus da bet365Saúde da instituição, isso é um problema porque mostra que "não há clara governança nacional, na qual as pessoas consigam acreditar" e saber "qual é a diretriz para o país e para cada região".

"Os discursos não estão afinados, o que causa insegurança na população", diz ela. "A população acaba achando que pode tomar suas decisõesbônus da bet365fazer ou não o isolamento, já que os mandantes não estãobônus da bet365acordo uns com os outros."

Para Stucchi, a faltabônus da bet365uniãobônus da bet365diretrizes também afeta municípios e Estados, "o que acaba trazendo muita confusão para a população". À revelia do governobônus da bet365São Paulo, por exemplo, Campinas e Ribeirão Preto já anunciaram planosbônus da bet365reabertura do comércio.

6) Troca do ministro da Saúde dificultou adesão da população

No meio da pandemia, no dia 16bônus da bet365abril, Bolsonaro demitiu seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O Brasil não havia chegado ainda ao pico da epidemia, e vinha numa crescentebônus da bet365contaminações.

Antes da demissãobônus da bet365Mandetta, houve semanasbônus da bet365embates entre Bolsonaro e seu ministro, principalmente porque o presidente discordavabônus da bet365manifestações deste a favor das medidasbônus da bet365isolamento social.

"A trocabônus da bet365gestão no ministério no meio da crise aconteceu quando a gente estava conseguindo maior adesão da população. Perdemos muito tempo com isso", diz Lana, da Fiocruz. "Isso desestruturou toda a população, que ficou sem saber o que fazer. Desmobilizou a gestãobônus da bet365saúde e consequentemente a população."

O oncologista Nelson Teich assumiu o ministério da Saúde no lugarbônus da bet365Mandetta, e só deu uma coletivabônus da bet365imprensa quase uma semana depoisbônus da bet365assumir a pasta. Seu antecessor dava entrevistas coletivas diárias para responder a perguntasbônus da bet365jornalistas e informar a população sobre o coronavírus e as medidasbônus da bet365contenção tomadas no país.

7) Notícias falsas e promessasbônus da bet365curas milagrosas que desviam atenção da necessidadebônus da bet365isolamento

Promessasbônus da bet365tratamentos que "curariam" a covid-19, doença causada pelo coronavírus, também podem ter causado a impressãobônus da bet365que a quarentena não era necessária.

A hidroxicloroquina, por exemplo, foi propagandeada por Bolsonaro como solução do Brasil para a doença. O presidente recomendou o uso do medicamento — que ainda não tem comprovação científicabônus da bet365sua eficácia contra a covid-19 —bônus da bet365suas redes sociais e atébônus da bet365um pronunciamentobônus da bet365rede nacionalbônus da bet365rádio e TV.

"O Brasil e os Estados Unidos fizeram o uso inadequadobônus da bet365promessasbônus da bet365tratamentos curativos e milagrosos. Isso faz com que possivelmente muita gente comece a se automedicar e demorar mais para ir ao hospital", diz Stucchi.

"O uso político da cloroquina foi um desserviço e pode ter tido reflexo negativo para o isolamento. As pessoas pensam que tem uma cura, um remédio baratinho que qualquer um pode comprar, e que vai ficar tudo bem."

Ela também destaca o papel que possivelmente notícias falsas podem ter exercido na quarentena.

De fato, houve circulação relevantebônus da bet365notícias falsas minimizando a gravidade da covid-19 no Brasil. Uma pesquisa feitabônus da bet365parceria pelos projetos Eleições Sem Fake, do Departamentobônus da bet365Ciência da Computação, da UFMG, e Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, analisou 2.108 áudios que circularam entre os dias 24 e 28bônus da bet365março,bônus da bet365522 grupos públicosbônus da bet365WhatsApp, com a participaçãobônus da bet365maisbônus da bet36518 mil usuários ativos.

O estudo concluiu que entre os 20 áudios com maior circulação, cinco negavam a gravidade da doença causada pelo coronavírus. Quatro desses cinco áudios estavam entre os dez mais compartilhados por usuários, e continham supostos depoimentosbônus da bet365profissionaisbônus da bet365saúde testemunhando UTIs vazias ou funerárias sem corpos, entre outros.

Lockdown à brasileira

A epidemia vem evoluindobônus da bet365diferentes formasbônus da bet365diferentes regiões do Brasil. Por isso, eventuais confinamentos compulsórios devem ser considerados localmente, e não nacionalmente, dizem os especialistas.

"Cada lugar tem uma história, um número maior ou menorbônus da bet365casos. As epidemias são locais", explica Aluisio Barros, professor titular do programabônus da bet365pós-graduaçãobônus da bet365epidemiologia da Universidade Federalbônus da bet365Pelotas, no Rio Grande do Sul.

Em algumas regiões do Brasil, o lockdown já é cogitado ou já foi aplicado. Em São Luís, capital do Maranhão, foi a Justiça que determinou o bloqueio total da capital do Estado e mais três municípios da região metropolitana por ao menos dez dias. A capital atingiu ocupação máxima dos leitosbônus da bet365UTI.

Em entrevista ao jornal Folhabônus da bet365S.Paulo, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse estar considerando um lockdownbônus da bet365algumas cidades do Estado.

No Riobônus da bet365Janeiro, apesar do secretário estadualbônus da bet365Saúde, Edmar Santos, defender regras mais rígidas para o isolamento social e citar o lockdown como uma alternativa, o governador Wilson Witzel disse, na noitebônus da bet365segunda (4) no programa Roda Viva, da TV Cultura, que um eventual lockdown do Estado teria que partir do Poder Judiciário, como ocorreu no Maranhão. Também disse que cogita punições para quem descumprir o isolamento social no Estado.

A gestão Bruno Covas (PSDB) começou a bloquear avenidas importantes da capital paulista na segunda (4) para reduzir a circulaçãobônus da bet365pessoas.

Para Stucchi, um eventual lockdownbônus da bet365regiões do país deveria ser feito "à brasileira", e não necessariamente copiando o isolamento compulsório feitobônus da bet365outros países. Ela diz que não faria sentido aplicar multas para os brasileiros, por exemplo, já que seria "mais uma conta que o brasileiro vai ficar devendo" por conta da situação econômica da maioria da população.

Ela defende, sim, restrição do deslocamento das pessoasbônus da bet365forma ostensiva, bloqueando a mobilidade urbana. "Senão o descontrole e a perdabônus da bet365vidas vai ser maior ainda."

Para Lana,bônus da bet365regiões mais críticas, o lockdown é o recomendável agora porque leva tempo para mobilizar todo mundobônus da bet365novo para seguir as regrasbônus da bet365isolamento social voluntário.

"Até conseguir fazer todo o trabalhobônus da bet365mobilização, já se perdeu muito tempo. Não temos mais tempo hábilbônus da bet365alguns Estados onde a crise está bem séria."

"Qualquer descuido pode levar ao descontrole", diz Barros. "Tem gente achando que epidemia é igual torneira, que a gente vai controlando. Eu acho que epidemia é mais como fogo no mato. Quando chega num determinado ponto, ninguém segura mais."

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