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Coronavírus: Sem direito a home office, operários brasileiros no Japão temem contágio e desemprego:palpites futebol
Alémpalpites futebolbrasileiros decasseguis (descendentespalpites futeboljaponeses que migram para trabalhar temporariamente no país), a indústria japonesa emprega contingentespalpites futebolchineses, coreanos, filipinos e vietnamitas.
Enquanto no Brasil se instaurou uma discussão sobre parar ou não a economia diante das diretrizespalpites futebolisolamento, no Japão não foi imposta a quarentena. Em 25palpites futebolmarço, o presidente Jair Bolsonaro compartilhou no Twitter um vídeopalpites futebolum brasileiropalpites futebolum parquepalpites futebolTóquio, destacando a "normalidade" da vida japonesa apesar do vírus, a fimpalpites futebolcriticar a quarentena, que é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por autoridadespalpites futeboldiversos países.
Estadopalpites futebolemergência
Em 24palpites futebolmarço, porém, após o adiamento da Olimpíadapalpites futebolTóquio para 2021, o arquipélago registrou recordespalpites futebolnovos casos por dia, levando políticos, empresários e especialistas japoneses a pressionar por medidas mais rigorosas no combate à covid-19.
Em 7palpites futebolabril, o primeiro-ministro Shinzo Abe declarou estadopalpites futebolemergência, que inicialmente valia para sete das 47 províncias (Tóquio e Osaka, entre elas) e deveria durar até 6palpites futebolmaio. Nove dias depois, Abe estendeu o estadopalpites futebolemergência para todo o país, estipulando uma metapalpites futebol80%palpites futebolisolamento nas maiores cidades. Sob estadopalpites futebolemergência, bares, cassinos, cinemas, colégios, museus e parquespalpites futeboldiversões podem ser suspensos temporariamente. Fábricas como apalpites futebolArmando, porpalpites futebolvez, devem continuar funcionando "até segunda ordem".
"Home office pra operário? Impossível. Quer quarentena? É porpalpites futebolconta e risco: para quem é terceirizado e temporário como eu, se não bater ponto, desconta o dia; se reclamar, é demitido. A gente está desprotegidopalpites futeboltodos os lados: é medopalpites futebolpegar vírus, medopalpites futebolficar desempregado, medopalpites futebolprecisar voltar para o Brasil com uma mão na frente e outra atrás", define.
Nas fábricas japonesas, muitos imigrantes são terceirizados e temporários — o contrato, intermediado por empreiteiras e renovado por períodospalpites futebolum a 3 meses, por exemplo, estipula pagamento por hora trabalhada (e não por dia ou por mês).
Teoricamente, trabalhadores japoneses e estrangeiros têm direitos iguais. Se na pandemia a demanda diminuir e a fábrica decidir desacelerar a produção, por exemplo, estrangeiros devem receber remuneração pelos dias parados (a depender do caso, o kyuugyou teate, benefício por descanso forçado, ou o yuukyuu kyuka, diapalpites futebolférias remuneradas) e não podem ser sumariamente demitidos.
"Ainda que a administração da empresa esteja indo mal devido à infecção pelo novo coronavírus, não podemos admitir que os trabalhadores estrangeiros sejam tratados com desvantagem ante os japoneses", diz o informe, traduzido para 16 idiomas e publicado no site do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão. No dia 10, o ministério informou que pretende disponibilizar 40 conselheiros nas agências Hello Work, os centrospalpites futebolassistênciapalpites futebolempregos, para dar orientações a estrangeiros que se sentirem prejudicados.
"Há muito tempo, o governo japonês tem a preocupaçãopalpites futebolgarantir condiçõespalpites futeboltrabalho igualitárias, não só entre estrangeiros e japoneses, mas entre efetivos e não-efetivos (terceirizados, temporários, meio-período etc.). Em casopalpites futebolfalta para ir ao médico, por exemplo, o empregador deve possibilitar o uso das férias remuneradas pelos terceirizados, que é o mesmo direito dos trabalhadores efetivos. Se o empregador não respeitar essa regra, o trabalhador deve denunciar o fato às autoridades", diz a advogada Vitória Pinhas, especialistapalpites futeboldireitopalpites futebolimigração e transações internacionais, cujo escritório conta com advogados licenciadospalpites futebolpaíses como Brasil, Estados Unidos e Japão.
Direitos trabalhistaspalpites futebolxeque
Na internet se proliferam os postspalpites futebolcasospalpites futeboldesrespeitopalpites futeboldireitos trabalhistas, mas sem identificar empresas e empreiteiras, pois muitos imigrantes temem represálias e não conseguir outros trabalhos.
"Mais uma vez, a novela se repete. Empreiteiras picaretas se aproveitandopalpites futebolum momentopalpites futebolcrise para ludibriar trabalhadores estrangeiros", postou Ricardo Pozzuto,palpites futebol42 anos, há 17 no Japão, que administra uma popular página no Facebook voltada para a comunidade brasileira no país.
"Todos os terceirizadospalpites futebolempreiteira estão na corda bamba. Maispalpites futebol100, antigos e novospalpites futebolcasa, jovens e velhos, foram demitidos do dia para a noite", postou Marina*,palpites futebolAnjo. "Terceirizados receberam aviso prévio hoje (2palpites futebolabril). Isso que a montadora é correta e dá aviso prévio, a maioria não dá. Pensa que está ruim agora? Sabepalpites futebolnada, inocente", escreveu Elisa*,palpites futebolNagoia.
O governo japonês divulgou iniciativas como auxíliopalpites futebol300 mil ienes (cercapalpites futebolR$ 15 mil) para famílias cuja renda foi afetada pela pandemia, sinalizou subsídio financeiro para pais que precisarem faltar ao trabalho para ficar com seus filhos (já que os colégios públicos tiveram aulas e atividades suspensas entre março e abril) e agora discute uma nova propostapalpites futebolauxíliopalpites futebol100 mil ienes (cercapalpites futebolR$ 5 mil) por residente. Entretanto, é limitado o alcance das informações para imigrantes, principalmente devido à barreira do idioma.
Só depois das declaraçõespalpites futebolestadopalpites futebolemergência, autoridades intensificaram atendimento telefônico multilíngue para dúvidas relativas ao novo coronavírus para estrangeiros que estejam visitando ou vivendo no Japão, inclusive informações para testes. Tóquio, por exemplo, só lançou uma linha direta, disponívelpalpites futebol14 idiomas,palpites futebol17palpites futebolabril.
Faltapalpites futeboltestes
Há tempos o governo japonês vem sendo criticado por não realizar testes numerosos desde o início do surto, na contracorrente da diretriz da OMS ("testem, testem, testem; testem todo caso suspeito", nas palavraspalpites futebolTedros Adhanom, diretor da organização). No país, a capacidadepalpites futebolrealizar testes saltoupalpites futebol7,5 mil por dia, até finspalpites futebolmarço, para 20 mil por dia, no iníciopalpites futebolabril. A partir daí, o total ultrapassou 100 mil exames do tipo PCR realizados.
Para Kentaro Iwata, diretor da divisãopalpites futeboldoenças infecciosas da Universidadepalpites futebolKobe, a estratégiapalpites futeboltestar apenas focospalpites futebolinfecção foi bem-sucedida enquanto o númeropalpites futebolcasos positivos ainda era baixo. "A altapalpites futebolcasospalpites futebolTóquio e Osaka mudou a situação. Agora, o Japão precisapalpites futebolmais testes", diz.
Entretanto, imigrantes com sintomaspalpites futebolcovid-19 relatam dificuldades para conseguir realizar o exame. Foi o casopalpites futebolAna*, paulistanapalpites futebol37 anos, há 8 no Japão, que está grávidapalpites futebol8 meses.
Ana trabalhapalpites futeboluma empresapalpites futeboltecnologia da informaçãopalpites futebolTóquio. No fimpalpites futebolfevereiro, uma colega viajoupalpites futebolférias para o Havaí, voltou à empresa, teve febre por dois dias seguidos, foi afastada e voltou a trabalhar depoispalpites futeboldez dias. Em nenhum momento ela foi examinada, o prédio não foi dedetizado e empresa não fez comunicado oficial aos outros funcionários. "A partirpalpites futebol16palpites futebolmarço, eu me senti mal e passei a medir a temperatura: 37,6 graus. No dia 17, 37,9 graus, e um cansaço anormal no corpo. Meu marido é japonês, domino o nihongo (a língua japonesa) e decidi ligar na linha direta para pedir informações e tentar marcar o teste", narra.
Ana foi instruída pela atendente a buscar a linha direta do centropalpites futeboltriagempalpites futebolYokohama, cercapalpites futebol30 km ao sul da capital, mas não conseguiu contato. Decidiu então procurar o consultóriopalpites futebolsua obstetra, onde fez o único teste disponível,palpites futebolinfluenza (H1N1), que deu negativo.
Orientada a esperar dois dias para acompanhar os sintomas, ela foi para casa e se isolou no quarto, sem contato com o marido. Nos dias seguintes, Ana sentiu fadiga, febre, faltapalpites futebolar e tosse seca, voltou a ligar para o centropalpites futeboltriagempalpites futebolYokohama, que a encaminhou a outro número.
"A todo momento, uma voz dizia que o telefonema estava sendo gravado, mas precisei contar a história inteira diversas vezes. O que mais me chocou foi o tom das perguntas, distorcendo o que eu estava dizendo. Eu descrevia os sintomas e, do outro lado, a atendente dizia 'mas a febre está constante todos os dias, o tempo todo?, mas a dor no peito não necessariamente é por causa da faltapalpites futebolar, né?', tentando direcionar para uma situação que não dá suspeita. Tivepalpites futebolbater o pé: não, não foi isso o que eu disse, a ligação está sendo gravada, pode conferir".
Ao fim, Ana recebeu outro número para ligar, com a promessapalpites futebolconseguir marcar o teste "se passasse" pela triagem. Quarenta minutos depois na nova ligação, foi orientada a ficar mais dez dias esperando a evolução dos sintomaspalpites futebolcasa. "No dia 23, a febre abaixou e consegui respirar melhor, mas com um chiado que nunca tive no peito. Ouvir, do outro lado da linha, 'você não é casopalpites futebolinternação, você ainda está conseguindo conversar' é desesperador. O pior é ficar sem saber", relata, com voz ofegante.
No dia 25palpites futebolmarço, Ana precisou voltar ao trabalho, pressionada pelos chefes por não ter atestado ou laudo médico para apresentar, já que não foi sequer testada e "só ficoupalpites futebolcasa". "Os dias que eu faltei vão ser descontados; não tem teletrabalho, não tem home office. Eu não deveria sairpalpites futebolcasa, pegar trem, ir ao escritório, expor o risco do vírus aos outros, mas fui forçada a trabalhar nos dias 26 e 27. Depois, decidi não me arriscar mais e pressionei para conseguir antecipar a licença maternidade."
Com os filhospalpites futebolcasa
Eduarda*, paulistanapalpites futebol32 anos, há 10 meses no Japão, enfrenta outro tipopalpites futeboldificuldades. Mãepalpites futebolum meninopalpites futebol6 anos e uma meninapalpites futebol7, ela não pode deixar os filhos desacompanhadospalpites futebolcasa — os garotos estão matriculadospalpites futebolum colégio particular para filhospalpites futebolimigrantes, onde as aulas foram suspensas entre 9 e 20palpites futebolmarço e, após a declaraçãopalpites futebolestadopalpites futebolemergência, a partirpalpites futebol10palpites futebolabril indefinidamente.
"O governo tinha divulgado ajuda para mães, mas não especificava colégiospalpites futebolcrianças brasileiras. Tirei metade dos diaspalpites futebolférias remuneradas a que tinha direitopalpites futebolmarço para ficar com as crianças e a partirpalpites futebolagora,palpites futebolabril, não sei como vou continuar cuidando deles e trabalhando na fábrica ao mesmo tempo. Não vou ter dinheiro no mês que vem", diz Eduarda,palpites futebolToyoashi.
"Fui na empreiteira para pedir informações, pois infelizmente a gente, imigrante, fica preso a eles. Mas eles disseram que não sabem simplesmentepalpites futebolnada, que é tudo vago, que é esperar pra ver. Enquanto isso, a gente faz das tripas coração pra pagar as contas", define.
Toyota, Suzuki & cia.
Além do medopalpites futebolficar doente (como Armando), não conseguir ser examinado (como Ana) oupalpites futebolprecisar escolher entre cuidar dos filhos ou trabalhar (como Eduarda), brasileiros temem o desemprego durante a crise do coronavírus, diantepalpites futebolcasos recentemente revelados nas fábricas japonesas.
Em finspalpites futebolmarço, uma unidade da Toyota, uma das maiores montadoras do país, registrou dois casospalpites futebolcoronavírus— além dos diagnosticados, dois funcionários na casa dos 20 anos, foram afastados 33 operários que tinham contato constante com elespalpites futebolum galpãopalpites futebolTakaoka, na cidadepalpites futebolToyota (Aichi); a unidade foi fechada por três dias (de 23 a 25palpites futebolmarço) para ser desinfetada. Segundo a NHK, a agência pública do Japão, outro funcionário, na faixapalpites futebol30-39 anos, foi diagnosticado na unidadepalpites futebolMiyata, na cidadepalpites futebolMiyawaka (Fukuoka). A identidade deles não foi divulgada.
Diversas fábricas da Toyota paralisaram atividades por períodos breves neste mês. Nos últimos dias, outros titãs da indústria automotiva suspenderam a produção no território japonês: subsidiárias e unidades da Suzuki pararam; instalações da Honda, Nissan, Mazda e Mitsubishi, idem.
Honda e Nissan inclusive sinalizaram demissõespalpites futebol10 mil funcionários cada, nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil,palpites futebolacordo com a consultoria Bright Consulting, focada no setor automotivo, as paradaspalpites futebolprodução atingem cercapalpites futebol370 mil funcionáriospalpites futebolmontadoras e fornecedoraspalpites futebolautopeças, um prejuízopalpites futebolaté R$ 42 bilhõespalpites futebol2020.
"O bem-estar do trabalhador é a última das preocupações. As fábricas japonesas estão parando por faltapalpites futebolpeças oupalpites futebolpedidos", diz Armando, que ganha 1.300 ienes por hora (cerca R$ 63). Em março, o operário fez jornadaspalpites futebol11 horaspalpites futebolsegunda a sexta e trabalhou quase todos os sábados. Em abril, passou a trabalhar cercapalpites futebol6 horas por dia. "Quer dizer, menos horas, menos dinheiro no fim do mês."
No dia 10, Akio Toyoda, presidente-executivo da Toyota e diretor da Associação Japonesapalpites futebolFabricantespalpites futebolAutomóveis, declarou que a indústria automotiva japonesa buscará proteger empregos no mundo todo. Toyoda comparou o atual contexto incerto e a necessidadepalpites futebolficarpalpites futebolcasa como "um longo inverno". "Agora estamos sentindo mais do que nunca que poder ir aonde você quer é uma experiência emocionante verdadeiramente. Vamos sobreviver, ou então não haverá primavera."
*Nomes fictícios para preservar identidades dos imigrantes;
**Fontespalpites futebolinformações para brasileiros residentes no Japão:
- Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar
- Centropalpites futebolApoio para Residentes Estrangeirospalpites futebolTóquio: 0120-296-004 (seg. a sex., 10:00 - 17:00)
- Centropalpites futebolInformação Médica da Ásia: 03-6233-9266 (atendimentopalpites futebolportuguês às sextas, 10:00 - 15:00)
- Centropalpites futebolAconselhamento para Trabalhadores Estrangeiros: 0570-001703 (atendimentopalpites futebolportuguêspalpites futebolseg. a sex., 10:00 - 15:00)
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