Demorabonus casa de apostatestebonus casa de apostacovid-19 impede mãebonus casa de apostavelar filho com microcefalia: 'Nem pude ver sendo postobonus casa de apostacaixão':bonus casa de aposta

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Inamá e Arthur, que nasceu com a síndrome da zika e morreubonus casa de apostapneumonia aos três anosbonus casa de apostaidade

A históriabonus casa de apostaInamá e Arthur tinha sido marcada por uma outra epidemia global: a do vírus da zika, doença cujos sintomas a mãe identificou ainda durante a gravidez na cidadebonus casa de apostaMaracanaú, municípiobonus casa de aposta209 mil habitantes na região metropolitana da capital cearense, onde mora com o marido e três filhas. A cidade tem 20 casos confirmados da covid-19, segundo a Secretariabonus casa de apostaSaúde do Estado do Ceará (Sesa).

Arthur nasceu com microcefalia e outras alterações causadas pela síndrome congênita da zika que limitavam o desenvolvimento da criança, tanto física quanto intelectualmente. O mais grave e constante eram os problemas respiratórios: a pneumonia que matou Arthur, a mais fortebonus casa de apostatodas, foi a sétima que o menino tevebonus casa de apostavida, lembra a mãe.

A notíciabonus casa de apostaque não era covid-19 a causa da morte do menino, veio tarde demais para evitar o que, para a mãe, é uma das lembranças mais traumáticas relacionadas à perda. Depoisbonus casa de apostaseis dias sem ter tocadobonus casa de apostaum fiobonus casa de apostacabelo sequer do filho e vendo-o apenas uma hora por dia atravésbonus casa de apostauma vidraça, internado na UTI, Arthur foi enterrado também à distância da família, sem velório e sem roupas, já que a funerária recusou-se a vesti-lo. Ele foi colocado nu no pequeno caixão, sob riscobonus casa de apostainfecção.

A última imagem que a mãe teve do filho, ainda que sem tocá-lo, foi a do seu corpo sem vida levadobonus casa de apostauma maca para a capela do hospital, quarta-feira (1).

"Vim para casa na terça-feira (31) já sabendo que ele poderia morrer a qualquer momento, a pressãozinha dele estava baixa e os órgãos estavam entrandobonus casa de apostafalência. Os médicos sempre foram muito sinceros comigo. Quando foi umas 23h30 me ligarambonus casa de apostalá, dizendo 'mãe, venha pra cá, que a notícia não é boa'. Fui para lá rapidamente e, infelizmente, era a notícia que eu já esperava", lembra.

"Às 7h da manhã fomos pegar o corpinho dele, e eu levei uma roupinha. Falaram não, a gente não vai poder vestir a roupa no seu filho, a gente não pode tocar o corpo dele. Ele vai para o caixão do jeito que ele está lá. O corpo estava na capela trancado e eu não pude nem ver o pessoal colocando o corpo dele no caixão".

Inamá diz entender que as restrições fazem parte do protocolobonus casa de apostasaúde relacionado à doença. Ele foi internado com febre e faltabonus casa de apostaoxigênio. Mas ela defende que medidas simples por parte dos médicos e técnicos que trabalham no atendimento podem poupar outras famílias do mesmo sofrimento.

"Eu disse 'poxa, porque vocês não me pediram para eu levar roupa na UTI, porque a partir do momento que ele saísse da UTI ninguém poderia tocar mais no corpo dele mais'? Meu inocente foi enterrado peladinho", lamenta a mãe, que diz que temeu pelo pior quando viu que o estado do menino só piorava.

"Me foi dito que o resultado do exame saíabonus casa de aposta48 horas. Eu dizia 'doutor, pelo amorbonus casa de apostaDeus, o meu filho está indo embora. Vamos dar prioridade nesse exame, não porque ele é uma criança especial, mas porque ele está morrendo'", conta. "Eu sou uma mãe, eu cuidava dessa criança 24 horas por dia, ele era o ar que eu respirava. Nos últimos 6 dias da vida dele (a partir do momentobonus casa de apostaque ele foi internado na UTI) eu não pude tocarbonus casa de apostanenhum fiobonus casa de apostacabelo do meu filho."

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Inamá diz que demora no teste tirou seu direitobonus casa de apostaenterrar o filho: "Ele era muito amado".

"Por isso eu aceitei falar sobre isso. Para mostrar e evitar que isso aconteça com outras pessoas. Que esses laboratórios entendam que não são só númerosbonus casa de apostademanda, são pessoas", diz. "Foram nove dias para sair o resultado."

Procurada pela reportagem, a Sesa, por meio do Laboratório Centralbonus casa de apostaSaúde Pública do Ceará (Lacen) informou que, desde o primeiro casobonus casa de apostacovid-19, o Lacen trabalha para emitirbonus casa de apostatempo hábil os laudos dos casos suspeitos da patologia.

"Inicialmente, a demanda erabonus casa de apostaaté 100 exames por dia, subindo para 500 no dia 18bonus casa de apostamarço", explica,bonus casa de apostanota. "O empréstimobonus casa de apostadois equipamentos da Unidade Federal do Ceará permitiu que o númerobonus casa de apostaexames aumentasse para 320 por dia, incluindo os testes inconclusivos, que chegam a 10% e precisam ser repetidos."

A Sesa estima que, entre 30 a 60 dias, a capacidade para realizaçãobonus casa de apostaexames laboratoriais será triplicada, e serão priorizados os examesbonus casa de apostapacientes internadosbonus casa de apostaUTIs e enfermaria,bonus casa de apostaprofissionaisbonus casa de apostasaúde ebonus casa de apostapessoas que vieram a óbito com suspeita da doença. O Ceará tem, até o dia 9bonus casa de apostaabril, 1387 casos confirmados do novo coronavírus, com 53 mortos. Além do novo coronavírus, o Ceará também passa por um surtobonus casa de apostaH1N1.

Coronavírus causa medo e preocupaçãobonus casa de apostamãesbonus casa de apostafilhos com síndrome da zika

Considerada uma epidemia global pela Organização Mundialbonus casa de apostaSaúde (OMS)bonus casa de aposta2016, a zika atingiu predominantemente famíliasbonus casa de apostabaixa renda, que trabalham na informalidade e moram nas periferias do Nordeste,bonus casa de apostaregiões com saneamento precário e grande presençabonus casa de apostamosquitos.

Os cuidados com o filho vítima da síndrome congênita do vírus Zika transformam-sebonus casa de apostaatividadebonus casa de apostatempo integral da maioria das mães, que precisam deixarbonus casa de apostatrabalhar. Para monitorar a saúdebonus casa de apostaArthur, Inamá operavabonus casa de apostacasa aparelhos como uma profissionalbonus casa de apostaenfermagem: oxímetro para medir a taxabonus casa de apostasaturação no sangue, oxigênio quando faltava ar para o filho e aspirador, quando ele engasgava.

O maridobonus casa de apostaInamá tem 46 anos e trabalha como motoristabonus casa de apostaônibus fretado, atividade que não parou durante o isolamento social. "Todo dia ele chegavabonus casa de apostacasa e já tirava as roupas e deixava no quintal, com medobonus casa de apostapassar alguma coisa para o filho. Redobramos os cuidados para que não atingisse o Arthur."

A notícia sobre a morte do pequeno Arthur se espalhou rapidamente pelos gruposbonus casa de apostaWhatsApp que reúnem mãesbonus casa de apostacrianças com a síndrome da zikabonus casa de apostadiversos Estados do Nordeste, aumentando o medobonus casa de apostaque uma nova doença coloque as vidasbonus casa de apostaseus filhosbonus casa de apostarisco. As notícias sobre a nova doença causaram grande preocupação e medo.

E esse medo se justifica, na opinião do neurologista infantil André Pessoa, do hospital Albert Sabin, que considera que as crianças com a síndrome da zika são, sim, um grupobonus casa de apostarisco também para a covid-19, principalmentebonus casa de apostarazão dos muitos problemas respiratórios, dificuldade para engolir e desnutrição, características comuns às crianças com a síndrome.

"Eu não tenho dúvidabonus casa de apostaque eles são populaçãobonus casa de apostarisco para uma evolução grave da covid-19", afirma Pessoa, pesquisador com uma sériebonus casa de apostaartigos publicados a respeito da zika, inclusivebonus casa de apostaparcerias com o Centrobonus casa de apostaControle e Prevençãobonus casa de apostaDoenças dos Estados Unidos.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Luciana, da associaçãobonus casa de apostamães, e os cuidados com a filha Ana Lis: "Não saiobonus casa de apostacasa"

"A principal causabonus casa de apostamortalidade entre essas crianças é a pneumonia aspirativa, porque todos os pacientes avaliados até o momento tem disfagia, dificuldadebonus casa de apostadeglutição. A comida entra mas vai para o caminho errado: a comida entra, masbonus casa de apostavezbonus casa de apostair para o estômago, vai para o pulmão".

Rotina rígida para proteger criança

Luciana Arraes, da Associação Filhosbonus casa de apostaBênçãos, que reúne mãesbonus casa de apostacrianças com a síndrome da zika no Ceará, mora com marido, mãe e filhabonus casa de apostaApuiarés, no interior do Ceará. Todos adotaram uma rotina muito rígidabonus casa de apostaisolamento e higienização para proteger a pequena Ana Lis,bonus casa de aposta4 anos.

"Eu estava há 14 dias sem sairbonus casa de apostacasa, só quem saía era meu esposo e, quando saía, fazia toda a higienização, lavava todas as embalagens, frutas e verduras para entrarbonus casa de apostacasa, e ia direto para o banho. Só tive que retornar ao trabalho por um dia", afirma ela, que trabalha como agentebonus casa de apostamicrocrédito urbano e entroubonus casa de apostaférias. "Nem no quintal a gente vai. Aqui não tem casos confirmados, mas os testes demoram tanto para sair que pode ter e a gente não sabe".

"Da minha família, só uma pessoa saibonus casa de apostacasa quando é estritamente necessário e, quando chegam, realiza todo o processobonus casa de apostahigienização". Arraes diz que outro temor das mães é que, diante da escassezbonus casa de apostaequipamentos e recursos para atendimento, seus filhos sejam preteridosbonus casa de apostafavorbonus casa de apostaadultos mais saudáveis.

Pessoa destaca o fatobonus casa de apostaque a experiênciabonus casa de apostaser uma família atingida pela zika e lutar pelo tratamento dos filhos com pouco dinheiro e muitas dificuldades deixa sequelas emocionais que, agora, são agravadas pela covid-19. "São famílias muito traumatizadas, carregam consigo um trauma. Mãesbonus casa de apostacrianças com zika têm mais depressão e ansiedade, tudo muito legítimo."

A presidente da Associação Famíliabonus casa de apostaAnjos do Estadobonus casa de apostaAlagoas (Afaeal )bonus casa de apostaMaceió, Alessandra Hora, já oficializou diversos pedidos às secretarias estadual e municipaisbonus casa de apostasaúde para que as crianças com a síndrome congênita sejam priorizadas nas vacinas contra a H1N1, junto com os idosos.

"Mas até agora, nenhuma criança tomou a vacina. Esse público é um públicobonus casa de apostarisco. E ébonus casa de apostacompetência do presidente, do ministro, do governador e do prefeito. Acordem, são 45 milhõesbonus casa de apostapessoas com deficiência no Brasil e esse público não está sendo citado nas medidasbonus casa de apostaprevenção", diz Hora.

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