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'Lentidão e descaso com os pobres': como governos brasileiros reagiram a epidemias na História:roleta europeia
"No início da colonização, a derrubada da Mata Atlântica para a plantaçãoroleta europeiacanaviais propiciou a proliferaçãoroleta europeiamosquitos e disseminação das 'febres'", explica ela, autoraroleta europeiauma tese que deu origem ao livro Gripe Espanhola na Bahia - Saúde, Política e Medicinaroleta europeiaTemposroleta europeiaEpidemia.
A circulaçãoroleta europeiapovosroleta europeiaorigens diversas, europeus e africanos, e a introduçãoroleta europeiaanimais como vacas, galinhas e porcos, por exemplo, também contribuíram para disseminar doenças desconhecidas no Novo Mundo, dizimando povos nativos, assim como enfermidades locais adoeceram os que vieramroleta europeiafora.
"Durante séculos, tivemos que lidar com o assédioroleta europeiadoenças transmissíveis como a varíola, a peste bubônica, a malária, a febre amarela, a cólera, a gripe e as disenterias", diz Souza.
Mortes evitáveis
O que hároleta europeiacomum aos casos é o comportamento e ações das autoridades públicas durante todo este tempo.
"Os governos sempre temeram que o reconhecimento públicoroleta europeiauma epidemia atrapalhasse os negócios, prejudicando a economia", explica Christiane.
"A eficiência e o comprometimento das autoridades públicas eram colocadosroleta europeiaxeque, na medidaroleta europeiaque a crise se agravava e os adversários políticos se aproveitavam para tentar desestabilizar os que se encontravam no poder."
O doutorroleta europeiaSaúde Pública Paulo Frazão, do Departamentoroleta europeiaPolítica, Gestão e Saúde, da Faculdaderoleta europeiaSaúde Pública da Universidaderoleta europeiaSão Paulo (USP), vai além.
"A lentidão, a insuficiência na resposta e o descaso das autoridades para com as populaçõesroleta europeiatrabalhadores, as famíliasroleta europeiabaixa renda e moradores da periferia e das favelas têm levado a um número elevadoroleta europeiamortes evitáveis", diz.
De acordo com ele, contribui para isso "o descaso para a necessidaderoleta europeiadotar o sistema públicoroleta europeiasaúde dos recursos necessários, especialmente os órgãosroleta europeiavigilância ambiental, epidemiológica e sanitária, que se ressentem da campanha permanenteroleta europeiadesvalorização do servidor público e do processoroleta europeiaprecarização das estruturasroleta europeiaplanejamento estratégico e tático-operacional".
O especialistaroleta europeiahistória da saúde coletiva brasileira André Mota, do Departamentoroleta europeiaMedicina Preventiva e coordenador do Museu Histórico, ambos da Faculdaderoleta europeiaMedicina da USP (FMUSP), a ação dos governos frente às epidemias será sempre uma complexa relação política, social eroleta europeiatecnologia médica eroleta europeiasaúde pública, o que sempre resultarároleta europeiauma resposta também complexa.
No entanto, acrescenta ele, há um fato que merece ser pensado sobre esse tema e que pode servirroleta europeiaaprendizado.
"Na República, tivemos epidemias que foram debeladas, quase sempre sem articulação entre serviços e hospitais e com limites evidentes, já que não havia coberturaroleta europeiasaúde para todas as pessoas, resultando, nesses casos,roleta europeiamuitas vítimas", explica.
"O Sistema Únicoroleta europeiaSaúde (SUS), criadoroleta europeia1988, teve como primeiro desafio epidêmico a Aids e conseguiu demonstrar resultados importantes na prevenção e cuidado, justamente, por ter como objetivo essa integração: serviços, cuidados e direito ao acesso."
De todas as epidemias que assolaram o Brasil ao longo dos tempos, asroleta europeiavaríola - foram maisroleta europeiauma - estão entre as mais devastadoras.
Dificuldades na vacinação
O médico epidemiologista João Baptista Risi Junior, especialistaroleta europeiapoliomielite eroleta europeiavigilância epidemiológica e ex-secretário nacionalroleta europeiaAções Básicasroleta europeiaSaúde do Ministério da Saúde, lembra que a doença foi introduzida no Brasil logo após o descobrimento, tendo causado enorme mortalidade entre as populações nativas.
Epidemias muito graves dela ocorreram nos séculos seguintes, até as primeiras décadas do 20. "De 1902 a 1926, a doença causou 21 mil mortes somente no Rioroleta europeiaJaneiro, então capital da República", diz Risi.
"A vacinação contra a varíola foi introduzida no Brasil no início do século 19 e oficializada três anos após a chegada da corte portuguesa,roleta europeia1811. Mas havia imensas dificuldades técnicas e operacionais para realizá-laroleta europeiamodo efetivo."
Com a criação do Instituto Vacínico no Rioroleta europeiaJaneiro,roleta europeia1887, a vacina pôde ser produzidaroleta europeiaescala e aplicada mais amplamente. Mas a população também não contribuía muito.
"Em 1904, Oswaldo Cruz tomou medidas para impor a vacinação obrigatória, o que provocou forte reação popular, conhecida como a Revolta da Vacina, no Rioroleta europeiaJaneiro", conta Risi.
A doença continuou endêmica no Brasil, apesarroleta europeiavacinação rotineira nos serviçosroleta europeiasaúde do país. "O problema somente veio a ser solucionado com a criação da Campanharoleta europeiaErradicação da Varíola,roleta europeia1966, como parteroleta europeiaum esforço internacional coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)", lembra Risi.
"O último caso no Brasil ocorreuroleta europeia1971, no Rioroleta europeiaJaneiro. Em 1980 a vacina deixouroleta europeiaser aplicada no país."
roleta europeia Gripe roleta europeia e roleta europeia spanhola
Em 1918, foi a vez da pandemiaroleta europeiagripe espanhola, que atingiu duramente o Brasil. "Há relatos terríveis do sofrimento que causou à populaçãoroleta europeiavárias cidades, como Rioroleta europeiaJaneiro e São Paulo, por exemplo, com enorme mortalidade", diz Risi.
"Houve dificuldade até para recolher e sepultar os cadáveres, mas a crise desapareceu da mesma forma que havia surgido."
De acordo com ele, os problemas ocorreram, porque o sistemaroleta europeiasaúde estava inteiramente despreparado para enfrentar a epidemia, e os dados disponíveis são muito precários.
"Uma das vítimas foi o presidente Rodrigues Alves, que iria iniciar o seu segundo mandato e nem chegou a tomar posse, sendo substituído provisoriamente pelo vice Delfim Moreira, até o resultadoroleta europeianova eleição", lembra. Ele morreuroleta europeia16roleta europeiajaneiroroleta europeia1919.
Segundo o médico Eliseu Alves Waldman, do Departamentoroleta europeiaEpidemiologia da Faculdaderoleta europeiaSaúde Pública da USP, a décadaroleta europeia1940 marcou o surgimentos das epidemiasroleta europeiapoliomielite no Brasil.
"Mas somente na década seguinte (as contaminações) são incluídas entre as prioridadesroleta europeiasaúde pública, à medida que os surtos se tornam mais severos e frequentes", diz ele, que é especialistaroleta europeiaMedicina Tropical eroleta europeiaSaúde Pública e doutorroleta europeiaEpidemiologia.
Antes disso, no dia 2roleta europeiafevereiroroleta europeia1943, o filho do então presidente Getúlio Vargas, que tinha o mesmo nome do pai, morreu da doença.
"Sua morte, no entanto, não chamou a atenção dos governantes ou mesmo da sociedade civil, pouco mobilizada a época, pois estávamosroleta europeiaplena ditadura do Estado Novo", diz Waldman.
"A maior epidemiaroleta europeiapoliomielite ocorreu, entretanto,roleta europeia1959/60. O controle da doença começou nos anos 1960, com a introdução das vacinasroleta europeiavírus vivo atenuado (vacina Sabin) eroleta europeiavírus inativado (vacina Salk). Ela finalmente foi eliminadaroleta europeia1989."
A meningite foi outra doença que causou um número elevadoroleta europeiamortes e muito sofrimento. "Houve uma epidemia que durouroleta europeia1945 e 1957, que não foi reconhecida, mas omitida pelas autoridadesroleta europeiasaúde", conta Mota.
"Fosse como tragédia ou como farsa, ela voltou a se alastrar na décadaroleta europeia1970, ganhando mais força, mesmo com o silêncio das autoridades e a proibição do regime militar sobre os números assombrosos que, aos poucos, foram criando pânico entre a população."
Waldman lembra que essa epidemia ocorreuroleta europeiapleno período autoritário, quando o governo tentou negá-la, somente a confirmando quando haviam sido esgotados os leitos hospitalares para atendimento dos pacientes.
"Para termos uma ideia, nos períodosroleta europeiapico da epidemia, que durou cinco anos, chegamos a ter, somente no municípioroleta europeiaSão Paulo, 200 casos por dia com uma letalidaderoleta europeia10%, ou seja,roleta europeiacercaroleta europeia20 mortes diárias", diz. "Isso foi nos mesesroleta europeiaabril e maioroleta europeia1974."
Segundo Mota, conforme estudos realizados posteriormente, no caso paulista "a epidemia pôs a descoberto a anarquia na organização dos serviçosroleta europeiasaúde no municípioroleta europeiaSão Paulo, revelando a inoperância da rede hospitalar e a total faltaroleta europeiaintegração entre os serviços locais, destinados ao primeiro atendimento, e os hospitais". "Centenasroleta europeiapessoas morreram até seu controle", acrescenta. "Muitas sem saber o que tinham."
Depois veio a Aids, mas que teve uma forte reação governamental, porque já existia o SUS. Mais recentemente surgiram as epidemias sazonaisroleta europeiadengue, chikungunya e zika, todas transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
A história deste inseto é antiga no Brasil. Em 1900, ele foi identificado como o transmissor da febre amarela urbana, da qual houve várias epidemias. "No Rioroleta europeiaJaneiro, foram registradas 58 mil mortes pela doença entre 1850 e 1902", informa Risi.
Depois da identificação do transmissor, tiveram início as açõesroleta europeiacombate a ele,roleta europeiaSão Paulo e no Rioroleta europeiaJaneiro. "Oswaldo Cruz foi reconhecido internacionalmente porroleta europeialuta contra a febre amarela, mas ela continuou um grande problemaroleta europeiavários estados litorâneos", diz Risi.
"Em 1928, voltou a causar uma importante epidemia no Rioroleta europeiaJaneiro. Por isso, na décadaroleta europeia1930, a Fundação Rockefeller cooperou com o governo brasileiro para organizar um programaroleta europeiacombate à doençaroleta europeiatodo o país."
Desse trabalho resultou o desenvolvimento da vacina contra a febre amarela,roleta europeia1937, e o início daroleta europeiaprodução no Instituto Oswaldo Cruz.
"Em 1955, o mosquito Aedes aegypti foi considerado erradicado no Brasil", conta Risi. "Em 1966, no entanto, ele foi reintroduzido nas cidadesroleta europeiaSão Luiz e Belém, e novamente erradicado. Mas na décadaroleta europeia1970, a presença desse vetor foi mais uma vez detectada, agora no litoral da Bahia, e rapidamente se propagou a todo o país, tornando-se impossível voltar a erradicá-lo."
As epidemias que atingiram o Brasil nesses maisroleta europeiacinco séculosroleta europeiaHistória não trouxeram apenas desgraças, mortes e sofrimentos, no entanto.
"Com erros e acertos, podemos dizer que a saúde pública brasileira amadureceu e se consolidou como um dos setores que influenciaram e contribuíram para o desenvolvimento do país", diz Waldman.
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