Após polêmicas e divisões na direita, coronavírus faz manifestações pró-Bolsonaro serem adiadas:bet3k

Crédito, Reuters/Ricardo Moraes

Legenda da foto, Pronunciamentobet3kBolsonaro é exibidobet3kTV no Riobet3kJaneiro; na fala, o presidente pediu que atos convocadosbet3kseu apoio fossem 'repensados' devido ao avanço do coronavírus

No Brasil, os casosbet3kSars-cov-2, como é chamado oficialmente o novo coronavírus, têm crescido exponencialmente nos últimos dias — até esta quinta-feira eram 77 registros, segundo o Ministério da Saúde.

Grupos como o Movimento Avança Brasil e Nas Ruas, que mais cedo ainda mantinham o chamado para os protestos, decidiram cancelar as convocações para domingo após a sinalização do presidente pela suspensão dos atos. Os movimentos ainda vão decidir nova data para as mobilizações.

"Conclamamos porém, que todos juntem-se a nósbet3kum MEGA PANELAÇO no dia 15/03 às 20hbet3kdesagravo às atitudesbet3kcongressistas IRRESPONSÁVEIS que não tem o BRASIL ACIMA DE TUDO e que somente pensambet3kseus benefícios particulares", convocou por meiobet3knota o Movimento Avança Brasil, ao anunciar o adiamento dos atos.

O grupo Repúblicabet3kCuritiba também desistiubet3kparticipar dos atos horas antes da solicitação presidencial.

"Continuaremos atravésbet3knossas redes sociais e equipe combatendo a corrupção e lutando por um Brasil melhor, apoiando o governo eleito democraticamente do presidente Jair Messias Bolsonaro", disse o presidente do grupo, Paulo Generoso.

Polêmicas

A mobilizaçãobet3kapoio ao presidente estava prevista para dezenasbet3kcidades do país e foi marcada com semanasbet3kantecedência. A convocação gerou críticasbet3kparte dos brasileiros que enxergou no movimento pró-governo um víes antidemocráticobet3kdefesabet3kfechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.

Por causa disso, um vídeobet3kdivulgação dos atos compartilhado por Bolsonaro pelo WhatsApp no finalbet3kfevereiro gerou forte reação, inclusive com manifestações críticas do ministro Celsobet3kMelo, decano do STF, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Nas redes sociais, mensagensbet3kconvocação aos atos com ataques a Rodrigo Maia e aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e do STF, Dias Toffoli, foram comuns.

Crédito, Reprodução/Facebook

Legenda da foto, O ministro Luiz Mandetta, o presidente e intérpretebet3kLibras durante transmissão ao vivo no Facebookbet3kque Bolsonaro sugeriu a suspensão dos atosbet3kseu favor por contabet3kavanço da doença

Monitoramento da FGV Dapp (Diretoriabet3kAnálisebet3kPolíticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas) entre os dias 20bet3kfevereiro e 10bet3kmarço indicou que as dez hashtags mais usadas nas postagensbet3kconvocação aos atos incluíam: #dia15porbolsonaro, #somostodosbolsonaro, #maiagolpista e #queromaianacadeia.

Lideranças ouvidas pela BBC News Brasil, porém, negam que os atos sejam a favor do fechamento do Congresso e do STF. Eles acusam, no entanto, os dois poderesbet3kagirem contra iniciativas do governo Bolsonaro. Já os que defendem essa atuação do Legislativo e do Judiciário argumentam que os dois Poderes têm legitimidade para barrar propostas do Executivo.

"Obviamente a gente tem restrições contra alguns congressistas e alguns membros do STF, por causabet3ksuas atitudes, mas não ébet3kreação às instituições", disse o coordenador do Avança Brasil, Nilton Caccáos.

Divergências no foco dos protestos

As últimas semanasbet3kmobilização pelos atos foram marcadas por forte tensão entre o governo e o Congresso devido à disputa pelo controlebet3kcercabet3kR$ 30 bilhões do Orçamento Federal, questão que ainda estábet3kaberto.

Um dos momentosbet3kmaior desgaste entre os dois Poderes ocorreu quando o ministro do Gabinetebet3kSegurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, acusou o Congressobet3kestar chantageando o governo na tentativabet3kcontrolar essas verbas. Sem ele saber, a fala foi captada por uma transmissão ao vivo da página oficial do presidente no Facebook, tornando-se pública.

"Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se", disse a autoridades próximas a ele no evento.

Em meio às críticas ao teor das manifestações, alguns apoiadores das mobilizações defenderam dar maior enforque à defesa das reformas econômicas — como o empresário Winston Ling, forte apoiadorbet3kBolsonaro. Outros bolsonaristas, porém, insistiram que os atos deveriam ter uma pauta únicabet3kdefesabet3kBolsonaro, contra o Congresso, e referendaram a falabet3kHeleno.

"Vejo movimentações para incluir reformas e ideais como pautas, mas pensem comigo, não haverá efetividade, se antes não livrarmos o executivo das garras do establishment, que semanalmente inventa uma nova formabet3kchantagear o Governo Bolsonaro. Esse foi o desabafo do Gen. Heleno!", escreveu no Twitter Maurício Costa, coordenador nacional do Movimento Brasil Conservado, no dia 5bet3kmarço.

"Não permitam que subvertam a pauta ÚNICA do dia 15, mesmo que seja para incluir reformas que apoiamos. Neste momento, estamos indo às ruas ESPECIFICAMENTE para demonstrar apoio total a Jair Bolsonaro. Como o prof. Olavo já alertou tantas vezes, é horabet3kdefendermos o Presidente", escreveu também,bet3kseguida.

O grupo também criticou o movimento Repúblicabet3kCuritiba por enfatizar nas suas convocações para os atos a defesa da aprovação pelo Congresso da prisão após condenaçãobet3ksegunda instância.

"Nós incluímos nessa pautabet3kapoio ao governo a prisãobet3ksegunda instância, que é uma pauta do projeto anticrime do (ministro da Justiça, Sergio) Moro. Então, nós consideramos que ao apoiar a segunda instância estamos apoiando o governo da mesma forma", explicou à BBC News Brasil Paulo Generoso, presidente do movimento Repúblicabet3kCuritiba.

"Fomos criticados por isso por alguns movimentosbet3kSão Paulo, mas não respondemos a crítica, entendemos a posiçãobet3kcada um. Acho que é importante a gente focar naquilo que a gente concorda, do que nas pequenas diferenças que possam ter surgido", ressaltou.

O enfoquebet3kdefesabet3kBolsonaro, porém, afastou da mobilização movimentos que lideraram os atos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseffbet3k2015 e 2016, como Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua, apesarbet3keles apoiarem as agendas dos ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Paulo Guedes (Economia).

"Essa manifestação foi marcada tendo pauta única e nacional o apoio ao presidente Bolsonaro, e o Vem Pra Rua nunca apoiou e não apoia pessoas incondicionalmente. A gente apoia causas", disse à BBC News Brasil Rogério Chequer, um dos integrantes do movimento.

"Não apoiamos a manifestação por ser uma manifestação governista. Nós somos um movimento crítico ebet3kfiscalização, não importa o governo", afirmou também à reportagem o coordenador do Movimento Brasil Livre, Renan Santos.

Crédito, Reuters/Adriano Machado

Legenda da foto, Bolsonaro é visto dentro do Palácio da Alvorada; o presidente é suspeitobet3kter contraído a Covid-19 durante viagem aos EUA — o resultado do exame deve sair nesta sexta-feira

Mobilização nas redes vinhabet3kqueda

Mesmo antes do cancelamento, o monitoramento da FGV Dapp nas redes sociais já indicava que a convocação para os atos vinha perdendo força. Segundo esse levantamento, o debate sobre as manifestaçõesbet3k15bet3kmarço somou 3,6 milhõesbet3kmenções no Twitterbet3k20bet3kfevereiro a 10bet3kmarço, mas houve quedabet3k62% no engajamento sobre os protestos que ocorreriam neste domingo entre a última semanabet3kfevereiro e a primeira semanabet3kmarço.

"O picobet3kinterações sobre os protestos,bet3kmobilização ativa das bases digitais a favor do governo, foibet3k26bet3kfevereiro, após divulgaçãobet3kque o presidente compartilhou no WhatsApp vídeobet3kendosso ao #15m. Desde então, os protestos apresentam contínua quedabet3kimpacto no Twitter, com leve aumentobet3krepercussão no sábado (07), após fala do presidentebet3kdefesa das manifestações", nota o estudo da FGV Dapp.

Monitoramento da consultoria Quaest entre 24bet3kfevereiro e 10bet3kmarço teve conclusão semelhante.

"Dados que temos das manifestações (em apoio a Bolsonaro)bet3kmaio do ano passado mostram que, dias antes do protesto, a coisa estava esquentando. Não tava tão fria como essa semana no Twitter, às vésperas dos atos", nota Felipe Nunes, diretor da Quaest e professorbet3kCiência Política da Universidade Federalbet3kMinas Gerais (UFMG).

'Momento ébet3kprudência, nãobet3kpânico', dizem especialistas

No fim da tarde desta quinta-feira (12), a Sociedade Brasileirabet3kInfectologia (SBI) divulgou um novo boletim sobre a evolução da doença Covid-19, causada pelo novo coronavírus Sars-CoV-2. Segundo a SBI, o momento no Brasil ébet3k"prudência".

"O momento da epidemia no Brasil ébet3kprudência; nãobet3kpânico. A epidemia é dinâmica e as informações e recomendações deste informe podem ser atualizadasbet3kpoucos dias, à medida que a epidemia aumente e que novos conhecimentos científicos são publicados", diz o boletim da entidade.

No boletim, a SBI também desaconselha medidas como o fechamentobet3kescolas, faculdades ou escritórios — decisões deste tipo foram anunciadas esta semana pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

O presidente da Sociedade Brasileirabet3kInfectologia, Clovis Arns, frisa que a disseminação do novo coronavírus é muito dinâmica: neste momento não há transmissão comunitária da doença, isto é, o vírus ainda não circulabet3kforma livre no país — mas a situação deve ser reavaliada constantemente.

"Hoje, o riscobet3kBrasília,bet3kCuritiba (PR) seria pequeno (em participarbet3kuma manifestação), porque a gente não tem ainda a transmissão chamada comunitária. Que é quando o númerobet3kpessoas fica tão grande que você não consegue mais identificar quem passou para quem."

"Sempre que alguém nos pergunta sobre um evento, a gente diz: 'hoje pode. Mas me perguntebet3knovo amanhã'", diz ele.

"Cada cidade vai ter que avaliar como vai estar o vírus naquele momento (da manifestação). Qual que deve ser a primeira cidade com alguma restrição? São Paulo. Pois é a mais populosa, e a que a mais recebe viajantes (de fora do país). Se chega na sexta-feira (13) e São Paulo já tem, digamos, 300 casos, o ideal seria cancelar as manifestações", diz Arns à BBC News Brasil.

Eduardo Sprinz é chefe do departamentobet3kinfectologia do Hospital das Clínicasbet3kPorto Alegre e professor da disciplina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ele, as pessoas que forem ao protesto "ficarão potencialmente mais expostas". "Mas a gente não sabe aindabet3kque medida", diz ele.

"O vírus ainda não está circulando muito no nosso meio. Mas,bet3kqualquer forma, se a gente vai tentar conter a epidemia, o melhor seria ficarbet3kcasa ou evitar essas aglomerações", diz Sprinz à BBC.

"O mais importante neste momento é manter a boa educação sanitária. Manter as mãos longe da face, da boca. E, se tocarbet3kalguém, vale a pena usar o álcoolbet3kgel", diz ele.

Sprinz estima ainda que a chamada "transmissão comunitária" do vírus deve começarbet3kquestãobet3k"alguns dias" nas principais cidades brasileiras, como São Paulo e Riobet3kJaneiro.

Heloisa Ravagnani Muniz é a presidente da seção local da Sociedade Brasileirabet3kInfectologia no Distrito Federal. Neste momento, diz ela, a entidade "não orienta que seja proibido este tipobet3kevento".

"Como é um eventobet3klocal aberto, não teria uma taxabet3ktransmissão tão alta do coronavírus", diz ela.

"Agora, claro que as pessoas que tem maisbet3k60 anos, com alguma comorbidade, com alguma doença crônica, devem evitar aglomeração. Tanto pelo corona quanto por causabet3koutros vírus que possam estar circulando pelo local", diz a especialista.

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