'Nenhum país está protegidosite apostasreceber alguém com coronavírus', diz brasileiro diretorsite apostasagência da ONU:site apostas

Crédito, EPA

Legenda da foto, Fazer triagemsite apostasaeroportos é medida que consome recursos esite apostasbaixa eficácia, diz diretor-assistente da Opas

Barbosa presidiu a Agência Nacionalsite apostasVigilância Sanitária (Anvisa) entre 2015 e 2018 e atualmente é diretor-assistente da Organização Pan-Americanasite apostasSaúde (Opas), braço regional nas Américas da Organização Mundial da Saúde (OMS), agência especializadasite apostassaúde pública da Organização das Nações Unidas (ONU).

À BBC News Brasil, Barbosa diz que o fatosite apostasser um vírus novo e desconhecido até há pouco tempo é motivosite apostaspreocupação, porque cientistas ainda não podem afirmar ao certo como ele continuará a se comportar após ter infectado seres humanos.

"Já vimos que os coronavírus têm uma capacidadesite apostassofrer mutações rapidamente, porque, no intervalosite apostas16 anos, é o terceiro desta famíliasite apostasvírus que surge", diz.

Mas Barbosa explica que, desde o início dos anos 2000, novos regulamentos sanitários internacionais foram colocadossite apostasprática, o que permite uma reação mais rápida e eficaz a surtos deste tipo — o que é vital, por ser considerado provável que mais epidemias causadas por novos vírus eclodam num futuro próximo.

Confirma a seguir os principais trechos da entrevista.

site apostas BBC News Brasil - Este coronavírus era desconhecido até dezembro passado. Desde então, o que descobrimos sobre ele?

site apostas Jarbas Barbosa - Esse coronavírus é um novo membrosite apostasuma família muito grandesite apostasvírus, que já são conhecidos há muito tempo. Normalmente, são vírus que circulamsite apostasanimais, mas,site apostasalgumas ocasiões, determinadas variedades saltam a barreira entre as espécies e infectam humanos. Já tivemos duas situaçõessite apostassurtos importantes com coronavírus no passado. Desde 31site apostasdezembro, quando este novo coronavírus foi comunicado pelo governo da China à OMS, estamos acompanhandosite apostasperto, porque se tratasite apostasuma nova variedade e é preciso olhar com atenção as informações que surgem.

Mas algumas características dele já estão bem estabelecidas. Primeiro, é possível haver transmissão entre pessoas. Segundo, esse vírus é capazsite apostasproduzir um espectro amplosite apostasdoenças, desde casos leves que se assemelham a um resfriado comum até casos mais gravessite apostasque há um quadrosite apostaspneumonia que pode levar à morte.

Terceiro, parece ser menos letal do que eram os vírus da Sars e da Mers. Para este esse novo vírus, estamos falandosite apostas3%site apostasletalidade enquanto que com os da Sars e Mers chegava a 30% ou mais. E quarto, pessoassite apostasmais idade e quem têm doenças crônicas, como problemas cardiovasculares e diabetes, são mais vulneráveis a desenvolver formas mais gravessite apostasdoenças.

site apostas BBC News Brasil - E o que não sabemos sobre ele ainda?

site apostas Barbosa - Precisamos ter mais informações sobre a real capacidadesite apostastransmissão. Para este vírus, com os dados que temos hoje, uma pessoa é capazsite apostasinfectar uma ou duas outras pessoas. Isso aponta para uma capacidade limitadasite apostastransmissão, quando comparamos com outros vírus que têm uma capacidadesite apostasdispersão muito maior como ossite apostassarampo e alguns tipossite apostasgripe.

Mas ainda é cedo para afirmar isso com segurança. Já há quem falesite apostascapacidadesite apostastransmissãosite apostasduas a cinco pessoas. Mas são previsões com um intervalosite apostasconfiança alto. Inclusive, existe a hipótesesite apostasque transmissão possa ocorrer no períodosite apostasincubação [entre o contágio e o surgimento dos primeiros sintomas], mas precisamossite apostasmais tempo para estabelecer se isso é possível e o impacto dissosite apostassaúde pública, porque pode ser algo que ocorra apenas com uma minoria dos casos.

Só poderemos fazer afirmações a respeito disso com mais certeza após recebermos os dados que estão sendo coletados na China. Há centenas ou milharessite apostascasossite apostascontatos no país sendo monitorados, e, provavelmente,site apostasduas ou três semanas vamos ter números mais confiáveis, porque, quando uma pessoa é infectada, ela pode levarsite apostasuma a duas semanas para apresentar sintomas. Esse rastreamento vai permitir estabelecer melhor a intensidade da transmissão desse novo vírus.

Vemos ter mais casos confirmados nos próximos dias? Com certeza. Mas isso não significa que são novos casossite apostascontaminação, mas casos suspeitossite apostasque houve resultado positivo nos exames. A capacidadesite apostasfazer testes é cada vez maior, porque há mais laboratórios e máquinas dedicadas a isso, e isso eleva o totalsite apostascasos.

Também vai aumentar esse total porque a transmissão segue ocorrendo, e não há nenhuma evidênciasite apostasque foi interrompida. Então, o númerosite apostascasos vai crescer nos próximos dias, infelizmente. Mas não há como fazer uma previsão confiável neste momentosite apostasqual será a escala desse aumento.

site apostas BBC News Brasil - O que torna este coronavírus preocupante?

site apostas Barbosa - Como é um vírus novo e o surto ainda está muito no começo, temos que observar por mais tempo para ver se ele mantém o comportamento observado hoje. Nos últimos dias, por exemplo, a taxasite apostasletalidade caiu, porque o númerosite apostascasos aumentou muito, mas o númerosite apostasmortes, apesarsite apostaster crescido, não ocorreu na mesma proporção. Em uma doença como essa, no começo, vemos apenas os casos mais graves, que apresentaram sintomas e procuraram os serviçossite apostassaúde, por isso as estimativas são sempre provisóriassite apostasum estágio como esse.

Além disso, como esse vírus começou a circularsite apostasuma região muito povoada da China, há muito trânsitosite apostaspessoassite apostaslá para outros países do mundo. Então, o riscosite apostasse ter casos importadossite apostasqualquer país do mundo é muito alto. Essas características chamam atenção e tornam necessário que os sistemassite apostassaúdesite apostaspaísessite apostastodo o mundo estejamsite apostasalerta. No mundo globalizadosite apostashoje, é possível que cheguesite apostasqualquer país do mundo algum viajante que veiosite apostasuma área onde há transmissão.

É importante estar alerta para detectar precocemente um caso e prevenir que se transmita para outras pessoas para evitar que haja surtossite apostasoutros países. Por enquanto essa transmissão ocorre apenas na China,site apostasWuhan, mas aparentemente já há transmissãosite apostasoutras províncias. Temos uma comissão na China que está avaliando os dados e, uma vez confirmada a transmissão, todos os países do mundo serão informados ao mesmo tempo.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Novo vírus foi descoberto na Chinasite apostasdezembro

site apostas BBC News Brasil - Até o momento, a OMS não determinou esse surto como uma emergência global. Por quê? E o que é necessário para que seja configurada uma?

site apostas Barbosa - Pelo regulamento sanitário internacional, uma emergência internacional deve ser decreta só após ser ouvido um comitêsite apostasespecialistas que faz uma recomendação para o diretor-geral. O comitê se reuniu duas vezes e concluiu que são necessárias mais informações que comprovem ser necessária uma coordenação internacionalsite apostasesforços para conter o surto e que a China sozinha não teria condiçõessite apostasfazer isso. Foi reconhecido que há uma emergênciasite apostassaúde pública na China.

Há também uma situaçãosite apostasrisco no mundo inteiro, porque hoje temos um grande intercâmbiosite apostaspessoas por viagens internacionais. Mas o fatosite apostasnão ter decretado a emergência global não significa que a OMS não esteja atuandosite apostasalerta máximo. Por se tratarsite apostasuma doença nova, que exige uma busca por novas informações diariamente, foi emitido um alerta para todos os países. Não é necessário esperar a formalidadesite apostasdecretar uma emergência global para que estejam preparados para agir. O alerta está dado.

site apostas BBC News Brasil - O Brasil pode ser afetado por este surto?

site apostas Barbosa - Nenhum país está protegidosite apostasreceber um viajante que tenha o vírus, inclusive o Brasil. Os países precisam estar preparados, prestando informações aos viajantes e alertando seus serviços públicos e também os privados, porque muitas vezes viajantes internacionais recorrem aos serviços privados. É importante que os países tenham capacidadesite apostasrealizar os exames para confirmar ou descartar um caso e, ao detectar um, tomar as medidassite apostascontenção para evitar que o vírus se propague e que um caso importado se torne o primeiro casosite apostastransmissão local.

Mas, por enquanto,site apostastodos os outros países, houve apenas casos importados, o que é uma boa notícia e um sinalsite apostasque os sistemassite apostasvigilância estão alertas e atuando para fazer uma detecção precoce, que é chave para evitar que o vírus entre no país e provoque surtos.

site apostas BBC News Brasil - Enquanto alguns países decidiram fazer a triagemsite apostaspassageiros, o governo brasileiro descartou essa medida por considerá-la ineficaz. O senhor concorda?

site apostas Barbosa - Todos os dados que acumulamos no mundo depois da Sars, da pandemiasite apostasinfluenzasite apostas2009 e da Mers demonstram que a triagemsite apostasaeroportos consome muitos recursos materiais e tem uma eficácia baixíssima. Por exemplo, no caso da pandemiasite apostas2009, estudos mostram que países que implantaram a triagem não tiveram nenhuma diferençasite apostasrelação a outros países que não fizeram isso.

É claro que dar informações nos aeroportos é importante. Mas o Brasil, até onde eu saiba, não tem voo diretosite apostasWuhan. É uma situação diferentesite apostaspaíses que têm, como os Estados Unidos. Embora nenhuma triagemsite apostasaeroporto seja 100% eficaz. A pessoa pode passar pela triagem sem ter sintomas, porque o vírus ainda estásite apostasperíodosite apostasincubação (quando não apresenta sintomas). É muito mais eficaz os serviçossite apostassaúde estarem alertas.

site apostas BBC News Brasil - site apostas A China foi no passado recente o epicentrosite apostasepidemiassite apostasnovos vírus. Por que estamos vendo mais uma vez a eclosãosite apostasum novo surto no país?

site apostas Barbosa - A China tem determinadas características que favorecem esse tiposite apostassurtosite apostasvírus que circulamsite apostasanimais e que ocasionalmente contaminam seres humanos. É um lugar densamente povoado e onde há hábitos culturais que levam a um grande contatosite apostaspessoas com animais vivos. Tanto que o que se considera que pode ter sido o epicentro do surto é um mercado onde há circulação, abate e vendasite apostasanimais muito intensos. Então,site apostaspaíses com estas características, é mais provável que haja esse salto da barreira entre espécies.

Mas é importante lembrar que a pandemiasite apostas2009 começou no México e que asite apostasebola também não teve nada a ver com a China. Precisamos ter cuidado para não caracterizar a China como a única fonte. Qualquer país pode ser fontesite apostasuma nova doença.

site apostas BBC News Brasil - Em 2003, a China foi criticada por ter demorado a informar a real gravidade da epidemiasite apostasSars. Como o senhor avalia a reação do país desta vez?

site apostas Barbosa - Até aqui, a China tem colaborado com a OMS. Notificou os casos, disponibilizou logo no começosite apostasjaneiro o sequenciamento genético do vírus, o que possibilita que vários países possam imediatamente fazer o diagnóstico para confirmar ou descartar casos. A China também recebeu uma comissãosite apostastécnicos da OMS, que estásite apostasWuhan esite apostasoutras cidades para coletar novas informações e evidências.

Mas não é muito apropriado comparar aquela situação com o que ocorre agora porque foi aprovadosite apostas2005 um novo regulamento sanitário internacional. Até então, um país não era obrigado a informar quando detectava uma doença nova. Havia uma lista muito curtasite apostasdoenças, como peste, cólera, varíola,site apostasque a notificação era obrigatória. Depois disso, qualquer nova enfermidade que possa ser uma ameaça e se disseminar globalmente deve ser notificada. As regras do jogo mudaram.

site apostas BBC News Brasil - Existem muitos vírus ainda desconhecidos?

site apostas Barbosa - Ah, sim, infelizmente temos, porque há vírus que têm a capacidadesite apostaster pequenas mutações e criar ramos com características diferentes. Por isso,site apostaslocais onde há mercados com presençassite apostasanimais, é preciso ter um cuidado especial e tratar a possibilidadesite apostastransmissãosite apostasdoenças entre animais e humanossite apostasuma forma mais abrangente. Neste caso, é um vírus novo. Ele provavelmente surgiu no ano passado, ele já existia e deve ter produzido poucos casos e casos levessite apostasuma região distante e que ninguém percebeu.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Diversos países adotaram triagem e medidassite apostasmonitoramentosite apostaspassageirossite apostasaeroportos

site apostas BBC News Brasil - O que podemos esperar desta epidemia nos próximos meses?

site apostas Barbosa - Nossa expectativa é que as medidas extraordinárias e inusitadas que a China tem tomado sejam capazessite apostascontrolar esse surto na fonte. O país está fazendo um esforço tremendosite apostasmapeamentosite apostascontatos, fechou o mercadosite apostasWuhan. A China praticamente colocousite apostasquarentena uma região que tem pertosite apostas40 milhõessite apostashabitantes. É uma medida que está sendo tomada pela primeira vez na história. Nunca se fez isso no mundo nesta escala. Nunca vimos uma cidade inteirasite apostasquarentena como agora. Mas precisamos ser prudentes, porque se tratasite apostasuma situação nova. Temos que vez se essas ações serão eficazes para conter ou cessar a transmissão e se serão sustentáveis ao longo do tempo.

site apostas BBC News Brasil - É possível prever quanto tempo este surto vai durar?

site apostas Barbosa - Não, é completamente impossível fazer qualquer previsão agora.

site apostas BBC News Brasil - Veremos a eclosãosite apostasnovas epidemias num futuro próximo?

site apostas Barbosa - Possivelmente, sim. Não é algo que acontece todo dia, mas, quando olhamos para os últimos 30, 40 anos, vemos que há a possibilidadesite apostasque isso ocorra mais para frente. Os vírus vão continuar a existir. Novos vírussite apostasinfluenza aparecem todos os anos, porque têm a característicasite apostassofrer mutações muito rápido — e também já vimos que os coronavírus também têm, porque, no intervalosite apostas16 anos, é o terceiro desta famíliasite apostasvírus que surge. Então, é possível que isso ocorrasite apostasnovo daqui a um ano, 10 anos ou 50 anos, é impossível prever exatamente quando. E não há nenhuma medida que possa eliminar essa possibilidade.

site apostas BBC News Brasil - Estamos preparados para combatê-las?

site apostas Barbosa - Creio que o mundo está muito melhor preparado do que no passado. Aprendemos muito com os surtos anteriores, mudamos o regulamento sanitário internacional, os países fortaleceram suas capacidadessite apostasvigilância epidemiológica esite apostasdiagnóstico laboratorial. Mas é preciso nos manter alerta e fazer revisões dos planos nacionaissite apostasemergênciassite apostassaúde pública para que, quando ocorra uma emergência real, tudo esteja pronto para ser colocadosite apostaspráticasite apostasforma eficiente.

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