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'Foi fazer mochilão há 7 anos e nunca mais apareceu': o mistério do brasileiro que sumiu no Peru:
Para permanecer na região, trabalhouhostels eum bar. Pouco antes do Natal2012, paroumandar mensagens para os pais. Dias depois, foi declarado desaparecido.
Em busca por respostas sobre o paradeiro do filho, os pais foram ao Peru várias vezes. Eles fizeram investigações por conta própria, relatam que gastaram maisR$ 200 mil, mas nunca chegaram a uma resposta sobre o que aconteceu com Artur. "Considero que fiz tudo o que estava ao meu alcance para tentar encontrar meu filho. Rodei todo o Peru para tentar descobrir algo, conheço mais aquele país que o Brasil", afirma o motoristaaplicativos Wanderlan Vieira, pai do jovem.
O sumiçoArtur é marcado por suposições e incertezas. Os pais acreditam que o rapaz pode ter sido vítimapessoas envolvidas com o tráficodrogas da região ou que possa ter sido escravizado. As autoridades peruanas, responsáveis por apurar o caso, nunca chegaram a nenhuma informação concreta. As investigações foram arquivadas há quase três anos.
Desapegado e aventureiro
A viagem ao Peru representava uma oportunidade para Artur conhecer mais sobre a cultura local. O rapaz era apaixonado por artes. Pouco antesviajar, ele havia ganhado um prêmio por um curta-metragem que produziuBrasília.
O jovem adorava tocar violão. Para contragosto da mãe, ele costumava tocar o instrumentotransporte público. "Morriavergonha quando me diziam que tinham visto meu filho cantando no metrô", diz a mãeArtur. A família do jovem éclasse média. "Ele não precisava fazer isso", justifica Susana. Ele também fez malabares nos semáforos da capital brasileira, por se recusar a depender financeiramente dos pais.
Quando o filho contou que viajaria para o Peru junto com uma caravanabrasileiros, Susana se desesperou. "Eu sempre soube que ele não seria muito presente na minha vida, porque ele era do mundo. Mas penseisegurá-lo, para tê-lo por perto, mas eu sabia que não tinha nada que pudesse fazer para impedi-loviajar", relata a arquiteta.
A última noite ao lado do filho, antesele viajar para o Peru, é um dos momentos que mais fazem parte das lembrançasSusana. "Tomamos cerveja e jogamos bilhar. Naquele dia, sentamos no meio-fiouma ruaBrasília e bebemos juntos. Eu já estava muito doída com a viagem dele, então decidi que seria importante estarmos juntos naquele momento", diz a mãe.
Quando foi para o Peru, o rapaz passou a se comunicar com os pais por meiomensagens no Facebook. "Ele tinha celular, mas não gostava. Até comprou um chip por lá, mas sempre preferiu mandar mensagens pela rede social. Nunca sabíamos quando ele mandaria uma mensagem", conta a arquiteta.
Em meadosnovembro, ele comunicou aos pais que o grupo com o qual tinha viajado estava voltando para o Brasil. Porém, Artur permaneceu no Peru. Ele disse que se encantou por Cuzco e queria ficar na região por mais seis meses. Em meados do ano seguinte, planejava viajar para a Bolívia e depois retornar ao Brasil. "Para mim foi péssimo saber que ele ficaria sozinho, mas não pude brigar com ele. Não havia o que fazer, porque ele me mandava uma mensagem a cada dez dias", relata Susana.
Ele se recusava a receber ajuda financeira dos pais. O jovem trabalhava como recepcionistahostels eum bar para que pudesse ter moradia e alimentação. No iníciodezembro, se mudouCuzco para Águas Calientes, também nas proximidadesMachu Picchu, a cidade perdida dos Incas.
"Ele disse que o dono do hostelCuzco tinha um amigo, que era donoum hostelÁguas Calientes, que precisavagente para trabalhar naquele fimano. Por isso, o meu filho foi para a outra cidade junto com outros dois brasileiros", diz Susana.
O desaparecimento
Dias depoischegar a Águas Calientes, o jovem mandou uma mensagem que preocupou a família. "Ele disse que bebeu demais, 'deu show' e o patrão não queria mais ele por lá. Fiquei com muita raiva do Artur por fazer isso, mas me acalmei e evitei brigar naquele momento, porque estava difícil manter contato com ele. Apenas disse: fique tranquilo, só me informa onde você está", conta Susana.
O jovem disse que iria "para a natureza", sem detalhar o destino. Ele enviou uma mensagem somente uma semana depois, informando que estava no distrito peruanoSanta Teresa. "Ficamos mais tranquilos", relata Susana.
Foi o último contato do jovem com os pais. O desespero da família sobre o sumiçoArtur começou no Natal, quando os parentes esperaram por uma mensagem dele. "Ligamos para o hostel que ele ficouÁguas Calientes, pois era o único contato que tínhamos, e nos disseram que nosso filho estava bem", diz Susana.
No dia 28dezembro, Wanderlan sonhou com o filho. "Eu sonhei que a Susana estavaum ônibus, segurando o Artur no colo, mas ele estava sem cabeça. Ela segurava a cabeça dele, que estava fora do corpo, com outra mão. Ele dizia para mim que estava vivo, mas estava ferido e precisavaajuda", diz o pai do rapaz.
A família ligou para um hostelSanta Tereza e um homem confirmou o desaparecimentoum brasileiro, mas não soube informar a identidade do turista. Desesperados, procuraram por autoridades brasileiras ou peruanas, que pudessem ajudá-los. Mas, segundo eles, não conseguiram apoio naquele momento. Conseguiram passagens aéreas para 31dezembro e embarcaram para o Peru. Em Lima, descobriram que o jovem desaparecido era Artur.
As buscas por respostas
Susana e Wanderlan foram a Santa Teresa, à procurarespostas para o sumiço do filho. A polícia deu início às buscas pelo jovem e o caso passou a ser divulgado na imprensa.
A procura por Artur reuniu autoridades peruanas e brasileiras. Susana e Wanderlan também resolveram fazer investigações por conta própria. Eles descobriram que Santa Teresa é uma cidade tomada pelo narcotráfico e com uma população com intenso temorrevelar qualquer informação.
"O tráficodrogas é muito forte naquela região. É uma zona que tem muita produçãococaína, principalmente nas fazendas que estão localizadastorno da montanha. Então é uma área muito perigosa", relata Susana.
Os paisArtur revelam que sofreram diversas ameaçasmorte enquanto estiveram por Santa Tereza. Apesar disso, não desistirambuscar por respostas. Nas redes sociais, parentes iniciaram um movimento para arrecadar recursos para que os pais permanecessem no Peru e conseguissem ajudar nas buscas. Em quatro meses, conseguiram pouco maisR$ 50 mil, por meiodoações.
Para buscar por informações, eles contam que tiveram a ajudainformantes da região. "Todos colaboravam anonimamente", explica Wanderlan. Ele afirma ter vivido situações aterrorizantes enquanto buscava pelo filho. "Uma mulher disse que tinha informações sobre o Artur. Combinamosnos encontrarum local e quando chegamos, ela estava morta, coberta com folhasbananeira e com as mãos decepadas", diz o motorista, que afirma ter ficado uma semana sem conseguir comer, após presenciar a cena.
"Foram muitas situações complicadas enquanto buscávamos respostas. Fomos muito ameaçados pelos traficantes da região. A população vive aterrorizada. Moradores da região afirmavam que a gente só não morreu durante as buscas pelo Artur porque a mídia estava noticiando o assunto", afirma Susana.
Na primeira vez, Susana e Wanderlan permaneceram no Peru por quatro meses. Eles fizeram buscas incessantes pelo jovem, mas não obtiveram respostas. Ela chegou a retornar uma vez ao país andino. Ele foi outras quatro vezes, sendo a última2016.
"Muitas provas foram destruídas ou desprezadas. A polícia não fez uma investigação real", critica Wanderlan. A família acredita que por se trataruma regiãotráfico intenso, as autoridades tiveram receioapurar profundamente o desaparecimento do jovem.
Após insistência dos pais, as autoridades policiais peruanas passaram a investigar o caso como crime, não mais apenas como desaparecimentopessoa.
Os paisArtur fizeram denúncias às autoridades peruanas. Apontaram, entre os suspeitos, o dono do barque ele trabalhou, antesdesaparecer. Outras pessoas ligadas ao homem, segundo os pais, também poderiam ter ligação com o desaparecimento. No entanto, nada foi comprovado pelas investigações da polícia. Ninguém chegou a ser preso.
Morto ou vivo
Para Susana, o filho está morto. Ela acredita que ele possa ter sido assassinadodezembro2012. "Uma mulher bateu no meu albergue cinco da manhã, disse que tinha que falar comigo rapidamente, antesamanhecer, e me contou que ouviu meu filho sendo agredido e pedindo para não apanhar", diz Susana.
Ela conta que não sabe as causas da suposta agressão. "Acredito que o Artur talvez tenha descoberto algo que tenha incomodado as pessoas daquela região", diz a arquiteta.
A casa na qual a testemunha relatou ter ouvido gritosArtur pertence ao dono do barque o jovem trabalhava. Na residência foram encontradas marcassangue. Os vestígios passaram por análise, que apontaram que não seriam do jovem. "Mas até hoje acredito que aquele sangue era do meu filho", declara Susana. Para ela, deveriam ser feitas outras análises do material colhido.
Desde que soube do desaparecimento do filho, ela relata ter aprendido a lidar com a ideiaque ele morrera. "Em minha mente, ele está morto. Mas quem me garante que estou certa? Não sei o que aconteceu. Alguns conhecidos dizem que isso pode ser uma fuga para não sofrer mais. Pode ser. Mas há sete anos convivo com a sensaçãoque ele morreu", afirma a arquiteta.
Wanderlan, porém, acredita que o filho possa estar vivo. Quando voltou ao Peru, dois anos depois do desaparecimentoArtur, ele conta ter ouvido diversas pessoas afirmarem que viram um rapaz com características semelhantes às do jovem desaparecido. "Algumas pessoas me informaram que ele poderia estaruma reserva indígena, no norte do Peru. Em meados2015, fui até essa região e muitas pessoas disseram que ele estava por lá", relata o motorista.
"A última informação que tenho é2015,que ele estaria por lá, sendo escravizado para trabalhar como tradutor, porque ele sabia inglês e espanhol. Me disseram que ele teria sido vendido por traficantes da região por valor semelhante a R$ 100 mil. Mas não consegui encontrá-lo, até porque eu não tinha dinheiro para permanecer tanto tempo naquela região", acrescenta Wanderlan.
A cada ano sem informação sobre o paradeiro do filho, Wanderlan conta que as esperançasencontrá-lo reduzem. Porém, ele ainda acredita que o jovem possa estar vivo. "Hoje acredito menos nisso", afirma.
Em nota à BBC News Brasil, o Itamaraty ressalta que as investigações sobre o caso foram encerradas pelas autoridades peruanas2017. Segundo a entidade, foram cinco anostrabalho, que incluíram "diversas diligências na regiãoque ocorreu o desaparecimento".
Ao menos por ora, as investigações sobre o desaparecimentoArtur foram suspensas, por faltacomprovações sobre o paradeiro do jovem. "Até este momento, o Itamaraty não foi informadoqualquer fato novo que possa servir como justificativa para pleitear, junto às autoridades peruanas, a reabertura dessas investigações", detalha o Itamaraty.
Enquanto não conseguem respostas concretas, Susana e Wanderlan, que foram casados por mais25 anos e estão separados há dois anos, afirmam que é difícil conviver com a saudade e a incerteza sobre o filho. Apesarterem opiniões distintas sobre o que aconteceu com o jovem, eles têm algocomum: a esperançaque ainda conseguirão respostas sobre o desaparecimento do rapaz.
Para acalentar a saudade, Susana costuma compartilhar textos sobre o filho nas redes sociais. "Parece que tem dias que a dor não cabe no peito. Daí eu te procurominha alma para poder respirar. Quanta falta você faz", escreveu a mãe do jovem, meses antescompletar sete anos sem respostas sobre Artur.
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