O que é avaliado na prova do Pisa, exameeducação no qual o Brasil tem dificuldadeavançar:

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Legenda da foto, Exame internacional tenta avaliar,79 países e economias, capacidadeestudantes15 anosanalisar textos e aplicar conceitos matemáticos e científicos

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Legenda da foto, Em leitura, a intenção é avaliar se compreenderam conceitos-chavetexto e são capazesusar essas informaçõessuas vidas

Em uma das perguntasleitura desta edição divulgadas pela OCDE, os alunos tinhamler textos relacionados à ilhaRapa Nui (ou ilhaPáscoa), no oceano Pacífico, e ao trabalhouma pesquisadora fictícia, para responder a questões básicas cujas informações estão contidas nos textos: há quanto tempo ela pesquisa Rapa Nui? O que é fato e o que é opinião nos argumentos do texto? Que descobertas sobre a ilha causam discordância entre cientistas?

A intenção é avaliar se compreenderam conceitos-chave do texto — uma das habilidades esperadas que os alunos tenhamleitura, alémconseguir obter instruções e informações dentrotextos e ser capazesusar esses dados navida cotidiana, na leiturarótulosembalagens,notícias ou mesmocontratos. E, também,fazer uma análise crítica dessas informações.

Os resultados do Pisa mostram que 50% dos alunos brasileiros15 anos tinham nível básicoleitura. Apenas 2% alcançaram nível altoproficiência nessa competência.

O que é avaliadomatemática

Em matemática, os resultados são piores. Apenas um terço dos alunos brasileiros alcançou o nível básico (contra 98% dos alunos chineses, que lideram as notas do Pisa), e apenas 1% alcançou o nível excelente.

Nessa área, a avaliação não équanto os alunos brasileiros sabemfórmulas matemáticas, mas simsua capacidade"formular, usar e interpretar a matemática" para seu cotidiano — desde controlar seus gastos no mercado até medir quantidades para uma receita, compreender estatísticas ou avaliar custosum projeto.

O objetivo, diz a OCDE, é que as escolas formem alunos capazes"refletir e entender o papel da matemática no mundo".

A entidade não divulgou exemplosperguntas da prova2018, mas exemplosprovas prévias indicam o tipoconceito exigido.

Crédito, Reprodução/Pisa

Legenda da foto, Perguntafinanças do Pisa 2012inglês; objetivo não era que alunos fizessem conta, mas sim avaliar seu conhecimento básicotermos financeiros para a vida cotidiana

Em 2012, uma questãofinanças trazia uma fatura recebida por uma pessoa chamada Sarah e emitida pela empresaroupas Breezy. Não havia nenhum cálculo envolvido: o aluno precisava apenas responder quem deveria pagar a fatura (se Sarah ou a Breezy) e se a fatura já havia sido paga, com base nas informações apresentadas.

O objetivo da questão era ver se os alunos "conseguem identificar produtos e termos financeiros comuns e interpretar informações relacionadas a conceitos financeiros básicos", diz a OCDE, sendo assim capazes"tomar decisões simplesgastos do dia a dia".

O que é avaliadociências

Como exemplo da provaciências do Pisa, uma pergunta2015 (as da prova2018 ainda não foram divulgadas) usava a migraçãopássaros para avaliar se os alunos eram capazesentender conceitos relacionados à evolução das espécies. Outra questão pedia aos alunos que simulassem a perdaágua, pelo suor, que uma pessoa sente ao praticar uma horacorrida.

O objetivo da provaciências, diz a OCDE, é medir a habilidadeentender metodologias e fenômenos científicos, aléminterpretar evidências cientificamente e tirar conclusões a partir delas.

Nessa competência, na prova2018, menos da metade (45%) dos alunos brasileiros alcançaram o nível básico ou superior, o que significa que conseguem "reconhecer a explicação correta para fenômenos científicos conhecidos". Apenas 1% dos alunos do país foi considerado proficienteciências.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Escola na Finlândia, um dos países que se destacam no Pisa; 'Continuamos estagnados e,educação, estagnação é retrocesso, porque os demais países estão avançando', diz especialista brasileiroeducação

'Em educação, estagnação é retrocesso'

Para o especialistaeducação Mozart Neves Ramos, diretorarticulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, o Pisa está buscando avaliar competências cada vez mais exigidas na vida real e no ambientetrabalho, e que vão alémapenas conhecer determinadas fórmulas, fatos ou conteúdos.

"O Brasil ainda está olhando muito para o conteudismo, mas o mais importante é a qualidade do que é ensinado e a forma como é ensinado, dando sentido a esse conteúdo para os alunos", afirma à BBC News Brasil.

"Isso não significa não focar no conteúdo, mas (tirar) o excesso que não faz mais sentido no mundohoje", diz ele, exemplificando as fórmulasquímica que era obrigado a memorizar quando era estudante. "O que está sendo exigido no mundo do trabalho é resoluçãoproblemas, valores, criatividade."

A OCDE concluiu que o Brasil estagnou no Pisa na última década, embora tenha elogiado o país por ter conseguido incluir mais alunos na redeensino sem com isso a qualidade daeducação.

Isso, porém, é insuficiente, opina Ramos, que também é integrante do Conselho NacionalEducação.

"O problema é que essa qualidade estáum patamar muito baixo", diz Ramos à BBC News Brasil. "Só 2%nossos alunos estão nos níveis mais altos no Pisa. E ainda temos um grande contingentealunos15 a 17 anos fora das escolas. Não acho que temos muito o que comemorar com um crescimento pífio. Continuamos estagnados e,educação, estagnação é retrocesso, porque os demais países estão avançando."

Para Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, a estagnação identificada pela OCDE na última década coincide com o períodoque caiu, emopinião, a mobilizaçãoentes públicos — governos, estados e municípios — por leis e medidas articuladasinvestimentos na educação pública e nos professores.

"Políticas educacionais não melhoram por espasmo. É um processo contínuo eresultadoslongo prazo", opina. "O resultado que temos hoje (no Pisa) é o que podemos ter com o que investidoeducação."

No entanto, diz Cara, "o Pisa não pode servir para o ataque à escola pública". "Em termoseficiência, a escola pública faz muito com o pouco que tem. Mas não dá para fazer milagre."

Em comunicado do Ministério da Educação, o ministro Abraham Weintraub afirmou que o Brasil está "estagnado desde 2009. Estamos com o mesmo desempenho estatisticamente desde 2009, a despeito dos recursos investidos".

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Legenda da foto, 'Temos um lado culturalcomo olhamos e incentivamos a matemática, que desde cedo é vista como difícil e chata' no Brasil, diz especialista

'Avançamos mais do que eu imaginaria'

Nem todos os analistas, porém, veem os dados com pessimismo. "Todos estão dizendo que estagnamos, mas não acho que isso seja verdade", afirma Claudia Costin, diretora do Ceipe (CentroExcelência e InovaçãoPolíticas Educacionais) da FGV Rio.

"Estamos longeonde deveríamos estar, mas melhoramos nas três disciplinas (3 pontos a maisleitura, 5 pontos a maismatemática e 2 pontos a maisciências,comparação com o Pisa anterior), então acho que ése celebrar. Para um país atrasadoseu devercasa, avançamos para além do que eu imaginaria."

Costin opina que, com a ainda recente implementação da Base Nacional Curricular Comum (documento que aponta quais competências devem ser desenvolvidas nas escolas) e a possibilidadeque se criem,âmbito federal, novas diretrizes para melhorar a formaçãoprofessores — considerada um gargalo na educação brasileira —, futuras avaliações do Pisa podem trazer ganhos mais substanciais.

Para Ernesto Martins Faria, da entidade Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), o mais preocupante entre as evidências do Pisa é o baixo resultado do Brasilmatemática e ciências, "o que traz um desafio muito maior do que o(avançar)leitura".

"Temos um lado culturalcomo olhamos e incentivamos a matemática, que desde cedo é vista como difícil e chata. O principal é melhorar a formaçãoprofessores (dessa disciplina), tanto para a rede pública como para a privada", opina ele.

"Para ciências e leitura, nosso desafio é escalonar (bons exemplos) para o país inteiro. Para matemática, não é só dar escala, mas criar novas metodologiasensino."

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