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Sem apoio, pesquisa que pode resolver problema mundial das superbactérias trava no Brasil:roleta roulette
Cientistas entrevistados pela BBC News Brasil dizem que isso ocorre porque os centrosroleta roulettepesquisa não têm os recursos e os conhecimentos técnicos da indústria para fazer os testesroleta roulettegrande escala e registrá-los antesroleta rouletteserem usados pela população. Eles explicam que no laboratório é possível desenvolver apenas o protótipo do medicamento.
Os pesquisadores do CNPEM até conseguem provar que o remédio funciona, fazem simulaçõesroleta roulettemicro-órgãos artificiais, mas não têm estrutura para testar como ele reageroleta rouletteorganismos mais complexos, como animais e humanos.
Os pesquisadores também não têm conhecimento técnico para cumprir todas as etapas e exigências para aprovação do medicamento na Agência Nacionalroleta rouletteVigilância Sanitária (Anvisa). Os maiores especialistas nessa área são as grandes indústrias, que têm dinheiro e estrutura necessários para um estudo desse porte. Testes como esses podem ultrapassar a cifraroleta rouletteR$ 4 bilhões.
Sem algo que combataroleta roulettemaneira eficaz as superbactérias, o que a indústria faz hoje, segundo os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, é "enxugar gelo". Isso ocorre porque, mesmo que as empresas invistam alto e passem anos desenvolvendo um novo medicamento, seus efeitos duram pouco tempo, pois as bactérias passam por mutação e criam resistência a ele.
Nanopartícula teleguiada
Uma das explicações para o fortalecimento dessas bactérias é que, muitas vezes, o paciente não as mata completamente. Por não seguir o tratamento pelo tempo recomendado, as bactérias sobrevivem e ficam imunes aos medicamentos que antes as combatiam, sofrem mutação e ficam ainda mais fortes.
Hoje, quando uma pessoa toma um antibiótico ou qualquer outra droga, ela se distribui indiscriminadamente pelo corpo. Um paciente com dor na garganta, por exemplo, toma um antibiótico para curá-la, mas os pés, orelhas e mãos também serão afetados pelo medicamento.
O cientista Mateus Borba Cardoso, do CNPEM, explica como funciona o seu estudo mais promissor: a nanopartícula teleguiada com antibiótico. Ele diz que consegue usar uma quantidade até mil vezes menorroleta rouletteantibiótico e direcioná-lo à bactéria para combatê-la diretamente. Hoje, o antibiótico se espalha por todo o corpo, por isso é necessária uma quantidade tão grande para tratar bactérias.
"A gente está desenvolvendo nanopartículas direcionáveis. A partir do momentoroleta rouletteque a gente administra o medicamento no paciente, ele tem um tropismo pela região doente, como um GPS. A grande vantagem é tomar uma quantidade mil vezes menorroleta rouletteantibiótico ou antitumoral e ter um efeito igual ou ainda mais acentuado que um remédio comum porque todo o fármaco vai para o lugar onde desejamos. Hoje, não existe nenhum medicamento que faz isso no mundo", afirmou o cientista.
Mas para que o antibiótico não reaja com outros organismos ao longo do caminho até a bactéria ou seja combatido por anticorpos, ele desenvolveu um disfarce para que o medicamento não seja identificado pelos mecanismosroleta roulettedefesa do corpo como uma ameaça.
Ele "colou" moléculasroleta rouletteágua ao redor do remédio para que ele seja visto como algo inofensivo. Assim, as nanopartículas podem fazer seu trajeto "fantasiadas" e só liberam a cargaroleta roulettedroga quando chegam ao destino.
"O mecanismo funciona, mas precisa ser testadoem organismos vivos. A pesquisa já está madura o bastante para isso, mas todos esses testes são necessários para garantir que a droga fique estável e possa ser comercializadaroleta roulettelarga escala, mundialmente", afirmou Cardoso à BBC News Brasil.
Três papers publicados na Nature mostram que após a segunda injeção o sistema já estava reconhecendo essa fantasia.
Corrida mundial
Mateus Cardoso conta que há outros quatro grupos científicos no mesmo caminho para tentar solucionar o problema das superbactérias. Ele diz que conhece a estratégiaroleta roulettecada um deles e afirmou que cada um tem uma abordagem diferente para atacar as superbactérias. Um desses grupos é americano, outro chinês e dois alemães.
O projeto brasileiro, o único que usa nanotecnologia teleguiada, ainda não recebeu nenhuma propostaroleta roulettefinanciamento para que possa avançar nas pesquisas. Sem dinheiro, Cardoso contou que vai iniciar os testes numa escala limitada.
"Nós somos um dos poucos grupos do mundo que conseguem chegarroleta rouletteforma seletivaroleta roulettebactérias. Isso é muito difícil pois as bactérias têm poucas possibilidaderoleta rouletteancoramento (ligação seletiva por meioroleta rouletteum sistema chave-fechadura) , pois a superfície delas é 'consideravelmente simples', quando comparadas a vírus e células", afirmou Cardoso.
A BBC News Brasil procurou as três indústrias farmacêuticas (EMS, Sanofi e Hypera Pharma) que mais lucraram no último ano para saber se elas conhecem o projeto, se costumam fazer parcerias com cientistas brasileiros, se visitam os centros acadêmicos, quantas fórmulas produziu nos últimos anos e quantas comprou do exterior. Nenhuma delas quis comentar o assunto.
O presidente-executivo do Sindicato da Indústriaroleta rouletteProdutos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, diz que há diversas pesquisasroleta rouletteandamento no Brasil, feitas principalmente a partirroleta rouletteparcerias entre indústrias e universidades.
Ele diz que essas parcerias são confidenciais, mas revela que uma delas, feitaroleta rouletteparceria com a USP, já recebe o seu segundo royalty (uma parte do lucro). Há ainda parcerias com Unicamp, PUC Rio Grande do Sul e outros institutosroleta roulettepesquisa. Ele cita diversos fatores econômicos que dificultam o investimentoroleta roulettepesquisa no Brasil.
"Na melhor das hipóteses, uma pesquisa sobre medicamentos demoraroleta roulette10 a 12 anos e tem um custoroleta rouletteaté US$ 1 bilhão (R$ 4,15 bilhões) para lançá-lo. As empresas brasileiras fazem pesquisas, mas escolhem os ramos com retorno mais garantido. Em outros países, é mais fácil porque o governo também faz parceria com os pesquisadores e ainda há empresas como a Bayer, que tem um lucro que vale por toda a produção brasileira", afirmou Mussolini.
O presidente da Sindusfarma também disse que no Brasil não há uma tradição dos centrosroleta roulettepesquisa e universidades "venderem" seus estudosroleta roulettebuscaroleta roulettefinanciamento, e vice-versa. Na visão dele, pesquisadores e indústrias precisam se comunicar mais, para possibilitar mais parcerias.
"Agora que estão passando por dificuldades que os cientistas estão saindo da caixinha, buscando financiamento privado. O pesquisador precisa sairroleta rouletteseu casulo e dizer que está fazendo pesquisa e tem interesseroleta roulettereceber financiamento. Mas isso é uma chave que não muda da noite para o dia", disse.
"Por outro lado, na Europa e nos Estados Unidos você tem profissionais que ficam visitando universidades e centrosroleta roulettepesquisa atrásroleta roulettenovos medicamentos. Aqui não tem", afirmou Mussolini.
Para ele, a pesquisa sobre superbactérias desenvolvida no CNPEM tem um grande potencial para ser financiada por uma instituição privada.
"O cara desenvolveu um produto farmacêutico que combateroleta rouletteforma eficaz a superbactéria. Não é que vai ter uma indústria querendo investir nele, mas uma fila, nacional e internacional", afirmou o presidente do sindicato que representa as indústrias farmacêuticas.
Lucio Freitas Junior, pesquisador do Institutoroleta rouletteCiências Biomédicas (ICB) da USP, disse que há indústrias brasileiras capazesroleta roulettefinanciar grandes estudos, mas que historicamente não apostamroleta roulettepesquisas.
"Por outro lado, o pesquisador também não está acostumado a cumprir metas e apresentar propostas. Na academia, ele quer ter dinheiro, mas não quer cobrança. Fui numa farmacêutica e propus uma tecnologia. Meus dois pós-docs foram financiados pela indústria. Dinheiro não falta, mas a cobrança, para muitos, é fatal", disse Junior.
Fugaroleta roulettecérebros
Cientistas dizem que essa faltaroleta roulettefinanciamento das indústrias aliada aos recorrentes cortesroleta rouletteverbasroleta roulettebolsas da Coordenaçãoroleta rouletteAperfeiçoamentoroleta roulettePessoalroleta rouletteNível Superior (Capes) e do Conselho Nacionalroleta rouletteDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) causam uma fugaroleta roulettecérebros do Brasil. Neste ano, professoresroleta rouletteuniversidades brasileirasroleta rouletteprestígio já deixaram o país para trabalharroleta roulettegrandes empresas, principalmente na Europa.
Os profissionais que permanecem no Brasil entendem isso como um ataque à ciência. Para eles, a atual políticaroleta roulettecortes vai na contramão mundial, inclusiveroleta roulettepaísesroleta roulettedesenvolvimento, como China e Índia.
Uma das poucas exceções, disseram, é a Fundaçãoroleta rouletteAmparo à Pesquisa do Estadoroleta rouletteSão Paulo (Fapesp), que ainda consegue financiar a parte laboratorial dos grandes projetos, como oroleta rouletteCardoso, que diz ter dinheiroroleta roulettesobra para essa etaparoleta roulettesua pesquisa. Para alguns dos entrevistados pela BBC News Brasil, a indústria brasileiraroleta roulettemedicamentos não tem capacidaderoleta roulettese integrar com a academia.
"Eles querem ter um retorno rápido, lucro imediato. Mas também há um desconhecimento. Uma indústria da árearoleta rouletteprodutos para higiene pessoal nos procurou para um projeto, mas os cientistas nem sequer conseguiram entender o que eles queriam por causa do despreparo dos profissionais", disse Mussolini.
Os baixos salários pagos pela indústria nacional, segundo esses profissionais, na comparação com o pagamento oferecido por empresasroleta roulettefora são outra razão para que pesquisadores optem por deixar o país.
Um problema social
Hoje, a produçãoroleta roulettemedicamentos não consegue acompanhar a velocidaderoleta rouletteevolução das bactérias. O uso indiscriminadoroleta rouletteantibióticos é um dos motivos, segundo especialistas.
"Quando um paciente toma doses pequenas por conta própria, ele não mata a bactéria. Essas que não morrem são descartadas pelo corpo na urina e fezes. Isso causa um problema social, pois essa água chega a um afluente e contamina a água e peixes. Todos ficam com bactérias mais resistentes a antibióticos", afirmou o cientista Mateus Cardoso.
O problema apontado pelos cientistas do CNPEMroleta rouletteos antibióticos vendidos atualmente atuarem no corpo inteiro, e não apenasroleta rouletteforma localizada, poderia ser resolvido por meio das nanopartículas direcionáveis. Além da vantagemroleta roulettea dose ser mil vezes menor e atacar apenas as superbactérias, evita que mais antibiótico seja despejado no meio ambiente.
Uma estudante também do CNPEM,roleta rouletteCampinas, está usando esse mesmo sistemaroleta roulette"teleguiar" nanopartículas emroleta rouletteteseroleta roulettedoutorado. Ao invésroleta rouletteatacar inflamações, seu estudo é baseadoroleta roulettedestruir células com câncer.
Antibiótico personalizado
Uma nanopartícula tem um tamanho mil vezes menor que o diâmetroroleta rouletteum fioroleta roulettecabelo. Alémroleta roulettecarregar uma partícula tão pequena com antibiótico e ainda "fantasiá-la"roleta rouletteágua, os cientistas estão projetando um sistema que funcione ainda melhor no futuro.
A ideia dos cientistas é criar um sistemaroleta roulettechave e fechadura personalizado para cada paciente. Dessa forma, um exame identificaria qual bactéria afeta o órgão e produziria um antibiótico para combatê-la da maneira mais efetiva possível.
"A intenção é que daqui a 50 anos um paciente diagnosticado com câncer ou com alguma bactéria vá a um laboratório onde seja feito um estudo para saber quais receptores há nela e quais fármacos a combate. A partir disso, será possível produzir as partículas com os fármacos e os co-receptores que vão se ligar a elas,roleta rouletteforma seletiva, para combatê-las", afirmou.
Esse pode ser o próximo passo para um tratamento personalizado no futuro.
Teoria da conspiração
O vencedor do prêmio Nobelroleta rouletteFisiologia e Medicinaroleta roulette1993, Richard J. Roberts, é uma das referências entre os que defendem a correnteroleta rouletteque as indústrias farmacêuticas não têm interesseroleta rouletteproduzir remédios que curam definitivamente, com a intençãoroleta roulettevender cada vez mais medicamentos.
"Essa é uma das teses que não têm cabimento. Se eu tenho um produto para combater o malroleta rouletteAlzheimer, por exemplo, você acha que eu não vou querer vender esse produto? Você já imaginou quanto valorizaria uma empresa na bolsaroleta rouletteNova York que conseguir curar todos os tiposroleta roulettecâncer líquidos?", afirma Nelson Mussolini, presidente da Sindusfarma.
"Se fosse assim, a penicilina não estaria no mercado. Quantas milharesroleta roulettevidas ela salvou? A indústria que fazia a penicilina foi vendida por bilhõesroleta roulettedólares por ter uma históriaroleta roulettesucesso", disse.
Para a indústria farmacêutica, defende o presidente do sindicato do setor, "o ideal é que as pessoas não morressem, porque quanto mais elas vivem, mais precisamroleta roulettenovos produtos".
"Essa é a teoria da conspiraçãoroleta rouletteque o farmacêutico quer matar a população. Nós queremos salvar vidas. As pessoas estão vivendo mais e, por causa disso, há novas doenças e a indústria precisa ganhar dinheiro para fazer novos medicamentos", afirmou.
Procurado, o Ministério da Ciência, Saúde, Tecnologia, Inovação e Comunicações disse que o governo federal investeroleta roulettediversas pesquisas, inclusive ensaios pré-clínicos — aqueles feitos antes dos medicamentos serem testadosroleta roulettehumanos.
A pasta informou queroleta roulette2018 lançou uma chamada pública para projetosroleta roulettepesquisaroleta roulettenovos medicamentos antibióticos no valorroleta rouletteR$ 1 milhão para o "Plano Nacionalroleta rouletteEnfrentamento à Resistência Antimicrobiana".
O MCTIC afirmou ainda que "financia instituições que atuam e promovem testes pré-clínicos (de medicamentos), como no Centroroleta rouletteInovação e Ensaios Pré-Clínicos CIEnP,roleta rouletteSanta Catarina".
O governo disse que o Marco Legal aprovadoroleta roulette2016 "favorece a colaboração entre centrosroleta roulettepesquisa, empresas e governo para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação" no Brasil.
A pasta afirmou ainda que "considera essencial a criação e manutençãoroleta rouletteestruturas e ferramentas que poderão proporcionar ao complexo industrial da saúde nacional a capacidaderoleta roulettegerar novos negócios, expandir as exportações, integrar-se à cadeiaroleta roulettevalor e estimular novas demandas por produtos e processos inovadores, levandoroleta rouletteconsideração as prioridades do Sistema Únicoroleta rouletteSaúde".
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