Os brasileiros não-binários que lutam pelo reconhecimento do gênero neutro: 'Não me considero homem, nem mulher':pokerschool pokerstars

Jinx e Cup se identificam como pessoas não-binárias. O termo, ainda pouco conhecido, é utilizado para denominar aqueles que não se classificam exclusivamentepokerschool pokerstarsnenhum dos gêneros binários - masculino ou feminino.

"São pessoas que podem se sentir transitando entre os dois gêneros, sem necessariamente estarpokerschool pokerstarsum deles. São os indivíduos que resistem à normalizaçãopokerschool pokerstarsgêneros. São pessoas cujos corpos denunciam uma resistência à imposiçãopokerschool pokerstarsnormas", explica a psiquiatra e educadora sexual Alessandra Diehl, especialistapokerschool pokerstarssexualidade humana.

A partir da décadapokerschool pokerstars80, os estudospokerschool pokerstarsgêneros passaram a abordar uma vertente que não incluía somente masculino ou feminino. Desde então, conforme especialistas consultados pela BBC News Brasil, surgiu o termo não-binários - também denominado por estudiosos como 'genderqueer'.

Diehl ressalta que apesarpokerschool pokerstarsestudos recentes, indivíduos não-binários existem há séculos. "A diferença é que agora há estudiosos que abordam essa desconstrução do gênero."

Em busca da própria identidade

Logo que passou a ser chamadapokerschool pokerstarsJinx, a jovem pediu aos amigos que passassem a tratá-la no feminino. "Prefiro ser identificada assim, porque está fora do padrão que me impuseram", argumenta. Cup não se importa com o gênero no qual é tratado. "Não tenho preferência. Cada pessoa se relaciona com issopokerschool pokerstarsuma forma diferente. Não há um padrão", explica o jovem.

Estudiosos afirmam que as definições sobre os gêneros dos pronomes que serão utilizados dependempokerschool pokerstarscada indivíduo não-binário. Uma das orientações é questionar a pessoa sobre o modo que prefere ser tratada.

Uma alternativa sobre o modo como tratar um indivíduo não-binário é o uso da linguagem neutra, utilizada para não especificar o gênero do interlocutor. Nela, são utilizados termos como "elu" -pokerschool pokerstarsvezpokerschool pokerstarsele ou ela - e a vogal "e" se torna recorrente nas palavras com terminologias que denotam gênero. Amigo se torna amigue. Bonito se torna bonite.

Em um passado recente, a letra X chegou a ser utilizada para grafar o gênero neutropokerschool pokerstarsalguns textos. Era comum ler palavras como "bonitx" ou "simpaticx" para não especificar se eram termos masculinos ou femininos. A consoante, porém, entroupokerschool pokerstarsdesusopokerschool pokerstarsrazão da dificuldade para ser pronunciada no fim das palavras.

Entre pessoas não-binárias, há aquelas que somente querem ser tratadas no gênero neutro. "Não aceito que me tratem como ele ou ela. Pô, não é difícil usar a linguagem neutra. Dá pra aprenderpokerschool pokerstarsuns cinco minutos. Puro preconceitopokerschool pokerstarsquem se nega a usá-las", diz Julian Cosmo Kahalia,pokerschool pokerstars21 anos.

"Puxa, é algo que ando refletindo há um tempo. Percebi que me incomoda demais terpokerschool pokerstarsescolher o pronome masculino ou feminino para as pessoas se referirem a mim. Não me identifico dessa forma. Sou uma pessoa não-binária. Hoje, peço para me chamarem pelo gênero neutro. Só relevo quando não vale a pena explicar, como, por exemplo, quando só vou ver aquela pessoa por alguns minutos da vida, como motoristaspokerschool pokerstarsônibus ou enfermeiros", completa.

Julian, que é artista e trabalha criando ilustrações, passou a se identificar como pessoa não-binária aos 17 anos. "Quando conheci o assunto, vi que me encaixei naquilo. Tudo fluiupokerschool pokerstarsforma natural e me senti como se isso sempre fizesse parte da minha identidade", comenta. Desde 2015, deixou o nomepokerschool pokerstarsbatismo para trás. "Passei a me chamar Cosmo apenas. Há um ano, adotei Julian, porque o cantor dos Strokes se chama Julian Casablancas. Eu tinha uma quedinha nele e sempre achei o nome belíssimo", diverte-se.

Cup, Jinx e Julian são nomes sociais. Nos documentos deles ainda constam informações com as quais foram identificados ao nascer. Cup, ao menos por ora, não pensapokerschool pokerstarsmudar o nome com o qual foi registrado pelos pais. "Peço apenas que as pessoas me chamem pelo nome social, que surgiu como um apelido, quando eu frequentava fóruns virtuais sobre ilustração."

No futuro, Jinx e Julian pensampokerschool pokerstarsalterar os nomes. Em relação ao gênero que consta nos documentos, não cogitam mudanças. "Não sinto vontadepokerschool pokerstarsalterar o gênero nos documentos, porque o masculino também não me representa. Se tivesse uma terceira opção, eu mudaria", comenta Julian.

Em alguns lugares do mundo, os documentos possuem uma terceira alternativa para que o indivíduo se identifique, alémpokerschool pokerstarsmasculino ou feminino. Na Austrália, há o gênero neutro, adotado desde 2014. Na Alemanha também existe o terceiro gênero nos registros, conforme aprovado pelo governo alemão no fim do ano passado. No Brasil, ao menos por ora, não há discussão sobre o tema.

Transgêneros

Grande parte dos indivíduos não-binários se identificam como transgêneros. Isso porque não se enquadram no gênero com o qual foram identificados ao nascer. Julian, Jinx e Cup não fogem à regra.

"Uma pessoa trans é aquela que não se identifica 100% com o gênero que lhe foi imposto. Dentro disso existem as pessoas trans binárias, que se identificam como homens ou mulheres transgêneros, e as trans não-binárias, que não se veem como homem ou mulher", diz Julian.

Segundo Alessandra Diehl, é importante levarpokerschool pokerstarsconsideração que cada indivíduo não-binário define sobre si. "Na construção do gênero, quem se considera algo ou alguém deve ser a própria pessoa portadora daquela identidade. Por isso, é importante terpokerschool pokerstarsmente sempre que esta identidade construída socialmente é atribuída pelo sujeito e não por terceiros", diz.

O fatopokerschool pokerstarsa pessoa se considerar transgênero, conforme especialistas ouvidos pela reportagem, está ligado à forma como ela se identifica. Tal classificação não está ligada ao fatopokerschool pokerstarsa pessoa utilizar hormônios ou recorrer à cirurgiapokerschool pokerstarsredesignação sexual - a popular mudançapokerschool pokerstarssexo.

Cup não toma hormônios, nem cogita passar pela cirurgiapokerschool pokerstarsredesignação sexual. Jinx pensapokerschool pokerstarsutilizar bloqueadorespokerschool pokerstarstestosterona. "Mas não sei se os efeitos desejados condizem com o que quero para a minha aparência no momento. Já tive algumas experiências com hormônios, mas tive um problema no fígado e tivepokerschool pokerstarspararpokerschool pokerstarsutilizá-los", pondera Jinx.

Já Julian toma testorona há um ano e meio,pokerschool pokerstarsbuscapokerschool pokerstarsuma aparência que considera mais masculina. "Mas isso não me faz mais transgênero que aqueles que não tomam hormônio. Isso também não significa que me identifico como homem trans. É apenas uma escolha pessoal e estética", explica.

A cirurgiapokerschool pokerstarsredesignação sexual não faz parte dos objetivospokerschool pokerstarsJulian. "Meu corpo não me incomoda. Só queria remover os seios, porque prefiro essa estética para mim", diz.

Orientação sexual

Não existem padrões sobre a orientação sexual - que define por quem cada pessoa se interessa - entre os não-binários. "São equivocadas definições ou regras nesse aspecto. Esses casos dependempokerschool pokerstarscada indivíduo", argumenta João Manuelpokerschool pokerstarsOliveira, doutorpokerschool pokerstarspsicologia social e pesquisadorpokerschool pokerstarsestudospokerschool pokerstarsgêneros.

Entre os não-binários, assim comopokerschool pokerstarscasospokerschool pokerstarspessoas binárias, pode haver aqueles que se identificam como heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Esta última é a orientação sexualpokerschool pokerstarsJinx e Julian. "Me considero assim porque não faço distinçãopokerschool pokerstarsgêneropokerschool pokerstarsmeus relacionamentos", revela Jinx.

A motivação política, ou seja, as bandeiras que quer defenderpokerschool pokerstarsmeio à sociedade, segundo Alessandra Diehl, é uma das principais motivações para que uma pessoa não-binária defina apokerschool pokerstarsorientação sexual. "Por exemplo, ela pode se classificar como lésbica,pokerschool pokerstarsrazão da visibilidade lésbica e para se definir como uma trans feminista", pontua a psiquiatra.

Alguns não-binários se definem como assexual - característica que, conforme estudiosos, também pode ser considerada uma orientação sexual. Cup se classifica desta forma. Ele afirma que nunca beijou na boca. "Até hoje não me envolvi romanticamente com ninguém. Para mim, desenvolver esse interesse romântico ou físico é mais difícil. Não tive interesse pelas pessoas que se interessaram por mim. As que já me interessei, ou não foi recíproco ou não tive coragempokerschool pokerstarstentar algo", relata.

Há ainda aqueles que afirmam não definir a orientação sexual. "Penso que seja melhor não me classificar nesse aspecto", declara o estudantepokerschool pokerstarsmedicina Ian Mendes,pokerschool pokerstars22 anos, que há menospokerschool pokerstarsum ano se identifica como pessoa não-binária.

Aparência ambígua

O visualpokerschool pokerstarspessoas não-binárias pode ser considerado ambíguo. Isso porque muitos mesclam acessórios considerados masculinos com itens tidos como femininos. "Há diaspokerschool pokerstarsque me visto com roupas e acessórios consideradospokerschool pokerstarsmeninos. Em outros dias, opto por itens que podem ser consideradospokerschool pokerstarsmeninas ", revela Ian.

Há três anos, ele se identifica como homem trans. No ano passado, deixoupokerschool pokerstarsse considerar pertencente ao gênero masculino e passou a se classificar como não-binário. "Percebi que não ter gênero é ter a liberdadepokerschool pokerstarsser quem eu sou,pokerschool pokerstarsforma completa. Não quero reforçar as amarras do gênero, que são construídas socialmente", declara o jovem, que planeja mudar o nome nos documentospokerschool pokerstarsum futuro próximo.

Para Ian, usar roupas consideradas como destinadas ao público masculino ou feminino é uma das formaspokerschool pokerstarsliberdade que conquistou desde que passou a se entender como indivíduo não-binário. "Meu visual não tem mais definiçãopokerschool pokerstarsgênero."

Cup revela que há anos usa roupas e acessórios sem se preocupar se são considerados itens masculinos ou femininos. "Não colocopokerschool pokerstarspauta a leitura social do que uso. Não me importo com o gênero para o qual determinada roupa é designada. Não tento parecer mais masculino ou feminino. Simplesmente uso o que me agrada, aquilo que tenho vontade, seja uma saia ou um short", comenta.

"Eu gostopokerschool pokerstarsmuitas coisas consideradas femininas, como pintar as unhas epokerschool pokerstarster cabelos coloridos e grandes. Também adoto coisas consideradas do gênero masculino (como a barba cerrada). O que me importa é poder me expressar do modo mais sincero possível", declara.

Outros não-binários, porém, tendem a adotar visual que pode ser considerado relacionado a um único gênero. Tal característica, conforme especialistas no tema, não altera o fatopokerschool pokerstarso indivíduo considerar que não pertence ao gênero masculino ou ao feminino.

Jinx, por exemplo, acredita que possui aparência que pode ser considerada masculina, sob diversos aspectos. "Maspokerschool pokerstarscontrapartida,pokerschool pokerstarsalgumas épocas do ano, pinto as unhas ou o cabelo. No entanto, não associo essas coisas a um gênero específico", diz a estudantepokerschool pokerstarsciências sociais.

A sociedade

Após se identificar como indivíduo que não pertence ao gênero masculino, nem feminino, as pessoas não-binárias passam a viver uma nova situação. Na nova fase, passam a enfrentar o preconceito na sociedade, conforme relatam as pessoas entrevistadas para a reportagem.

"No cotidiano, muitas pessoas pensam que sou um homem e, para elas, isso basta. Para os mais próximos, explico que sou não-binário. Os meus pais reagiram positivamente a isso. Acredito que eles não entendam totalmente o assunto, mas a verdade é que você não precisa compreender tudo para ser capazpokerschool pokerstarsrespeitar", diz Cup.

Ele tem um canal no YouTube, no qual trata sobre diversos temas, inclusive curiosidades sobre pessoas não-binárias. Segundo o estudante, a internet é o lugarpokerschool pokerstarsque mais sofre preconceito. "Muitos negam por completo a minha identidade. Falam que tenho algum problema mental ou que invento isso para ser moderno. Por entender essa dificuldadepokerschool pokerstarsmuitas pessoaspokerschool pokerstarsrespeitar os trans não-binários, tenho receiopokerschool pokerstarsusar roupas que sejam totalmente fora do padrãopokerschool pokerstarsalguns lugares. Em vários momentos me sinto inibido e não me expresso do modo que quero. A sociedade nos trata como invisíveis", declara.

Para Jinx, a ausênciapokerschool pokerstarsinformações sobre o assunto faz com que as pessoas estranhem a existênciapokerschool pokerstarsalguém que não pertença ao gênero masculino ou feminino. "Muitas pessoas não conhecem essa possibilidadepokerschool pokerstarsexistência. É comum lidarem com surpresa, descrença ou estranheza", lamenta.

Julian enfrenta dificuldades com a família, que não aceita o fatopokerschool pokerstarsser uma pessoa não-binária. "Nenhum familiar me apoia. Moro com minha mãe por questões econômicas, mas cortei contato com outras pessoas, por vontade própria. Eu me importo muito mais com laços que fiz por vontade própria e amor, com pessoas que me dão carinho e não tentam me mudar", conta.

Nas ruas, Julian costuma ouvir comentários maldosos. "Sempre gritam ou me assediampokerschool pokerstarstodos os tipos, geralmente homens mais velhos. Além dos olhares constrangedores. Já me seguiram no caminho para casa. Certa vez, tive que pegar o primeiro ônibus que apareceu, porque um cara começou a gritar: 'você é homem ou mulher?'", relata.

Uma das estratégias para diminuir o preconceito contra as pessoas não-binárias é ensinar sobre as diferenças ainda no período escolar, diz o mestrepokerschool pokerstarssaúde reprodutiva e estudioso sobre a sexualidade humana, Jaime Alejandro Parra Vilarroel.

"Temos que avançar neste assunto. É importante melhorar as estratégiaspokerschool pokerstarspolíticas públicas, legislação e educação sexualpokerschool pokerstarsuma idade precoce, para assim eliminar o preconceito que existepokerschool pokerstarsnossa sociedade. Assim, as pessoas não-binárias poderão se expressarpokerschool pokerstarstodos os espaçospokerschool pokerstarsdesenvolvimento", assevera.

A psiquiatra Alessandra Diehl frisa que as pessoas não-binárias precisam ser vistas com base nos estudos feitos sobre o tema, nãopokerschool pokerstars"achismos" ou crenças. "Pode ser bastante complicado dialogar se as pessoas entenderem que o mundo é apenas das meninas que vestem rosa ou dos meninos que vestem azul."

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