Ceará sob ataque: como facções locais e nacionais se juntaram para dominar o crime no Estado:cleo catra slot

Crédito, EPA

Legenda da foto, Agência bancária foi incendiada durante ondacleo catra slotviolênciacleo catra slotFortaleza

Para especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, as medidas são insuficientes para combater as quatro facções que dominam o crime organizado no Ceará: a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), a fluminense Comando Vermelho (CV), a cearense Guardiões do Estado (GDE) e a amazonense Família do Norte (FDN).

Referência no assunto, o doutorcleo catra slotsociologia e pesquisador do Laboratóriocleo catra slotEstudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC) Luiz Fábio Silva Paiva relata que as primeiras ações envolvendo facções criminosas no Estado ocorreramcleo catra slot2005. O crime era, até então, controlado por gangues armadas e quadrilhascleo catra slottraficantes que dominava determinadas regiões e disputavam violentamente entre si.

Sociólogos que estudam facções criminosas disseram à BBC News Brasil que o reforço no policiamento serve apenas "para enxugar gelo". Eles afirmam que o aumento significativo do efetivocleo catra slotsegurança nas ruas até deve abafar os ataques nos próximos dias, mas um simples comando das facções pode trazer uma nova ondacleo catra slotviolência.

Articulaçãocleo catra slotnível nacional

A partircleo catra slot2005, membros desses grupos criminosos locais passaram a se envolver com integrantescleo catra slotfacções nacionais. Uma delas é o PCC que participoucleo catra slotações como o famoso assalto ao Banco Centralcleo catra slotFortaleza -cleo catra slotonde cercacleo catra slotR$ 164 milhões foram furtados - e estratégias como a batizadacleo catra slot"novo cangaço", com assaltos violentos e cinematográficos a agências bancárias no interior do Estado. Foi nessa época que as facções passaram a organizar o comérciocleo catra slotdrogas no Ceará.

No fimcleo catra slot2015, lideranças locais se reuniram para criar um esquemacleo catra slotfacções funcional e fundam os Guardiões do Estado. No início, esse grupo atuoucleo catra slotconjunto com o PCC e CV, mascleo catra slot2016 as facçõescleo catra slotatuação nacional entraramcleo catra slotconflito e se dividiram.

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Pichação feita durante ataques no Ceará pede saída do secretário da Administração Penitenciária

O PCC se aliou ao GDE, que, segundo estimativas, tem cercacleo catra slot600 membros nos presídios cearenses. Do outro lado, ficaram CV e FDN.

De maneira inédita desde então, segundo pesquisadores ouvidos pela BBC, essas facções anunciaram nos últimos dias uma trégua na disputa no Ceará. Por meiocleo catra slotum salve, como são chamados os comunicados emitidos por liderançascleo catra slotorganizações criminosas, vetaram brigas ou acertoscleo catra slotcontas caso o governo coloque grupos rivaiscleo catra slotum mesmo presídio.

"Meus irmãos GDE, nós pede humildemente que vocês entendam que se chegar qualquer liderança, PCC ou CV na nossas cadeias, que os irmãos acolham e der tratamentocleo catra slotum bandido a eles, der água, comida, escova, pasta, roupas e lençol. Em cima desta situação vamos dá essa trégua porquê é o está que está fazendo isso propositalmente no intuitocleo catra slotnós se matar. Como nós sabemos disso e da intenção do estado judiciário, nós não iremos satisfazer a vontade do estado. Iremos recebe-los os nossos inimigos com a dignidadecleo catra slotbandido e esperamos o mesmo feedback do lado deles", diz a mensagem.

Especialistas dizem que esse comunicado demonstra um grande podercleo catra slotarticulação e ação conjunta das facções quando elas precisam combater um inimigo maior - no caso, o Estado.

"É amadorismo e infantilidade você provocar um confrontocleo catra slotgraça, como o secretário fez. A nova gestão faz isso e ainda é coroada porque diz estar combatendo o crime. Por outro lado, temos milharescleo catra slottrabalhadores que não podem saircleo catra slotcasa, recordescleo catra slothomicídio, chacinas, unidades prisionais sem estrutura e com servidores amedrontados", disse Luiz Fábio Silva Paiva, da Universidade Federal do Ceará.

Ele explica que essa mensagem demonstra também uma profissionalização das facções que ganharam uma capacidadecleo catra slotarticular respostas ao Estado e até mesmo evitar serem usadas como "peçacleo catra slotmanobra"cleo catra slotdisputas políticas.

"Eles pensam: 'Se querem que a gente se mate, então não vamos atender a esses interesses'. É preciso um diagnósticocleo catra slotcomo esses grupos se articularam e envolveram milharescleo catra slotpessoas nacleo catra slotdinâmica. Essa é a força das facções. Os estatutos deles falamcleo catra slotrespeito, justiça, dignidade e usam elementos afetivos para conectar as pessoas que fazem parte desses grupos. Qual a alternativa? O que o Estado oferece a milharescleo catra slotjovenscleo catra slotviascleo catra slotenvolvimento para que ele busque uma alternativa a esse grupo?", questiona o professor.

Medidas do poder público

Além dos 500 agentes da Força Nacional destacados para reforçar o patrulhamento e evitar novos ataques no Ceará, o governo da Bahia enviou cem policiais militares para ajudar a conter a crise. Piauí, Pernambuco e Santa Catarina também vão mandar juntos outros 43 PMs e agentescleo catra slotinteligência.

"Enquanto ela (a força policial) estiver ali, funciona. Quando você retira, os problemas aparecem. É fato que diantecleo catra slottantos policiais na rua, haverá recuo. Mas essa ideiacleo catra slotvigilância constante e onipresente é falsa porque tem prazo e logo depois volta com a mesma intensidade", afirmou Luiz Fábio Silva Paiva, que chamou a medidacleo catra slot"maquiagem".

Para ele, o governo precisa atuar a médio e longo prazo para evitar que mais jovens entrem no crime organizado e reforcem o "exército" das facções, com políticascleo catra slotassistência social e emprego e uma reformulação do sistema penitenciário.

Crédito, AFP

Legenda da foto, Caminhões também foram alvocleo catra slotataques incendiários na capital cearense

"É preciso saber o que acontece na vida deles. Saber por que eles se tornaram uma população sensível para o mercadocleo catra slotdrogas e são agenciados muitas vezescleo catra slotações praticamente suicidas, como matar um policial. O indivíduo escolhe fazer parte disso, mas é preciso saber o motivo para dar recursos e condiçõescleo catra slotestudo e trabalho para agir no problema", afirmou Paiva.

O professor afirmou que outra medida importante é identificar as lideranças e agenciadores desses jovens para evitar novos recrutamentos dentro e fora dos presídios.

"Fora isso, é enxugar gelo. É colocar policialcleo catra slotrisco para prender gentecleo catra slotmassa e matar para amanhã mais gente entrar para o crime. Todo o sistema penitenciário também precisa ser refeito. A maior barreira para isso é que cuidar dos presídios não dá voto e isso não incentiva quem está no poder", disse o pesquisador Luiz Paiva.

Questionado pela reportagem, o Ministério da Justiça informou que "acompanha a situação no Estado e, desde o início, está dando apoio às forçascleo catra slotsegurança locais". A pasta ainda afirmou que "entre as prioridades estão medidas que garantam a execução da verbas do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) na efetiva construçãocleo catra slotestabelecimentos prisionais".

O governo cearense também anunciou ter transferido um lídercleo catra slotfacção criminosa para um presídio federal. A administração estadual disse ainda que vai transferir outros 19. O pesquisador define essa ação como "uma besteira".

"Isso não dificultacleo catra slotnada a vida dos criminosos. Se um líder é isolado hoje, eles nomeiam outro amanhã e tudo segue como se nada tivesse acontecido", explica Paiva.

Procurado pela BBC News Brasil, o governo do Ceará não respondeu quais serão as medidascleo catra slotcurto, médio e longo prazo que a administração planeja implementar contra a crisecleo catra slotsegurança pública e se há alguma negociaçãocleo catra slotcurso com liderançascleo catra slotfacções criminosas.

Ataquescleo catra slotoutros Estados?

Professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) e autora do livro A Guerra: A ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil, Camila Nunes Dias, diz que não vê risco dos ataques no Ceará se replicaremcleo catra slotoutros Estados brasileiros.

"Essa crise está relacionada a um problema local e deve ser entendida como uma resposta às declarações do secretário. Mas Estados com mudanças significativascleo catra slotsuas gestões podem apresentar problemas. Um deles é São Paulo, onde o secretário que estava há maiscleo catra slotdez anos à frente da administração penitenciária foi trocado por um policial militar. Porém, ainda não vi nenhuma declaração dele que signifique uma mudança radical na política penitenciária e que possa causar problemas", afirmou.

A pesquisadora disse que Riocleo catra slotjaneiro, Amazonas, Paraná e outros Estados com grandes facções criminosas não apresentaram mudanças que possam causar reações. Ela alerta, porém, que a estabilidade nessas organizações é sempre precária e que pequenas mudanças podem gerar grandes reações. Uma das mais sensíveis são alteraçõescleo catra slotrelação às visitas nos presídios e transferênciascleo catra slotlíderescleo catra slotfacções.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Com ondacleo catra slotataques, população evita saircleo catra slotcasa e ruascleo catra slotFortaleza ficam praticamente desertas

Nunes diz que esses grupos criminosos não estão interessadoscleo catra slotcriar confrontos desnecessárioscleo catra slotoutros Estados.

"Possíveis ataques (em apoio à crise no Ceará) causariam uma instabilidadecleo catra slotentes federativos onde não há nenhuma ruptura. Eles (presos) não pretendem atacar o estado. Eles reagem ao que entendem que são ataques do Estado à população carcerária. Essas crises serão sempre locais, a não ser que haja uma reação nacional, que eu acho muito difícil", afirmou a pesquisadora.

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