Pesquisador italiano teme que Moro tenha destinopokerstars en'herói' da Mãos Limpas que entrou para política:pokerstars en

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Moro aceitou oficialmente convite do presidente eleito nesta quinta-feira; com isso, ele deixa a magistratura

Nesta quinta, Moro aceitou o convitepokerstars enBolsonaro (PSL) para assumir o cargopokerstars enMinistro da Justiçapokerstars enseu governo. Para Vannucci, a decisão é ruim para ambos, porque pode levar à desconfiança da operação Lava Jato e aprofundar a polarização no Brasil.

O magistrado vai assumir, segundo divulgou Bolsonaro, uma pasta que agregará a Segurança Pública e parte do Coaf (Conselhopokerstars enControlepokerstars enAtividades Financeiras), hoje subordinado ao Ministério da Fazenda, para dar-lhe,pokerstars entempo real, informações sobre o combate à corrupção e ao crime organizado.

Em entrevista nesta quinta, Bolsonaro afirmou que o Brasil ganha "com um nomepokerstars enpesopokerstars enuma pessoa que, por si só, por seu trabalho, demonstrou ao povo brasileiro que é possível, sim, combater um dos maiores males que temos na nossa nação, que é a corrupção".

Moro já havia afirmado publicamente, inclusive à BBC News Brasil, que não entraria para a política. Agora,pokerstars ennota oficial, lamentou terpokerstars enabandonar "22 anospokerstars enmagistratura".

Mas afirmou: "A pespectivapokerstars enimplementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, à lei e aos direitos, levaram-me a tomar esta decisão".

Ele disse que irá se afastar do cargopokerstars enjuiz agora e, portanto, não deverá mais julgar Lula, que seria interrogado por ele no dia 14pokerstars ennovembro.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Cientista político, Alberto Vannucci é especialista na operação italiana anticorrupção que inspirou a Lava Jato

O juiz é criticado por setores da sociedade que viam alguma motivação políticapokerstars enseu trabalho à frente da Lava Jato e que citam, nesse sentido, episódios como a divulgação das conversas entre o ex-presidente Lula e Dilma Rousseff, quando já se sabia que ela planejava nomeá-lo como ministro-chefe da Casa Civil,pokerstars en2016.

Mais recentemente, a poucos dias do primeiro turno, a liberação da delação do ex-ministropokerstars enLula Antonio Palocci também gerou repercussão negativa. Em resposta às críticas, Moro disse que não houvepokerstars ensua parte qualquer intençãopokerstars eninfluenciar as eleiçõespokerstars en2018.

Vannucci, o cientista político que estuda a Mãos Limpas, afirma que havia fortes argumentos para o juiz ter recusado o convite. "Os cidadãos que pensavam que havia uma motivação política por trás da Operação Lava Jato vão pensar o que agora, senão que estavam corretos?", questiona.

Ele acompanha os desdobramentos da Lava Jato no Brasil e foi informado pela BBC News Brasil sobre a decisãopokerstars enMoro.

Leia a seguir trechos da entrevista.

pokerstars en BBC News Brasil - O juiz Sergio Moro acabapokerstars enaceitar um convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para assumir a pasta da Justiça no Brasil. Como o sr. avalia essa decisão?

pokerstars en Alberto Vannucci - É uma medida muito perigosa tanto para o Bolsonaro quanto para o Moro.

Primeiro, porque pode transmitir à opinião pública a percepçãopokerstars enque as investigações da Lava Jato tinham orientação política. Isso pode levar a uma desconfiança da operação como um todo e do Judiciário.

É preciso haver uma clara divisãopokerstars enpoderes, mas, nesse caso, vemos uma espéciepokerstars enconfusão entre o Judiciário e o Executivo. É uma mistura perigosa.

Em segundo lugar, o Brasil agora é um país muito dividido, muito polarizado. Há muitas cisões na sociedade, que incluem a candidaturapokerstars enBolsonaro.

Agora, ele inclui empokerstars engestão a figura institucional considerada responsável pela investigação e condenaçãopokerstars enLula, impossibilitadopokerstars enconcorrer à Presidência porque estava preso. Essa medida, portanto, é divisiva. Vai levar a mais polarização e extremismos. Me parece muito ruim para o Brasil como um todo.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Bolsonaro falou sobre a vindapokerstars enMoro parapokerstars enequipe à imprensa

pokerstars en BBC News Brasil - Por que essa mistura entre o Judiciário e o Executivo pode ser perigosa?

pokerstars en Vannucci - Existe um princípio Constitucionalpokerstars enseparaçãopokerstars enpoderes, com o Judiciário e o Executivo, representados por papéispokerstars enjuízes e ministros, entre outros.

Agora, há uma sobreposição dos poderes, com um futuro ex-juiz ocupando o cargopokerstars enministro. Isso faz com que a mensagem da separaçãopokerstars enpoderes fique menos clara.

Na Itália, existe uma convençãopokerstars enque nenhum juiz pode ocupar o cargopokerstars enMinistro da Justiça. Isso porque, caso um juiz vire ministro, ele levará consigopokerstars enexperiênciapokerstars enmagistratura.

Ele pode ter investigado políticos empokerstars encarreira e, agora, estar trabalhando como um político. Ele pode, por exemplo, ter coletado informações sobre políticos e agora usar essas informações. É um fatorpokerstars enpoluição nesse processo político.

No novo cargo, ele também entrará no papelpokerstars enresguardar todo o Judiciário. Ele poderá usar esse novo papel político contra juízes que considera seus adversários. Há elementospokerstars enpoluição tanto à atividade política quanto à atividade no Judiciário.

pokerstars en BBC News Brasil - Moro deveria ter recusado o convite?

pokerstars en Vannucci - Como um juiz, você não pode expressão opiniões políticas, deve ser o mais discreto possível e deve exercer só o seu papelpokerstars enjuiz e evitar fazer considerações políticas.

Um juiz pode ter uma opinião política, maspokerstars enopinião política deve ser separadapokerstars enseu trabalho. Com uma decisão dessas, todas essas restrições são deixadaspokerstars enlado. E tudo o que ele fez no passado será visto agora à luz do que agora se manifesta como ambição política.

Muitos limites foram ultrapassados. Já era assim porque muitos da esquerda reclamavam que, embora a corrupção fosse espalhada na classe política, a investigação era endereçada especificamente a um espectro político, da esquerda, pelo menos no começo.

Agora, aqueles suspeitospokerstars enseu papel vão desconfiarpokerstars ensua atividade epokerstars ensua integridade.

O que esses cidadãos vão pensar agora que parece haver uma clara demonstraçãopokerstars enque, como resultado dessas investigações, um juiz foi recompensado por um presidente da direita?

Os cidadãos que pensavam que havia uma motivação política por trás da Operação Lava Jato vão pensar o que agora, senão que estavam corretos? Esse é um argumento fortíssimo que deveria ter induzido Moro a recusar o convite.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Moro com Paulo Guedes: ambos foram escolhidos 'superministros'pokerstars enBolsonaro

pokerstars en BBC News Brasil - Ao aceitar o convite, Moro disse que o que lhe levou a tomar essa decisão foi "a perspectivapokerstars enimplementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado" e "consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos". É possível que faça isso?

pokerstars en Vannucci - É um argumento muito ingênuo e populista. Liderar uma operação judicial contra corrupção, com as habilidadespokerstars enum juiz, não é garantiapokerstars enque você saiba como políticas efetivas anticorrupção devam ser formuladas e aplicadas.

São duas habilidades e dois trabalhos completamente diferentes.

Pensar que ser um "herói" anticorrupção vai lhe dar a habilidadepokerstars enser um Ministro da Justiça é bobagem.

É uma medida simbólica, para transmitir para parte da opinião pública brasileira que um herói anticorrupção está agora no governo, tomando conta da corrupção. O trabalho anticorrupção não é feito por heróis, ele é feito por um entendimento profundo da administração pública, da economia, da política.

E uma investigação como a Lava Jato, por mais importante que seja, não é garantia desse tipopokerstars enconhecimento.

pokerstars en BBC News Brasil - Essa decisão colocapokerstars enrisco a credibilidade da Lava Jato, levandopokerstars enconta que Lula, que concorreria à Presidência contra Bolsonaro, foi preso após desdobramentos da investigação conduzida por Moro?

pokerstars en Vannucci - A credibilidadepokerstars enuma operação anticorrupção demanda uma rigorosa separação entre aqueles que operam como juízes tentando coletar evidênciaspokerstars encorrupção e aqueles colocados sob investigação. A Lava Jato ainda não acabou e ainda tem pessoas trabalhando nela.

De agorapokerstars endiante, haverá argumentos muito fortes contra a operação, já que Moro parece ter capitalizadopokerstars envisibilidade pública e notoriedade para chegar ao poder. É um elementopokerstars enprofunda debilitação da atividade da magistratura.

pokerstars en BBC News Brasil - Então também pode levar à desconfiança do Judiciário como um todo?

pokerstars en Vannucci - Na Itália, o Ministério da Justiça não pode interferir no Judiciário, só pode supervisionarpokerstars enorganização. O Judiciário se autorregula. Essa autonomia requer separação, no sentidopokerstars enque as duas precisam operar independentemente. O equilíbrio é frágil. E agora, no Brasil, foipokerstars enalguma forma quebrado.

Esse funcionamento vai ser visto pela opinião pública como influenciado por ambições pessoais, opiniões políticas. É um elemento "poluente" para todo o funcionamento das instituições democráticas.

Crédito, Marcello Casal Jr/Ag. Brasil

Legenda da foto, Sede da PFpokerstars enCuritiba, onde Lula está preso: ao assumir ministério, Moro deixarápokerstars encuidar dos casos envolvendo o petista

pokerstars en BBC News Brasil - Na Itália, Antonio Di Pietro, principal promotor da Mãos Limpas, primeiro recusou o cargopokerstars enministropokerstars enBerlusconi, mas mais tardepokerstars enfato entrou para a política. Há semelhanças entre Di Pietro e Moro?

pokerstars en Vannucci - Se formos projetar a experiênciapokerstars enAntonio di Pietro a Moro, podemos dizer nesse momento que Moro vai se arrependerpokerstars ensua decisão. Pietro tem dito nos últimos anos quepokerstars enpior decisão profissional foi abandonar a magistratura para entrar na política. Não sei se Moro vai chegar à mesma conclusão.

A históriapokerstars enAntonio Di Pietro é simples:pokerstars en1992, liderou a Mãos Limpas, que levou a um colapso do sistema político, com políticos sendo presos. Em 1994, quando Berlusconi ganhoupokerstars enprimeira eleição, ele convidou Di Pietro para assumir um ministério. Berlusconi convidou tanto ele quanto o juiz Piercamillo Davigo, outra figura central da Mãos Limpas.

A diferença principal é que os dois recusaram o convite. A razão que deram publicamente foipokerstars enque aceitar um cargo político daria a impressão ao públicopokerstars enque seu trabalho como juízes seguia alguma orientação política.

Di Pietro liderou outra grande investigação e, quando a terminou, deixou o cargopokerstars enjuiz, no fimpokerstars en1994.

Em 1996, aceitou o cargopokerstars enministropokerstars enObras Públicas no governopokerstars enRomano Prodi,pokerstars encentro-esquerda. Mas houve uma investigação contra Di Pietro, com alegaçõespokerstars encorrupção. Ele deixou o cargo e, mais tarde, foi inocentado das acusações. Fundou seu próprio partido e voltou para o ministériopokerstars en2006. Mais tarde, foi senador. Mas agora abandonoupokerstars encarreira política. Agora ele é um advogado.

pokerstars en BBC News Brasil - E por que Berlusconi o convidou para assumir uma pastapokerstars enseu governo?

pokerstars en Vannucci - É simples. Naquela época, Antonio Di Pietro era,pokerstars enacordo com todas as pesquisas, a figura mais popular na Itália. Então ter Di Pietro no Executivo lhe daria forte legitimidade política. Era um movimento político muito claro e compreensível. Ele teria se tornado um importante expoente do Executivo.

Mas foi uma proposta perigosa, porque, alguns meses depois, Berlusconi se viu envolvido, pela primeira, mas não a última vez,pokerstars enum escândalopokerstars encorrupção.

Então existe a teoriapokerstars enque seu convite não foi só para capitalizar apoio popular, mas também para tentar algum tipopokerstars enproteção política contra as investigações.

pokerstars en BBC News Brasil - O sr. vê alguma semelhança entre o convitepokerstars enBerlusconi e o convitepokerstars enBolsonaro?

pokerstars en Vannucci - Moro é uma figura política muito popular. Se, como um político, você consegue incluí-lo empokerstars enequipe, você capitaliza parte do apoio que ele tem.

Também podemos pensar se, assim como Berlusconi, também há interessespokerstars enproteção política ou da tentativapokerstars enganhar alguma benevolência do Judiciário com esse convite. É uma questão complexa.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Berlusconi, então premiê italiano, convidou promotor da Mãos Limpas para assumir pastapokerstars enseu governo na décadapokerstars en90, que acabou recusando a oferta

pokerstars en BBC News Brasil - Bolsonaro diz que Moro estará combatendo a corrupção à frente do Executivo.

pokerstars en Vannucci - Essa é outra similaridade entre os casos. Berlusconi também entrou no campo político como um novo elemento depoispokerstars enum gigante tsunamipokerstars enalegaçãopokerstars encorrupção, com a Mãos Limpas, epokerstars endeslegitimaçãopokerstars entoda classe política - não importa sepokerstars endireita oupokerstars enesquerda.

O que importa é o novo, ou o político que consegue se vender como novo,pokerstars enoposição ao velho, corrupto. O velho é ruim, o novo é bom. Nesse sentido, Bolsonaro incluir o juiz líderpokerstars enanticorrupção empokerstars enequipe transmite a mensagempokerstars ennovo,pokerstars encontraposição ao que é velho e corrupto.

Assim como Bolsonaro conseguiu se vender como novo, embora fosse velho na política.

A ideiapokerstars enque problemas muito complexos podem ser solucionados por uma só figura, nesse caso uma espéciepokerstars enherói, é tipicamente populista. Você pega um problema real, a corrupção desenfreada, e oferece uma solução muito simples, levada a cabo por uma só pessoa. É um elemento básico do populismo.

pokerstars en BBC News Brasil - A deslegitimação da classe política no Brasil desloca a confiança a nomes do Judiciário? E como a decisãopokerstars enMoro pode influenciar esse movimento?

pokerstars en Vannucci - Nos anos 1990, na primeira fase da Mãos Limpas, houve um grande apoio aos juízes.

O Judiciário ganhou uma nova legitimidade, uma confiança incondicional. Em um país católico, era quase como se os juízes fossem capazespokerstars enabsolver nossos pecados.

Mas, alguns anos depois, quando Berlusconi foi envolvidopokerstars eninvestigações e houve uma campanha midiática contra juízes, a sociedade passou a desconfiar deles. Tornaram-se objetospokerstars endisputapokerstars enpartidos políticos.

No Brasil, houve um grande apoio ao Judiciário, mas desde o começo já havia suspeitas por setores da sociedade, que agora é como se se confirmassem. Então o Brasil pode ter puladopokerstars enuma coisa para outra.

É muito perigoso porque acaba tirando a legitimidade daqueles que aplicam a lei.

E tudo bem cidadãos não estarempokerstars enacordo ou não acreditarempokerstars enpolíticos, mas é muito perigoso desconfiarpokerstars enjuízes, porque isso é desconfiar da lei, da Justiça. A decisãopokerstars enMoro fortalece a visãopokerstars enque juízes fazem parte da atividade política.

pokerstars en BBC News Brasil - Então a polarizaçãopokerstars enrelação à política no país atinge o Judiciário?

pokerstars en Vannucci - Essa decisão exacerba a polarização e inclui o Judiciário na cisão política do Brasil. E isso afeta a qualidade da democracia.

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