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Eleições 2018: Como casais estão sendo afetados pela diferença no voto8bets maishomens e mulheres, que nunca foi tão grande:8bets mais
Entre os homens, o ex-capitão do Exército está disparado no primeiro lugar, com 37% da intenção8bets maisvoto. Já entre as mulheres, Bolsonaro tem cerca da metade do apoio, 21%, o que o coloca8bets maisposição8bets maisempate técnico com Fernando Haddad, que tem 22%. Os dados são da última pesquisa Datafolha, divulgada na noite8bets maissexta-feira (28).
Em outras palavras, se dependesse das mulheres, Bolsonaro não estaria isolado8bets maisprimeiro lugar, mas empatado. É a primeira vez, desde 1994 pelo menos, que a escolha das mulheres e dos homens para presidente pode ser diferente, segundo dados levantados pela BBC News Brasil.
As pesquisas8bets maisintenção8bets maisvoto são a única forma8bets maismedir essa diferença, já que o sigilo do voto não permite saber como8bets maisfato votaram os homens e as mulheres.
Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso vencia tanto entre homens como entre mulheres, segundo pesquisas Datafolha da época. O mesmo ocorreu com Luiz Inácio Lula da Silva,8bets mais2002 e 2006, também segundo o Datafolha, e com Dilma Rousseff,8bets mais2010 e 2014,8bets maisacordo com o Ibope. Não estão disponíveis dados separados por gênero para pesquisas realizadas nas eleições8bets mais1989 - as primeiras após o fim da ditadura militar.
"A diferença do voto feminino e masculino no Bolsonaro é um movimento curioso. A baixa entrada dele entre as mulheres reflete uma visão8bets maisque ele vai governar para os homens e que tem uma visão ultrapassada do papel feminino", diz Andréa Marcondes8bets maisFreitas, professora8bets maisciência política da Unicamp.
"Uma rejeição tão alta entre as mulheres certamente prejudica o Bolsonaro no segundo turno", afirma a cientista política. Assim, quanto pior for o desempenho do candidato entre as mulheres, melhor ele precisa pontuar entre os homens, para compensar.
Nesta eleição8bets mais2018, essa diferença muitas vezes se reflete dentro8bets maisuma mesma família, como é o caso8bets maisDouglas e Janine.
Douglas diz que vai votar no ex-capitão porque quer mudanças. "Sou empresário formado8bets maisjornalismo e filho8bets maisum ex-assessor do Itamar Franco. Vivo política desde os meus 6 anos e vou votar no Bolsonaro porque no meu ponto8bets maisvista ele é o único que pode mudar o sistema político do momento", diz.
Janine afirma que não vai votar8bets maisBolsonaro porque não concorda com seus discursos sobre homossexuais e mulheres.
"Tenho medo do que ele fala sobre o papel da mulher na sociedade, sobre (as mulheres) ganharem menos e contra homossexuais. Eu tenho muitos amigos gays e fico bem revoltada com as coisas que ele fala, com o Bolsonaro sendo tão homofóbico", afirma Janine.
O casal encontrou um equilíbrio para evitar brigas dentro8bets maiscasa.
"Eu gostaria que ela votasse no Bolsonaro, mas acho que deve haver respeito pela opinião alheia e isso deve começar dentro da nossa própria casa, só assim a gente tem o crescimento8bets maisuma sociedade politizada", afirma Douglas.
Por outro lado, Janine conta que os amigos8bets maisseu marido, que também vão votar8bets maisBolsonaro, tentam convencê-la a todo momento a mudar seu voto.
"Eles (amigos do marido) são atiradores, frequentam clube8bets maistiro e todos votam no Bolsonaro. Eles insistem tanto para que eu também faça isso que meu marido precisa pedir para pararem e respeitarem minha opinião", conta.
O casal está8bets maisviagem8bets maisJoão Pessoa e o empresário não tira8bets maiscamiseta com a estampa8bets maisBolsonaro. Ela leva na brincadeira.
Evitando o assunto
A empresária Dyessica Vieira,8bets mais25 anos, e o namorado, que é Policial Militar, até já combinaram8bets maisnão conversarem mais sobre o assunto para não acabarem brigando.
Ela aderiu movimento #EleNão, contra Jair Bolsonaro, e pretende votar8bets maisJoão Amoêdo (Novo). Ele deve votar no ex-capitão do Exército.
"A gente já teve briga feia,8bets maisficar horas sem se falar. Então decidimos que vamos deixar esse assunto8bets maislado", conta.
"Eu detesto qualquer ideia8bets maisBolsonaro", diz Dyessica. "Me incomoda. Além8bets maisser extremamente machista e preconceituoso, na minha concepção ele não tem preparo nenhum pra ser presidente. A gente está numa crise grande. Precisamos8bets maisalguém inteligente, preparado. Ele é político há anos e nunca fez nada. Sabe gritar muito, tem muita frase8bets maisefeito, mas não tem preparo. Ele não entende8bets maiseconomia e tudo o que fala é fake news", diz a empresária.
Ela conta que o namorado diz que "o Brasil está uma bagunça e Bolsonaro vai pôr ordem".
Com as eleições se aproximando e tanta discussão acontecendo, nem sempre o casal consegue se ater ao que foi combinado. "Em qualquer rodinha8bets maisamigo, tem gente discutindo política", conta Dyessica.
"Eu compartilho coisa contra, ele a favor... De vez8bets maisquando ele manda um meme, manda uma piadinha machista, provocaçãozinha."
As discussões não chegam a abalar o relacionamento do casal,8bets maisBalneário Camboriu,8bets maisSanta Catarina. Os dois pretendem morar juntos no ano que vem.
Mesmo objetivo
Monique Camargo,8bets mais26 anos, e Sérgio Sírio,8bets mais31, não acham que as diferenças sejam um problema para8bets maisrelação. O casal diz que, na verdade, gosta8bets maisdebater.
"É muito bom isso (os dois pensarem diferente). Mantém a gente mais atualizado sempre, se informando mais. A gente acaba buscando mais informação pra ter o que conversar", diz Sérgio. "A gente vai trocando ideias, a gente está sempre aberto a ouvir tudo."
Os dois estão juntos há 12 anos e sempre conversaram muito sobre tudo, incluindo política. Ambos trabalham como bartender8bets maisum clube8bets maispraia8bets maisFlorianópolis,8bets maisSanta Catarina. Monique também é formada8bets maisbiologia.
Sérgio diz gostar8bets maisBolsonaro há muitos anos. "Hoje o que me leva a votar no Bolsonaro sem sombra8bets maisdúvida é a transparência e a honestidade. Essa forma irreverente dele8bets maisfalar, com certeza, com propriedade", diz Sérgio.
Ele apoia propostas como fim das cotas, redução8bets maismaioridade penal para 16 anos e a castração química8bets maisestupradores. "A vítima vai sofrer pro resto da vida", diz. Mas afirma discordar sobre questões como diferença salarial entre homens e mulheres.
Já Monique afirma que é contra "essa disseminação8bets maisódio gratuita (de Bolsonaro). Ele prega a divisão, e não a união. Ele não vai levar o Brasil a lugar nenhum, muito pelo contrário. Ele tem umas ideias muito antiquadas. Não tem respeito com a vida, não tem respeito com nada, não tem respeito com as mulheres. Não é uma pessoa que quero para me representar."
"(Bolsonaro) é influente porque é revoltado e tem muita gente revoltada. Ele se sente insatisfeito, como muitos8bets maisnós estamos, mas8bets maisuma forma muito radical. Acho ele muito extremista", diz ela, que afirma que não é "feminista nem8bets maisesquerda" e que vai votar nulo. "Nenhum candidato deste ano tem condições pra salvar o país."
Sérgio conta que o segredo para lidar bem com as opiniões diferentes é ter na cabeça a ideia8bets maisque os dois têm o mesmo objetivo.
"Nós dois compactuamos8bets maisuma ideia: todo brasileiro quer um Brasil melhor. Todo brasileiro sonha8bets maister uma país super desenvolvido", explica Sérgio. "O objetivo é comum, é o mesmo. Só o caminho que é diferente."
Maior disparidade
A intenção8bets maisvoto8bets maisBolsonaro entre os homens é 16 pontos maior que entre as mulheres, segundo o último Datafolha. Além8bets maismostrar que homens e mulheres podem eleger candidatos diferentes pela primeira vez, as pesquisas também apontam que a diferença8bets maisvotação8bets maishomens e mulheres8bets maisum candidato nunca foi tão grande.
Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva tinha 12 pontos a mais entre os homens – 51% x 39% – segundo pesquisa Datafolha realizada nas vésperas do primeiro turno. Na disputa pela reeleição,8bets mais2006, a vantagem8bets maisLula entre os homens era8bets mais9 pontos – 45% x 36% – também8bets maisacordo com o Datafolha.
Em 2010, Dilma tinha 8 pontos a mais no eleitorado masculino – 52% x 44% – mostra o Ibope. Já8bets mais2014, a petista tinha a mesma intenção8bets maisvoto entre homens e mulheres.
Os dados também indicam que a atual distância entre o voto8bets maishomens e mulheres8bets maisBolsonaro pode aumentar. "A quantidade8bets maismulheres indecisas é maior que a8bets maishomens. A rejeição8bets maisBolsonaro entre as mulheres também é maior. Por esse motivo, a gente imagina que um maior número das indecisas deve se posicionar contra Bolsonaro", afirma a cientista social Marcondes8bets maisFreitas.
Ela explica que o tamanho da diferença deve fazer com que mais casais votem8bets maismaneira diferente.
"Pensando nas pesquisas hoje, deve ter muito mais casais divididos do que tinha antes. A diferença é tão grande que é inevitável que parte dessas mulheres que rejeitam Bolsonaro sejam parceiras8bets maishomens que votam nele", pondera a especialista.
Além disso, diz a cientista social, a disputa está mais aguerrida, por que não é mais apenas uma discussão sobre políticas econômicas e sociais. "Quando a disputa é8bets maistorno8bets maispolíticas específicas, no limite é conciliável, você consegue trazer um campo mínimo8bets maisacordo. Mas a discussão hoje praticamente só se dá no campo da moral. Você está falando8bets maisvalores construídos ao longo da vida, não é só uma questão8bets maisopinião."
Para a estudante do Rio8bets maisJaneiro Ana Barreto,8bets mais22 anos, a resolução para essa diferença8bets maisvalores foi terminar o namoro. "Claro que não é apenas a diferença política, aconteceram outras coisas. Mas também foi um fator", diz ela.
Ana conta que pretende votar8bets maisFernando Haddad (PT). "Eu estava8bets maisdúvida, mas já que ele está na frente (de Ciro Gomes) e pode impedir a eleição8bets maisBolsonaro, voto nele sem dúvidas."
O antigo relacionamento começou8bets maisabril8bets mais2017 e terminou8bets maisjunho8bets mais2018. No início, o namorado,8bets mais40 anos, dizia que não tinha simpatia por Bolsonaro.
"Perguntei muitas vezes. Ele dizia que não votava, que não gostava", conta Ana.
Mas, segundo ela, ele tinha uma conta anônima no Twitter onde compartilhava posts8bets maisfavor do ex-capitão. "Durante o namoro, eu descobri que ele realmente concordava com as ideias dele, a gente acabava discordando muito e aquilo estava ficando insustentável."
Questão8bets maisfamília
O empresário Bruno,8bets maisJundiaí, no interior8bets maisSão Paulo, está tendo problemas8bets maiscasa, mas diz que seu incômodo é menos com a posição da mulher - que vai votar8bets maisMarina Silva (Rede) - e mais com a sogra e os dois cunhados.
"É tudo petista! Eles não me deixam8bets maispaz, ficam tentando me convencer", conta.
No caso dele, as brigas começaram muito antes8bets mais2018. "Em 2014 já era assim. Eles nunca respeitaram minhas opiniões."
Bruno pediu pra não ter o sobrenome divulgado para não afetar seu negócio. "Eu evito dar declarações públicas, porque do jeito que o mundo tá chato tem cliente que pode ficar ofendido, vai saber. Eu não acho que o Bolsonaro é homofóbico, é só o jeito dele8bets maisfalar", afirma. "Mas vi um movimento aí8bets maisboicote (contra empresários que doaram para campanha8bets maisBolsonaro)."
Ele diz que pretende votar8bets maisBolsonaro pois quer evitar que o PT consiga novamente o poder. E conta que a mulher, que é voluntária8bets maisuma ONG8bets maisresgate8bets maisanimais, tem simpatia pelo discurso a favor do meio ambiente8bets maisMarina.
"Eu falo pra ela: 'Você está jogando seu voto no lixo. O Bolsonaro é o único que pode impedir que o Brasil vire uma Venezuela'. Mas a gente quase não conversa sobre política. Então não briga."
Até agora as brigas com a família da mulher, que mora8bets maisoutra cidade, aconteceram mais pelo grupo no Whatsapp e no Facebook.
"Tudo o que eu posto eles vêm comentar. Em época8bets maiseleição eu até evito ir almoçar (com a sogra) no domingo, não quero encheção8bets maissaco. Digo que preciso trabalhar."
A estudante8bets maisengenharia civil Thais Cardoso,8bets mais19 anos, também pensa bem diferente da família do namorado, que tem a mesma idade. Ela faz vários posts contra Bolsonaro no Facebook. Seu namorado – e a maioria dos membros8bets maissua família – são eleitores do ex-capitão do Exército. "As discussões começaram lá", conta ela, que mora8bets maisIretama, no Paraná.
"Tento não falar muito porque eleitores do Bolsonaro não conseguem aceitar outra visão... Mas nem esquento a cabeça, só dou risada dos argumentos deles e levo numa boa, desde que não me ofenda nem minha família", afirma a estudante.
O casal está junto há dois anos e esta será a primeira eleição8bets maisque participarão. "Uma vez, no início das campanhas, ele disse algo sobre eu ter alguns homossexuais na família e disse que por isso eu ia contra o Bolsonaro. Mas logo expliquei pra ele que isso é apenas um dos milhares8bets maismotivos para não votar (nele)", diz ela.
Divergências sobre a vida
Franciele Ieck e Luiz estão juntos há mais8bets mais5 anos e – apesar8bets maissempre terem votado diferente (ela votou8bets maisDilma Rousseff8bets mais2014, ele,8bets maisAécio Neves) - os dois nunca tinham brigado por política.
"Está muito difícil. A gente discute todo dia, feio,8bets maisficar sem se falar", conta Franciele, que mora8bets maisuma cidade no interior do Rio Grande do Sul.
Franciele aderiu ao #EleNão e pretende votar8bets maisCiro Gomes (PDT). Seu namorado defende o voto no ex-capitão do Exército.
"Começamos a brigar no início do ano, quando o pessoal tava falando que ele (Bolsonaro) seria presidente", conta Franciele. "Meu namorado quer me convencer a votar nele. Já eu falo para ele: 'eu não quero que tu vote no meu partido, no meu candidato, só não vota no Bolsonaro'."
Franciele e o namorado eram amigos8bets maisinfância – se conhecem desde os doze anos8bets maisidade. Mas ela diz sentir que só conheceu o namorado8bets maisverdade agora,8bets maisépoca8bets maisintenso debate político. "Não é só uma questão8bets maiscandidato, a gente realmente começou a divergir sobre como viver a vida", afirma.
"Ele (Bolsonaro) tem um discurso8bets maisódio. Para mim já não é uma questão8bets maispolítica, é uma questão ética e moral."
"Uma das brigas que a gente teve foi porque meu namorado disse que, se um dia a gente tivesse um filho gay, ele consertava na base da porrada", diz ela. "Ele sempre pensou diferente8bets maismim, mas essas eleições fizeram ele ficar mais radical nessas posições", diz Franciele.
O casal vive uma verdadeira crise e ainda não encontrou um meio termo para essas diferenças.
*Colaborou Felipe Souza, da BBC News Brasil8bets maisSão Paulo
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