'Se continuar assim, até o fim do ano perdemos o controle da cidade', diz prefeitarobo mines greenbetsBoa Vista, cidade que mais recebe venezuelanos:robo mines greenbets

Crédito, Andrezza Mariot/Divulgação

Legenda da foto, A prefeita diz que o Governo Federal não está dando a ajuda necessária para a cidade

No Brasil, o principal fluxorobo mines greenbetsimigrantes venezuelanos érobo mines greenbetsRoraima, um dos dois Estados que têm fronteira com o país. Cercarobo mines greenbets30 mil deles estãorobo mines greenbetsBoa Vista, cidaderobo mines greenbetsapenas 300 mil habitantes, bastante isolada do resto do país e que "não tem dinheiro nem estrutura" para lidar com a situação sozinha, segundo Teresa Surita.

Com o númerorobo mines greenbetsimigrantes chegando a 10% da população, os serviços públicos estão sobrecarregados. Os postosrobo mines greenbetssaúde acumulam longas filas e as escolas estão lotadas. Há quase 2 mil imigrantes morando na rua.

A crise tem gerado reclamações dos moradores e casosrobo mines greenbetsviolência e xenofobia contra venezuelanos.

A prefeita diz que a ajuda do Governo Federal não é suficiente e que a única formarobo mines greenbetsresolver a situação é ampliar a chamada interiorização - medida anunciada pelo Governo Federal para realocar imigrantesrobo mines greenbetsoutros lugares do país, mas que até agora, segundo Surita, só tirou 820 pessoas da cidade.

"Isso não é um problema municipal, é um problema federal, e ele tem que ser dividido com o resto do país", afirma ela.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

robo mines greenbets BBC News Brasil - Quais os números hojerobo mines greenbetsBoa Vista e como a cidade está sendo afetada?

robo mines greenbets Teresa Surita - Não sabemos exatamente quantas pessoas há porque o fluxo é muito grande. Chegamos a um número estimado,robo mines greenbetsjunho deste ano,robo mines greenbets8% da população: 25 mil pessoas. Dessas, 2,3 mil estavam morando na rua. Isso tem muitos desdobramentos e interfere no dia a dia da cidade. A gente está fazendo a limpezarobo mines greenbets64 pontos na cidade onde eles estão instalados, pedindo esmola. A gente está atendendo as pessoas no hospital, nas unidadesrobo mines greenbetssaúde, nas escolas. Mas chegou um pontorobo mines greenbetsque a gente tá precisando realmenterobo mines greenbetsreforço. Hoje já devemos ter passadorobo mines greenbets30 mil pessoas.

Na Colômbia, a chegada das pessoas é por sete pontos ao longo da fronteira. Aqui, só temos uma entrada e uma cidade, que é Boa Vista, uma cidaderobo mines greenbets300 mil habitantes. Não temos como assumir esse problema. Não temos nem dinheiro nem estrutura para isso. O que temos certeza é que, se continuar como está, até o fim do ano nós perdemos o controle da cidade.

robo mines greenbets BBC News Brasil - O que isso quer dizer?

robo mines greenbets Surita - Não vamos dar contarobo mines greenbetsatender todo mundo nas unidadesrobo mines greenbetssaúde, não vamos conseguir colocar as crianças na escola, vamos ter pessoas dormindo nas ruasrobo mines greenbetsum número tão alto que você não vai mais ter como trabalhar. Hoje você não resolve, enxuga gelo todo dia, mas administra. Se continuar nesse crescente você não tem como continuar mantendo nem isso. Porque o nosso problema não é mais abrigamento, a gente já tem dez abrigos, mas chegam mais pessoas do que a gente dá contarobo mines greenbetsconstruir. E as pessoas chegam precisandorobo mines greenbetsatendimento médico,robo mines greenbetsremédio - nosso hospital está lotado. As crianças precisamrobo mines greenbetsalimentação. Existe uma crise humanitária por trás dessa situação. Então precisamosrobo mines greenbetsajuda.

Crédito, Prefeiturarobo mines greenbetsBoa Vista

Legenda da foto, Boa Vista tem um número estimadorobo mines greenbets30 mil imigrante, maisrobo mines greenbets2 mil deles vivendo na rua

robo mines greenbets BBC News Brasil - O governo federal não está assumindo seu papel?

robo mines greenbets Surita - O governo federal perdeu o papel que vinha tentando assumir. Perderam a noção (do que precisa ser feito) e deixaramrobo mines greenbetsfazer. Eles vieram para cá com uma medida provisória,robo mines greenbetsfevereiro, para fazer abrigamento, hospitalrobo mines greenbetscampanha e interiorização. O abrigamento foi melhor do que eu imaginava, mas o hospitalrobo mines greenbetscampanha não aconteceu e a interiorização também não.

robo mines greenbets BBC News Brasil - A interiorização foi uma das principais medidas anunciadas para resolver a crise...

robo mines greenbets Surita - Não está acontecendo. A gente está no hemisfério norte, na capital mais distante do Brasil. Aqui você entra e não tem como sair. De estrada você chega até Manaus, mas para ir até Belém precisa pegar uma balsa. Então as pessoas acabam ficando aqui, porque é muito caro sair. E 73% da população que entra quer sair, mas não tem condições. A interiorização só acontece se a Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) aprovar. As regras que eles colocam é [de levar para o resto do país] as pessoas com maior escolaridade, menos doentes. Ela precisam ir para um lugar onde elas sejam abrigadas e tenham trabalho. Só que isso impossibilita, porque a maioria dos Estados e municípios não aceita receber essas pessoas. Então você ouve que foram cem pessoas para Brasília. Sim, mas aqui entram 500 por dia. Sabe quantas pessoas que foram realocadas desde que começou a interiorização,robo mines greenbetsfevereiro, até hoje? 820.

robo mines greenbets BBC News Brasil - Esse númerorobo mines greenbets73% que querem sair veiorobo mines greenbetsonde?

robo mines greenbets Surita - É um número da própria Acnur. E a gente comprova no nosso mapeamento. Eles querem seguir, mas não têm como. Eles preferem países que falam espanhol, que é a língua deles. Então eles irem para outros países ajudaria muito. Ou irem para um lugar que tem emprego.

robo mines greenbets BBC News Brasil - O Governo Federal diz que tem repassado dinheiro. Em abril, a Casa Civil disse que foram R$ 78 milhões repassados para Boa Vista, para incrementar o atendimentorobo mines greenbetssaúde. E que repassou R$ 793 mil para abrigos e 82 toneladasrobo mines greenbetsalimentos. Isso não é suficiente? Como foi usado o dinheiro?

robo mines greenbets Surita - Nós [o municípiorobo mines greenbetsBoa Vista] não recebemos um tostão (desses valores). R$ 793 mil para o abrigo não é nada e esse valor não vem para a prefeitura. Todo o recurso para abrigamento é para o Exército. Eu já gasteirobo mines greenbetsrecurso próprio maisrobo mines greenbetsR$ 1 milhão. Para limpeza da cidade, para o atendimento assistencial, para ajudar o Exército na montagem dos abrigos - com iluminação pública, terraplanagem, drenagem pra poder instalar. O que eu recebi foi um [outro] dinheiro, que ainda não foi totalmente liberado, para comprar 50 salasrobo mines greenbetsaula provisórias - que estamos no processorobo mines greenbetscompra.

robo mines greenbets BBC News Brasil - E os R$ 78 milhões para a saúde?

robo mines greenbets Surita - Não sei como o governo está fazendo essa contabilização. Não posso dizer que nunca chegou porque não sei se o governo do Estado recebeu. Mas a prefeitura não recebeu. A gente não recebe dinheiro, e eu nunca pedi dinheiro também. O que eu quero, na verdade, é o apoio para dar conta dessa situação.

robo mines greenbets BBC News Brasil - E qual seria a solução?

robo mines greenbets Surita - A única formarobo mines greenbetsresolver,robo mines greenbetsnos ajudar hoje é diluir esse númerorobo mines greenbetspessoas para fora daqui. E isso não é xenofobia, isso é para poder atender as pessoasrobo mines greenbetsuma forma decente. Isso não é um problema municipal, é um problema federal, e ele tem que ser dividido com o resto do país. Porque os abrigos não estão mais dando conta. Há muita gente do ladorobo mines greenbetsfora,robo mines greenbetsbarracas, pessoas que não têm nada. E dentro dos abrigos, temos uma sérierobo mines greenbetsdificuldades. Por exemplo, é muito comum você encontrar criança com diarreia, há o problema do surtorobo mines greenbetssarampo.

Crédito, Prefeiturarobo mines greenbetsBoa Vista

Legenda da foto, Cercarobo mines greenbets500 pessoas vindas da Venezuela entram no Brasil por Roraima por dia

robo mines greenbets BBC News Brasil - É possível realmente atribuir os surtos à entrada das pessoas?

robo mines greenbets Surita - Elas que trouxeram. Isso foi comprovado, porque era uma doença erradicada no Brasil. Não é que as taxas da nossa vacinação são deficitárias. A Colômbia está tendo o mesmo problema. O problema é que as pessoas já chegam com a doença. E você tem que tratar aqui. Hoje aumentou o númerorobo mines greenbetssarampo, temos 268 casos notificados, 80 sendo investigados e 148 casos confirmados.

robo mines greenbets BBC News Brasil - Elas não poderiam ser vacinadas?

robo mines greenbets Surita - A gente tem batido muito na tecla da vacinação na fronteira. Mas a gente vai vacinar na fronteira e não é obrigatório. Então as pessoas atravessam e vacina quem quer. Aí para ser feita a interiorização, é obrigada a vacinação, mas para chegar aqui não é.

robo mines greenbets BBC News Brasil - A prefeitura pediu para o governo federal para que a vacinação seja obrigatória?

robo mines greenbets Surita - O governo brasileiro é soberano para exigir isso ou não. Então é uma decisão do governo. Eu fiz o pedido para o presidente (Michel Temer), para o ministro anterior (José Serra, da pastarobo mines greenbetsRelações Exteriores), para o ministro atual (Aloysio Nunes), para Acnur, para quem você imaginar. Eles dizem que é justo, que precisa ser feito. Mas não acontece.

robo mines greenbets BBC News Brasil - Na prática isso não ia impedir as pessoasrobo mines greenbetsentrar?

robo mines greenbets Surita - Temos um posto da Anvisa na fronteira, que poderia vacinar quem quer entrar.

robo mines greenbets BBC News Brasil - A soluçãorobo mines greenbetslevar as pessoas para os outros Estados não seria só empurrar o problema? Porque outros lugares teriam mais condiçãorobo mines greenbetsreceber?

robo mines greenbets Surita - Qualquer lugar tem mais oportunidade do que Boa Vista. Aqui nós não temos indústria. Não tem geraçãorobo mines greenbetsemprego. A gente não tem energia, a nossa energia vem da Venezuela, a gente sofre quedarobo mines greenbetsenergia todo dia. Hoje estamos sem internet. Se a gente tivesse emprego, a imigração não seria um problema, porque temos poucas pessoas vivendo aqui.

Eu não sei mais o pensar, o que oferecer. Eu conversei com o presidente, conversei com o (ministro da Casa Civil Eliseu) Padilha que precisamos urgenterobo mines greenbetsuma solução. Ele disse: estamos falando com todos os Estados, mas ninguém quer receber. Só que [essa resposta] não é uma solução. E a gente não tem escolha.

Crédito, Prefeiturarobo mines greenbetsBoa Vista

Legenda da foto, Teresa Surita: 'Como que a gente vai fechar a fronteira para essa miséria dessas pessoas que chegam? É uma crise humanitária'

robo mines greenbets BBC News Brasil - Qualrobo mines greenbetsposiçãorobo mines greenbetsrelação ao fechamento da fronteira?

robo mines greenbets Surita - A posição não é a favor ou contra o fechamento. É o que pode e o que não pode. Somos um país democrático. Temos acordos internacionais, somos signatáriosrobo mines greenbetsum processo globalrobo mines greenbetsreceber os imigrantes. É um discussão que não cabe a nós. O que que a prefeitarobo mines greenbetsBoa Vista pode opinar nisso? Se o Brasil é signatário e temos que receber essas pessoas, precisa ter a estrutura para isso. Outra coisa: como que a gente vai fechar a fronteira para essa miséria dessas pessoas que chegam. É uma crise humanitária. Você não vai ser humano nessa situação?

robo mines greenbets BBC News Brasil - Há quem defenda.

robo mines greenbets Surita - O que acontece com as pessoas que estão aqui, num Estado isolado, longerobo mines greenbetstudo, com dificuldaderobo mines greenbetssair... Elas estão se sentindo agredidas, porque elas estão vendo o númerorobo mines greenbetspessoas que chega todos os dias, ficando nas ruas... Você já não consegue irrobo mines greenbetsalguns lugares da cidade, porque só têm pessoas pedindo. Por exemplo, você vai ao banco ou no supermercado e tem dezenas, centenasrobo mines greenbetspessoas na porta. É natural essa reação, que não é uma reaçãorobo mines greenbetsxenofobia, é uma reação de: "gente, alguém tem que fazer alguma coisa".

robo mines greenbets BBC News Brasil - Você disse que não é uma questãorobo mines greenbetsxenofobia, mas já houve vários casosrobo mines greenbetsviolência contra Venezuelanos.

robo mines greenbets Surita - Você tem casos. Mas uma pesquisa da Acnur mostra que você tem 28%robo mines greenbetsviolência, mas 60%robo mines greenbetssolidariedade. Então você vai encontrar as duas coisas, mas a xenofobia e a violênciarobo mines greenbetsum número menor - por enquanto. Temos feito o que a gente pode. Por exemplo, nós não separamos (as pessoas no atendimento do serviço público). A ordem é: nenhuma agressão, a gente vai atender no serviçorobo mines greenbetssaúde, não tem fila separada, toda criança que precisar ser matriculada vai ser matriculada, não vai ter sala separada.

robo mines greenbets BBC News Brasil - Há brasileiros que ficam sem atendimento?

robo mines greenbets Surita - Já acontece. Principalmente na saúde. Então a fila tá muito grande, se tiver que sobrar, vai sobrar brasileiro e venezuelano. E é onde eles reclamam, entendeu? Então um caso gravíssimo que aconteceu foi do nascimentorobo mines greenbetsuma criança, e a mãe, venezuelana, ocupou um leito do hospital. E uma brasileira chegou e queria tirar a venezuelana, porque ela se acha no direitorobo mines greenbetsocupar aquele leito. É muito complicado.

robo mines greenbets BBC News Brasil - Ouvindo relatos da situação tem-se a impressãorobo mines greenbetsque todo mundo que entra é muito pobre, com baixa escolaridade e necessidaderobo mines greenbetsassistência. Mas um estudo da FGV apontou que os venezuelanos não indígenas que migram para Boa Vista tem uma média educacional maior do que a população local.

robo mines greenbets Surita - Muito pouco. A maioria das pessoas que ficam aqui tem nível básicorobo mines greenbetsensino ou não tem formação. São pessoas que o serviço público tem que atender. As pessoas que tem mais escolaridade vão para outros lugares. Elas têm condiçãorobo mines greenbetsentrar e comprar uma passagem. Um caso que acompanhei foirobo mines greenbetsum advogado que chegou e foi ser estagiário num escritório. Ele ganhava um salário mínimo por mês. Ele juntou, comprou passagens e foi embora para o Paraná com a família.

robo mines greenbets BBC News Brasil - E qual a perspectivarobo mines greenbetsrelação à eleição?

robo mines greenbets Surita - É o que mais me preocupa. Daqui a seis meses sai o presidente, esses abrigos que oferecem três refeições diárias vão acabar. Como vamos ficar? Tanto no governo do Estado, como no governo Federal, com trocarobo mines greenbetsministros, tem uma parada natural. E aqui as pessoas estão chegando... e a crise na Venezuela não vai terminar.