Como Dr. Bumbum conseguia atuar com mentiras no currículo e sem especialização:poker queen

Legenda da foto, Denis Furtado só tinha registro para atuarpoker queenBrasília e Goiás, não no Riopoker queenJaneiro, onde ele fez o procedimento estéticopoker queenLilian Calixto, que morreu alguns horas depois. No currículo, ele dizia ter cursospoker queenpós-graduação, mas a BBC News Brasil verificou que eles não tinham registro no MEC / Imagem: Antonio Lacerda

Segundo o Conselho Federalpoker queenMedicina, não há, na legislação brasileira, nada que impeça um médico formadopoker queenatuarpoker queenqualquer área da Medicina, da mais simples à mais complexa.

O que nenhum médico pode fazer é se apresentar como "especialista"poker queenalguma modalidade reconhecida da Medicina, se ele não cumprir os requisitos das sociedadespoker queencada especialidade.

Para ser cirurgião plástico, por exemplo, é preciso fazer dois anospoker queenresidênciapoker queencirurgia geral e outros trêspoker queencirurgia plástica, alémpoker queenpassar por prova escrita e oral da Sociedade Brasileirapoker queenCirurgia Plástica. Para ser dermatologista, também é preciso fazer residência ou especializaçãopoker queeninstituição credenciada, e passar por prova.

O médico Denis Furtado se apresentava nas redes sociais como "médico pós-graduadopoker queendermatologia pela ISBRAE, modulação hormonal pela BARM, e medicina estética pela ASIME".

De acordo com o Ministério da Educação, das três instituições citadas, só a ISBRAE (Instituto Brasileiropoker queenEnsino) pode oferecer cursospoker queenpós-graduação, por ser associada a uma faculdade. Mas a ISBRAE informou à BBC News Brasil que Furtado começou o cursopoker queendermatologia e não terminou. Portanto, ele não possui certificaçãopoker queenlá.

Segundo o MEC, nem a BARM (Brasil-American Academy for Integrative and Regenerative Medicine) nem a ASIME (Associação Internacionalpoker queenMedicina Estética) tem registro como instituiçõespoker queenensino superior - condição para oferecer cursopoker queenpós-graduação. Ao procurar contato com a ASIME, a BBC News Brasil foi informadapoker queenque essa associação não existe mais.

A BBC News Brasil tentou ligar no telefone disponibilizado no site da BARM mas o número não funciona. A reportagem também enviou e-mail e deixou mensagem no site, perguntando se Furtado fez algum curso pela BARM e se a instituição tem alguma parceria com universidades para poder oferecer cursospoker queenpós-graduação. Nesta segunda (23), recebeu a seguinte resposta por e-mail:

"A Barm é uma empresa sediada nos EUA e realizava cursospoker queenextensão e atualizaçãopoker queenEnvelhecimento e Medicina Regenerativa no Brasil e tinha como um dos temas 'modulação hormonal', porém não erapoker queenespecialização ou pós-graduação. A academia já não existe mais no Brasil desde 2014 e somente o site ficou disponível para contato e dúvidas."

Legenda da foto, O Conselho Regionalpoker queenMedicina do DF cassou o registropoker queenFurtado após a notícia da morte da paciente. Caso será submetido ao Conselho Federalpoker queenMedicina / Imagem: Reprodução

Por que alguns médicos fogem da especialização?

O cirurgião plástico Sergio Bocardo, membro da Sociedade Brasileirapoker queenCirurgia Plástica, destaca que a especialização leva tempo e custos. "São quase 12 anos entre faculdade e residência para a cirurgia plástica." Portanto, alguns médicos tentam cortar caminho fazendo cursos não licenciados pelo MEC,poker queenáreas não reconhecidas da Medicina.

Furtado, por exemplo, se dizia especialistapoker queen"medicina estética", que não é uma especialidade reconhecida - não há cursospoker queenresidência, nem sociedade que regule esse setor.

"No Brasil, a legislação não é categórica sobre isso. O médico, a princípio, pode fazer qualquer procedimento, mas se houver complicação pode ser considerado imperito", disse Bocardo, que é chefe do serviçopoker queencirurgia plástica do Hospital Ipanema, no Riopoker queenJaneiro.

"E a fiscalização é falha. Tem muitos cursos que não são aprovados pelo MEC, nem pelas sociedadespoker queenmedicina. Alguns são cursospoker queencurta duração ou online. E tudo o que é focadopoker queenestética atrai público. Pessoas que não têm especialização às vezes vão para essa áreapoker queenbuscapoker queendinheiro."

Como fazer o 'controlepoker queenqualidade' dos médicos

Como não há lei que impeça um médico sem especializaçãopoker queenatuar, os conselhospoker queenmedicina focampoker queententar evitar propaganda enganosa, para que os pacientes não sejam manipulados na horapoker queencontratar o profissional.

Um médico não pode, por exemplo, se anunciar como especialista nem mentir aos pacientes sobre a formação acadêmica. Além disso, não pode dar garantiaspoker queenresultados. Até as famosas fotospoker queen"antes e depois" podem ser enquadradas nessas proibições, segundo o Conselho Federalpoker queenMedicina.

A pena para quem infringe as chamadas "regraspoker queenpublicidade médica" vaipoker queenadvertência até a cassação do registro profissional, que significa o fim da carreira, já que o profissional fica para sempre impedidopoker queenexercer a medicina.

O Conselho Federalpoker queenMedicina também informou que, para atuarpoker queenqualquer Estado, o médico precisa pedir registro no Conselho Regionalpoker queenMedicina daquela localidade. Um dos objetivos é permitir que o paciente possa prestar queixapoker queencasopoker queencomplicações ou problemas.

Legenda da foto, Denis Furtado cita três pós-graduações no currículo, mas ele não concluiu o cursopoker queenuma das instituições mencionadas e as outras duas não têm registro no MEC / Imagem: Polícia Militar do Riopoker queenJaneiro

Furtado tinha registro para atuar como médicopoker queenBrasília e Goiás, mas não no Riopoker queenJaneiro, onde o procedimentopoker queenLilian Calixto foi feito. O cirurgião Sérgio Bocardo recomenda que, ao fazer preenchimentos ou procedimentos estéticos mais invasivos, o paciente cheque se o médico fez residênciapoker queendermatologia ou cirurgia plástica, ou verificar se fez cursospoker queeninstituições reconhecidas pelo MEC.

"Muitas vezes esses médicos tem formaçãopoker queenfinalpoker queensemana, não tem formaçãopoker queenanatomia. E todo procedimento, por mais simples que seja, oferece riscos." Ele diz que já recebeu dezenaspoker queenpacientes com deformidades causadas por procedimentos mal feitos.

"É comum observar deformidade e até necrosepoker queennariz e lábil. Tem preenchimento na área dos olhos que se não for feito direito pode levar à cegueira", alerta.

Riscos do preenchimentopoker queenglúteo com PMMA

No casopoker queenLilian Calixto, a suspeita époker queenque ela tenha tido uma embolia pulmonar por conta do uso excessivopoker queenPMMA (polimetilmetacrilato), no procedimentopoker queenpreenchimentopoker queenglúteo. A substância, composta por microesferaspoker queenum material parecido com plástico, é aprovada pela Agência Nacionalpoker queenVigilância Sanitária (Anvisa), mas é indicada somente para usopoker queenpequenas quantidades.

Segundo a Sociedade Brasileirapoker queenCirurgia Plástica, o PMMA não deve ser usadopoker queenáreas extensas do corpo, como glúteos.

"Era uma substância pensada para usarpoker queenpequenas quantidades, normalmente na face. Mas começaram a aplicar no bumbum. Para ter efeito, injetam no músculo, e o músculo tem vasos sanguíneos mais calibroso. Se injetar dentro do vaso, a substância pode ir para a corrente sanguínea e você pode ter AVC ou embolia pulmonar", explicou o médico Sergio Bocardo.

Legenda da foto, A bancária Lilian Calixto viajoupoker queenCuiabá até o Rio para fazer preenchimentopoker queenglúteo com Denis Furtado / Imagem: Reprodução/Facebook

Alémpoker queenaparentemente ter usado uma substância considerada inadequada para o procedimento, Furtado fez a bioplastiapoker queenLilian Calixto no apartamento dele, na Barra da Tijuca. A paciente teria passado mal algumas horas depois e foi levada ao hospital Barra D'Or pelo próprio Furtado, no sábado à noite. No domingo, ela morreu.

Em vídeo postado no seu perfilpoker queenInstagram, que tem maispoker queen650 mil seguidores, Denis Furtado diz ter feito maispoker queen9 mil bioplastias - intervenções à basepoker queeninjeções para remodelar o corpo.

Bocardo afirma que,poker queentese, preenchimentos mais simples, como Botox facial, deveriam ser feitos por dermatologistas. Preenchimentopoker queenglúteo só deveria ser feito por cirurgião plástico, por ser mais delicado e envolver uma área maior do corpo.

Ele também diz que a injeção no glúteo só deveria ser feitapoker queenambiente hospitalar. "Todo procedimento tem risco, qualquer que seja. Portanto, tem que ser feito num local adequado. No caso do glúteo, por causa do volume do preenchimento, tem ser feito num hospital, no centro-cirúrgico", afirmou o integrante da Sociedade Brasileirapoker queenCirurgia Plástica.

"Injustiça", diz Dr. Bumbumpoker queenvídeo

Num vídeo postado nas redes sociais antespoker queenser preso, Denis Furtado se diz alvopoker queen"injustiça". "É um mistério a causa da morte, mas é uma injustiça o que estão falandopoker queenmim. É uma injustiça falarem que eu não sou médico, eu tenho CRM ativo. É uma injustiça dizerem que é um procedimento que não é habilitado", afirmou.

Furtado afirmou também que Lilian Calixto estava "muito bem" depois da bioplastia.

"Aconteceu uma fatalidade, mas uma fatalidade que acontece com qualquer médico. Uma paciente após procedimentopoker queenglúteo, que eu já realizei 9 mil, ela saiu do consultório muito bem. Umas seis horas após eu a levei para o hospital e ela chegou ao óbito."

Segundo o médico, a paciente estava lúcida ao chegar ao Hospital Barra D'Or. "Ela terminou o procedimento por voltapoker queen19h20. Ela desceu escada, conversou, riu, conversou com todo mundo e se sentindo muito bem. Passou oito, nove horas, dez horas, onze horas. Às 23h30 ela sentiu-se mal, sentiu uma quedapoker queenpressão", detalhou.

"Eu falei, vamos ao hospital. Chegando lá, ela estava andando e lúcida. E depois ela veio a falecer horas após, dentro do hospital. Eu quero saber o que é isso".

O médico ainda afirma que fugiu da polícia porque se assustou ao ser abordado por "homens armados". "A minha demora nesse pronunciamento, quatro dias depois, é porque sofri um atentado com perseguiçãopoker queencarros, fuzil e tiros. Não sabia se era bandido ou represália da família da vítima. Mas estou sendo culpadopoker queenum crime que eu não cometi."