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'Os miseráveis que receberam um auxílio se tornaram lulistascarteirinha', diz André Singer:
Em entrevista à BBC News Brasil, ele analisa os movimentos que levaram ao impeachmentDilma e destrincha seus efeitos para o cenário atualsucessão presidencial.
BBC News Brasil - Se Lula tivesse sido eleito2014, no lugarDilma, o desfecho do impeachment e crise teria sido o mesmo?
André Singer - Provavelmente não. Provavelmente ele teriainício enfrentado as mesmas dificuldades porque o quadro que estava posto já era um quadro muito difícil, já que os dois ensaios que a Dilma realizou, o desenvolvimentista e o republicano, acabaram gerando duas frentes opostas. No entanto, o Lula é um político com uma habilidade e com um acúmuloexperiência que talvez hoje não tenha igual no Brasil tirando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - eles são relativamente paralelos embora haja diferenças entre ambos.
Com essa experiência e essa capacidade, ele teria enfrentado essas mesmas dificuldadesoutra maneira. E ele não se furtou a dar sugestões para Dilma, na verdade mais do que sugestões, ele deu uma orientação sobre o que ela deveria fazer logo após a reeleição. Esse é, aliás, um momento muito agudotodo o processo que levou ao impeachment porque, se houve um afastamento entre Dilma e Lula, o momentomaior afastamento foi exatamente aquele pós-reeleição dela,que há praticamente uma ruptura.
Entre novembro2014 e outubro2015, a ex-presidente Dilma resolveu fazer tudo por conta dela, quase como se estivesse imaginando que aquele era o momentofazer o seu governo, o que se mostrou um errocálculo incrível. Não que ela não tivesse direito a fazer o governo dela, mas o problema não está na legitimidade, mas tinha contra ela uma frente antidesenvolvimentista muito poderosa e uma frente antirrepublicana majoritária no Congresso, como já estava evidente com a vitóriaEduardo Cunhafevereiro2015.
BBC News Brasil - A atuaçãoDilmarelação à Operação Lava Jato gerou mal-estar no PT? O combate à corrupção abalou a sustentação dada pelo partido a ela?
Singer - Esse assunto nunca ficou claro, e a pesquisa que eu fiz não permite fazer afirmação categórica a respeito. O que aparece aqui e ali é que houve resistênciasetoresrelação a determinadas medidas, mas isso nunca ficou explícito e o partido nunca tomou uma posição oficial contrária ao movimento que ela fez no sentidoretiradacírculos clientelistas incrustrados no Estado, ou seja, sobre isso não há elementos claros.
BBC News Brasil - O lulismo errou eminterpretação sobre a mobilidade das classes? Há fidelidade entre os pobres e o lulismo?
Singer - Você tem um primeiro movimento que é a ascensão dos miseráveis. Esse é o mais fortetodos os movimentos que o lulismo produziu. Segundo o economista Valdir Quadros, tínhamos 24%miseráveis2002 e essa proporção cai para 7%2014, na população brasileira. Aqui você tem uma redução importante e que tende a ser estrutural. Quanto a isso, não houve engano, os dirigentes do lulismo entenderam bem o que estava acontecendo e souberam tanto gerenciar esses programas que levaram a esse resultado quanto compreender os seus limites.
O que houve foi um aproveitamentopropaganda, tentandoalgum momento fazer com que parecesse que esses brasileiros que saíram da miséria estavam indo direto para uma condiçãoclasse média, como se fosse praticamente um milagre, o que na realidade não aconteceu. O que aconteceu foi um movimento importantesaída da condição miseráveluma parcela expressiva da população, mas que entrou numa condiçãopobreza, nãoclasse média. E é por isso que quando você olha para o númeropobres, segundo os dados do Valdir Quadros,2002 nós tínhamos 29%pobres e esta proporção cai para 23%.
A redução é muito menor, não porque os pobres2002 não tenham melhoradovida, eles certamente melhoraram, mas foram substituídos por novos pobres que eram os antigos miseráveis. Com isso, o estoquepessoascondiçãopobreza ficou relativamente estável. Eu não estou subestimando a importância dessa ascensão, porque significa a diferença entre comer três vezes ao dia e não comer.
Esses antigos pobres que melhoraramcondição, e foramnúmero expressivo,dezenasmilhões, entraram no que chamouma nova classe trabalhadora. E aí, sim, houve um engano dos dirigentes do lulismo, que não se aplicaram ao trabalhopolitização dessa nova classe trabalhadora. Ela precisaria ter sido conscientizadaque não estava mudandocondição apenas por seus próprios méritos, mas, sim, porque houve um conjuntopolíticas públicas orientadas para ajudar esse setor a mudarcondição.
Não existindo esse trabalhopolitização, você encontra uma quantidade significativapessoas que transitaramuma condiçãopobreza para a nova classe trabalhadora e que entendem que essa ascensão decorreuseus méritos individuais. Claro que os méritos individuais existem, mas quando você olha para o conjunto, para o movimentoclasse, você percebe que o mérito individual não é suficiente. Uma pessoa pode ser muito trabalhadora e talentosa, mas se não tem emprego disponível, ela não consegue.
BBC News Brasil - Para os miseráveis, o lulismo ficou marcado por contapolíticas como o Bolsa Família, é isso? Já o pobre que ascendeu não teve uma marca tão forte a ligá-lo com o lulismo?
Singer - É exatamente isso, e isso tem um resultado político muito importante. Porque os antigos miseráveis que receberam um auxílio, esses se tornaram lulistascarteirinha, tão fiéis que agora estão declarando voto no ex-presidente Lula mesmo ele estando preso. Os outros não tiveram essa percepção, uma parte significativa dos antigos pobres que se tornaram classe trabalhadora não perceberam esse movimento como um resultadolulismo e não estabeleceram esse canallealdade que os antigos miseráveis estabeleceram.
BBC News Brasil - Por outro lado, há uma fatia do eleitorado que votava em Lula e agora expressa preferência por Bolsonaro. O que explica esse movimento?
Singer - O que está motivando o grosso da intençãovoto no ex-presidente Lula é a memória que ficouum tempo melhor e a associação do lulismo com uma ascensão social que abria novas perspectivasvida, as pessoas querem que isso volte. Isso é um elemento forte. A passagemeventuais eleitores que declaram voto no ex-presidente Lula e na ausência dele podem declarar a intençãovotar no Bolsonaro está ligado ao fatoque, provavelmente, também para estas pessoas, a questão da segurança passou a ser prioritária.
Esse é um fenômeno novo no Brasil: juntamente com a aspiração por emprego, saúde e educação, há o desejo por segurança pública. Houve um aumento significativo da criminalidade no Brasil nos últimos 20 anos, ecertas periferias metropolitanas fala-seuma situação desesperadora. É compreensível que pessoas que tenham uma certa distância da informação política e do debate político não identifiquem a enorme polarização que existe entre Bolsonaro e Lula, porque na realidade, quando você olha maisperto, percebe que o Bolsonaro e seus eleitores querem eliminar o lulismo. Então é claro que há uma certa dessintonia entre poder transitarum voto no ex-presidente Lulaum voto no Bolsonaro, mas creio que a explicação está na segurança pública.
BBC News Brasil - A segurança vai ser mais importante do que a economia na definição do voto?
Singer - Eu não diria que tenha se tornado mais do que a economia. Essa questão do que é mais determinante no voto tem que ser estudada empiricamente. Minha intuição diz que a economia continua sendo determinante, mas, no rolpesovariáveis, segurança pública subiu.
BBC News Brasil - Essa nova classe trabalhadora, os pobres que ascenderam e não estabeleceram lealdade com o lulismo, esteve entre os que se insurgiramjunho2013, movimento que desestabilizou o governo Dilma?
Singer - Os dados que eu examinei mostram que havia uma metade da população presente nas ruas que podemos chamarclasse média tradicional, que é aquela pessoa que já é a segunda geraçãoclasse média - pelo menos os pais já estavam na classe média. São aquelas pessoas que têm acesso a planossaúde privados, aquelas que têm acesso às escolas privadas no ensino fundamental e médio e aquelas que fazem viagens para o exterior. Mas a outra metade dos manifestantes não tinha alta renda. Não erabaixíssima renda, o subproletariado não foi às ruas, mas as pessoas que estão na metade inferiorrenda estavam lá.
Outro elemento que corrobora a teseque a nova classe trabalhadora foi às ruas é que eles eram jovens, entre 25 e 39 anos, e tinham uma escolaridade alta - pelo menos o ensino médio completo e havia uma alta proporçãouniversitários, estudantes ou formados. Nós sabemos que houve uma explosão do ensino universitário graças ao Fies, o ProUni, etc, no período do lulismo. Então dá a impressãoque uma parte significativa desses manifestantes pertencia a essa nova classe trabalhadora.
Eu não diria queum primeiro momento eles foram para a rua contra o governo Dilma. Havia ali um caráter difuso, porque os movimentos começam como um movimentoesquerda, puxados pelo Movimento Passe Livre, e acabam com uma tonalidade bemdireita, com essa coloração amarela das camisetas da seleção e até a expulsãosetoresesquerda como aconteceu na Avenida Paulista no dia da maior manifestação no caso da cidadeSão Paulo. Esse caráter difuso, que era um pouco tudo e nada ao mesmo tempo... havia uma espécie do espírito"que se vayan todos" (bordão usado na crise Argentina2001). Uma espécierepúdio geral à representação, e aí envolvendo também o governo federal.
O problema é que depois isso foi se derivando para um movimentorepúdio ao lulismo, do qual a esquerda não participou, já2015 e 2016. A gente pode observar uma continuidadeparte do que aconteceujunho e as manifestações2015 e 2016favor do impeachment, passando pela Lava Jato. Há um fio amarelo que junta junho2013 a março2016, que é o momentoque aquela grande manifestação a favor do impeachment acabou, na minha opinião, decidindo o jogo contra Dilma.
BBC News Brasil - Há comparação ou continuação entre junho2013 e a greve dos caminhoneirosmaio2018?
Singer - O que eu vejo como elemento comum é uma presença importante das redes sociais. E as redes sociais parecem transformar a mecânica do processomanifestação, que acaba incidindo sobre seu próprio conteúdo. Ocorre como uma concentraçãodebate públicocaminhos invisíveis, ele não aconteceum espaço no qual estamos acostumados a olhar, o espaço dos jornais, das televisões abertas, até mesmo das televisões fechadasmaior audiência. Parece que ele ocorreuma outra faixa e esses debates submersos levaram, no meio da greve dos caminhoneiros, ao aparecimentoinúmeros grupos espalhados pelo país inteiro pedindo intervenção militar, o que é algo que não está muito no radarquem acompanha o debate mais tradicional.
No entanto, tal como2013, não importa, o fato é que essas pessoas estão aí e começam a se manifestar aí sim, dentro do espaço tradicional, quando, por exemplo, aparece uma reivindicação desse tipo,intervenção militar. Houve um momento assustador durante a greve dos caminhoneirosque, apesaro governo já ter feito muitas concessões, os caminhões não saiam das estradas, e à pergunta 'mas qual é a reivindicaçãovocês?', a resposta era: 'intervenção militar'.
É claro que isso não é oficial, não é generalizado, algo que você possa atribuir a um movimento estável, mas é algo que começou a pipocaruma tal maneira que você não sabe onde aquilo poderia terminar, tal como aconteceujunho2013.
BBC News Brasil - Há um fiocontinuidade entre um momento e outro?
Singer - Algum fio tem. Mas nesse momento eu não saberia dizer exatamente qual é. O que a gente consegue perceber é que há manifestações pela volta da ditadura jájunho2013, embora seja um segmento muito minoritário, mas ele reaparece no processo do impeachment. Algum elementocontinuidade existe nesse desejoum retrocesso autoritário.
BBC News Brasil - E esses movimentos e seus desdobramentos são imprevisíveis para o governo, a sociedade, os pensadores, a imprensa?
Singer - Eu acho que o fenômeno das redes sociais têm um impacto na política novo, forte e difícilapreender. Pouco a pouco nós estamos localizando o que está acontecendo. E o que está acontecendo é que você tem a emergênciasetores da população, do eleitorado, que tem um viés autoritário, e isso fica mais claro quando a gente observa as intençõesvoto do candidato Bolsonaro, que tem uma posição que é simpática ao endurecimento, para dizer algo suave.
Ele usa muito as redes sociais, está bastante associado às Forças Armadas, porque é um ex-militar, e há uma expressão mais pública desse fenômeno, o que nos permite começar a entender do que se trata. À medida que isso vai ficando mais definido, a preocupação cresce, porquedeterminados cenários, esse candidato chega a ser próximo dos 20%intençõesvoto, o que está longerepresentar uma maioria, mas é um elemento já suficientemente significativo para ser considerado parte do jogo.
BBC News Brasil - Quão cativos são hoje os eleitores do lulismo e qual o potencialtransferênciavotosLula para outro candidato que represente esse projeto?
Singer - O que existe hoje é uma surpreendente pressão na direçãotirar o lulismo do jogo. E um dos elementos dessa configuração é a prisão do presidente Lula, que literalmente o subtrai do dia a dia da política. Ele continua participando porque tem justamente por trássi este passado do realinhamento (eleitoral,2006), mas é claro que ele não pode fazer como se estivesseliberdade.
Segundo o Datafolha, 30% dos eleitores declararam que votariamalguém que ele indicasse e 17% que talvez o fizessem, então você tem 30% bastante inclinados a seguir a orientação dele e mais 17% que poderiam seguir. Fazer qualquer previsão para além do que temosdados é temerário, porque a situação está muito incerta, mas eu diria que com o quadro que nós temos hoje, devo dizer que apesar dessa enorme pressão contra o lulismo, ele sobrevive.
BBC News Brasil - Faz sentido a estratégia petistamanter Lula como candidato pelo máximotempo possível antesoutubro?
Singer - É uma estratégia muito arriscada, na minha opinião, porque eu acho que uma parte desse eleitorado não tomou consciência dos riscos que pesam sobre a candidatura Lula, que tem pouca probabilidadeefetivamente se concretizar por motivos judiciais. Por isso, a estratégia que está posta é arriscada porque ela diminui o tempoinformação para que esses eleitores, que são eleitores distantes da política, possam digerir e absorver uma nova situação com uma indicação.
No entanto, como contrapartida a esse risco, a estratégia mantém as atenções voltadas para o ex-presidente Lula, que é o principal pivô do lulismo, e se ela for bem sucedida, permitiria uma ultrapassagem com êxito desse momento muito complicado para o lulismo.
BBC News Brasil - O lulismo sobrevive ao Lula?
Singer - Em teoria ele sobreviveria plenamente. O lulismo tem a vocaçãoser algo que percorra a história brasileira como o peronismo percorre a história argentina.
BBC News Brasil - O lulismo precisa ser personificadoalguma figura? Depois d o Lula, quem poderia ser essa figura ? Haddad personifica o que é o lulismo?
Singer - A minha tendência é achar que sim, que Lula precisa ter essa figura, e que a dificuldade estáque há poucas situações precedentesque o candidato natural está preso e impedidoconcorrer e, portanto, precisa indicar alguém. De fato, o substituto mais falado até esse momento é o ex-prefeito Fernando Haddad, e eu acredito que nós vamos ter uma experiência novaver, se ele forfato o indicado, como o eleitorado reagirá a essa indicação e, sobretudo, a incerteza é quando ela será feita. Mas a minha impressão é que sim, precisará haver alguém que personifique o lulismo na impossibilidade do ex-presidente concorrer.
BBC News Brasil - Não há uma figura que esteja posta, um herdeiro evidente?
Singer - Eu acho que o presidente Lula tem evitado que isso aconteça. Eu acredito que ele deve ter entendido que é mais proveitoso para o lulismo nesse momento que ele siga sendo a referência principal e tem evitadopassar ou construir explicitamente um substituto, embora provavelmente ele tenha que fazê-lo mais adiante.
BBC News Brasil - O programa econômico defendido por Dilma é hoje encampado por Ciro Gomes, o candidato do campo da esquerda hoje mais citado pelo eleitor, quando Lula está fora do cenário. Não faria sentido que o PT apoiasse Ciro? Por que essa reunião pode não se dar?
Singer - De fato, há muitos pontoscoincidência entre o programa efetivo da ex-presidente Dilma no seu primeiro mandato e certas orientações que emanam do discurso do candidato Ciro Gomes. Como o atual candidato Ciro Gomes tem um certo componenteimprevisibilidade, nós não sabemos exatamente qual programa ele vai apresentar, mas tendo a achar que sim, que ele tende a se orientar por medidas que lembram o que a ex-presidente Dilma tentou fazer. É possível, ou até provável, que ele enfrente as mesmas dificuldades que ela enfrentou.
Ciro tem um componenteimprevisibilidade, não sabemos nesse momento se ele vai tender a alianças mais à esquerda ou mais à direita, isso faz muita diferença para saber qual postura o PT, o lulismo e o ex-presidente Lula deveriam tomar. Porém, eu diria que, com essa ressalva, a tendência é que ele acabe ficando no campo à esquerda do centro. Nesse sentido, acho quase inevitável que ele permaneça sempre como uma alternativaapoio.
Nesse momentoque o presidente Lula está preso, está definida uma estratégialevar adiante acandidatura apesar das dificuldades e há uma enorme indefinição, apesarque o tempo está correndo. O mais interessante seria estabelecer um programa comum a todos os atores, e aí eu envolvo candidatos, movimentos e partidos, desse campo à esquerda do centro, que pudesse servirguarda-chuva tanto para um eventual segundo turno, no qual essas forças terão que estar juntas, não sei ao redorquem, mas a lógica diria que elas deveriam estar juntas, quanto para eventuais decisões ainda no primeiro turno, que nesse momento são impossíveisdizer quais seriam, tal é o grauindeterminação.
BBC News Brasil - Os quadros do PT concordam hoje que quem definirá o destino da legenda é Lula, que está preso. Como vê essa situação?
Singer - O protagonismo do ex-presidente Lula é consequência do lulismo. À medida que o lulismo foi se configurando como o resultado mais importante do realinhamento eleitoral, aquele que é o pivô do lulismo ganha uma força extraordinária, e isso aconteceriaqualquer democracia. Quando um líder com vocação presidencialum regime presidencialista ganha essa marca, que éestar à frenteum movimentoum bloco majoritário do eleitorado, é quase inevitável que o partido ao qual ele pertence o sigamaneira praticamente automática.
BBC News Brasil - A esquerda está fragmentada hoje. E nas sondagens eleitorais, nos cenários sem Lula, a esquerda também estaria fora do segundo turno. Como o senhor vê essa possibilidade da esquerda se unir para não estar fora do segundo turno?
Singer - Na realidade, você não teve uma fragmentação tão grande. O que aconteceu foi que no processocrise do lulismo, um aliado tradicional que é o PC do B optou por uma candidatura autônoma, o que é importante, mas tem um significado limitado, porque não é uma candidatura com uma vocação majoritária. O PSOL optou por uma candidaturauma liderança popular expressiva, que é o Guilherme Boulos, cuja campanha está apenas começando,modo que nós não sabemos como ela vai evoluir, e a candidatura Ciro Gomes é uma candidatura quealguma maneira sempre esteve posta e está entrando no lugar do que seria a candidatura do ex-governador Eduardo Campos, que sofreu aquela fatalidade do acidenteavião e morreu, e estão transitando ambos na mesma faixa ideológica.
Eu arriscaria dizer, é um palpite, que a tendência será esses grupos estarem juntos no segundo turno,tornoqualquer candidato da esquerda que esteja na disputa. A instituição do segundo turno é muito importante para entender as eleições no Brasil. Determinados segmentos podem testar suas possibilidades no primeiro turno para se juntar no segundo.
Mas, para que isso aconteça, é importante que alguém desse campo vá para o segundo turno. Isso vai, talvez, criar uma tensão quando chegarmos mais perto do primeiro turno, mas da maneira como as coisas estão desenhadas hoje, é possível que a gente só enxergue uma definição depois que começar a propaganda na televisão.
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