'Fico pensandobet22 apostaleis enquanto limpo privadas': a advogada que virou faxineirabet22 apostaSão Paulo:bet22 aposta

Crédito, BBC

Legenda da foto, Rosana da Silva exibe um pedidobet22 apostaemprego todos os dias na Vila Mariana, bairro da zona sulbet22 apostaSão Paulo | Foto: Leandro Machado/BBC Brasil

Fracasso profissional

Ela se formoubet22 apostaDireitobet22 aposta1995 na Unifieo, uma universidade particularbet22 apostaOsasco, na Grande São Paulo. Pagou o curso com seu saláriobet22 apostasecretária, com a "durezabet22 apostagente pobre", nas palavras dela. Em seguida, conseguiu seu registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com a inscrição 139416, número que ela citabet22 apostacor dez anos depoisbet22 apostater abandonado a carreira.

Os primeiros passos como advogada forambet22 apostaum pequeno escritório que montou com amigos da faculdade. Depois, conseguiu entrarbet22 apostauma bancabet22 apostacolegas renomados da áreabet22 apostaDireito bancário, no centro da cidade.

Rosana conta que foi esse trabalho que fez girar a espiral que a levou ao fracasso profissional.

"Nesse escritório, eu sofri assédio moral por parte dos dois donos. Me humilhavam: imagina você ser chamadabet22 apostaburra o tempo todo,bet22 apostaincompetente,bet22 apostadrogada. Foram três anos", afirma. Ela diz que nunca usou entorpecentes.

Legenda da foto, Rosana da Silva está há dez anos sem pagar a anuidade da OAB, o que a impedebet22 apostaretomar a carreira | Foto: Reprodução/OAB-SP

Rosana prefere que os nomes dos dois advogados não sejam citados nesta reportagem. Diz que processou os antigos patrões e que fez representações contra eles na comissãobet22 apostaética da OAB-SP, mas nunca conseguiu vencer os processos.

Ela costuma carregar a papeladabet22 apostaalgumas ações embet22 apostamochila - tem medobet22 apostaque eles desapareçam.

Procurada pela reportagem, a OAB-SP afirmou que não comenta casos que corrembet22 apostasigilo.

Depois da publicação da reportagem, a instituição procurou a BBC Brasil informando que irá incluir Rosanabet22 apostaum programabet22 apostaassistência financeira e médica a advogados que passam por dificuldades.

'Todas as portas fechadas'

Rosana nasceubet22 apostaItanhaém, no litoral paulista, mas foi criada por parentes, longe dos pais. Sempre viveu praticamente sozinha e só retomou contato com um dos irmãos depois que ele viu uma fotobet22 apostana internet, há pouco maisbet22 apostaum ano.

Ela nunca mais conseguiu um trabalho como advogada depois que saiubet22 apostaseu último escritório. Hoje, acredita que foi perseguida pela OAB, onde seus patrões tinham influência, diz.

Nada que Rosana fazia dava certo - tentou dar aulas, mas também foi demitida. "Em São Paulo, o mundo do Direito é muito pequeno. Você fica conhecida como a pessoa que processou os patrões, suas chances diminuem", conta.

Ela resolveu se mudar para Florianópolis, pois não encontrou emprego nem apoio embet22 apostafamília adotiva. "Pensei: será que não estou tornando um problema pequenobet22 apostaalgo muito grande?", conta a advogada, que chegou a passarbet22 apostapsicólogos para entender porquebet22 apostacarreira não deslanchava. "Achei que, se eu saíssebet22 apostaSão Paulo, talvez conseguisse me reerguer."

Mas ela não conseguiu. O dinheiro acabou, o aluguel acumulou e Rosana foi viver nas ruas, onde ficou por sete anos.

Começou as faxinas para conseguir comer. "Não sobrou mais nada para mim porque a sociedade fechou todas as portas", diz.

'Morrobet22 apostafome, mas pago o aluguel'

Legenda da foto, Rosana precisa fazer dez faxinasbet22 apostaR$ 60 para conseguir pagar o aluguel do quarto onde mora, na zona sulbet22 apostaSão Paulo | Foto: Leandro Machado/BBC Brasil

Viver nas ruas não é algobet22 apostaque Rosana se orgulha - ela costuma dizer perdeubet22 apostacidadania quando deixoubet22 apostater um endereço fixo. "Como conseguir um emprego se você diz que tem 54 anos e não morabet22 apostalugar nenhum? As empresas têm uma cartilhabet22 apostadesculpas para não te contratar."

Foi por isso que ela criou a placa com o anúncio. Com ela, elimina-se qualquer questionamento sobre seu histórico - Rosana torna-se apenas mais uma pessoabet22 apostabuscabet22 apostatrabalho.

Ela cobra R$ 60 por sete horasbet22 apostalimpeza - um preço baixo no centro expandidobet22 apostaSão Paulo. O piso mensal dos trabalhadores domésticos na cidade ébet22 apostaR$ 1.140 por três diasbet22 apostatrabalho semanais, segundo o sindicato da categoria.

Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileirobet22 apostaGeografia e Estatística (IBGE), referentes ao trimestre que compreende os mesesbet22 apostasetembro, outubro e novembrobet22 aposta2017, o índicebet22 apostadesemprego no Brasil estábet22 aposta12% - o que equivale a 12,6 milhõesbet22 apostapessoas.

Rosana precisa fazer ao menos dez faxinas por mês para conseguir pagar o aluguelbet22 apostaum quartinho com cama, fogão e geladeira. Tem meses que não consegue - seu irmão costuma ajudá-la. "Eu morrobet22 apostafome, mas pago o aluguel. Não volto para a ruabet22 apostajeito nenhum", diz.

Esse medo se justifica: ela conta já ter enfrentado episódiosbet22 apostaassédio e tentativasbet22 apostaestupro - uma vez, por exemplo, um homem invadiu a barraca onde dormia com uma arma, conta.

"Na rua, o homem te enxerga como propriedade", afirma. "Ele diz: 'como assim você está nessa situação e não quer nada comigo?' Cara, porque ninguém entende quando uma mulher decide viver sozinha?"

Outra dificuldade é escaparbet22 apostauma rotinabet22 apostaviolências e dependênciabet22 apostadrogas vivida por partebet22 apostaoutras pessoas na mesma situação.

Voltar para o Direito

O maior sonhobet22 apostaRosana é voltar a trabalhar como advogada. Mas ela está "suspensa" da OAB-SP porque deve dez anosbet22 apostaanuidade - cada ano custa R$ 997,30, dinheiro que a advogada não tem.

"Precisobet22 apostauma oportunidadebet22 apostatrabalho, apenas isso", diz, na calçada onde segurabet22 apostaplaca pedindo serviçosbet22 apostafaxina.

"É complicado: fico pensandobet22 apostaleis enquanto limpo privadas."