'Vocês roubaram minha irmã': irmãos separados na adoção sonham com reencontro na Europa:poker star para android

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Legenda da foto, Crianças com maispoker star para androidcinco anos têm menos chancespoker star para androidserem adotadas. Uma esperança é conseguir lar fora do Brasil, já que alguns casais estrangeiros aceitam adotar meninos e meninas mais velhos, mas às vezes irmãos acabam sendo separados

O menino coleciona perdas nos seus 11 anospoker star para androidvida - a separação dos pais biológicos, a perspectiva frustradapoker star para androidter uma nova família e o adeus à irmã.

Mas a história dele é só uma entre tantas outras semelhantes nos abrigos do Brasil. Por causa da esmagadora preferênciapoker star para androidbrasileiros por adotar bebês, crianças com mais idade têm dificuldadepoker star para androidencontrar uma família que as acolha.

Maispoker star para android78% dos candidatos do Brasil à adoção só querem meninos e meninaspoker star para androidaté 5 anos, segundo dados do Cadastro Nacionalpoker star para androidAdoção.

As crianças que não são adotadas no Brasil são encaminhadas para os comitêspoker star para androidadoção internacional, que tentam encontrar um lar para elas entre estrangeiros que se cadastrampoker star para androidassociações internacionais credenciadas.

A adoção fora do país é vista como a última chancepoker star para androidconseguir um lar, já que estrangeiros impõem menos restriçõespoker star para androidrelação a idade, cor e sexo. Porém, nem sempre o processo segue adiante após o chamado "estágiopoker star para androidconvivência", períodopoker star para androidcercapoker star para androidtrês mesespoker star para androidque os potenciais pais trocam cartas, telefonemas e depois passam algumas semanas com a criança no Brasil.

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Legenda da foto, Quase 80% dos brasileiros na lista para adotar querem criançaspoker star para androidaté cinco anospoker star para androididade. Os estrangeiros que buscam filhos adotivos no Brasil são mais flexíveis, segundo o Cadastro Nacionalpoker star para androidAdoção

Cartas, brinquedos e sonhos

Pedro e Joana viveram seis anos num abrigopoker star para androidBrasília. Em 2017, a Justiça do Distrito Federal deu a decisão definitivapoker star para androiddestituir a mãe do poder familiar - usuáriapoker star para androiddrogas, ela não tinha condiçãopoker star para androidcuidar das crianças.

Os irmãos foram, então, encaminhados para a Comissão Distrital Judiciáriapoker star para androidAdoção, órgão responsável por casar os perfispoker star para androidcandidatos a adotar com o das crianças disponíveis nos abrigos.

Sem famílias brasileiras interessadaspoker star para androidacolher os dois, por não se enquadrarem no perfil exigido pelos candidatos, eles foram encaminhados para a adoção internacional.

Pouco depois, um casal italiano foi selecionado e o processopoker star para androidaproximação, com supervisãopoker star para androidpsicólogos teve início,poker star para androidjunho deste ano.

Empolgadas, as crianças começaram a fazer aulaspoker star para androiditaliano com uma voluntária da Rede Solidária Anjos do Amanhã, órgão da Vara da Infância do DF que faz parcerias com o setor privado para oferecer cursospoker star para androididiomas, atendimento psicológico, estágios e outras oportunidades aos meninos e meninas dos abrigos.

Do outro lado do mundo, os futuros pais tentavam aprender português. Amigos e familiares dos italianos acompanharam a preparação e fizeram uma festa "à brasileira", para comemorar a futura adoção.

Cartas, fotos, desenhos e presentes foram trocados, até que os italianos desembarcaram no Brasil para conhecer os meninos. O primeiro encontro,poker star para androidoutubro, foi numa brinquedoteca.

"No terceiro dia do estágiopoker star para androidconvivência, as crianças manifestaram o desejopoker star para androidpernoitar com os requerentes,poker star para androidmodo que, no dia do desligamento do abrigo, estavam felizes pela partida", diz um relatório da Comissãopoker star para androidAdoção.

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Legenda da foto, Criança segura um desenhopoker star para androidcasa e família

Crises

Cafés da manhã na padaria, tardes na piscina, brincadeiras no parquinho... Os quatro exploravam os pequenos lazeres da cidade enquanto tentavam construir os primeiros laços afetivos.

Tudo ia bem até que, depois da primeira semana no apartamento alugado pelos italianos,poker star para androidBrasília, Pedro começou a apresentar "angústias e sofrimentos". Segundo o relatório da Comissão Distritalpoker star para androidAdoção, as crises, que incluíam tapas nas paredes, choro e gritos, eram desencadeadas quando o menino tinha algum desejo contrariado.

Enquanto os adultos tentavam conter o garoto, Joana sofria com o medopoker star para androidque os italianos desistissem da adoção.

"Joana mostrou-se receosa, conforme o casal, talvez temendo o rompimento da relação parental que se iniciava e por perceber o sofrimento do irmão e não saber como agir", afirma o relatório.

A futura mãe adotiva tentava acalmar a menina, repetindo que "tudo acabaria bem para todos". Para a psicóloga que acompanha Pedro, as crises eram causadas por um "conflitopoker star para androidlealdade" do garoto, que passou a sentir que estaria traindo a mãe biológica ao aceitar a ida para a Europa e a adesão definitiva à nova família.

A quase ida para a Itália

Os italianos tentaram se adaptar às crises do menino e buscaram a orientaçãopoker star para androidpsicólogos para lidar com a situação. Uma festinhapoker star para androiddespedida para os irmãos chegou a ser agendada no abrigo. Professores e colegas da escola pública onde os dois estudavam também marcaram um dia para comemorar a adoção.

Todos estavam felizespoker star para androidsaber que as duas crianças teriam um futuropoker star para androidoportunidades e o carinhopoker star para androiduma família. Mas, com a proximidade da partida, o garoto piorou e passou a ter mais episódiospoker star para androidchoro, nos quais pedia para ir embora.

Os italianos passaram a questionar a capacidade que tinhampoker star para androidcuidar dele e acabaram tomando uma decisão - não seriam paispoker star para androidPedro.

Estavam dispostos, porém, a continuar com a adoçãopoker star para androidJoana, que parecia adaptada e feliz com a ideiapoker star para androidter uma família. Consultada sobre se queria ir para a Itália sem o irmão, a menina disse que sim. Fez só um pedido: que tentassem ao máximo arrumar outra família para o irmão na Europa, para que pudessem ficar perto.

Embora seja muito nova, demonstrou saber claramente as consequênciaspoker star para androidcrescer num abrigo, sem pai, nem mãe. "Eu preciso cuidar da minha vida. Acho que eles dão contapoker star para androidcuidarpoker star para androidmim", disse ela aos membros da Comissão Distritalpoker star para androidAdoção.

Para os assistentes sociais, era preciso garantir à menina o direitopoker star para androidter uma família, ainda que isso significasse a separação do irmão.

"Vale dizer que não havia qualquer desabonopoker star para androidrelação ao casal requerente, o qual demonstrou desde o início do estágiopoker star para androidconvivência ser amoroso, respeitável e ter condições suficientes para assumir os encargos próprios da maternidade/paternidade com relação à infante a qual, porpoker star para androidvez, não demonstrou qualquer desconforto ou dúvida acerca do desejopoker star para androidser adotada pelos requerentes", afirmou a Comissãopoker star para androidAdoção, ao recomendar que o juiz autorizasse a idapoker star para androidJoana à Itália.

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Legenda da foto, Enquanto Pedro ficou no Brasil, Joana embarcou para a Itália, com a esperançapoker star para androidum futuro com oportunidades e a chancepoker star para androidter uma família amorosa

A despedida

Pedro retornou ao abrigo. Alguns dias depois, recebeu lá as roupinhas e presentes que tinham ficado no apartamento do casal. Joana continuou com os italianos, para completar o períodopoker star para androidconvivência que antecede a adoção.

Às vezes, durante as brincadeiras, ela ficava,poker star para androidrepente,poker star para androidsilêncio, cabisbaixa. Em outros momentos, precisava se reassegurarpoker star para androidque os pais adotivos não a deixariam e pedia a companhia deles na horapoker star para androiddormir.

Foi então que os italianos começaram a inventar formas criativas - cabanapoker star para androidlençóis e 'acampamentopoker star para androidcolchões'- para entreter a menina e passar a ela a segurançapoker star para androidque a decisão sobre a adoção estava tomada.

No dia 24poker star para androidnovembro, Joana voltou ao abrigo, mas só para visitar. Queria brincar e se despedir do irmão. Os dois se divertiram juntos sem falar do futuro. E, ao final, cada qual seguiu o seu caminho - um deles repletopoker star para androidesperança e acolhimento, na Itália, e o outropoker star para androidespera e incerteza.

Pais diferentes, mas no mesmo país

A Vara da Infância e Juventude do DF e a Comissão Judiciáriapoker star para androidAdoção vão continuar a procurar um lar para Pedro.

"Não podemos prejudicar a menina, que já está adaptada e disse claramente que quer ficar com a família. O menino vai ter acompanhamento psicológico, para ficar mais preparado, e vamos tentar arrumar outra família para ele", disse à BBC Brasil o juiz Renato Rodovalho Scussel.

Legenda da foto, Fernando foi adotado por Massimiliano e Lia. Pouco depois, as irmãs dele, Jaqueline e Juliana, foram adotadas por outro casal italiano. As duas famílias convivem, para garantir a continuidade do laço entre os irmãos | Fonte: Arquivo Pessoal

A missão não é fácil, mas é possível. Foi o que o juiz fez no caso dos irmãos Fernando, hoje com 11 anos, Juliana, 12 anos, e Jaqueline, 15 anos. Fernando foi adotado por Lia Carosi Simei, 51 anos, e Massimiliano Simei, 48 anos,poker star para android2014, quando tinha sete anos, e foi morar na cidadepoker star para androidMonterotondo, na Itália.

As duas irmãs do menino ficaram no abrigo, mas logo todos puderam se rever. Seis meses depois da adoçãopoker star para androidFernando, Jaqueline e Juliana foram adotadas por outro casal italiano e se mudaram para Piacenza.

As duas famílias passam férias juntas e os três irmãos se reúnem sempre que possível. "O Fernando mantém contato com as irmãs na Itália e, todas as vezes que se pode, nossas famílias passam férias juntas. Os meninos se amam muito e querem ficar juntos sempre que possível, mas não sofrempoker star para androidsaudade", disse Massimiliano à BBC Brasil.

Legenda da foto, As duas famílias passam férias juntas e os três irmãos se reúnem sempre que possível |Fonte: Arquivo Pessoal

Das ruas, ao abrigo, ao lar na Itália

O menino carinhoso epoker star para androidsorriso fácil não transparece vestígiospoker star para androiduma primeira infância triste. Ele chegou aos nove meses num abrigopoker star para androidBrasília, mas era visitadopoker star para androidvezpoker star para androidquando pela mãe biológica.

Uma vez, segundo relato do pai adotivo, ela levou Fernando do abrigo sem autorização - ele tinha um ano e meio na época. Pouco depois, a mulher deixou o menino com o pai biológico. Passados dois anos, o homem deixou a criança sozinha na rua.

"O Fernando conta que uma mulher e o marido dela, que era da polícia, o acharam e levaram a um abrigo. Ele tinha 3 anos e meio", relata Massimiliano. Aos 5 anos, trocaram Fernandopoker star para androidabrigo para que ele pudesse ficar com as irmãs, Juliana e Jaqueline.

Dois anos depois, o menino recebeu a notíciapoker star para androidque poderia ser adotado por um casal italiano.

Legenda da foto, Depoispoker star para androidpassar quase sete anos num abrigo, Fernando recebeu a notíciapoker star para androidque um casal italiano, Lia e Massimiliano estava interessadopoker star para androidadotá-lo

O primeiro encontro

O pai se lembra com detalhes do diapoker star para androidque conheceu Fernando,poker star para androidBrasília, após mesespoker star para androidtrocaspoker star para androidmensagens e fotos.

"O primeiro contato foi no restaurante Mangai,poker star para androidBrasília. Ele chegou junto com as assistentes sociais, tímido, com mãos nos bolsos e um chapeuzinho com uma viseira para cobrir um pouco o rosto", relata.

Fernando contou aos pais, depois, que sentiu muito "medo e felicidade ao mesmo tempo", ao conhecer aqueles que poderiam dar a ele um lar e uma família tão longe do Brasil.

"Diferentemente dos relatos dos assistentes sociais, que falavampoker star para androiduma criança que não aceitava contato físico, ele foi imediatamente feliz nos nossos abraços e carinhos", conta o pai adotivo, emocionado.

"A convivência começou linda. Massimiliano e Lia novos pais no mundo! De um lado, conhecíamos um dia após o outro os medos, as capacidades, a inteligência e os sonhos do pequenininho. De outro, ele conhecia a capacidade, o amor, a paciência e os limites dos novos pais."

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Legenda da foto, Fernando contou aos pais adotivos que sentiu muito "medo e felicidade ao mesmo tempo" quando os encontrou pela primeira vez |Fonte: Arquivo Pessoal

Nova vida

Fernando se acostumou rapidamente com a vida na Itália. "A adaptação foi maravilhosa, porque depoispoker star para androidum mês ele falava italiano com seus primos e seus amigos", conta o pai adotivo.

O menino tem boas notaspoker star para androidtodas as matérias da escola, adora esportes e toca piano. "O Fernando tem uma energia incrível e tem ótimos resultadospoker star para androidtodos os esportes, estuda piano e tem muito talento nisso."

Legenda da foto, Fernando com a mãe e a irmã,poker star para androidviagem à praia | Fonte: Arquivo Pessoal

"Ele diz que é brasileiro e também italianopoker star para androidRoma", conta. O pai adotivo diz que, no início, chegou a pensarpoker star para androidadotar uma criança pequena,poker star para androididade pré-escolar.

Mas ao ouvir os relatospoker star para androidoutros casais que adotaram no Brasil, ele e a esposa decidiram se abrir para a possibilidadepoker star para androidadotar uma criança com maispoker star para androidcinco anos.

"Todos os pais adotivos contavam das dificuldades,poker star para androiddesentendimentos, do cansaço, mas também falavam o quanto as suas crianças era maravilhosas. Percebemos que uma criança mais velha seria mais compatível com a nossa idade. Pode ser difícil, mas ao mesmo tempo a criança mais velha é capazpoker star para androidfalar com você, se comunicar e ajudar na construção da família".

Massimiliano aconselha os pais adotivos a terem paciência e não caírem no erropoker star para androidencarar o filho como adulto. Eles são crianças com medos e anseios, mas também com uma enorme capacidadepoker star para androidamar, destaca o italiano.

"Com amor e paciência, cuidempoker star para androidseu filho, eduquem e repreendam quando necessário. Pode acontecerpoker star para androidum dia ele dizer que vocês não são pais dele. Nunca duvidepoker star para androidque vocês são, sim, os pais. E repita isso para ele."

Três anos após a adoção do Fernando, Massimiliano não tem dúvidas sobre a solidez do laçopoker star para androidpai e filho. "O meu filho é tudo para nós. É como se sempre tivesse sido nosso filho, como se tivesse nascido na nossa família. É um amor imenso."

Legenda da foto, 'Ele é tudo para nós. É como se sempre tivesse sido nosso filho, como se sempre tivesse estado na nossa família. É um amor imenso', diz Massimiliano, sobre Fernando

A filapoker star para androidadoção

Atualmente existem 40 mil pessoas cadastradas na filapoker star para androidadoção no Brasil, sendo que cercapoker star para android300 são estrangeiras, segundo o Cadastro Nacionalpoker star para androidAdoção. É um número muito maiorpoker star para androidinteressadospoker star para androidadotar do quepoker star para androidcrianças disponíveis - apenas 8 mil.

Então por que as crianças sobram nos abrigos e não encontram um lar? Porque a grande maioria dos interessadospoker star para androidadotar - oitopoker star para androidcada 10 - está na "mesma fila", ou seja, querem apenas bebês ou crianças de, no máximo, cinco anos.

Enquanto isso, 73,74% das crianças e adolescentes que buscam um novo lar têm entre 5 e 17 anos. Outro problema recorrente são irmãos com vínculo afetivo entre si.

Os juízes tentam manter as crianças juntas, mas, como ocorreu com Pedro e Joana, às vezes a oportunidade só aparece só para um deles. Entre os brasileiros na fila para adotar, 65% não aceitam levar irmãos para casa. Já a maioria dos estrangeiros na fila- 52,75%- aceita adotar irmãos.

"Temos mais procura por crianças do que crianças disponíveis. Mas as famílias interessadas têm restrições. No Distrito Federal, temos cercapoker star para android70 crianças e adolescentes, mas ninguém para acolher esses meninos e meninas", diz Thais Botelho, secretária-executiva da Comissão Distrital Judiciáriapoker star para androidAdoção.

"Acredito que muitos casais brasileiros se inscrevem para adotar com a ideiapoker star para androidsubstituição do filho natural, por isso buscam bebês", avalia o juiz Renato Rodovalho Scussel.

"Existe também um tabupoker star para androidque a criança mais velha tem traumas. Mas quando você trabalha a questãopoker star para androidque a adoção é uma relaçãopoker star para androidafetividade, você consegue desconstruir aos poucos os tabus e desmistificar. É verdade que algumas crianças deixadas pelos pais têm traumas, mas o afeto muitas vezes supera isso."

*Os nomes dos irmãos separados na adoção foram trocados para proteger as crianças, já que o menino continua no abrigo e a menina acabapoker star para androidser adotada.