Da escola ao 1º emprego: como buscar um caminho profissional sem ter (ao menos ainda) um diploma universitário:aposta 1

Legenda da foto, Jovens participamaposta 1programaaposta 1capacitação oferecido pelo Hotel Grand Hyattaposta 1São Pauloaposta 1parceria com o Programa Formare, da Fundação Iochpe (Foto: Ana Luiza Daltro)

Os maiores destaques na geraçãoaposta 1empregos formais para os jovens foram os setoresaposta 1serviços, com 21,8 mil vagas; a indústria da transformação, com 12,6 mil postos, e o comércio, com 11,8 mil. Concentrar a procura por vagas nesses segmentos é uma boa ideia para os jovens que buscam uma recolocação ou mesmo entrar no mercadoaposta 1trabalho. Mas não só.

Portasaposta 1entrada

Programasaposta 1capacitação profissional são uma maneiraaposta 1melhorar as próprias qualificações e,aposta 1quebra, conseguir o tão sonhado primeiro emprego. E muitos deles não apenas são gratuitos como fornecem vários tiposaposta 1auxílio. Um exemplo é o Instituto Formare, que qualifica jovens carentes para o mercadoaposta 1trabalho por meioaposta 1parcerias com empresas.

Legenda da foto, Natalia Cordeiro entrou para a equipe do hotel Hyatt como aprendiz (Foto: Ana Luiza Daltro)

"O nosso jovem-alvo é aquele que possui indicadores sociais desfavoráveis, mas também muita vontadeaposta 1crescer. Um jovem para quem ninguém estendeu a mão ainda", resume Claudio Anjos, diretor institucional do Instituto Formare. Por indicadores sociais desfavoráveis entenda-se, neste caso específico, uma renda familiar que não ultrapasse um salário mínimo por pessoa.

Cercaaposta 180% dos jovens assistidos pelo programaaposta 1um dos seus 170 cursos lançados até agora conseguem vagas formaisaposta 1emprego nos primeiros três meses após a formatura, a maioria nas próprias empresasaposta 1que foram treinados. Não é incomum que haja listasaposta 1mil jovensaposta 1busca das 20 vagasaposta 1médiaaposta 1um curso.

O primeiro funil é uma prova básicaaposta 1português e matemática. Depois, entrevistas e dinâmicasaposta 1grupoaposta 1que o interesse, a forçaaposta 1vontade e a capacidadeaposta 1colaboração dos jovens são medidos. Passada essa fase, são os indicadores socioeconômicos, junto com a proximidade entre a residência do jovem e a empresaaposta 1questão, que vão decidir quem entra ou não.

"Fazemos uma combinação entre quem mais quer e quem mais precisa", completa Beth Callia, coordenadora-geral do instituto.

O curso dura cercaaposta 1um ano e consisteaposta 1um primeiro núcleo básico e, depois,aposta 1disciplinas específicas à realidadeaposta 1cada empresa. Os alunos recebem uma bolsa-auxílioaposta 1meio salário-mínimo, uniforme e todos os benefícios que a empresa parceira concede aos seus funcionários.

É comum, aliás, que estes jovens sejam os primeiros das suas famílias a contar com benefíciosaposta 1qualquer ordem e, mais tarde, com um trabalho formal. A certificação é reconhecida pelo Ministério da Educação.

Gerenteaposta 1treinamento e desenvolvimento do Hotel Grand Hyattaposta 1São Paulo - parceiro do Instituto Formare eaposta 1outra iniciativa do mesmo gênero para jovens já maioresaposta 1idade e especializada na áreaaposta 1turismo, o Youth Career Iniciative (YCI) -, Lígia Shimizu é responsável por coordenar as açõesaposta 1treinamento da equipe do hotel,aposta 1recepctionistas bilíngues a camareiras e cozinheiros, passando também pelo pessoal administrativo.

No meio desta forçaaposta 1trabalho estão atualmente 12 alunos do Formare e 12 do YCI, fora 30 aprendizes e 30 estagiários. Dos 70 líderes da empresa, aliás, 41 têm menosaposta 135 anos - caso da própria Lígia, que tem apenas 26 anos.

Durante os programas, os jovens costumam passar por todos os setores do hotel. Áreas como a recepção (que exige o conhecimento do inglês) e os setores mais administrativos (onde a maioria dos funcionários possui nível superior), no entanto, não costumam abrigar os recém-formados no programa, ao menos nãoaposta 1primeira. Mas a história desses jovens é repletaaposta 1casosaposta 1superação.

Formada pela turmaaposta 12011, Natalia Cordeiro não foi efetivada logo após o curso, mas entrou na equipe do hotel um pouco mais tarde como aprendiz - muitos dos 30 ex-alunos do Formare atualmente no Hyatt foram contratados primeiro como aprendizes e estagiários, o que mostra também o quanto a persistência e a forçaaposta 1vontade são cruciais nessa fase da carreira.

Depoisaposta 1promovida a estagiária e com significativa melhora no inglês, ela partiu para Dubai, onde trabalhouaposta 1uma unidade local da rede. De volta a São Paulo, foi contratadaaposta 1abril deste ano como estagiária e,aposta 1julho, aos 22 anos, efetivada como assistenteaposta 1recursos humanos.

Quando o céu é o limite

Um dos casos mais impressionantes nesse sentido é o do mineiro Everton Alves,aposta 135 anos. Ex-aluno da turma do Formareaposta 11999, ele trabalha hoje como diretoraposta 1operações e vendas da Sambatech, empresa especializadaaposta 1armazenagem e distribuiçãoaposta 1conteúdos digitais.

Legenda da foto, Aluno do Formareaposta 11999, Everton Alves (primeiro da esquerda para direita) é atualmente um dos diretores da empresa Sambatech (Foto: Everton Alves - arquivo pessoal)

Auxiliaraposta 1pedreiro na adolescência, ele conseguiu o primeiro emprego cinco meses após se formar no projeto. Trabalhando na indústriaaposta 1autopeças, ele passou rapidamente do chãoaposta 1fábrica para a áreaaposta 1qualidade graças ao estofo fornecido pelo Formare e também por causa do curso técnico que ele decidiu fazer assim que entrou no mercado.

"A minha família inteira, que é bastante humilde, sempre trabalhou na indústria. Nós viemosaposta 1Contagem, que é uma zona industrial. E ali, na Sambatech, uma start-up, eu tinha 27 anos e era o mais velho da sala", recorda.

Com a intençãoaposta 1retribuir aquilo que recebeu, Everton atuou como educador voluntário do programa entre 2009 e 2012 nas disciplinasaposta 1informática e raciocínio lógico. Uma vez, há cinco anos, foi parado na rua por um ex-aluno que havia assistido a apenas uma aula sua, a última.

"Ele me disse que aquela aula mudou aaposta 1vida. E isso, pra mim, foi inesquecível. Eu sei o que eles estão vivendo, parece meio intangível falaraposta 1ter sucesso na carreira. Mas quando alguém como eu fala com eles é como se houvesse um espelho", diz.

O apoio da família nos períodos mais difíceis é fundamental para o jovem que não possui um diploma mas deseja crescer na carreira.

"Durante o período que eu cursava o Formare, eu simplesmente não paravaaposta 1casa. Era curso o dia todo e escolaaposta 1noite. Muitos dos meus amigos naquela época passavam o dia à toa, no máximo tinham (cursado) o colégio. Mas a minha família sempre me incentivou muito. Fui o primeiro a cursar uma faculdade, e todos os meus irmãos, mais novos do que eu, acabaram por também fazer o mesmo mais tarde", conta.

A importância do planejamento e das atitudes simples

Essa forçaaposta 1vontade na horaaposta 1aprimorar competências é fundamental e independeaposta 1grauaposta 1estudo ou condição social.

Legenda da foto, Auxiliaraposta 1pedreiro na adolescência, Everton Alves (quarto da direita para a esquerda, na primeira fila) conseguiu o primeiro emprego cinco meses após se formar no cursoaposta 1capacitação (Foto: Everton Alves - arquivo pessoal)

"É preciso sacrificar uma parte das horasaposta 1lazer para dar esse upgrade nas qualificações. Não existe outro jeito. Quando você estiver finalmente empregado e com um salário um pouquinho maior, por que não fazer uma faculdade? Depoisaposta 1concluir a faculdade, por que não uma pós? Ou aprender inglês, que é um diferencial e algo mais barato do que uma faculdade ou pós-graduação?", exemplifica Fernando Mantovani, diretor-geral da consultoria Robert Half no Brasil.

Seja começando a carreira com a ajudaaposta 1programas sociaisaposta 1capacitação, seja com o auxílioaposta 1programas governamentais ou privadosaposta 1ajuda a jovens candidatos a emprego (veja uma lista deles ao final da reportagem), seja por conta própria, é importante também focar no planejamento.

Questionamentos como para onde se quer ir, quais os próximos passos e quais são os seus pontos fracos devem ser feitos constantemente.

Para Mantovani, é preciso também relativizar a importância do ensino superior no Brasilaposta 1hoje, dada a quantidadeaposta 1cursosaposta 1péssima qualidade.

"Muitas vezes o profissional se frustra porque faz aquela faculdade com bastante esforço, mas não consegue o emprego que achou que ia conseguir. A faltaaposta 1controle da qualidade do ensino cria uma indústria estelionatária, onde o aluno acha que aprende e a instituição lhe dá um pedaçoaposta 1papel que custou algum dinheiro mas não vale grande coisa", opina.

Legenda da foto, Para retribuir aprendizado, Everton (à frente do grupo) atuou como educador voluntário do programa entre 2009 e 2012 (Foto: Everton Alves - arquivo pessoal)

Para ele, vale muito mais a pena para o jovem que batalha pelo primeiro emprego investiraposta 1um bom curso técnico - ou mesmo cursar o ensino médio técnico - do queaposta 1um curso universitárioaposta 1qualidade duvidosa. E as empresasaposta 1geral e os recrutadoresaposta 1particular também precisam mudar os seus parâmetros e avaliar essa questãoaposta 1forma menos automática e mais cautelosa.

"É preciso ter muito cuidado com essa pressão pelo curso superior. Gestores podem acabar dando preferência a profissionais com um ensino superior ruimaposta 1detrimentoaposta 1um profissional técnico bom", adverte.

Estudo recente do Sistema Nacionalaposta 1Aprendizagem Industrial (Senai) apontou que o Brasil precisará qualificar 13 milhõesaposta 1trabalhadoresaposta 1ocupações industriais até 2020. Em países como Alemanha, Áustria, Suíça e Japão, mais da metadeaposta 1todos os estudantes cursam alguma formação técnica junto com o ensino regular.

E mesmo no Brasil não é possível associar o nível técnico a salários necessariamente mais baixos. Ainda segundo o Senai, um técnicoaposta 1mineração recém-formado, por exemplo, tem hoje no país rendimentos iniciaisaposta 1R$ 7 mil - salárioaposta 1fazer inveja à maioria dos universitáriosaposta 1inícioaposta 1carreira.

Educação e qualificação profissional à parte, é importante lembrar que muitas vezes aquela ajuda providencial pode estar logo ao lado. A relações-públicas Camilla Assreuy, por exemplo, ainda trabalhava no setor varejistaaposta 1moda quando se deparou com uma profissional que havia perdido o seu emprego como estoquistaaposta 1uma loja e precisava se recolocar.

"Ela não fazia a menor ideiaaposta 1como ou por onde começar a procurar trabalho", recorda.

Com uma simples consulta a um aplicativo que integrava informações e serviços para os lojistas e funcionários do shoppingaposta 1questão, e que a moça desconhecia, Camila encontrou não uma, mas dez vagasaposta 1estoquista para a profissional. Ou seja: ninguém deve ter receio, vergonha ou preguiçaaposta 1perguntar, pesquisar e pedir ajuda. E não só quando se trata do primeiro emprego.

Programasaposta 1qualificação gratuitos (sendo que alguns também oferecem benefícios ou feirasaposta 1oportunidades):

aposta 1 Instituto Formare (para jovens entre 16 e 18 anos)

aposta 1 Youth Career Iniciative (para jovens entre 18 e 24 anos)

aposta 1 Programa Jovem Protagonista (para jovens entre 16 e 29 anos)

Programasaposta 1emprego, estágio e/ou ligados à Lei da Aprendizagem:

aposta 1 Centroaposta 1Integração Empresa Escola

aposta 1 Programa Jovem Cidadão (para jovens entre 16 e 21 anos residentes na Grande São Paulo,aposta 1Campinas, Piracicaba, São José dos Campos e Santos)

aposta 1 Programa Aprendiz Legal (para jovens entre 14 e 24 anos)

aposta 1 Programa Aprendiz Paulista (para jovens entre 14 e 24 anos residentes no estado)