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Terror sem medida: por que o Rio não sabe o númeronordeste apostabalas perdidas que tem:nordeste aposta
"É simplesmente inaceitável que o ISP (Institutonordeste apostaSegurança Pública) e a Secretarianordeste apostaSegurança Pública ainda não tenham chegado a uma fórmula para acompanhar o númeronordeste apostacasos, e precisamos ficar nos valendonordeste apostalevantamentos feitos por jornalistas para tentar rastrear a situação", afirma Silvia Ramos, do Centronordeste apostaEstudosnordeste apostaSegurança e Cidadania da Cândido Mendes (Cesec).
'Pior pesadelo da violência urbana'
Sem dados oficiais, a imprensa e as organizações sociais fazem levantamentos periódicos para tentar conhecer a dimensão do problema. Tais contagens são feitas majoritariamente com basenordeste apostacasos que viram notícia, sujeitas a subnotificação e com grandes disparidades entre si.
De acordo com um levantamento feito pela BandNews,nordeste apostajaneiro até o dia 6nordeste apostajulho deste ano, o Rio teve 113 casosnordeste apostabala perdida, com 33 mortos. Já o jornal Extra chegou a um número muito maior. De acordo com o diário, foram 632 pessoas atingidas por balas perdidas entre janeiro e julho, e 67 vítimas fatais. O número equivaleria a uma vítima a cada sete horas.
O Extra obteve acesso aos dados sobre bala perdida da Polícia Civil, que, entretanto, não são disponibilizados à imprensa por vias oficiais - como constatou a BBC Brasil, informada pela assessorianordeste apostaimprensanordeste apostaque "a Polícia Civil não possui esses dados para divulgação".
Silvia Ramos estima que maisnordeste aposta90% das vítimasnordeste apostabalas perdidas sejam moradoresnordeste apostafavelas ou bairros pobres. Ela compara o temor despertado pelas balas perdidas ao medo gerado pela imprevisibilidadenordeste apostaataques terroristasnordeste apostapaíses que sofrem com esse tiponordeste apostaproblema.
"Casos como o da grávida atingida traumatizam a cidade. A chamada "bala perdida" se tornou um dos fenômenosnordeste apostaviolência que mais assusta a população. Essa ideianordeste apostaque você está tocando anordeste apostavida enordeste apostarepente vem uma bala, não se sabenordeste apostaonde, e pode te matar - esse é o pior pesadelo que a violência urbana pode gerar."
Brasil: recordenordeste apostavítimas na região
Entre os países da América Latina e Caribe, o Brasil tem o maior númeronordeste apostamortes causadas por bala perdida,nordeste apostaacordo com um estudo do Centro Regional das Nações Unidos pela Paz, Desarmamento e Desenvolvimento na América Latina e Caribe (Unlirec, na siglanordeste apostainglês).
A pesquisa também é baseadanordeste apostanotícias na imprensa e calcula que o Brasil teve 197 vítimasnordeste apostabala perdida entre 2014 e 2015, com 98 mortes e 115 pessoas feridas. Depois vieram México, com 116 casos; e Colômbia, com 101 casos.
Robert Muggah, especialistanordeste apostasegurança e desenvolvimento e coordenadornordeste apostapesquisas do Instituto Igarapé, diz que registrar balas perdidas é um grande desafio e que a informação existente é cheianordeste apostalacunas.
"É difícil confiar nesses dados porque eles são derivadosnordeste apostanotícias na imprensa e nãonordeste apostaregistrosnordeste apostasaúde pública", diz ele.
De acordo com o sociólogo Ignacio Cano, professor da Universidade do Estado do Rionordeste apostaJaneiro (Uerj) e pesquisador do Laboratórionordeste apostaAnálise da Violência, não há um modelonordeste apostacontagemnordeste apostaoutros países no qual o Brasil possa se espelhar.
"Isso porque outros lugares não têm um número significativonordeste apostabalas perdidas a pontonordeste apostacausar alarme social e a necessidadenordeste apostaregistros. Nossa situação é muito atípica. Outros países não têm essa necessidade, nem têm o problema que nós temos", aponta Cano.
Imbróglio conceitual e dados subaproveitados
Embora a definiçãonordeste aposta"bala perdida" já esteja no senso comum, não configura um "tipo penal", ou seja, não é uma categoria criminal adotada no Código Penal Brasileiro. Uma ocorrência será registrada pelo crimenordeste apostaque resulta, seja homicídio ou lesão corporal dolosa (quando a vítima não é fatal).
Em 2015, no esforçonordeste apostacriar um mecanismo confiável para contabilizar o númeronordeste apostacasos, Ignacio Cano e Silvia Ramos participaramnordeste apostaconversas com o então chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, e a diretora-presidente do Institutonordeste apostaSegurança Pública (ISP), Joana Monteiro. O objetivo era formular um conceito claro para casosnordeste aposta"bala perdida" e viabilizar um levantamento oficial.
A discussão conceitual não foi superada - mas as conversas levaram Fernando Veloso a implementar mudanças no sistemanordeste apostaregistros da Polícia Civil.
O sistema eletrônico no qual as ocorrências são registradasnordeste apostatodas as delegacias do Estado foi modificado para incluir uma tabulação indicando "autoria ignorada - bala perdida", que poderia ser marcada ao detalhar casosnordeste apostahomicídio ou lesão corporal quando houvesse indíciosnordeste apostabala perdida.
O objetivo era gerar um fluxo constantenordeste apostainformações para que o ISP viesse a produzir uma estatística oficial.
"Tomamos essa iniciativa por causa da sucessãonordeste apostacasos na época. Era um caso atrás do outro, e começou a haver essa demanda", lembra Veloso, que deixou o cargo na Polícia Civilnordeste apostaoutubro do ano passado.
"Não é fácil estabelecer um critério oficial do que é bala perdida ou não, mas buscamos esse caminho para tentar ter uma visão, minimamente, do quanto isso representa no problemanordeste apostainsegurança do Rio."
Entretanto, embora o primeiro passo tenha sido dado, faltaram recursos para os passos seguintes, diz Ignacio Cano - investirnordeste apostatreinamento dos policiais para usar a nova ferramentanordeste apostamodo a gerar dados confiáveis e consistentes.
"Depoisnordeste apostanegociar a criação dessa 'caixinha' no sistema, o ISP viu que o que estava sendo registrado não tinha pé nem cabeça. Vários casos não procediam, e faltavam outros que tinham ficado conhecidos", diz Cano.
Aparentemente, os policiais não sabiam - ou não queriam - preencher corretamente os dados.
Joana Monteiro, diretora-presidente do ISP, diz que quando o instituto foi ler os dados gerados pelo novo sistema, constatou incongruências e não os considerou confiáveis. Ela diz que o ISP "ainda busca outras soluções".
"Não divulgamos porque não encontramos uma formanordeste apostarealizar uma contabilidade satisfatória para que possamos divulgar um número próximo que consideremos próximo à realidade", afirma.
Veloso diz que a iniciativa esbarrou no cenárionordeste apostafaltanordeste apostarecursos que só tem se agravado na segurança pública. "Pode ser que o número não retrate a realidade dos fatos, pela faltanordeste apostaum conceito claronordeste apostabala perdida, mas também porque você tem que investir na qualificaçãonordeste apostapoliciaisnordeste apostaforma intensiva para que os resultados sejam efetivos. E logo depois da implementação, a carêncianordeste apostarecursos começou a restringir a própria sobrevivência do sistema da polícia."
Chefe da Polícia Civil ignora sistema internonordeste apostacontagem
Monteiro afirma que o ISP costuma ser cobrado por um dado oficial por já ter feito essa divulgação no passado. Entre 2007 e o primeiro semestre 2012, o ISP divulgou periodicamente os chamados "Relatórios Temáticosnordeste apostaBala Perdida".
De acordo com os relatórios, o númeronordeste apostapessoas atingidas por balas perdidas apresentou queda constante entre 2007 e 2011. Em 2011, houve 88 vítimas, com sete mortes;nordeste aposta2007, foram 279 casos, com 21 vítimas fatais.
Mas os dados foram submetidos a sucessivos questionamentos e a contagem foi abandonada. De acordo com Monteiro, a metodologia era "muito simples", baseando-se meramente na busca por casos onde policiais tivessem usado a expressão "bala perdida" na descrição da dinâmica da ocorrência nos registros. "Várias pessoas concordavam que não era satisfatório."
Nesse sentido, a ferramenta acrescentada ao sistema da Polícia Civil seria mais segura, porque a denominação "bala perdida" poderia ser marcada pelos policiais ao registrarem casosnordeste apostahomicídio ou lesão corporal. Perguntado sobre o uso da ferramenta, no entanto, o atual chefe da Polícia Civil, Carlos Leba, demonstrou desconhecer o mecanismo.
Leba disse se lembrar do debate ocorrido à épocanordeste apostaseu antecessor, Fernando Veloso, e que era preciso averiguar se a tabulação continuava na plataforma, fato confirmado posteriormente pela BBC Brasil com o departamentonordeste apostatecnologia da informação.
O chefe da Polícia Civil afirmou que o sistema tem "subtítulos e detalhamentos às centenas". "Criar um subtítulo é fácil, o problema é fidedignidade do dado", afirmou, ressaltando as dificuldadesnordeste apostase identificarnordeste apostaimediato se um caso resultounordeste aposta"bala perdida" ou não - um fato que precisará ser investigado.
Ele diz concordar que dados sobre esse tiponordeste apostacaso sãonordeste apostainteresse público. "É do DNA da Polícia Civil se interessar por isso. A Polícia Civil tem obrigaçãonordeste apostatentar sabernordeste apostaonde veio (o tiro) para relacionar causa e efeitonordeste apostaum evento. Tentar saber se uma bala foi motivada por uma ação dolosa ou foi acidental, 'perdida', nós já fazemos isso diuturnamente", diz Leba. Para ele, a missão da Polícia Civil énordeste apostainvestigar, enquanto o do ISP énordeste apostadivulgar.
Joana Monteiro diz que "ainda não desistiu", mas considera "extremamente difícil" ter uma estatísticanordeste apostabala perdida que possa ser divulgada com frequência e precisão.
"A bala perdida é um fenômeno que deixa as pessoas muito angustiadas. Entendo o clamor social. Mas a questão central do Rio é se debruçar sobre a origem do problema da letalidade violenta como um todo. A bala perdida é partenordeste apostaum quadronordeste apostaviolência estrutural, não énordeste apostaúnica consequência", afirma ela.
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