'Não toleramos mais': por que velhas piadas estão inflamando debate sobre racismo entre descendentesroleta brasil ao vivoasiáticos no Brasil:roleta brasil ao vivo

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Legenda da foto, Bruno Kim, Sabrina Kim, Woo Chang, Natália Pak e Mateo Chang fazem vídeos sobre a realidaderoleta brasil ao vivodescendentesroleta brasil ao vivocoreanos no canal Kores do Brasil

"Quando você diz 'acelela', está tirando sarro não dos chinesesroleta brasil ao vivolá, mas dos imigrantes daqui, para quem a questão da língua e da adaptação é uma dificuldade real, e para descendentes que lutam há anos para serem aceitos", afirma Leonardo.

Após a publicação da reportagem, o prefeito João Doria enviou uma nota dizendo que "admira e respeita os chineses e não teve a intençãoroleta brasil ao vivoofendê-los com a legenda publicadaroleta brasil ao vivosuas redes sociais."

"De uns tempos para cá as pessoas estão menos propensas a aguentarem certas ofensas, piadas e estereótipos. Não toleramos mais", diz Rodrygo Tanaka, que é descendenteroleta brasil ao vivojaponeses.

Rodrygo e Leonardo fazem parteroleta brasil ao vivouma geraçãoroleta brasil ao vivofilhos e netosroleta brasil ao vivoimigrantesroleta brasil ao vivopaíses do leste asiático que estão criando grupos para discutir identidade e discriminação.

Leonardo criou com esse objetivo o canal do YouTube Yo Ban Boo, com a atriz Beatriz Diaféria e o empresário Kiko Morente.

Crédito, Letícia Mori/BBC Brasil

Legenda da foto, Kiko, Beatriz e Leonardo criaramroleta brasil ao vivo2016 o canal Yo Ban Boo, onde falam sobre identidaderoleta brasil ao vivodescendentesroleta brasil ao vivoasiáticos

A estudanteroleta brasil ao vivociências sociais Gabriela Shimabuko criou a página Perigo Amarelo há quase dois anos. Ela diz que a aceitação no ocidente sempre foi um processoroleta brasil ao vivonegociação.

"Muitas vezes, o custo socialroleta brasil ao vivoreagir à discriminação acaba sendo muito alto. Enquanto você acata que é só uma piada e finge que tá tudo bem, você faz parte da branquitude. Mas dentroroleta brasil ao vivoum espaço que é bem definido —se sair dele, você incomoda", afirma ela, que é descendenteroleta brasil ao vivoimigrantesroleta brasil ao vivoOkinawa (província do Japão que possui uma cultura própria).

Luta coletiva

Para Rodrygo, que criou o Asiáticos pela Diversidaderoleta brasil ao vivo2015, a discussão sobre identidade asiática aumentouroleta brasil ao vivoparalelo com o fortalecimentoroleta brasil ao vivooutras lutasroleta brasil ao vivominorias.

Sua página fala sobre como é ser descendenteroleta brasil ao vivoasiáticos dentro da comunidade LGBT.

Já a plataforma Lótus, criada um ano depois, faz uma intersecção entre militância asiática e feminismo.

O feminismoroleta brasil ao vivomulheres asiáticas lida com problemas específicos, como a fetichização: a imposiçãoroleta brasil ao vivoestereótipos que hiperssexualizam a mulherroleta brasil ao vivotorno da ideiaroleta brasil ao vivoque ela é exótica e submissa. Assim, o racismo se soma ao machismo na agressão à mulheres não-brancas.

"Os impactos dessas violências vão desde a perdaroleta brasil ao vivoidentidade, perdaroleta brasil ao vivoautoestima, faltaroleta brasil ao vivonoção sobre seu próprio valor, e demais traumas provindosroleta brasil ao vivoabusos físicos, mentais e emocionais", afirma Caroline Rica Lee, da Lótus.

"A fetichização é resultadoroleta brasil ao vivoum processo histórico. Estupros e dominação das mulheres sempre foram armasroleta brasil ao vivoguerra e dominação. Durante as guerras do Vietnã e da Coreia, os americanos ocuparam esses países e amplificaram a proliferaram dessa ideia", diz Gabriela, do Perigo Amarelo.

Segundo o educador e mestrandoroleta brasil ao vivohistória Fábio Ando Filho, um dos criadores do blog Outra Coluna, que existe há quase dois anos, nesse processoroleta brasil ao vivodominação, enquanto a mulher era fetichizada, o homem asiático sofria um processoroleta brasil ao vivoemasculação.

Ele é retratado como fraco e assexuado e portanto deve ser dominado pela virilidade do homem branco. "Isso gera desde a perda da autoestima até atitudes excessivamente agressivas e machistas para compensar — e aí quem sofre são as mulheres", diz Fábio.

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Legenda da foto, Rodrigo faz parte do coletivo Asiáticos pela Diversidade, que tem hoje cercaroleta brasil ao vivo400 membros

roleta brasil ao vivo Representatividade

Sabrina Kim, do canal Kores do Brasil, diz que o que a motivou a criar vídeos sobre o assunto foi ver que os filhos pequenos —roleta brasil ao vivosete e cinco anos — estavam passando pelos mesmos problemas que ela tinha quando criança. "Discriminação contra coreano é sempre tratada como piada. Mas para quem passa por isso é um sofrimento real. Eu tinha vergonharoleta brasil ao vivoser diferente, vergonha da língua. Ouvi coisas horríveis quando criança", afirma.

A escritora e ilustradora Janaina Tokitaka, que também é mãe, diz que a maneira como os asiáticos são representados na ficção é hoje um dos principais causadoresroleta brasil ao vivoideias estereotipadas.

"São sempre papéis secundários e rasos, que reforçam a ideia da gueixa", reclama ela, que já perdeu a contaroleta brasil ao vivoquantas vezes ouviu que "falava muito para uma japonesa".

Janaína fala sobre outras abordagens incômodas. "Eu estava fazendo uma pesquisa na Japan House quando um homem apontou pra mim e disse para o filho: 'Tá vendo, é assim que eles são. Eles estão sempre estudando. Esse é um palitinho, é assim que eles comem'. Aí ele sacou uma câmera e começou a tirar fotos. Me senti um bicho no zoológico."

Para quem trabalha na área cultural, não é só uma questãoroleta brasil ao vivorepresentatividade, masroleta brasil ao vivooportunidadesroleta brasil ao vivoempregos.

"O papel 'normal', 'neutro' vai sempre para um branco, e quando tem um que é para asiáticos... eles colocam um branco também", diz Beatriz, do Yo Ban Boo, relembrando casos como o da novela Sol Nascente. A Globo colocou o ator Luis Melo no papelroleta brasil ao vivoum japonês e a atriz Giovanna Antonelli como protagonistaroleta brasil ao vivoum núcleo nipônico.

Na época, o autor Walter Negrão disse que não encontrou "um ator japonês com estofo e a experiência necessária para fazer um protagonista" nem uma atriz "com statusroleta brasil ao vivoestrela". A Globo disse que a novela "não era sobre o Japão".

A questãoroleta brasil ao vivorepresentatividade é muito discutida pelo coletivo Oriente-Se, que é mais antigo e tem maisroleta brasil ao vivo200 atoresroleta brasil ao vivoascendência asiática.

Beatriz teve que mudarroleta brasil ao vivosobrenome para conseguir ser chamada para os testesroleta brasil ao vivoelenco. "Eu usava Koyama e nunca era chamada. Nas poucas vezes que apareciam papéis asiáticos era aquela coisa superestereotipada", diz ela. A situação melhorou quando ela passou a usar o sobrenome do outro lado da família, Diaféria.

Minoria modelo?

"De certa forma [esse aumento da discussão] é o resultado do envolvimentoroleta brasil ao vivodescendentesroleta brasil ao vivoasiáticosroleta brasil ao vivopolíticasroleta brasil ao vivoesquerda. Por muito tempo, muitas pessoas abraçaram o discurso da direita conservadora e acabaram acatando a ideiaroleta brasil ao vivominoria modelo", afirma Rodrygo.

"Minoria modelo", explica Leonardo Hwan, se refere ao estereótiporoleta brasil ao vivoque os descendentesroleta brasil ao vivojaponeses são dóceis, estudiosos, trabalham muito e por isso conseguiram posiçõesroleta brasil ao vivodestaque na sociedade, grande presença nas universidades etc.

"É uma coisa pseudoelogiosa que coloca as pessoasroleta brasil ao vivocaixinhas e reforça a opressãoroleta brasil ao vivooutras minorias, principalmente dos negros. Porque quando você diz que japoneses estão bem porque são trabalhadores, você está implicando que outros grupos não trabalharam e ignorando todo um contextoroleta brasil ao vivoperseguição aos negros", diz Leonardo.

"O estigma social sofrido por indivíduos asiáticos no Brasil não tange âmbitos da violência racial e opressão policial que mata pessoas negras diariamente, ou o genocídio contemporâneoroleta brasil ao vivocurso contra povos indígenas brasileiros", diz Caroline Rica Lee, do coletivo Lótus.

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Legenda da foto, O blog Outra Coluna, do mestrando Fábio Ando, procura dar um embasamento mais acadêmico para a discussão

Solidariedade

Segundo Fábio e Gabriela, os descendentesroleta brasil ao vivoasiáticos também têm um papel no racismo antinegro, que precisa ser discutido e combatido. "Muitas vezes reproduzimos a antinegritude, permitimos que mercantilizem nossas culturas e permanecemos calados porque isso nos concede privilégios", afirma Gabriela, do Perigo Amarelo.

"Não dá para falarroleta brasil ao vivoraça no Brasil sem falarroleta brasil ao vivosolidariedade antirracista", diz Fábio. Ele e Gabriela trabalham para que a discussão vá além da questão sobre representatividade e sobre ser aceito como brasileiro.

"Alguns leitores no blog falam: 'ah, então vamos votarroleta brasil ao vivoasiáticos para ter mais representação'. Mas não é isso. Não adianta nada votarroleta brasil ao vivoasiáticos se eles tiverem uma plataforma neoliberal, uma plataforma que não promova a igualdade", diz Fábio

"A gente não pode se contentarroleta brasil ao vivobrigar para ser visto como brasileiro e não como estrangeiro. Como você pode falarroleta brasil ao vivobrasilidaderoleta brasil ao vivoum país construído com a ocupaçãoroleta brasil ao vivoterras indígenas? A gente vai se contentarroleta brasil ao vivoexigir os mesmos privilégios dos brancos ou vamos pensarroleta brasil ao vivoconstruir uma sociedade que seja mais igualitária e justa para todos?", questiona Gabriela.