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A rotinabwinone 6.com loginum grupobwinone 6.com logingays e travestis na cracolândiabwinone 6.com loginSão Paulo:bwinone 6.com login
"Visitei o fluxo algumas vezes e percebi que há um grande númerobwinone 6.com login(pessoas) LGBT, e que esse público está bem inserido na rotina da cracolândia", diz Arthur Guerra, coordenador do Redenção, programa municipalbwinone 6.com loginrecuperaçãobwinone 6.com loginviciadosbwinone 6.com logincrack. "Há um certo respeito por parte dos outros usuários, algo que talvez não existabwinone 6.com loginoutros pontos da cidade."
As integrantes da "Maloca das Bichas", que chega a reunir maisbwinone 6.com login20 pessoas, andam e dormem juntas para se proteger do inverno paulistano e tambémbwinone 6.com loginpossíveis ataques violentos. Compartilham comida, cobertores doados e caixasbwinone 6.com loginpapelão onde guardam seus pertences. A BBC Brasil acompanhou a rotina do grupo nas últimas semanas.
No último dia 19bwinone 6.com loginjulho, foram elas que protestaram contra Doria quando ele apareceu na região para doar cobertores. Um dia antes, um moradorbwinone 6.com loginrua havia morrido sob suspeitabwinone 6.com loginhipotermia.
Moradoresbwinone 6.com loginrua reclamambwinone 6.com loginque, apesar das doações, guardas municipais continuam retirando pertencesbwinone 6.com loginquem vive nas vias públicas.
'Uma grande festa'
Os membros da Maloca fazem incursões semanais à cracolândia -bwinone 6.com logintrês a quatro dias -, mas não vivem no fluxo, como boa parte dos dependentes. Costumam chamar os momentosbwinone 6.com loginque estão fora do fluxobwinone 6.com login"manque", um termobwinone 6.com loginfrancês que significa escassez.
Elas falam abertamente sobre a dependênciabwinone 6.com logincrack. Costumam mudarbwinone 6.com loginopinião quando abordam uma possível recuperação. Por vezes, dizem que querem parar;bwinone 6.com loginoutras, encaram a cracolândia como uma grande festa.
Sasha Ohara, travestibwinone 6.com login23 anos, é um exemplo. Na quinta, diabwinone 6.com loginir ao fluxo, calculou que fumaria 20 pedrasbwinone 6.com loginuma só vez. Parecia muito feliz. "Sou um caso sem solução, não consigo pararbwinone 6.com loginfumar. Vou morrer usando droga", diz, pintando o rosto com maquiagem.
Em outro dia, confidenciou a vontadebwinone 6.com logininterromper a espiralbwinone 6.com loginque está inserida. Tentou parar várias vezes nos últimos anos, inclusive com internações. "Mas nunca consigo", diz.
A pedra apareceu aos 13 anosbwinone 6.com loginidade, embwinone 6.com logincidade natal, Três Corações (MG). Em 2012, quando embarcou para São Paulo, tinha dois sonhos: reencontrar um ex-namorado por quem ainda era apaixonada e conhecer a cracolândia. Realizou só o segundo.
No ano passado, tentou parar com a droga e voltou para a família. Mas seus pais têm dificuldadebwinone 6.com loginaceitar um filho travesti, conta. "Levei um namorado para casa. Não deu certo", diz Sasha. "Não é a família que abre mão da gente, nós é que abandonamos tudo". Depois da tentativa, retornou a São Paulo e se reuniu à Maloca das Bichas.
Essa grande quantidadebwinone 6.com loginconsumobwinone 6.com logincrack não é incomum. Uma pesquisa Datafolha entre os dependentes mostrou que eles fumam,bwinone 6.com loginmédia, onze pedras por dia - gastam,bwinone 6.com loginmédia, R$ 89 diariamente.
As beatas
Paulo Hermenegildo,bwinone 6.com login34 anos, é uma espéciebwinone 6.com loginlíder e fundador da Maloca. Formou a comunidadebwinone 6.com loginnovembro do ano passado quando reencontrou na rua algumas amigas com quem tinha convividobwinone 6.com loginuma clínicabwinone 6.com loginreabilitação no interiorbwinone 6.com loginSão Paulo.
Dois meses antes, Paulo andava perto da rodoviária do Tietê (zona nortebwinone 6.com loginSP) quando um homem o ofendeu com xingamentos homofóbicos. Houve briga e ele foi golpeado com uma pedra no rosto, que deixou uma cicatriz. "Na maloca a gente cuida uma da outra, somos unidas, nos protegemos. A gente só não divide o crack, porque aí é cada um por si", diz, dobrando os cobertores usadosbwinone 6.com loginmais uma noite fria.
Inicialmente, o grupo se alojava na avenida Amaral Gurgel, também embaixo do Minhocão. Segundo Paulo, comerciantes e moradores pagaram R$ 500 para que eles saíssem do local. "A gente vive recebendo esse tipobwinone 6.com loginoferta. Ninguém quer moradorbwinone 6.com loginrua nabwinone 6.com loginfrente, ainda mais travestis e gays", diz.
O grupo vive essencialmentebwinone 6.com loginpedir doações, tarefa apelidadabwinone 6.com login"manguear". Wesley,bwinone 6.com login32 anos, diz que arrecada até R$ 300 por dia quando "mangueia" bem. "A gente conta uma história triste, no meu caso, a minha históriabwinone 6.com loginverdade. As pessoas costumam ter penabwinone 6.com logintravesti", afirma. Ele conta que entrou no crack depoisbwinone 6.com loginperder os paisbwinone 6.com loginacidentebwinone 6.com logincarro,bwinone 6.com login2009.
Sasha Ohara explica o conceitobwinone 6.com login"beata", pessoa que doa dinheiro frequentemente. "Tenho beata que me dá R$ 50bwinone 6.com loginuma vez", diz. O dinheiro é usado para comprar comida, produtosbwinone 6.com loginhigiene, ou crack.
Hoje, o grupo fica próximo à estação Marechal Deodoro do metrô, local ocupado por dezenasbwinone 6.com loginmoradoresbwinone 6.com loginrua. A proximidade da estação ajudabwinone 6.com loginquestões práticas: ali há um banheiro público, onde é possível "tomar banho" nas torneiras.
Sexo no fluxo
Pesquisa da prefeitura aponta que 20% dos dependentes da cracolândia têm sífilis; outros 8% são portadoresbwinone 6.com loginHIV e 15% têm tuberculose.
Segundo Arthur Guerra, do programa Redenção, a gestão Doria avalia a possibilidadebwinone 6.com loginuma campanha contra o sexo inseguro na região. "Quando esse cenário vem temperado com usobwinone 6.com logindrogas é mais preocupante. Esses problemas (doenças) se potencializam (entre dependentesbwinone 6.com logincrack)", diz.
Todos as pessoas que conversaram com a BBC Brasil disseram que sexo sem preservativo é comum no fluxo. Hotéis e pensões do entorno cobram R$ 5 por uma horabwinone 6.com loginpermanência.
"No fluxo, as pessoas fazem qualquer coisa para conseguir crack", diz Paulo. "As travestis geralmente têm mais pedras, porque conseguem mais dinheiro mangueando. Então você imagina o que acontece...", explica.
Sasha Ohara revela que não existe muita preocupação com as doenças. "Nós chamamos a Aidsbwinone 6.com logintia. Toda travesti da rua vive com a tia. Se não tem agora, vai ter um dia", diz.
"Sempre vai haver prevalênciabwinone 6.com logindoenças sexualmente transmissíveis entre a população mais vulnerável, como a LGBT", diz Nathalia Oliveira, presidente do Conselho Municipalbwinone 6.com loginPolíticasbwinone 6.com loginDrogas e Álcool, órgão independente que fiscaliza ações da prefeitura na área. "A prefeitura precisa reforçar as campanhasbwinone 6.com loginprevenção."
Reabilitação e internação provisória
Paulo conta que se vicioubwinone 6.com logincrack durante uma temporadabwinone 6.com loginum cruzeiro, onde trabalhou como cozinheiro. Depois, perdeu um namorado e mergulhoubwinone 6.com loginvez.
Diz que escolheu e gosta dabwinone 6.com loginvida que leva nas ruas. "Estou nessa porque quero, uso crack porque quero", explica. "Entendo que, quando você faz essa escolha, abre mãobwinone 6.com loginmuita coisa, dabwinone 6.com loginhigiene, dabwinone 6.com loginidentidade. Mas nesse momento não pensobwinone 6.com loginparar (com o crack)".
Wesley tampouco afirma ter intençãobwinone 6.com loginse tratar. "Faz um mês que saí da clínica (de reabilitação). O corpo pede o crack, é uma necessidade, quem não usa não entende isso", diz.
Tratarbwinone 6.com logindependentes que não querem ajuda é um dos maiores desafios dos programasbwinone 6.com loginreabilitação que atuam na cracolândia. Como os agentesbwinone 6.com loginsaúde podem convencer uma pessoa a aderir ao tratamento se ela gosta e quer continuar no crack?
Para Arthur Guerra, a solução seriam internações compulsórias, quando a Justiça determina tratamento forçado. Em maio, a gestão Doria pediu à Justiça autorização para retirar pessoas à força da cracolândia para avaliação médica - o pedido foi negado.
"Na minha visãobwinone 6.com loginmédico, entendo que uma pessoa não está bem se ela tem prazerbwinone 6.com loginviver na cracolândia. Não posso jogar 40 anosbwinone 6.com loginmedicina e dizer que isso é uma coisa normal. É uma dependência gravíssima", diz Guerra.
Nathalia Oliveira, do conselhobwinone 6.com loginpolíticasbwinone 6.com logindrogas, critica açõesbwinone 6.com loginassistência social voltadas ao público LGBT, que é mais vulnerável "Não há albergues para trans e travestis, por exemplo. Muitas dessas pessoas têm medobwinone 6.com loginsofrer violência nos albergues comuns. Elas acabam nas ruas e andandobwinone 6.com loginbando para se proteger".
Travestis já foram acusadosbwinone 6.com loginpraticarem roubos e furtos na região centralbwinone 6.com loginSão Paulo.
Sobre o público LGBT, a gestão Doria diz que a cidade tem quatro Centrosbwinone 6.com loginCidadania que oferecem atendimento psicológico, jurídico,bwinone 6.com loginassistência social e mediaçãobwinone 6.com loginconflitos. Também há o programa Transcidadania, que atualmente tem 114 vagasbwinone 6.com loginestudo preenchidas com transsexuais.
A prefeitura também afirma que já realizou 36 mil atendimentos na cracolândia desde a operação policialbwinone 6.com loginmaio.
Despedida
Embaixo do Minhocão, o grupo Maloca das Bichas se apronta para a temporada no meio da cracolândia. Paulo vai até o banheiro na estação e toma um banho na torneira. Sasha Ohara coloca uma saia e óculos escuros. Wesley vaibwinone 6.com loginturbante.
Cinco travestis pulam a catraca do metrô para chegar ao destino mais rápido. Paulo se despede do repórter. "Agora é cada um por si", diz, e entra no trem.
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