A sobreviventeapostas on line e vitóriasmassacre que 'adotou' centenasapostas on line e vitóriasórfãosapostas on line e vitóriasdois ladosapostas on line e vitóriasconflito étnico:apostas on line e vitórias

Assim, ela deu o primeiro passo para a criação da ONG Maison Shalom (Casaapostas on line e vitóriasPaz, naem tradução livre) - uma espécieapostas on line e vitórias"império humanitário" que chegou a contar com maternidade, escola médica e outras instalações e ajudou maisapostas on line e vitórias30 mil crianças até 2015, quando o presidente Pierre Nkurunziza, hutu, ordenou o bloqueio das contas das diversas organizações fundadas por Barankitseapostas on line e vitóriasresposta aapostas on line e vitóriasnotória oposição política ao governo.

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Marguerite Barankitseapostas on line e vitóriasuma das escolas fundadas por ela para ajudar crianças no Burundi

Hoje com 61 anos, a mulherapostas on line e vitóriasroupas coloridas e alegria contagiante é conhecida no Burundi como "mamãe Maggy". À BBC Brasil, ela contou que "sempre (foi) uma rebelde", considerada "louca" por amigos e vizinhos por criticar o ódio interétnico latente que alimenta conflitos no país desdeapostas on line e vitóriasindependência da Bélgica,apostas on line e vitórias1962 - a exemplo do que ocorreu na vizinha Ruanda, onde o genocídioapostas on line e vitórias1994 matou cercaapostas on line e vitórias800 mil pessoas.

Barankitse foi professoraapostas on line e vitóriasfrancês na cidadeapostas on line e vitóriasRuyigi, uma das cinco mais importantes do país, mas aos 24 anos foi suspensaapostas on line e vitóriassuas funções por criticar o que via como discriminação escolar contra alunos hutus. Além disso, desafiou os costumes locais e permaneceu solteira, mas adotou, cedo, sete criançasapostas on line e vitóriasambas as etnias - órfãs da violência interétnica.

Para ela, isso foi uma maneiraapostas on line e vitórias"mostrar para o mundo que tutsis e hutus podiam sim viver juntos eapostas on line e vitóriaspaz" e que "o problema não era étnico, masapostas on line e vitóriasmá governança".

"Sempre disse que (a situação no país) era uma bomba-relógio e que era preciso fazer algo. Eu queria mostrar aos burundineses que é possível viverapostas on line e vitóriascoesão social."

Massacre

Crédito, Greg Snyder

Legenda da foto, Lysette tinha 3 anos quando presenciou o assassinato da mãe, decapitada

A vidaapostas on line e vitóriasBarankitse mudaria no dia 24apostas on line e vitóriasoutubroapostas on line e vitórias1993. Representantes da minoria tutsi começaram uma campanha sistemáticaapostas on line e vitóriasexterminaçãoapostas on line e vitóriashutusmapostas on line e vitóriasretaliação a ações similares cometidas por hutus contra tutsis - como os familiaresapostas on line e vitóriasMaggy, todos assassinados.

A ONU estima que maisapostas on line e vitórias300 mil burundineses foram assassinadosapostas on line e vitóriasoito anosapostas on line e vitóriasconflito - que só foi encerradoapostas on line e vitóriasoutubroapostas on line e vitórias2001, com a assinatura do Acordoapostas on line e vitóriasArusha.

A então mãe solteiraapostas on line e vitórias38 anos se refugiou com seus sete filhos na paróquia local, onde trabalhava como secretária. Alémapostas on line e vitóriasabrigo para ela e os filhos, Barankitse ainda escondeu ali 97 homens, mulheres e crianças - a maioria hutus.

"Eram 9 horas da manhã. Quando vi eles chegando, tutsis como eu, armados com machados, facões e paus, disse, bem brava: 'Vocês estão loucos? Deus não nos criou para nos matarmos. Os hutus mataram minha família. Não queiram virar assassinos também'".

"Mas não funcionou", diz ela.

Despida, amarradaapostas on line e vitóriasuma cadeira e tratada como traidora, Maggy foi forçada a presenciar o assassinato dos adultos, entre elesapostas on line e vitóriasgrande amiga Juliette, uma tutsi que, por princípio, preferiu não abandonar o marido hutu.

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Ela ainda ajuda crianças com a ONG Oásis da Paz

O relato do episódio é o único que apaga o sorriso e encheapostas on line e vitóriaslágrimas os olhosapostas on line e vitóriasMaggy.

"Juliette me olhou e disse: 'Maggy, você pode criar minhas crianças como se fossem tuas? Eu vou seguir meu marido'. Ela olhou os assassinos e me deu Lydia e Lysette. Lydia tinha 1 ano, Lysette 3 e meio", recorda, mostrando uma foto recente das garotas, duas jovens sorridentesapostas on line e vitóriasuma paisagem do Canadá, onde terminam seus estudos.

Considerada traidora pelos tutsis, Juliette foi decapitadaapostas on line e vitóriasfrente à amiga e às filhas. Maggy e todas as crianças foram poupadasapostas on line e vitóriastroca do dinheiro que havia na sacristia.

"Foi aí que eu entendi que eu tinha uma missão esplêndida. Peguei essas crianças e não sabia aonde ir. Pra começar, fui ao cemitério. Pedi ao Senhor que me desse força. Eu não tinha força, não tinha casa, não tinha dinheiro."

Ajuda

Por sugestãoapostas on line e vitóriasum dos órfãos, 'mamãe Maggy' entrouapostas on line e vitóriascontato com umvoluntárioalemão que vivia na região e que aceitou alojar o grupo emapostas on line e vitóriascasa.

"Cada dia, chegavam crianças feridas, órfãs. Até os criminosos deixavam crianças lá. Eu tinha uma força que não seiapostas on line e vitóriasonde tirava. Fazia berços com papelão, ia a ONGs que não me atendiam, pegava embalagensapostas on line e vitóriascomputadores e serragem e com isso fazia os colchões. Pedia alimento ao programa mundial (da ONU). E as crianças mais velhas, meus sete primeiros filhos, ajudavam."

Em sete meses,apostas on line e vitórias"família" não convencional cresceu:apostas on line e vitórias32 para 400 crianças. Foi então que a criaçãoapostas on line e vitóriasuma primeira ONG, Maison Shalom (Casaapostas on line e vitóriasPaz), se impôs como uma necessidade, para permitir a capataçãoapostas on line e vitóriasrecursos.

"Não fiz só pelas crianças. Na verdade, eu quis criar uma nova geração. Eles são hutus e tutsi...indo à escola juntos, poderão mudarapostas on line e vitóriascomunidade."

Para ajudar os menores a lidar com os traumas deixados pela violência étnica, Maggy se apoiava na capacitação e na alegria - uma estratégia que ainda prevaleceapostas on line e vitóriassuas instituições.

"O que tira o trauma das crianças é, primeiroapostas on line e vitóriastudo, o amor. Nunca as chameiapostas on line e vitóriasórfãs. Dizia que eram príncipes e princesas. Sempre disse que podem reconstruir e ser atoresapostas on line e vitóriasseu futuro. E cada noite a gente dançava, tocava tambores (parte da tradição cultural burundinesa). Havia alegria naquela casa! Alguns, mesmo cegos, se tornaram músicos."

Maggy assegura ainda que a coabitação entre criançasapostas on line e vitóriasetnias diferentes, mas com problemas similares, também tinha efeitos positivos.

"As crianças choravam quando chegavam, mas eram as outras crianças que as ajudam com a lidar com o trauma primeiro. Um dizia pro outro: 'Ah, você não tem um braço? Veja, e eu não tenho um olho. E daí? Quem é melhor? Essa maneira faz com que eles contem suas histórias sem que você os convertaapostas on line e vitóriasvítimas."

Com a mobilizaçãoapostas on line e vitóriasMaggy, as doações internacionais começaram a chegar e a Maison Shalom foi ganhando, gradualmente, uma escola, uma biblioteca, um cinema-teatro onde as crianças e a própria fundadora descreviam,apostas on line e vitóriaspeças, os crimes interétnicos cometidos no Burundi.

Seus olhos brilham ao lembrar: "A gente encenava os crimes e enfeitiçava os criminosos. O primeiro filme foi Romeu e Julieta, que mostra como as pessoas são bestas quando se matam".

Ao mesmo tempo, com a ajudaapostas on line e vitóriasum advogado, Maggy realizava os trâmites necessários para restituir às crianças as propriedadesapostas on line e vitóriassuas famílias dizimadas e ajudava gruposapostas on line e vitóriasirmãos a se instalarem e recomeçarem uma vida independente.

Império humanitário

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Marguerite Barankitse é conhecida como 'mamãe Maggy'

E cada vez que aparecia uma nova necessidade, Maggy respondia criando uma nova estrutura ligada a Maison Shalom.

Dessa forma, para reduzir a mortalidade materna que dava origem a cada vez mais órfãos, ela criou uma maternidade que daria origem ao Hospital Rema, que chegou a ser o mais importante da regiãoapostas on line e vitóriasRuyigi. Chloé, umaapostas on line e vitóriasseus primeiros sete filhos, formadaapostas on line e vitóriasmedicina na Suíça, foi a responsável pelo lugar.

Quando a comunidade começou a sofrer com a fome, Maggy criou uma pequena cooperativa agrícola que mais tarde se multiplicariaapostas on line e vitórias27,apostas on line e vitóriastrês províncias do país.

Uma escola médica, um bancoapostas on line e vitóriasmicrofinanças e um pequeno hotel são outros projetos derivados da Maison Shalom, todos com o objetivoapostas on line e vitóriaspermitir que as crianças, uma vez mais velhas, tenham meios e capacidades para se responsabilizar pela própria subsistência.

Questionada sobre a origem dos fundos para financiar tantos projetos, Maggy ri.

"Havia uma loucura que contaminava os outros. Conheci pessoas que me fizeram doações, depois ganhei um prêmioapostas on line e vitóriasum milhãoapostas on line e vitóriasdólaresapostas on line e vitóriasSeattle, a Suécia me deu o Prêmio Nobel das Crianças, com 700 mil dólares, depois foi a Caritas alemã, uma cooperante belgame deu três casasapostas on line e vitóriasBujumbura. É isso que quer dizer galvanizar as pessoas. Viam que eu não me desestabilizava, mesmo com 250 bebês chorando do outro lado, e me viam cantando com as crianças."

Recomeçar

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Legenda da foto, A ONG criou escolas para as crianças serem alfabetizadas

Em 2016, Barankitse foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz e ganhou o prêmio Aurora -apostas on line e vitóriasUS$ 1 milhão - entregue pelo ator George Clooneyapostas on line e vitóriascerimôniaapostas on line e vitóriasYerevan, na Armênia, "pelo impacto que teve ao salvar milharesapostas on line e vitóriasvidas e cuidandoapostas on line e vitóriasórfãos e refugiados nos anosapostas on line e vitóriasguerra civil no Burundi".

Um ano antes, a violência voltara a explodir no Burundi com a decisão do presidente, Pierre Nkurunziza,apostas on line e vitóriasabrilapostas on line e vitórias2015,apostas on line e vitóriasconcorrer a um terceiro mandato, infringindo o Acordoapostas on line e vitóriasPaz e Reconciliçãoapostas on line e vitóriasArusha, assinadoapostas on line e vitóriasagostoapostas on line e vitórias2000.

Vários burundineses foram às ruas para protestar e a repressão violenta do governo causou, até agora, a morteapostas on line e vitóriasmaisapostas on line e vitórias500 pessoas,apostas on line e vitóriasacordo com a ONU. Outras 410 mil abandonaram suas casas fugindo da violência. Pela primeira vez, Maggy foi uma delas.

Depoisapostas on line e vitóriascriticar abertamente a tentativa do presidenteapostas on line e vitóriaspermanecer no poder, ela teve seu passaporte revogado, um mandado internacionalapostas on line e vitóriasprisão emitido pelo governo - que até agora foi ignorado por vários países europeus que a receberam - e passou a receber ameaçasapostas on line e vitóriasmorte.

O governo passou a acusá-laapostas on line e vitóriasconspiração e corrupçãoapostas on line e vitóriasmenores, e ordenou o bloqueio das contas bancárias ligadas a Maison Shalom, ameaçando a sobrevivênciaapostas on line e vitóriastodas as infraestruturas que Barankitse criou no Burundi.

Exiladaapostas on line e vitóriasKigali,apostas on line e vitóriasRuanda, 'mamãe Maggy' utilizou as últimas doações recebidas para fundar uma nova ONG, a Oásisapostas on line e vitóriasPaz, dedicada a ajudar os refugiados burundineses que chegaramapostas on line e vitóriasmassa a Ruanda.

"Eu também poderia me sentarapostas on line e vitóriaschorar. O que eu não sofri? Comecei perdendo meu pai aos cinco anos. Vi toda essa guerra. Tomaram tudo o que tinha. Fugi (para Kigali) sem nada. Mas eu sabia que, com o amor, iria recomeçar. Nada pode deter o amor. Nem o ódio, a guerra, a doença. Eles não me terão!", afirma.

Apesar da determinação, Barankitse admite que tem medoapostas on line e vitóriasser executada.

"A morte dá medo. Até o filhoapostas on line e vitóriasDeus disse: 'Pai, por que você me abandonou?' Eu não pretendo ser um mártir."