Tratamento obrigatório para viciadossebastian malec pokercrack é ação 'ridícula', diz neurocientista americano:sebastian malec poker

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Legenda da foto, Drogassebastian malec pokersi não são problema, afirma Carl Hart, para quem as mazelas reais são pobreza, desemprego, políticas seletivassebastian malec pokerrepressão, ignorância e negligência diantesebastian malec pokerestudos sobre essas substâncias

As pesquisassebastian malec pokerHart, autorsebastian malec pokerUm Preço Muito Alto - A Jornadasebastian malec pokerUm Neurocientista Que Desafia Nossa Visão Sobre Drogas (editora Zahar), inspiraram programas como o Braços Abertos, programa da gestão Fernando Haddad (PT) extinto pelo governo Doria.

No programa anticrack da gestão petista, dependentes químicos ganhavam moradiasebastian malec pokerhotéis da cracolândia e R$ 15 por dia se trabalhassemsebastian malec pokeratividades como varrição e jardinagem.

No último domingo, uma grande operação policial dispersou à força dependentes químicos que se reuniam na cracolândia, fechou comércios e hotéis usados no Braços Abertos. Na terça, três pessoas se feriram durante a demoliçãosebastian malec pokeruma pensão pela prefeitura.

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Legenda da foto, Usuáriosebastian malec pokercrack; Hart critica políticas nos EUA que nos anos 80 tornaram punições para possesebastian malec pokercrack até cem vezes mais duras do que para possesebastian malec pokercocaína

A gestão Doria também pediu à Justiça autorização para realizar internações compulsóriassebastian malec pokerdependentessebastian malec pokercrack, desde que o usuário passe por análise médica e psicológica. Hoje, esse tiposebastian malec pokerencaminhamento cabe à Justiça. A prefeitura solicitou ainda autorização para retirar dependentes da cracolândia e enviá-los para avaliação médica contrasebastian malec pokervontade, o que seria uma "última alternativa" para casos graves.

"Minha primeira impressão é que o novo prefeito está colocando a politica à frente das pessoas. Se o objetivo é ajudar outras pessoas da sociedade, é preciso descobrir um modosebastian malec pokerincluí-las nessa sociedade", disse Hart, que deverá voltar ao Brasilsebastian malec pokersetembro para a Bienal Internacional do Livro do Riosebastian malec pokerJaneiro.

Comportamento racional

Professorsebastian malec pokerPsicologia e Psiquiatria, Hart questiona a visãosebastian malec pokerque as drogas tenham alto poder viciante e sejam a causasebastian malec pokerdiferentes mazelas sociais. Ele diz reconhece que há quem abuse delas e sofra efeitos graves no cotidiano, mas diz que concluir que as substâncias sejam o problema - e declarar "guerra" a elas - é um erro.

Criadosebastian malec pokerum bairro pobresebastian malec pokerMiami e traficantesebastian malec pokermaconha na adolescência, Hart diz que começou a estudar neurociência porque queria ajudar a resolver o problema do víciosebastian malec pokerdrogas. Ele afirma que acreditava na visão predominante nos EUA na segunda metade dos anos 1980, que explicava o crime e a pobrezasebastian malec pokercertas regiões pela disseminação do crack.

Um primeiro passosebastian malec pokersuas pesquisas foi a descoberta, segundo ele,sebastian malec pokerque drogas como crack não são tão viciantes como se pensa. "Não há droga que viciesebastian malec pokeruma dose. Dados mostram claramente que 80%, 90% das pessoas que usam drogas não possuem um 'problema com drogas", afirmou Hartsebastian malec pokerconferênciasebastian malec poker2014.

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Legenda da foto, Quadrilátero conhecido como cracolândia esvazia após ação do último domingo

O pesquisador costuma citar o tabaco como a droga mais viciante (33% dos fumantes, ou umsebastian malec pokercada três, ficará dependente, diz), seguida por heroína (25%), cocaína e crack (15% a 20%), álcool (15%) e maconha (10%).

"Eu mesmo achava que o problema eram as drogas, mas não é. Há pessoassebastian malec pokerSão Paulo que têm dinheiro e bens, usam drogas e estão bem. Mas elas tem oportunidades, empregos, todas as coisas. Muitas das pessoas na cracolândia tiveram educação precária, não têm emprego, vemsebastian malec pokerfamílias excluídas da sociedade. Há todos esses problemas sociais, mas é fácil para um político dizer 'vamos livrar a comunidade dessa droga' e não lidar com os problemas dessas pessoas pobres", disse à BBC.

Para estudar o comportamento dos dependentes, ele publicou anúnciosebastian malec pokerrevista à procurasebastian malec pokerviciados nas ruassebastian malec pokerNova York. Oferecia US$ 950 para que fumassem crack produzido a partirsebastian malec pokercocaínasebastian malec pokerpadrão farmacêutico, desde que permanecessem vivendosebastian malec pokerum hospital por três semanas durante o experimento.

No começosebastian malec pokercada dia, uma enfermeira colocava uma dosesebastian malec pokercracksebastian malec pokerum cachimbo e oferecia ao usuário - vendado, o dependente não tinha como saber o tamanho da dose. Depois, cada participante recebia novas ofertas para fumar aquela mesma dose, mas também poderiam optar por uma recompensa, que às vezes eram US$ 5 ou um vale-compra do mesmo valor.

Quando a primeira dose era alta, os dependentes normalmente optavam por uma nova dose. Mas, se a primeira havia sido reduzida, era mais provável que abrissem mão da segunda rodada.

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Legenda da foto, Expulsos da cracolândia, usuáriossebastian malec pokerdrogas se concentramsebastian malec pokerpraça na mesma região

O neurocientista chegou aos mesmos resultados ao repetir o experimento com usuáriossebastian malec pokermetanfetamina. E quando elevava a recompensa alternativa para US$ 20, todos os viciados,sebastian malec pokercrack e metanfetamina, optavam pelo dinheiro, mesmo sabendo que levariam semanas para embolsar os valores.

Para Hart, isso mostrou que dependentes químicos são capazessebastian malec pokertomar decisões racionais, desmontando a "caricatura" do viciado que não consegue resistir a uma dose.

Daí a ênfase do pesquisador na investigação das causas do víciosebastian malec pokercada pessoa antes da "difusãosebastian malec pokermitos sobre as explicações" e da "intervenção com soluções prontas". Se alguém está abusando do álcool ou do crack para lidar com algum trauma ou ansiedade, o tratamento efetivo, afirma, deveria se focar no transtorno psicológico.

Empatia e compaixão

Hart afirma que, embora "não fosse perfeito", o programa Braços Abertos era "um passo na direção certa" porque demonstrava, diz ele, "compaixão" com os dependentes.

"Certamente isso não é o que o atual prefeito está fazendo ao chamar a polícia e limpar a área. Isso mostra às pessoas que ele não tem compaixão e que está fazendo politica com pessoas", disse o professor, que vê o Brasil hoje na mesma situação dos EUA nos anos 1980sebastian malec pokerrelação ao crack, pelo foco que vê como excessivo na repressão.

Ele cita os programas para dependentessebastian malec pokerheroína na Suíça, onde o governo fornece duas doses diárias aos inscritos e uma renda básica aos cidadãos, como exemplosebastian malec pokerpolíticasebastian malec pokerdrogassebastian malec pokersucesso e "não moralista".

"Claro que a Suíça é uma sociedade homogênea (social e economicamente), praticamente toda branca. É mais fácil para essas pessoas ver esses usuáriossebastian malec pokerdrogas como irmãos e irmãs. O Brasil é como os EUA, muito diverso racialmente. Pessoassebastian malec pokerlugares como a cracolândia são basicamente afro-brasileiras, negras. As pessoas emsebastian malec pokersociedade não as veem como irmãs, como na Suíça", avalia Hart, que foi o primeiro neurocientista negro a se tornar professor titularsebastian malec pokerColumbia.

A empatia, diz Hart, é um recurso fundamental para enfrentar a questão da dependência. "Se não lidarmos com essa questão, não resolveremos esse problema. Se isso não é tratadosebastian malec pokerforma clara, estamos apenas fingindo tratar do problema."