Vítima017 bet netviolência doméstica usa grafite para informar meninas sobre Lei Maria da Penha:017 bet net

Crédito, Divulgação/Panmela Castro

Legenda da foto, 'Quanto mais mulheres conhecerem os direitos delas, são mais mulheres exigindo que esses direitos possam acontecer', afirma Panmela Castro

"Ele fechou todas as janelas da casa, para os vizinhos não escutarem, e ligou o som bem alto. Ficou me espancando com chute, com soco, com tudo", diz. "Depois, fomos dormir na casa da minha sogra, e no dia seguinte ele me levou no médico com a carteirinha do plano017 bet netsaúde dela, porque se me levasse a um hospital público, seria a minha chance017 bet netfugir. Fiquei017 bet netcárcere privado durante uma semana."

O episódio ocorreu017 bet net2004. Panmela conseguiu fugir do marido com a ajuda da mãe, que a levou direto para a delegacia. De lá, saiu sem qualquer esperança017 bet netver seu agressor punido.

"Não aconteceu nada. A data que eles o chamaram para depor era um feriado. Nunca deu017 bet netnada. Não existia Lei Maria da Penha na época."

A legislação que mudaria a forma como os casos017 bet netviolência contra a mulher eram tratados no país veio017 bet net2006 e, quando soube da novidade, Panmela quis encontrar alguma forma017 bet netlevá-la às mulheres da periferia, para que casos como o seu não passassem mais impunes.

E foi no grafite que ela encontrou não só a libertação para seu trauma, como também um instrumento017 bet netcombate à violência doméstica.

Crédito, Divulgação/Panmela Castro

Legenda da foto, 'Temos que trabalhar muito pra fazer valer nossos direitos', diz a grafiteira

"Quando eu me separei, fiquei um pouco isolada dentro017 bet netcasa, porque ele me perseguia muito. A forma que encontrei para me ressocializar, me reinserir aí no espaço coletivo, foi através do grafite. Porque eu saía com uns grupos017 bet netgrafiteiros e me sentia protegida. Sabia que não iria chegar um cara para me bater ali, porque eu estava com os meus colegas pra me defender."

Oficinas

Formada017 bet netPintura pela Escola017 bet netBelas Artes da Universidade Federal do Rio017 bet netJaneiro (UFRJ), Panmela Castro se aventurou na arte017 bet netrua primeiro pela pichação, ainda no fim da adolescência, até ser introduzida ao grafite.

Com ele, criou a chamada Rede Nami, a Rede Feminista017 bet netArte Urbana, que, entre outras coisas, promove oficinas017 bet netconscientização da Lei Maria da Penha017 bet netescolas e comunidades pelo Rio017 bet netJaneiro.

"A gente vai até escolas ou até associações017 bet netmoradores017 bet netcomunidades para falar com meninas e mulheres. São três horas017 bet netoficina. Durante a primeira hora, a gente conversa desconstruindo a questão do gênero, informando sobre os tipos017 bet netviolência contra a mulher, que muitas vezes ela não sabe que sofre", pontua a artista.

"Depois, a gente fala sobre as ferramentas da Lei Maria da Penha, sobre os direitos das mulheres, e o que elas podem fazer para sair017 bet netuma situação017 bet netviolência."

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Legenda da foto, Nas oficinas, meninas aprendem o que é violência doméstica e as ferramentas017 bet netproteção da Lei Maria da Penha

Todas as oficinas terminam com uma experiência prática das mulheres com o grafite. A ideia é que elas façam um desenho relacionado ao tema violência doméstica para ficar exposto no local e conscientizar quem passe por ali. Todas as obras feitas no projeto trazem consigo o 180, o número do disque denúncia da Central017 bet netAtendimento à Mulher.

"As monitoras ajudam as participantes a criarem um mural017 bet netgrafite. E o mural continua ali naquele território multiplicando a ideia", explica Panmela.

"Quanto mais mulheres conhecerem os direitos delas, são mais mulheres exigindo que esses direitos possam acontecer."

Nas oficinas, não raros são os momentos017 bet netque as monitoras, após ouvirem os depoimentos das participantes, precisam encaminhar mulheres diretamente à delegacia para fazer denúncias ou até mesmo pedir proteção.

"Quando a gente vai017 bet netgrupos017 bet netmulheres adultas, a oficina é bem pesada porque surgem várias histórias. O problema é que muitas não sabem que estão sofrendo violência. Ou acham que precisam passar por aquilo. Muitas vezes a gente já tem que encaminhar para as medidas protetivas, para fazer a denúncia", diz.

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Legenda da foto, Meninas aprendem grafite e fazem desenhos017 bet netconscientização sobre o tema da violência contra a mulher nas oficinas promovidas pela Rede Nami

"É um trabalho que você tem que estar preparada psicologicamente para fazer, porque é bem difícil. Aparece muita coisa. E apesar017 bet netexistir a lei, a gente tem que fazer funcionar. É uma luta que está no começo ainda. Temos que trabalhar muito para fazer valer nossos direitos."

Pichação

Hoje, Panmela é reconhecida internacionalmente, com trabalhos espalhados por mais017 bet netdez países. Já ganhou diversos prêmios, como o017 bet net"grafiteira da década",017 bet net2009, e foi citada como uma das 150 mulheres que sacodem o mundo pela revista Newsweek.

Mas seus primeiros rabiscos na parede foram pichações escondidas na clandestinidade.

Sua primeira pichação, no Rio017 bet netJaneiro, decretou o apelido que a acompanharia até hoje. "Fiz o A,017 bet netanarquia." O símbolo virou seu nome artístico: "Anarkia Boladona".

"Através da pichação, aprendi a lidar com os problemas017 bet netrua, sair das situações. Cresci muito presa017 bet netcasa, então quando pude sair, tive que aprender a me socializar, e a pichação foi uma forma017 bet netfazer isso."

Panmela buscava fugir dos estereótipos e estigmas017 bet netser mulher para "ser aceita" no grupo, formado por meninos.

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Legenda da foto, Artista busca ampliar lugar da mulher na arte017 bet netrua

"Para eu poder ser aceita ali no meio dos garotos, eu tinha que me vestir que nem eles, falar que nem eles, tinha que me masculinizar", lembra.

"Já tomei muito tiro (de bala017 bet netborracha), porrada com arma, já aconteceu017 bet nettudo. A rua não é para a mulher, ela é muito perigosa pra quem tem corpo017 bet netmulher."

Preconceito

Os tempos017 bet netpichação passaram. Anos depois, Panmela conheceu o grafite - mas viu que esse universo não era muito diferente daquele. E017 bet netestratégia foi a mesma: masculinizar seu jeito e017 bet netarte para conseguir se inserir nesse meio.

"Mulher no grafite ou pintava florzinha ou pintava bonequinha, ou então era a namorada do grafiteiro. Tinha muito preconceito, era horrível. Para as pessoas acreditarem que eu poderia fazer um tipo017 bet netgrafite bom, comecei a masculinizar muito essa imagem que eu produzia", explica.

"Minha arte só passou a ser feminina quando entendi a questão da relação do poder no grafite. Porque por mais que tentasse me tornar um homem falando, me vestindo e agindo como eles, eu nunca ia ser. A partir do momento017 bet netque entendi isso, meu trabalho começou a ser mais político e comecei a inserir esse feminino propositalmente nesse espaço, que é um espaço masculino."

O cenário do grafite no Brasil, diz ela, ainda é dominado por homens - as mulheres geralmente ficam com um espaço limitado e marginalizado.

Crédito, Divulgação/Panmela Castro

Legenda da foto, 'Quando você almeja estar ali no mesmo patamar, com o mesmo valor dos homens, acho que é uma revolução muito grande', diz Panmela

"Quando falo que eu sou a única mulher, não é nem que sempre fui a única. Tem até um histórico017 bet netparticipação017 bet netoutras mulheres. Mas é que as mulheres, para serem aceitas, precisavam obedecer a um padrão017 bet netmulher doce, feminina. E quando você vem transgredindo esse padrão, existe um choque. Quando você almeja estar ali no mesmo patamar, com o mesmo valor dos homens, acho que é uma revolução muito grande."

As grafiteiras acabam tendo pouca visibilidade porque as principais exposições e os grandes murais das ruas ficam dominados por artistas homens, explica Panmela Castro. "Existe um boicote a elas, uma tentativa017 bet netcolocar a mulher numa posição inferior à dos rapazes. Deixa o mural017 bet netoito metros para o cara pintar, e para ela fica só o buraquinho ali do canto, por exemplo", conta.

"Existe um site no Rio chamado streetartrio.com, que é um catálogo017 bet nettodo mundo que já grafitou no Rio. Tem 700 artistas. Desses 700, só 30 são mulheres. E toda a semana a gente envia trabalhos017 bet netmulheres para eles inserirem, eles nunca inserem."

Com a rede Nami, a grafiteira busca dar mais visibilidade aos trabalhos017 bet netmulheres nas ruas dando o espaço que elas não têm nos grandes festivais. Além disso, o projeto forma novas artistas para fortalecer o grafite feminino no cenário nacional.

Crédito, Divulgação/Panmela Castro

Legenda da foto, Panmela hoje é referência internacional

"Passamos a formar artistas feministas boas para enfrentar esse cenário. Fizemos nossas próprias exposições, nossos próprios festivais, nossos próprios murais, botamos essas mulheres na imprensa. Criamos uma cena paralela à cena que já existia. E através disso consegui uma visibilidade internacional", afirma.

"Você pode ter dificuldades017 bet netencontrar mulheres que estejam dentro da linha curatorial para colocar017 bet netum festival ou uma exposição, mas se não existir um esforço para mudar isso, se não colocar a mulher lá, as outras não vão ter referência para um dia poderem igualar esse cenário."

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Legenda da foto, Mural feito por meninas após uma das oficinas017 bet netPanmela Castro