Escola deveria incorporar 'conversasportebet comboteco', diz educadora:sportebet com

Crédito, Pedro Ribas/ ANPr

Legenda da foto, Para ex-diretora do Banco Mundial para Educação, dinâmica das aulas deveria lembrar uma rodasportebet comconversa, e não uma palestra

Crédito, Arquivo pesssoal

Legenda da foto, Cláudia Costin chefiou a Secretariasportebet comEducação do Riosportebet comJaneiro até 2014

Ela deixou o banco neste ano para lecionarsportebet comHarvard, trabalho que conciliará com a direção do Centrosportebet comExcelência e Inovaçãosportebet comPolíticas Educacionais (Ceipe). Instalado na FGV-Rio há pouco maissportebet comum mês, o órgão terá entre seus objetivos melhorar a formaçãosportebet comprofessores.

Confira os principais trechos da entrevista.

sportebet com BBC Brasil - No Brasil,sportebet comque medida o sucesso profissionalsportebet comalguém se deve à qualidadesportebet comsua formação escolar, esportebet comque medida se deve a fatores como círculo social, gênero e raça?

sportebet com Claudia Costin - Há uma pesquisa mostrando que 68% do sucesso escolarsportebet comum aluno depende dos anossportebet comescolaridade dos pais. A criança da escola pública na média já sai perdendo por aí, e depois na vida profissional a desigualdade continua se agravando, porque as que vêmsportebet comum meio mais favorecido têm pais com bons contatos e colegas que vão se colocar bem no mercado.

Existe uma promessa na sociedadesportebet comigualdadesportebet comoportunidade que não está sendo cumprida. Para que seja, a escola pública tem que ser muito melhor.

sportebet com BBC Brasil - Há estudos que relacionam sistemassportebet comensino bem sucedidos, como o finlandês e o sul-coreano, a traços culturais dos países que os adotaram. Que características culturais brasileiras poderiam embasar um sistemasportebet comensino que explore todo o nosso potencial?

sportebet com Costin - Se fosse pensar num traço cultural que pudesse orientar a nossa maneirasportebet comdar aula e repensar o ensino é a conversasportebet comboteco. É curioso: somos um povo que gosta muitosportebet comconversar, mas a conversa é reprimida na escola, é vista como algo errado.

A conversa deveria ser coletiva na escola:sportebet comgrupos e, depois,sportebet commaneira centralizada. A dinâmica da aulas deveria lembrar mais nossas rodassportebet comconversa do que uma palestra. Nada é mais contrário à nossa cultura fora dos muros da escola do que a forma como damos aula hoje.

Crédito, Pedro Ribas/ ANPr

Legenda da foto, Conversa deveria ser coletiva nas escolas, diz Costin

sportebet com BBC Brasil - Há outros elementos que poderiam ser melhor aproveitados?

sportebet com Costin - Na nossa cultura, a música também tem um papel extremanente importante. No Rio, criamos escolas vocacionais (focadassportebet comtemas específicos). Uma delas fica ao lado do bloco carnavelesco Caciquesportebet comRamos.

Os alunos têm um currículo normal com sete horassportebet comaula por dia, mas todos os textossportebet comportuguês esportebet commatemática são relacionados à musica e ao samba. Eles passam três horas por dia aprendendo a ler partitura, a tocar instrumentos, a compor samba enredo.

Essa escola é hoje uma das melhores do Rio - um exemplosportebet comcomo podemos usar a música para dar uma formação integral e com a nossa cara.

sportebet com BBC Brasil - Algo mudou no debate sobre a educação no Brasil desde que você deixou o país,sportebet com2014?

sportebet com Costin - Ampliou-se a percepçãosportebet comque as crianças não estão aprendendo. O Brasil viveu um momentosportebet comcelebraçãosportebet com2012 pelo fatosportebet comtermos sido o país que mais avançousportebet commatemática no Pisa (principal teste internacional que mede a qualidade do ensino) entre 2003 e 2012.

Por certo tempo podíamos pensar que, como fomos um dos últimos países a universalizar o ensino primário, a qualidade da educação estava ruim, mas ia melhorar. Mas hoje estamos estagnados num patamar muito baixo.

sportebet com BBC Brasil - Por que o resultado deixousportebet commelhorar?

sportebet com Costin - Porque as transformações mais importantes demandam uma alteração na forma como formamos professores. Devemos tornar a formação mais profissionalizante, assim como medicina e engenharia fazem.

A universidade no Brasil forma professores nos cursossportebet comlicenciatura e pedagogia focando demasiadamente nos fundamentos da educação, como filosofia da educação, sociologia da educação, e quase nada na prática do professor nas aulas.

Além disso, dada a baixa atratividade da carreira, hoje os 25% piores alunos do ensino médio se tornam professores. Na Finlândia e Coreia do Sul é o oposto: os 25% melhores viram professores.

Crédito, Suami Dias/ GOVBA

Legenda da foto, Para Costin, nos últimos anos, no Brasil, cresceu a percepçãosportebet comque as crianças não estão aprendendo na escola

sportebet com BBC Brasil - Como mudar a formação do professor? É algo que deve ser feito pelo governo ou pela universidade?

sportebet com Costin - As duas coisas. Tem muita gente fazendo mestrado e doutoradosportebet comeducação no exterior. Minha esperança é que voltem para as universidades brasileiras para transformá-las por dentro.

Por outro lado, o Estadosportebet comSão Paulo passou a repassar recursos adicionais para universidades formarem professores com base num determinado currículo. Na gestão do Fernando Haddad no Ministériosportebet comEducação, havia a discussãosportebet comcriar uma prova nacionalsportebet comcertificação, que daria ao indivíduo o direitosportebet comser professor. É algo que existe no mundo todo e, dependendosportebet comcomo fizerem a prova, há como influenciar a universidade.

Outra coisa que pode ser feita é exigir uma prova prática nos concursos para seleçãosportebet comprofessores. Que eu saiba, só Riosportebet comJaneiro e Curitiba fazem isso hoje.

sportebet com BBC Brasil - Como gastar melhor o dinheiro com o treinamentosportebet comprofessores?

sportebet com Costin - Fazendo com que trabalhemsportebet comforma colaborativa dentro da escola e estimulando que professores tenham mentores e tutores quando entram na carreira. Grande parte do que se gasta hoje com formaçãosportebet comprofessores é desperdiçada.

Há pesquisas mostrando que não há nenhuma relação entre o desempenho do aluno e o fatosportebet como professor ter feito mestrado ou doutorado, por exemplo. No Rio, fizemos uma avaliação externa e descobrimos que a professora primária da melhor turma da rede não tinha nem feito faculdade.

sportebet com BBC Brasil - Qual era o segredo dela?

sportebet com Costin - Era uma professora mais velha, que entrou na rede numa épocasportebet comque não se exigia faculdade, e que dava aula numa região muito violenta. Ela começava a aula acalmando as crianças, num processosportebet comcatarsesportebet comque cada uma contava o que tinha acontecido na noite anterior. Instintivamente e sem ser psicóloga, ela trouxe serenidade para o grupo, e aí o conteúdo podia ser trabalhado.

Parecia que ela tinha estudado como desenvolver competências socioemocionais: persistência, resiliência, autocontrole. Esse é o grande debate da educação hoje: como, além das competências cognitivas, trabalhar competências para viversportebet comsociedade, como empatia e respeito ao outro - coisassportebet comque nós, adultos, estamos precisando muito nesses tempossportebet comódio.

Crédito, Tânia Rêgo/ Agência Brasil

Legenda da foto, Costin compara ocupação das escolas ao que aconteceusportebet com1968sportebet comalguns países europeus

sportebet com BBC Brasil - Como acompanhou o movimentosportebet comocupaçãosportebet comescolas pelo Brasil neste ano?

sportebet com Costin - Senti que ele começousportebet comum jeito e virou uma coisa bem diferente. Em alguns casos, tenho a impressãosportebet comque, movidos por interesses corporativistas, professores falaramsportebet comsuas frustrações para os alunos e os encorajaram a ir à luta. Mas, quando se libera um movimento social, ele não fica sob o controlesportebet comquem o iniciou.

Acho que os alunos aprenderam muito com esse processo e agora ninguém mais vai conseguir ter uma escola igual a antes, com o professor no comando escrevendo no quadro e o aluno anotando. Guardadas as proporções, vai se assemelhar ao que aconteceusportebet com1968sportebet comalguns países europeus. As escolas vão mudar, e isso vai ser positivo porque vai ser centrado no protagonismo do aluno.

O aluno tem que ser protagonista dasportebet comvida escolar. Na Finlândia, quando um aluno do ensino médio tem problemassportebet comdisciplina, a escola não chama os pais, ela discute com ele mesmo. No Brasil, muitas vezes famílias e escolas infantilizam o alunosportebet comensino médio.

sportebet com BBC Brasil - Qualsportebet composição sobre o movimento Escola sem Partido (propostasportebet comlei que, segundo os autores, busca coibir a doutrinação ideológica nas escolas e proteger a educação moral que os alunos recebemsportebet comcasa)?

sportebet com Costin - Sou contra a proposta, não concordo com censurasportebet comeducação. Mas, ao mesmo tempo, quando acontece uma coisa dessas, é bom parar para pensar por que estão falando disso.

Há muito professor que, sejasportebet comdireita ou esquerda, relatasportebet comvisãosportebet commundo para o aluno como se fosse a verdade,sportebet comvezsportebet comensiná-lo a pensar. Isso é preocupante. Então acho que a proposta da lei estava errada, mas temossportebet comter um mecanismo para que as pessoas nem pensem nessa possibilidade.

sportebet com BBC Brasil - Alguns analistas dizem que, embora tenha havido uma forte expansão do ensino superior no Brasil na última década, não se deu a mesma atenção ao desenvolvimentosportebet comcentrossportebet comexcelência voltados à formaçãosportebet comuma elite. A crítica faz sentido?

sportebet com Costin sportebet com - Acho que o Brasil fez exatamente o oposto. Só 18% da população entre 24 e 34 anos terminou a universidade. É uma elite. Países com o mesmo grausportebet comdesenvolvimento que o nosso têm índices maiores.

O númerosportebet comvagas aumentou, mas acho que a universidade está ressentida, ela não queria ser ampliada. Há segmentos que desejam que houvesse menos médicos, menos engenheiros, para ter uma reservasportebet commercado.

sportebet com BBC Brasil - Que achou da propostasportebet comreforma do ensino médio e da forma como foi submetida ao Congresso, por meiosportebet commedida provisória?

sportebet com Costin - O conteúdo não foi feito pelo governo Temer, ele foi feito pelo Conselho Nacionalsportebet comSecretáriossportebet comEducação e respaldado por sucessivos ministros da Educação.

O que está no conteúdo vai dar um trabalho louco, mas está correto. O erro foi tentar fazer por medida provisória. Não se transforma a educação sem muita discussão.

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil

Legenda da foto, Protesto na UNB contra PEC que estabelece um teto para os gastos públicos; entrevistada não concorda com a inclusão da educação no texto

sportebet com BBC Brasil - Como melhorar a educação após a aprovação da PEC (Propostasportebet comEmenda Constitucional) que congela por até 20 anos os gastos federais no setor?

sportebet com Costin - Não concordei com inclusãosportebet comeducação na PEC e acho que deveríamos brigar para rever essa questão. Quando há uma crise fiscal, é natural que se queira cortar gastos. Mas mesmo os países com atuação fiscal importante tratam a educação como prioridade.

Com o congelamento, estamos condenados a ter a profissãosportebet comprofessor com baixos salários e, portanto, pouco atraente por muitos e muitos anos. Isso prejudica a educação. Nenhum sistema é melhor que a qualidadesportebet comseus professores.

sportebet com BBC Brasil - As críticas que você recebe desde que chefiou a secretariasportebet comEducação no Rio, que a associam à defesa do ensino privado e a uma postura autoritária na negociação com sindicatos, a incomodam?

sportebet com Costin - Dediquei a vida inteira à escola pública e acho que não se constrói equidade sem focar escola pública. O que esse grupo criticava é termos feito parcerias com instituiçõessportebet comformaçãosportebet comprofessores que eram privadas.

Isso não me perturba. Eles acham que não deveríamos contratar ninguém para formar professores, ou que só deveria haver universidades públicas ou a própria rede formando professores.

Mas, se não temos determinado conhecimento, é importante que alguém prepare o professor. Se forem fundações sem fins lucrativos, não tem problema. É isso o que o mundo faz.