Propostabetesporte bilhetereforma do Ipea gera polêmica ao incluir conselhobetesporte bilheteempresários e vendabetesporte bilheteprojetos:betesporte bilhete

Crédito, BETO BARATA/PR

Legenda da foto, Temer e o novo presidente do Ipea, Ernesto Lozardo, embetesporte bilhetenomeação,betesporte bilhetejunho

A proposta gera críticas, já que poderia afetar a autonomia do instituto federal e trazer conflitosbetesporte bilheteinteresse entre planosbetesporte bilheteinvestimentos do governo e projetosbetesporte bilhetesetores econômicos e grandes empresas.

Também é vista com preocupação com servidores, que temem cortes e perdabetesporte bilhetebenefícios conquistados com a transformação do institutobetesporte bilheteuma espéciebetesporte bilheteconsultoria que segue moldesbetesporte bilheteinstituições privadas, como é o caso da FGV.

Mudançabetesporte bilhetementalidade

A reformulação prevê a divisão do atual institutobetesporte bilhetedois ramos: Ipea Pesquisas e Ipea Projetos, ambos geridos por um conselhobetesporte bilheteadministração formado por "líderes empresariais", acadêmicos e ministros.

Este último teria "personalidade jurídica diferente", para permitir a flexibilizaçãobetesporte bilhetecontratos e a vendabetesporte bilheteprojetos ou pesquisas.

Responsável pela proposta, a diretoriabetesporte bilheteEstudos e Políticas Setoriaisbetesporte bilheteInovação, Regulação e Infraestrutura argumenta que o modelo atual é "incapazbetesporte bilhetecaptar recursos" e que a produção técnica "nem sempre está voltada para questões relevantes ao desenvolvimento do país".

O textobetesporte bilhetedebate classifica algumas áreas como superdimensionadas e ineficazes, e promete salários "compatíveis com o setor privado", alémbetesporte bilhete"reforço da meritocracia" com rendimentos variáveis pelo desempenho no novo Ipea Projetos.

Discutidabetesporte bilhetemeio ao ajuste fiscal do governo Temer, que cortou orçamentosbetesporte bilhetetoda a Esplanada dos Ministérios, a reforma representaria a possibilidade do Ipeabetesporte bilheteter outras formasbetesporte bilhetefinanciamento fora o orçamento público, alémbetesporte bilheteser a primeira incorporação formalbetesporte bilheteempresários àbetesporte bilheteestrutura administrativa.

Concorrência

O plano passa por avaliaçãobetesporte bilhetedirigentes. A expectativa,betesporte bilheteacordo com servidores, é que seja aprovado pela presidência, após receber comentários e sugestõesbetesporte bilheteautoridades e técnicos.

Segundo a BBC Brasil apurou, dirigentesbetesporte bilhetealto escalão do Ipea avaliam que a produção atual do instituto é vista como dispersa e lenta por concorrentes e outros órgãos públicos.

"Hoje, quem presta consultoria para o Estado brasileiro é a FGV, e não o Ipea. Por quê?"

Quem pergunta é a diretorabetesporte bilheteinovação do instituto e autora do projetobetesporte bilhetereformulação, Fernanda De Negri,betesporte bilheteentrevista à BBC Brasil.

"Estamos fazendo pesquisa da mesma forma que fazíamos 52 anos atrás. A gente precisa se repensar. O Ipea perdeu muito espaço no debate econômico brasileiro", argumenta.

Ela afirma que o orçamento do Ipea foi reduzido, "comobetesporte bilhetetodas as instituições". "Mas a motivação essencial da reformulação nunca foi orçamentária. A motivação é dar flexibilidade e agilidade."

Crédito, MCTI

Legenda da foto, Para diretorabetesporte bilheteinovação, autorabetesporte bilheteproposta, reformulação quer dar 'agilidade' ao Ipea

Ela reconhece que a proposta que está sendo discutida com dirigentes é resultadobetesporte bilheteum anobetesporte bilhetevisitas a think tanks e instituições renomadas no exterior. O textobetesporte bilheteapresentação começou a ser desenhado "no fim do ano passado".

Mas, quando questionada sobre pontos polêmicos associados à reestruturação, como a "vendabetesporte bilheteprojetos" para empresas e a inclusãobetesporte bilheteCEOs no Conselho, De Negri repete que o material é "superpreliminar" e "não deveria virar reportagem".

A diretora argumenta que o nívelbetesporte bilheteinterferência do grupo na instituição seria "muito pequeno". "É um conselho para pensar grandes diretrizesbetesporte bilheteatuação, mais do que agendas específicasbetesporte bilhetepesquisa", diz.

Para a diretora do Ipea, a inclusãobetesporte bilheteCEOs poderia "ajudar a pensar" o Brasil.

"As questões relevantes para o país têm que ser levantadas para o Ipea pelo governo, mas não só. Também por agentes importantes da sociedade, pela academia, e aí tem empresários também, por que não?", diz.

'Venda'betesporte bilheteprojetos

Apesarbetesporte bilheteo texto apresentado pela diretoria se referir a "clientes" e afirmar que a produção do Ipea Projetos "irá captar e operar recursos externos (públicos e privados)", De Negri afirma que o órgão "não venderá projetos para empresas".

"(O textobetesporte bilheteapresentação) Está mal escrito", diz a autora. "O único cliente do Ipea é o governo brasileiro."

Para funcionários, no entanto, o texto que circula entre as sete diretorias do instituto "é claro".

"Está especificado que serão projetos orientados pela demanda, com perspectivabetesporte bilhetecaptar recursos no setor privado. Isso está inclusive na modalidadebetesporte bilheteremuneração anunciada, que é a possibilidadebetesporte bilheteos pesquisadores fazerem consultorias a partirbetesporte bilheteseus portfóliosbetesporte bilhetepesquisa."

Questionada, Di Negri afirma que "não faz ideia"betesporte bilhetequal será a "personalidade jurídica" do que proporá ao novo Ipea Projetos, mas elogia o modelobetesporte bilheteparceria publico privada das Organizações Sociais (OS) - associações percebidas por muitos como uma espéciebetesporte bilhete"terceirização do serviço publico", já que recebem recursos públicos para prestar serviços como saúde, por exemplo.

Ela ressalta, no entanto, que "não tem planos"betesporte bilhetetransformar o IPEAbetesporte bilheteOS.

Bastidores

A reestruturação atende a expectativas do atual presidente Ernesto Lozardo, nomeadobetesporte bilhetejunho. Ele defende novas fontesbetesporte bilhetefinanciamento para o instituto e apoia a limitaçãobetesporte bilhetegastos públicos proposta pela polêmica PEC (Propostabetesporte bilheteEmenda Constitucional) 241,betesporte bilhetediscussão no Congresso.

Na época da posse, Lozardo foi alvobetesporte bilhetecriticas por nåo se apresentar oficialmente aos funcionários e nāo possuir doutorado nem currículo acadêmico publicado na plataforma Lattesbetesporte bilhetepesquisadores. Foi ele o autor do texto resposta a um artigo critico a PEC 241, que resultou no pedidobetesporte bilheteexoneraçãobetesporte bilheteuma coordenadora do Ipea.

A Associação dos Funcionários do Ipea (Afipea) convocará uma assembleia na semana que vem para discutir efeitos das mudanças na carreira dos servidores e seus possíveis impactos na liberdadebetesporte bilhetepesquisa.

Para um funcionário que não quis se identificar, "a tendência é que a nova áreabetesporte bilheteprojetos negociados com clientes cresça com apoio dos empresários no conselho e passe a determinar os objetosbetesporte bilheteanálise dos pesquisadores" - o que o órgão nega oficialmente.

Balanço positivo ou negativo?

As propostas do 'novo Ipea' são vistas com cautela por especialistas consultados pela reportagem.

"É um pouco esquisito. Pode haver a influência do setor privado para desenhar uma política pública, por exemplo", avalia o professor da economia da FGV e da PUC-SP Nelson Marconi, questiona a forma como a proposta pode ser postabetesporte bilheteprática.

A possibilidadebetesporte bilhetefavorecimento também é mencionada pela coordenadorabetesporte bilhetepesquisa do Transparência Brasil, Juliana Sakai. Ela diz que a presençabetesporte bilheteempresários no Conselhobetesporte bilheteAdministração poderia direcionar a pesquisa para privilegiar seus segmentosbetesporte bilheteatuação.

"Podem incrementar uma política que tem como consequência a produção ou a comprabetesporte bilhetemassabetesporte bilheteum determinado produto, por exemplo."

Para Sakai, é "curiosa" a presençabetesporte bilheteCEOs no Conselhobetesporte bilheteAdministração, uma vez que o novo modelo seria implementado para garantir mais recursos ao trabalhobetesporte bilhetepesquisa. "Para mim não faz sentido", afirma.

Já para o professor da Fundação Getulio Vargas Alexandre Motonaga, que também participoubetesporte bilheteprojetosbetesporte bilheteconsultoria da FGV, a propostabetesporte bilhetediscussão pode ser positiva.

Motonaga diz que a participaçãobetesporte bilheteempresáriosbetesporte bilhetesearas públicas já aconteceu no país e cita a presença do empresário Jorge Gerdau no Conselhobetesporte bilheteAdministração da Petrobras. Além disso, diz que nos Estados Unidos é normal que líderes empresariais se dediquem ao setor público após a aposentadoria.

"Um empresário pode efetivamente estar oxigenando o Estado. Ele traz um outro olhar. Por mais que os técnicos sejam capacitados, eles não conseguem dominar todos os assuntos. Permitir que um empresário participe permite uma oxigenação, porque às vezes ele é um especialista no assunto."

Para servidores, no entanto, o institutobetesporte bilhetepesquisa é diferentebetesporte bilheteempresasbetesporte bilhetecapital misto, como a Petrobras, e precisariabetesporte bilhetetotal autonomia para seus estudos.

Motonoga pondera ainda que o riscobetesporte bilheteconflitobetesporte bilheteinteresses não advém apenas da participaçãobetesporte bilheteCEOs na instituição. "Pode entrar um pilantra que pode querer beneficiar só o segmento dele, mas pode acontecer que um ministro também queira atender a seus interesses."