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Longe da família, morto pelo frioaposta presidenteSP foi velado por moradoresaposta presidenterua:aposta presidente
Como muitosaposta presidenteseus companheirosaposta presidenterua, Rodrigues fazia pequenos bicos coletando material reciclável e montando a estruturaaposta presidentepalcos para shows da prefeitura. "Soube que tinha alugado um quartinho na região do Belém", conta o vigário. "Mas os bicos secaram e ele teve que voltar para rua" - o valor médio do aluguelaposta presidenteum cômodo simples na região custaaposta presidentetornoaposta presidenteR$ 500.
À BBC Brasil, o religioso diz que reconheceu o cobertor que envolvia o corpoaposta presidenteJoão Carlos. "Ele buscou lá na igreja. Nós o conhecíamos. Era um cara que batalhava para sobreviver."
O corpo foi encontrado na escadaaposta presidenteuma estaçãoaposta presidentemetrô na última sexta-feira, quando os termômetros da cidade registraram temperatura mínimaaposta presidentecinco graus. Testemunhas contam que o homem teve convulsões antesaposta presidentemorrer, sozinho, ao lado da mochila onde guardava roupas doadas e documentos.
"A situação que o povo da rua vive hojeaposta presidenteSão Paulo é como a dos refugiados na Europa: ninguém os quer. Aqui, são refugiados urbanos. Onde estão, incomodam. São deportados dentro da cidade, sempreaposta presidenteum lado para o outro", lamenta o padre.
Homenagens
Na madrugada desta segunda-feira, o Centroaposta presidenteGerenciamentoaposta presidenteEmergência (CGE) registrou a temperatura mais baixa dos últimos 12 anosaposta presidenteSão Paulo: 0 grau. A última semana trouxe recordes sucessivosaposta presidentefrio na cidade - tudo isso antes do início oficial do inverno, que começa no próximo dia 21.
Em solidariedade às vítimas do frio, um ato foi realizado na manhãaposta presidentesegunda-feira,aposta presidentefrente a um shopping center da avenida Paulista, onde o corpo Adilson Roberto Justino, outro moradoraposta presidenterua, foi encontrado na madrugadaaposta presidentedomingo.
Um cobertor cercado por velas, flores e uma cruzaposta presidentemadeira foi colocado no centro da manifestação, que reivindicava a participação dos moradoresaposta presidenterua na criaçãoaposta presidentepolíticas públicas e o usoaposta presidenteprédios públicos vazios do centro da cidade para abrigar esta população.
Como ocorreu nos velórios, outras pessoasaposta presidentesituaçãoaposta presidenterua homenagearam os mortos com discursos emocionados na calçada da avenida. Alémaposta presidenteJoão Paulo e Agostino, um homem e uma mulher ainda não identificados foram encontrados mortos na regiãoaposta presidenteSantana e do Terminal Rodoviário do Tietê, ambos na zona norte da cidade.
Procurada pela BBC Brasil, a prefeituraaposta presidenteSão Paulo se recusou a comentar as mortes relacionadas ao frio. Os primeiros laudos do Instituto Médico Legal indicam que a causa oficial das mortes foi "insuficiência respiratória aguda".
Políticas públicas
Quando os termômetros ficam abaixo dos 13 graus, a prefeitura colocaaposta presidenteprática uma operação denominada "Baixas Temperaturas", que amplia "em caráter excepcional" o númeroaposta presidentevagasaposta presidenteabrigos.
"A redeaposta presidenteacolhimento da Prefeitura possui cercaaposta presidente10 mil vagas fixas, mas a rede foi ampliadaaposta presidentemais 1.437 vagas emergenciais. Há ainda a possibilidade da aberturaaposta presidentealojamentosaposta presidenteemergência, caso as 11.437 vagas ofertadas forem insuficientes", diz a prefeitura,aposta presidentenota.
Segundo o último censo destinado a esta parcela da população, cercaaposta presidente15 mil pessoas vivem nas ruas da maior cidade do país.
"São maisaposta presidente500 profissionais envolvidos neste trabalho que consiste na identificação, aproximação, escuta e encaminhamento, das pessoas que aceitam, para a redeaposta presidenteProteção Especial como Centrosaposta presidenteAcolhida", prossegue a prefeitura. Nos abrigos, segundo a administração, os acolhidos "têm acesso a acolhimento, com camas, cobertores, travesseiros, banho, alimentação e kitsaposta presidentehigiene pessoal".
O atendimento, no entanto, é criticado pela pastoral e por grupos que atuam junto à populaçaõaposta presidenterua.
"Os albergues não podem ser a única resposta" , diz o padre Lancellotti. "A máquina da prefeitura é muito lenta, burocrática e institucional. Não tem levezaaposta presidentedar respostas ágeis".
Ele conta que, segundo o censo, 40% das pessoas que vivem nas ruas passaramaposta presidentealgum momento pelo sistema prisional. "O esquema massificado dos abrigos reproduz o esquema penitenciário. São espaços fechados e padronizados, onde centenasaposta presidentepessoas dormem cercadas por câmerasaposta presidentesegurança e policiais."
Para o especialista, as políticas públicas para a populaçãoaposta presidenterua não levamaposta presidenteconta as opiniões e interesses deste grupo. "Eles querem autonomia e participação. Enquanto não forem ouvidos, as formas tradicionaisaposta presidenteantedimento continuarão falhando. Oferecer autonomia, por meioaposta presidentealugueis sociais ou pelo estímulo a iniciativas criadas por eles mesmos, é o único caminho efetivo para o resgate da populaçãoaposta presidenterua."
Segundo dados levantados pela comissãoaposta presidentefinanças da Câmara Municipal, cada moradoraposta presidenterua custa R$ 1.500 à prefeitura. "É um dinheiro muito alto, mal empregado", diz o padre. "A maior parte é gasta com segurança,aposta presidentevezaposta presidenterespostas mais personalizadas e baratas." Questionada pela reportagem, a prefeitura preferiu não comentar as críticas do padre.
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