Nós atualizamos nossa Política1xbetbrasilPrivacidade e Cookies
Nós fizemos importantes modificações nos termos1xbetbrasilnossa Política1xbetbrasilPrivacidade e Cookies e gostaríamos que soubesse o que elas significam para você e para os dados pessoais que você nos forneceu.
Chico Buarque: 'Passei uma semana1xbetbrasilLondres brigando com o tradutor':1xbetbrasil
A tradução para o inglês1xbetbrasilEstorvo obrigou Chico Buarque a passar uma semana1xbetbrasilLondres "brigando com o tradutor".
"Aqui na Inglaterra, o tradutor, o Peter Bush, foi um prodígio porque ele não fala português", contou Chico à BBC News Brasil1xbetbrasil1992.
No final daquele ano, o cantor e compositor esteve1xbetbrasiltour promocional pela Europa para divulgar o lançamento,1xbetbrasilvários países,1xbetbrasilseu primeiro romance, Estorvo, lançado no ano anterior e traduzido, então, para 10 idiomas.
Na conversa com os jornalistas Helena Carone e José Antonio Arantes, gravada no café do Hotel Waldorf, no centro1xbetbrasilLondres,1xbetbrasil291xbetbrasildezembro, Chico relatou os percalços que enfrentou acompanhando a tradução para o inglês1xbetbrasilseu livro1xbetbrasilestreia - e a dificuldade1xbetbrasilachar o título adequado1xbetbrasillínguas1xbetbrasilque a palavra 'estorvo' não existe.
Chico também comentou as críticas que o livro recebeu1xbetbrasilpaíses como Holanda e Itália e fez um balanço da experiência como escritor.
Ele suspendeu a carreira musical por mais1xbetbrasilum ano para se dedicar ao livro, lançado pela Companhia das Letras e ganhador do Prêmio Jabuti1xbetbrasilmelhor romance1xbetbrasil1992.
Para celebrar os 80 anos (completados nesta quarta, 191xbetbrasiljunho) do escritor, cantor e compositor, a BBC News Brasil recuperou,1xbetbrasilseus arquivos, a entrevista - inédita1xbetbrasiltexto -, gravada no café do Hotel Waldorf, no centro1xbetbrasilLondres,1xbetbrasil291xbetbrasildezembro1xbetbrasil1992, para o programa Diário1xbetbrasilLondres:
1xbetbrasil BBC News Brasil - Esse roteiro é o mesmo já cumprido pelo Chico Buarque cantor e compositor, quer dizer, o livro está sendo lançado nos países onde você já se lançou como cantor compositor?
1xbetbrasil Chico Buarque1xbetbrasilHolanda - Não, não. Nunca fui à Noruega e o livro foi traduzido, e quando eu fui lançar o livro as pessoas perguntavam, como uma curiosidade, se era verdade que eu também fazia a música. Mesmo aqui na Inglaterra minha música não é conhecida. Na Espanha, sim. Na França, na Itália, Portugal… Mas nos países aqui do Norte da Europa, não. Eu até falei que eu podia, depois1xbetbrasillançar o livro, me lançar como o escritor que também canta e fazer uns shows por aí.
1xbetbrasil BBC News Brasil - O livro recebeu o título 1xbetbrasil Turbulence 1xbetbrasil ,1xbetbrasilinglês. Em outras línguas também recebeu títulos diferentes?
1xbetbrasil Chico - Estorvo só existe como a mesma palavra1xbetbrasilespanhol. No outros países não existe e é uma palavra difícil1xbetbrasilser traduzida. O título foi muito discutido1xbetbrasiltodas as traduções. Na Itália eles mudaram umas duas, três vezes. Na tradução inglesa também. Esse título é o terceiro. Já foi Disturbance, foi Turmoil e chegou-se a Turbulence. Em italiano foi Perturbazione, depois virou Ostaculo, depois virou Disturbo. Mas disturbo não é ‘estorvo’. Em tradução sempre se perde alguma coisa. Depois que eu terminei o livro eu ainda tive esse trabalho suplementar1xbetbrasilacompanhar as traduções onde podia,1xbetbrasilalguma forma, ajudar. E é um trabalho danado. Você quer a tradução perfeita e ela não existe.
Eu acompanhei a tradução espanhola, italiana, a francesa e mesmo a inglesa. Aqui na Inglaterra o tradutor, o Peter Bush, foi um prodígio porque ele não fala português. Ele traduz do espanhol. Eu contei com a ajuda1xbetbrasiluma brasileira que mora aqui, a Lúcia Villares (então professora no Departamento1xbetbrasilEspanhol e Português da Universidade1xbetbrasilCambridge) . A Lúcia trabalhou praticamente como coautora da tradução. E eu vim também pra cá no mês1xbetbrasilmaio. Fiquei uma semana quase brigando com o Peter Bush, querendo as coisas como elas são. O meu inglês é suficiente para ler com ajuda do dicionário e dizer que não é aquilo, mas não é o suficiente para sugerir (outra coisa)…
Então eu tive estranhos diálogos com o Peter Bush. Eu dizia ‘não é isso’, aí eu sugeria uma coisa, ele falava ‘mas isso não é inglês’ ou ‘isso é muito estranho1xbetbrasilinglês’. Às vezes eu ganhava a discussão dizendo que também é estranho1xbetbrasilportuguês. Uma vez que eu disse para a tradutora alemã - é claro que1xbetbrasilalemão não leio nada - mas ela já me mandou uns três faxes com dúvidas sobre o que é que eu queria dizer realmente com isso ou aquilo e tal, e eu disse pra ela não ficar com medo1xbetbrasilque talvez o livro fosse parecer um livro mal traduzido. Disse a ela pra não ter medo disso porque o livro, no original, já parece um livro mal traduzido (risos).
1xbetbrasil BBC - Por quê?
1xbetbrasil Chico - Porque tem coisas estranhas. Não é que eu tenha querido escrever coisas estranhas. Quando eles diziam isso é awkward, isso não pode, eu acabava tentando discutir com eles até que ponto você não tem o direito também1xbetbrasilinventar. Nós, quando lemos um (James) Joyce ou um (T.S.) Eliot, a literatura inglesa que chega ao Brasil traduzida, eu, - sem querer me comparar a Joyce ou Eliot – perguntava, isso é estranho ou tá certo? ... Eu estava requerendo o direito1xbetbrasilinventar também1xbetbrasilportuguês, porque parece que nós estamos sempre atrasados1xbetbrasilrelação a eles. Por que uma literatura brasileira não pode escrever algo1xbetbrasilestranho?
1xbetbrasil BBC - Como é que o livro tem sido recebido pelos críticos desses países?
1xbetbrasil Chico - Muito bem. Eu não recebi todas (as críticas). Mas na Holanda, por exemplo…eu fui agora para tipo relançar o livro, que tinha sido lançado1xbetbrasiljunho. Então as críticas foram publicadas1xbetbrasiljulho, agosto. Aí agora me mostraram um book e traduziram pelo menos os títulos. E eu ganhei1xbetbrasil8 a 1 (risos)! Tinha uma crítica que dizia que era um livro desnecessário, mas as outras oito eram muito elogiosas. As que recebi da Itália são todas muito boas – não sei se estão escondendo alguma. Na Noruega também me disseram que são boas.
1xbetbrasil BBC - Te compararam a algum escritor? Kafka?
1xbetbrasil Chico - O primeiro país1xbetbrasillíngua estrangeira que visitei para lançamento do livro foi a Itália. Fiquei muito satisfeito, (porque) as pessoas que me entrevistaram, que tinham realmente lido livro, com atenção, me devolveram ao Brasil. Viam alguma coisa1xbetbrasilGuimarães Rosa…Viam muito mais o Brasil no livro do que no próprio Brasil.
1xbetbrasil BBC - Essa reação positiva da crítica te anima a embarcar num segundo projeto literário? Ou você prefere deixar1xbetbrasillado um pouquinho e voltar para a música?
1xbetbrasil Chico - Eu tenho intenção1xbetbrasilescrever outro livro. Sem dúvida nenhuma. Eu gostei muito da própria experiência. Quando escrevi esse livro não estava absolutamente pensando na tradução, ou no livro sendo publicado fora do Brasil. Não sabia sequer qual seria a reação do Brasil ao livro. Quando eu percebi o que eu estava fazendo, me desliguei completamente1xbetbrasilqualquer compromisso com o público. Qualquer compromisso que pudesse resultar da relação que tenho com o público através da música.
1xbetbrasil BBC - Tem alguma coisa já engatilhada?
1xbetbrasil Chico – Não. Isso não. Eu agora estou com muita vontade1xbetbrasilcompor,1xbetbrasilfazer música. Esse projeto do livro não é para já não. Talvez pra daqui a dois anos e tal. Eu quero sentir1xbetbrasilnovo a necessidade1xbetbrasilescrever o livro. Talvez eu tenha que passar pelo caminho da musica1xbetbrasilnovo. Voltar a escrever minhas canções, coisa que fiz muito pouco depois que comecei a escrever o livro. Eu tô com vontade1xbetbrasilpegar meu violão.
1xbetbrasil BBC - Como escritor você era obsessivo? Foi um processo difícil, atormentado?
1xbetbrasil Chico - É um processo muito solitário, né? (Quando) Você está acostumado a trabalhar com música popular, mesmo escrevendo pra teatro…1xbetbrasilcerta forma, você está buscando um contato, você tem uma reação do público. Isso modifica o seu processo1xbetbrasilcriação. Você tá contando com um certo tipo1xbetbrasilreação. Você sente, dá um show, você percebe, você sabe como as pessoas vão reagir. A reação é coletiva. A1xbetbrasilmúsica toda no rádio, são milhões1xbetbrasilpessoas. O livro não. O livro é lido aqui e ali por pessoas diferentes,1xbetbrasillugares diferentes,1xbetbrasilum ritmo diferente, uma pessoa lê rápido, outra lê devagar…É uma coisa estranha. Às vezes eu achava que você tinha que ditar o ritmo da leitura, como você dita o ritmo da música. ‘Aqui você tem que ler mais devagar, aqui menos ’ (risos)
1xbetbrasil BBC - Para você, compor é menos sofrido, mais prazeroso?
1xbetbrasil Chico – Eu tô falando1xbetbrasilsofrimento, mas também não foi assim (risos). Eu ria sozinho, às vezes tinha revelações… às coisas às vezes vinham, sem que eu tivesse planejado, acontecia muito isso… movimentos que vinham abruptamente. Coisas que aconteciam e me surpreendiam. Com a música também acontece. Insônia, duas ou três noites sem dormir…
1xbetbrasil BBC - Por que você não quis ficar no Brasil para lançamento do livro? Não houve entrevistas como esta que temos o privilégio1xbetbrasilestar fazendo agora…
1xbetbrasil Chico – Quando terminei esse livro eu tirei férias. E era muito difícil para mim, no Brasil, falar do livro porque o que eu queria que o livro chegasse como algo que não tivesse nada a ver com meu trabalho com a música. E acho que ele não tem mesmo. E acho que a melhor maneira1xbetbrasildizer isso foi não dizendo nada. Foi a minha ausência. Deixar por conta da crítica, dos jornalista locais, entender o livro como eu acho que ele é, como literatura, ou não. E geralmente aconteceu isso. Grande parte da acolhida que o público teve (do livro) foi como trabalho novo, sem relação com meu trabalho anterior. É muito difícil explicar isso, entendeu? Você aparecer na televisão….Depois eu fiz. Fui lá no Jô Soares…Mas na hora mesmo do lançamento do livro,1xbetbrasilcara tá muito ligada a capa1xbetbrasildiscos. É um problema. Foi uma coisa que foi notada até por uma resenha na Itália. Ela começava falando isso. Na quarta capa da edição italiana puseram uma foto minha com um microfone (risos). Foto1xbetbrasil‘cantautore’. Uma mulher fez uma crítica muito boa, que começava observando isso, que a quarta capa dava a margem a equívocos, que poderia parecer uma ‘furberia’, uma esperteza editorial, do tipo ‘atriz lançando livro sobre aeróbica’ ou ‘ex-árbitro1xbetbrasilfutebol que lança livro sobre gastronomia’ - deve ter acontecido na Itália isso. Aí depois ela dizia que o livro não era o que a contracapa dava a entender.
1xbetbrasil BBC - O livro foi lançado no Brasil já há algum tempo. Como é que está sendo pra você tendo que novamente falar sobre ele, explicar a história, enfim, tendo que explicar o livro a um público que não te conhece?
1xbetbrasil Chico – Mais do que explicar, eu estou começando é a entender o livro, à medida1xbetbrasilque as pessoas me falam sobre ele. A partir das próprias perguntas, e das diversas leituras que o livro tem. Dizem as coisas mais contraditórias. E eu1xbetbrasilmaneira geral costumo concordar com as coisas mais contraditórias.
1xbetbrasil BBC – Aqui na Inglaterra, o que você tem percebido?
1xbetbrasil Chico - Aqui não deu tempo ainda1xbetbrasilperceber porque não vi nada escrito ainda, só vi entrevistas. Aqui, talvez mais do que1xbetbrasiloutros lugares, eu tenho percebido, nas entrevistas, uma preocupação1xbetbrasilsituar o livro1xbetbrasilum contexto social político brasileiro…tive que dizer, várias vezes, que, sim, que o pano1xbetbrasilfundo é uma realidade, não é surrealismo, é aquilo mesmo, mas que eu julgava que o mais importante no livro não era isso. Que não era um livro1xbetbrasildenúncia social, acho que é um livro que pode ser um testemunho1xbetbrasilum tempo, uma coisa assim, mas que não tem essa intenção.
1xbetbrasil BBC - As pessoas procuram te levar para esse lado1xbetbrasilfalar do Brasil1xbetbrasilhoje? A política?
1xbetbrasil Chico – Eles procuram puxar pelo Brasil que eles conhecem, eles conhecem muito pouco do Brasil. Então quando não é a Amazônia, não é o carnaval, não é o futebol, são os fatos políticos recentes. O Brasil ficou conhecido como país da corrupção graças ao Collor, os últimos meses e tal. Pro que eles menos puxam é justamente a literatura brasileira, que eles não conhecem. Então quando eles vão falar1xbetbrasilliteratura eles tendem a falar1xbetbrasilliteratura latino-americana. Se fosse um livro passado na Amazônia, o enfoque seria outro, aí eu iria falar sobre ecologia, sobre a ECO 92, a floresta.
Principais notícias
Leia mais
Mais lidas
Conteúdo não disponível