Essequibo: por que crise ressuscita temor do Brasil sobre presença militar dos EUA na Amazônia:codigo bonus bet

Exercícios militares envolvendo norte-americanos na Amazônia não são novidade. Em novembro deste ano, por exemplo, 294 militares do país desembarcaram no Brasil para um treinamento na selva amazônica. A diferença, agora, é que os norte-americanos chegarão à Guianacodigo bonus betmeio a uma crise geopolítica entre o país e a Venezuela.

Os dois países disputam há maiscodigo bonus betum século Essequibo, uma áreacodigo bonus betmaiscodigo bonus bet160 mil km² (pouco maior que o Estado do Ceará) ricacodigo bonus betminérios como ouro e diamante, alémcodigo bonus betpetróleo. Nos últimos meses, as tensões aumentaram depois que a Venezuela realizou um referendo sobre a criaçãocodigo bonus betum novo Estado na áreacodigo bonus betdisputa. Essequibo corresponde a 70% do território da Guiana.

A Corte Internacionalcodigo bonus betJustiça (CIJ), provocada pelo governo guianense, emitiu uma sentença determinando que a Venezuela não poderia tomar medidas para incorporar Essequibo ao seu território. O regimecodigo bonus betNicolás Maduro, no entanto, anunciou não reconhecer a legitimidade da Corte para resolver a disputa.

Após o referendo, o presidente Nicolás Maduro indicou um governador para o Estado que pretende criar e anunciou a emissãocodigo bonus betlicenças para exploraçãocodigo bonus betpetróleo na costacodigo bonus betEssequibo.

Como resposta, o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, pediu auxílio da Organização das Nações Unidas (ONU) e fez contato com o secretáriocodigo bonus betEstado dos Estados Unidos, Antony Blinken, na quarta-feira (06/12).

Em comunicado, o Departamentocodigo bonus betEstado anunciou que daria suporte "inabalável" à soberania da Guiana. No dia seguinte, o Comando Sul dos Estados Unidos divulgou que realizaria exercícioscodigo bonus betparceria com militares da Guiana. Segundo o comando, os exercícios consistemcodigo bonus bet"operaçõescodigo bonus betvoo" dentro território guianense.

Em nota sobre o assunto, a Embaixada dos Estados Unidos na Guiana disse que o Comando Sul "continuará acodigo bonus betcolaboração com o FDG (Forçascodigo bonus betDefesa da Guiana) nas áreascodigo bonus betpreparação para desastres, segurança aérea e marítima e combate às organizações criminosas transnacionais" e que "os EUA continuarão o seu compromisso como parceirocodigo bonus betsegurança confiável da Guiana".

O anúncio gerou reações na Venezuela. O ministro da Defesa do país, Vladimir Padrino, chamou os exercícioscodigo bonus bet"provocação".

"Esta infeliz provocação dos Estados Unidoscodigo bonus betfavor dos pretorianos da ExxonMobil na Guiana é outro passo na direção incorreta. Advertimos que não nos desviarãocodigo bonus betnossas futuras ações pela recuperaçãocodigo bonus betEssequibo. Não se equivoquem. Viva à Venezuela", disse Padrinocodigo bonus betuma postagemcodigo bonus betsuas redes sociais.

Preocupação histórica

A preocupaçãocodigo bonus betque a Amazônia seja alvo da atuaçãocodigo bonus bettropas estrangeiras é antiga. Desde o processocodigo bonus betcolonização, fortificações portuguesas foram erguidascodigo bonus betdiversos pontos da região para evitar o avançocodigo bonus betinvasores.

Mais recentemente, essa preocupação se transformoucodigo bonus betum dos elementos que une militantes tanto da esquerda quanto da direita brasileira. O principal temor se dá pelo tamanho do poderio bélico norte-americano.

De acordo com o Instituto Internacionalcodigo bonus betPesquisa para a Pazcodigo bonus betEstocolmo (Sipri, na siglacodigo bonus betinglês),codigo bonus bet2022, os Estados Unidos foram responsáveis pelo maior gasto militar do mundo, com U$$ 877 bilhões, o equivalente a 39%codigo bonus bettodas as despesas militares no planeta.

Durante a ditadura militar (1964-1985), por exemplo, o temorcodigo bonus betque a região pudesse ser alvocodigo bonus betalgum tipocodigo bonus betintervenção estrangeira foi usado como principal motivo para a criaçãocodigo bonus betprojetoscodigo bonus betocupação dali entre os anos 1960 e 1980.

Também foi nesta época que as Forças Armadas brasileiras reforçaram e criaram instalações militarescodigo bonus betpontos da fronteira norte do país.

O slogan usado pelo regime, na época, era "integrar para não entregar".

O medo eracodigo bonus betque a suposta cobiça internacional pela região pudesse levar a açõescodigo bonus betocupação estrangeira. A Amazônia é responsável por 45%codigo bonus bettoda água doce do planeta, alémcodigo bonus betabrigar a maior floresta tropical do planeta. É uma área ricacodigo bonus betbiodiversidade e minerais e metais preciosos.

Na época, a preocupação dos militares era tanto com uma possível ocupação da região por alguma superpotência quanto com a açãocodigo bonus betgrupos contrários ao regime, como a Guerrilha do Araguaia.

Entre 1972 e 1974, um grupocodigo bonus betmilitantescodigo bonus betesquerda se instalou no interior do Pará com o objetivocodigo bonus betorganizar uma guerrilha rural para derrubar a ditadura. O grupo foi derrotado por tropas do Exército.

No final da primeira década dos anos 2000, setores da esquerda brasileira demonstraram preocupação com um acordo firmado entre os governos dos Estados Unidos e da Colômbia, o qual previa a instalaçãocodigo bonus betsete bases militares norte-americanas no país sul-americano.

Em 2010, o acordo foi considerado inconstitucional pela Justiça colombiana.

Para a doutoracodigo bonus betRelações Internacionais e professora da Universidade Federalcodigo bonus betSão Paulo (Unifesp) Carol Pedroso, a crise entre Venezuela e Guiana "ressuscitou" o temor da presença norte-americana na Amazônia.

"Essa crise ressuscita totalmente esse temor que é uma preocupação do Brasil ecodigo bonus betoutros países como a Colômbia, que mal concluiu seus processoscodigo bonus betpaz e que hoje é governada por uma liderança que tem relativa proximidade com Maduro", disse a professora à BBC News Brasilcodigo bonus betmenção aos acordoscodigo bonus betpaz entre o governo colombiano, liderado pelo presidente Gustavo Petro, e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Para o diretor para as Américas da consultoria Eurasia Group, Christopher Garman, o governo brasileiro vê com desconfiança as ações militares norte-americanas na América do Sul.

"Esse tipocodigo bonus betmovimento preocupa o governo brasileiro, que tem deixado muito claro que não vê esse tipocodigo bonus betação como algo construtivo e vê como uma ingerência indevida na região", disse Garman.

O analista, no entanto, diz acreditar que os exercícios anunciados na quinta-feira pelo governo norte-americano não indicariam uma tendência.

"Essa ação do governo tende a ficar mais restrita e não deverá se convertercodigo bonus betuma intervenção na América do Sul ou na Amazônia", afirmou.

Para o professor aposentadocodigo bonus betRelações Internacionais e ex-representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti Ricardo Seitenfus, a chegada dos norte-americanos à região teria sido provocada pela postura do Brasilcodigo bonus betrelação às açõescodigo bonus betMaduro. Segundo ele, o Brasil deveria ter sido mais contundentecodigo bonus betcondenar os movimentos do regime venezuelano.

"O silêncio ensurdecedor do governo brasileiro obriga os aliados da Guiana a agir. Agora, Washington e logo adiante Londres virão proteger a soberania e a integridade territorial da Guiana. Isso se deve a negligência culposa do Brasil", disse Seitenfus à BBC News Brasil.

Liderançacodigo bonus betxeque?

Os analistas consultados pela BBC News Brasil afirmaram que, até o momento, a liderança brasileira na região não estaria afetada pela crisecodigo bonus betEssequibo e pelo envolvimento dos norte-americanos.

"Parece que Celso Amorim e outros diplomatas tentam usar acodigo bonus betinfluência para pedir calma. Se Maduro vai ouvir é outra história, mas penso que a oposição do governo brasileiro [às açõescodigo bonus betMaduro] torna ainda menos provável uma invasão venezuelana. Aparentemente, qualquer invasão teria que passar pelo território brasileiro e não vejo nenhuma circunstânciacodigo bonus betque isso aconteceria", disse à BBC News Brasil o brasilianista e editor-chefe da revista Americas Quarterly, Brian Winter.

"Evidentemente, quando há exercícios militares americanos na região, isso é desconfortável para o Brasil. Ao mesmo tempo, a posição americana não diverge da posição brasileira na região. O Brasil acelerou planos militares no Norte do paíscodigo bonus betmeio a essa crise. Isso é um sinal forte à Venezuelacodigo bonus betque não vão aceitar tropas atravessando o país para invadir a Guiana", disse Christopher Garman.

"Esse episódio não colocacodigo bonus betxeque a liderança do Brasil, mas é, sim, um grande desafio. Eu diria que é um grande teste. [...] Historicamente, o país consegue ser um ator relevantecodigo bonus betcontendas na América do Sul, ecodigo bonus betse tratandocodigo bonus betum conflito que pode envolver o nosso território, creio que vamos utilizar todas as ferramentas diplomáticas disponíveis para evitar a escalada das tensões", disse Carol Pedroso.

A tentativacodigo bonus betdiminuir as tensões entre os dois países fez com que o presidente Lula oferecesse o Brasil para sediar futuras conversas entre a Guiana e a Venezuela. A oferta foi feita durante o fechamento da 63ª Cúpula do Mercosul, no Riocodigo bonus betJaneiro, na quinta-feira.

Nas últimas semanas, Lula vinha fazendo movimentos nos bastidores para reduzir a temperatura da crise. Um deles foi enviar Celso Amorim a Caracas para conversar com Nicolás Maduro.

Na quinta-feira, Lula mencionou a crise dizendo que a região não precisariacodigo bonus betuma guerra.

"Eu gostariacodigo bonus betdizer que nós vamos tratar [o assunto] com muito carinho, porque se tem uma coisa que nós não queremos aqui na América do Sul é guerra. Não precisamoscodigo bonus betguerra, não precisamoscodigo bonus betconflito. O que precisamos é construir a paz, porque somente com muita paz a gente pode desenvolver nosso país", disse Lula.