Baleadovasco e chapecoense palpitefrente ao pai, centésimo PM morto no Rio simboliza descontrole no Estado e dor das famílias:vasco e chapecoense palpite

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Legenda da foto, O sargento Fábio José Cavalcante foi baleadovasco e chapecoense palpitefrente ao pai

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Legenda da foto, A crise financeira do estado do Rio levou a cortes drásticosvasco e chapecoense palpitevárias áreas do orçamento, incluindo a segurança

"Eles me mandaram calar a boca senão iam me matar também. Vi meu filho caído, fiquei doido. Estou com 70 anos, perdi metadevasco e chapecoense palpitemim", diz o pai, que tem um segundo filho que também é policial militar.

O estado do Rio enfrenta uma grave crise financeira que tem resultadovasco e chapecoense palpitecortes drásticosvasco e chapecoense palpitevárias áreas do orçamento. Na áreavasco e chapecoense palpitesegurança, saláriosvasco e chapecoense palpitepoliciais têm atrasado, como acontece com outros servidores, e falta verba para despesas básicas como coletes à provavasco e chapecoense palpitebalas, munição e gasolina para viaturas.

A crise financeira vem acompanhada por um aumento generalizadovasco e chapecoense palpiteíndicesvasco e chapecoense palpitecriminalidade. Em julho, o governo federal anunciou o enviovasco e chapecoense palpitetropas do Exército para reforçar a segurança no estado.

A escaladavasco e chapecoense palpiteviolência contra policiais ficou marcada já no início do ano, com sete mortes ao longo dos sete primeiros diasvasco e chapecoense palpitejaneiro. A primeira delas, o assassinato do soldado André Williamvasco e chapecoense palpiteOliveira no dia 1ºvasco e chapecoense palpitejaneiro. No ritmo atual, o Rio poderá chegar a 158 mortes até o fim do ano - o maior número desde 1994, quando houve um recorde históricovasco e chapecoense palpitePMs mortos, com 227 vítimas. Em 2016, foram 146.

A maior parte das mortes, no entanto, não ocorre durante o serviço. Dos 3.083 policiais vitimados no RJ desde 1995, 2.465 – cercavasco e chapecoense palpite80% – ocorreram durante as folgas dos agentes,vasco e chapecoense palpiteacordo com dados da polícia militar. Dos 100 mortos neste ano, 59 estavam fora do serviço.

Candidato a vereador, conhecido como 'Fabinho'

O sargento Cavalcante trabalhava como policial há maisvasco e chapecoense palpite15 anos, lotado no batalhãovasco e chapecoense palpiteMagé, na região metropolitana do Rio, onde morava com a mulher.

Ele fazia regularmente o trajetovasco e chapecoense palpitecercavasco e chapecoense palpiteuma hora até São Joãovasco e chapecoense palpiteMeriti para ver os pais e o filhovasco e chapecoense palpite8 anos, que,vasco e chapecoense palpiteacordo com vizinhos, vive com os avós. Os vínculos com o local fizeram com que tentasse se eleger vereador no municípiovasco e chapecoense palpite2016, obtendo 1.090 votos (0,43%) na cidade pelo PR. Candidatou-se como "Fabinho" - apelido pelo qual era conhecido na vizinhança.

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Legenda da foto, Cavalcante, o centésimo PM morto, se candidatou a vereadorvasco e chapecoense palpite2016:

Quando o crime aconteceu, os tiros levaram o comerciante Alexandre Lucena a se trancar dentrovasco e chapecoense palpitesua lojavasco e chapecoense palpitebicicleta do outro lado da rua. "Foram muitos tiros. Não deu para contar", relata ele à BBC Brasil.

Pouco antesvasco e chapecoense palpitemorrer, conta Lucena, Fábio havia lhe dado bom dia com um apertovasco e chapecoense palpitemão, a caminhovasco e chapecoense palpitecasa para cumprimentar os pais, que têm uma lojavasco e chapecoense palpitegesso e um barvasco e chapecoense palpiteesquina no Largo do Guedes,vasco e chapecoense palpiteSão Joãovasco e chapecoense palpiteMeriti.

"Ele era muito gente boa, muito querido no bairro. Um cara que ajudava os outros e não se aborrecia com ninguém. Sempre falava com todo mundo. Estou muito abalado", diz. "Mas o pior é para seu pai, que viu tudo. Tudo." Lucena afirma que o carro com os bandidos "já chegou baleando ele" e diz que não acredita ter se tratadovasco e chapecoense palpiteassalto.

A morte do sargento Cavalcante, o centésimo PM morto emvasco e chapecoense palpitequase oito meses, "é um golpe a mais" nas fileiras da corporação, afirma o comandante-geral da PM, Wolney Dias.

O coronel demonstrou irritação com o foco na centésima vítima, emitindo uma nota intitulada "Não somos números. Somos cidadãos e heróis" e fazendo um "desabafo recheadovasco e chapecoense palpitetristeza e revolta."

"Tristeza pela perda irreparávelvasco e chapecoense palpitecada companheiro que se vai, deixando para trás sonhos e o sofrimento da família e amigos. Revolta, pela omissãovasco e chapecoense palpitegrande parte da sociedade que se nega a discutir com profundidade um temavasco e chapecoense palpitetamanha relevância. Assim como todo cidadão, o policial é vítima da violência com uma desvantagem adicional: ao ser identificado como agentevasco e chapecoense palpitesegurança pública num assalto ou qualquer situaçãovasco e chapecoense palpiteconfronto, será executado sumariamente", disse o coronel.

Mortes pela farda

De acordo com o coronel Robson Rodrigues, antropólogo e pesquisador do Laboratóriovasco e chapecoense palpiteEstudos da Violência da Universidade do Estado do Riovasco e chapecoense palpiteJaneiro (Uerj), estudosvasco e chapecoense palpitevitimizaçãovasco e chapecoense palpitepoliciais indicam que as mortes ocorrem com mais frequência quando os policiais estãovasco e chapecoense palpitefolga, e nas áreasvasco e chapecoense palpiteque há mais homicídios no Rio - sobretudo a Baixada Fluminense e a zona norte da cidade.

De fato, neste ano maisvasco e chapecoense palpiteum quarto das mortesvasco e chapecoense palpitepoliciais ocorreram na Baixada Fluminense - 27 do totalvasco e chapecoense palpitecem.

"O policial é tão vítima quanto a população", diz Rodrigues. "Ele sofre dos mesmos problemas da fragilização da segurança pública, que não está conseguindo nem proteger seus próprios agentes."

Quando estãovasco e chapecoense palpiteserviço, as mortes mais frequentes ocorrem entre os policiais atuando nas radiopatrulhas, chamados para verificar ocorrências. Já nos horáriosvasco e chapecoense palpitefolga, ele é mais vulnerável a assaltos que cidadãos comuns: "Pela própria condiçãovasco e chapecoense palpitepolicial, ele tende a reagir, ou tem maiores chancesvasco e chapecoense palpitemorrer quando é reconhecido", afirma Rodrigues.

Como exemplo, ele cita o caso da cabo Elisângela Bessa, morta com um tiro na cabeça ao ser assaltada quando voltavavasco e chapecoense palpitecarro para casa com o marido,vasco e chapecoense palpiteCoelho Neto, zona norte do Rio.

Tiro na cabeça a caminhovasco e chapecoense palpitecasa

Era madrugada e o casal tinha acabadovasco e chapecoense palpitesair do pontovasco e chapecoense palpiteNilópolis, na Baixada,vasco e chapecoense palpiteque Bessa tinha uma barraquinhavasco e chapecoense palpitebatata frita,vasco e chapecoense palpitefrente à padaria da família. Ela foi a 96a PM morta no ano.

Seu irmão, Alexandre Bessa, bacharelvasco e chapecoense palpiteDireito, conta que ela costumava vender batatas entre 19h e 1h para complementar a renda - e vinha juntando dinheiro para comprar uma casa e pararvasco e chapecoense palpitevivervasco e chapecoense palpitealuguel.

"Foi um choque. Ela era muito trabalhadora, muito honesta, cuidava muito da mamãe. Era muito correta com o ramo dela no trabalho e com a família", diz ele, explicando que a irmã, que chamavasco e chapecoense palpiteNana, nunca teve filho porque cuidava da mãe, que tinha problemas renais e cardíacos e morreu no fim do ano.

Ele acredita que ela foi morta por ser policial. "Acredito que ela foi reconhecida. Foi um tiro na cabeça, execução. E o menor que a matou ela fez isso porque sabe que não vai darvasco e chapecoense palpitenada. Vai ficar enfrentar uns seis mesesvasco e chapecoense palpitedetenção e vai ser solto. Vai continuar matando destruindo que nem o diabo", diz ele, clamando por reformas para aprimorar a educação e um sistema que promovavasco e chapecoense palpitefato a ressocializaçãovasco e chapecoense palpitedetentos.

"Vai prender um moleque desses e vai mandar para a escolinha do crime? Vai sair pior."

'Quem matou Galvão? O sistema da polícia ou o tráfico?'

No dia 21vasco e chapecoense palpitefevereiro, o soldado Michelvasco e chapecoense palpiteLima Galvão foi morto com um tiro nas costas durante uma disputa com o tráfico na favela do Jacarezinho, onde integrava a Unidadevasco e chapecoense palpitePolícia Pacificadora.

Sua morte fez voltar à tona um áudio que gravouvasco e chapecoense palpite2015 fazendo duras críticas às condições precáriasvasco e chapecoense palpitetrabalho e à faltavasco e chapecoense palpitesegurança para os policiais. No áudio, que ele compartilhou entre policiais e acabou se espalhando, Michel dizia que o governo, e o projeto das UPPs, estava falido.

"Estão colocando a gente dentro do morro para morrer. A favela não é nossa casa. Ser policial não é ser guerrilheiro, não é confrontarvasco e chapecoense palpitedesvantagem numérica,vasco e chapecoense palpitedesvantagem logística,vasco e chapecoense palpitedesvantagem operacional", apelou, na época, aos companheirosvasco e chapecoense palpitetropa.

No áudio, ele relatava ter pedido três colegasvasco e chapecoense palpitemenosvasco e chapecoense palpiteuma semana e apelava aos companheiros para que baixassem as armas por não terem condiçõesvasco e chapecoense palpiteenfrentar os criminosos. "A gente tem que ter amor pela nossa vida", disse. "Não vamos querer dar umavasco e chapecoense palpiteheróis. Não tem condições."

O paivasco e chapecoense palpiteMichel, Sérgio Galvão, lembra que seu filho foi a julgamento por causa do áudio. Ele diz que Michel só não foi expulso da corporação porque foi comprovado que ele estava sob efeitovasco e chapecoense palpiteremédios psiquiátricos.

Agora é o pai quem está medicado. Diz que só consegue dormir com remédios e estávasco e chapecoense palpitelicença do trabalho por depressão.

Ele diz que a família está estraçalhada. "Éramos muito próximos, amigos, confidentes. Ele não precisava ter entrado para a polícia. Ele tinha muita experiência, foi sóciovasco e chapecoense palpiteuma pizzaria, teve uma lojinhavasco e chapecoense palpiteNova Iguaçu... Mas era fissurado, queria ser políciavasco e chapecoense palpitequalquer maneira. E morreu pela polícia."

Galvão não se conforma com a morte do filho e nem com a versãovasco e chapecoense palpiteque teria sido morto por traficantes. Ele acredita que seu filho tenha sido morto por ter descoberto esquemasvasco e chapecoense palpitecorrupção na polícia, e por não querer se calar.

Em protesto, o pai fez um banner com a questão: "Quem matou Michel Galvão? O sistema ou o tráficovasco e chapecoense palpitedrogas?" "Para mim, foi o sistema", resume o pai.