Como falar outras línguas mexe com nosso cérebro:frutinha caça níquel
O que acontece é que quando um indivíduo multilíngue quer falar, os idiomas que ele conhece podem estar ativos ao mesmo tempo, mesmo que apenas um seja usado.
Esses idiomas podem interferir uns com os outros, se intrometendo, por exemplo, na fala quando você não espera. E essas interferências podem se manifestar não apenasfrutinha caça níquellapsosfrutinha caça níquelvocabulário, mas até mesmo na gramática ou no sotaque.
"Pelas pesquisas, sabemos que, sendo bilíngue ou multilíngue, sempre que você fala, todos os idiomas que você conhece são ativados", diz Mathieu Declerck, pesquisador da Universidade Livrefrutinha caça níquelBruxelas, na Bélgica.
"Por exemplo, quando você quer dizer 'dog' ("cachorro",frutinha caça níquelinglês) como um bilínguefrutinha caça níquelfrancês-inglês, não apenas a palavra 'dog' é ativada, como tambémfrutinha caça níqueltradução equivalente, 'chien' ("cachorro",frutinha caça níquelfrancês), também é ativada."
Dessa forma, a pessoa que está falando precisa ter algum tipofrutinha caça níquelprocessofrutinha caça níquelcontrolefrutinha caça níquellinguagem. Se você pensar bem, a capacidade dos indivíduos bilíngues e multilínguesfrutinha caça níquelseparar os idiomas que aprenderam é notável.
A forma como fazem isso é normalmente explicada por meio do conceito da inibição — uma supressão das línguas não relevantes.
Quando você pede a um voluntário bilíngue para dizer o nomefrutinha caça níqueluma cor que aparecefrutinha caça níqueluma telafrutinha caça níqueldeterminado idioma, e depois o nome da cor seguintefrutinha caça níqueloutro idioma, é possível medir picosfrutinha caça níquelatividade elétricafrutinha caça níquelpartes do cérebro responsáveis pela linguagem e atenção.
Mas quando esse sistemafrutinha caça níquelcontrole falha, intrusões e lapsos podem ocorrer. Por exemplo, a inibição insuficientefrutinha caça níquelum idioma pode fazer com que ele "apareça" e se intrometa quando você deveria estar falandofrutinha caça níqueluma língua diferente.
O próprio Declerck, que é belga, está acostumado a misturar idiomas acidentalmente. Seu repertório linguístico inclui holandês, inglês, alemão e francês.
Quando trabalhava na Alemanha, a viagem habitualfrutinha caça níqueltrem que fazia para voltar para casa na Bélgica passava por várias regiões com idiomas diferentes — um verdadeiro treino para suas habilidadesfrutinha caça níquelalternânciafrutinha caça níquelidioma.
"A primeira parte erafrutinha caça níquelalemão, e eu entravafrutinha caça níquelum trem belgafrutinha caça níquelque a segunda parte erafrutinha caça níquelfrancês", diz ele.
"E depois, quando você passa por Bruxelas, eles mudam o idioma para holandês, que é minha língua nativa. Então, neste períodofrutinha caça níqueltrês horas, toda vez que o cobrador vinha, eu tinha que trocarfrutinha caça níquelidioma."
"Eu sempre respondia no idioma errado,frutinha caça níquelalguma forma. Era simplesmente impossível acompanhar."
Na verdade, cenáriosfrutinha caça níqueltrocafrutinha caça níquelidiomas — como esse do trem, masfrutinha caça níquellaboratório — são frequentemente usados por pesquisadores para aprender mais sobre como pessoas multilíngues dominam os idiomas.
E os erros podem ser uma ótima maneirafrutinha caça níquelcompreender melhor como usamos e dominamos os idiomas que sabemos.
Tamar Gollan, professorafrutinha caça níquelpsiquiatria da Universidade da Califórniafrutinha caça níquelSan Diego, nos EUA, estuda há anos o domínio da linguagemfrutinha caça níquelindivíduos bilíngues. Efrutinha caça níquelpesquisa muitas vezes levou a descobertas contraintuitivas.
"Acho que talvez uma das coisas mais singulares que vimosfrutinha caça níquelindivíduos bilíngues quando eles misturam idiomas é que, às vezes, parece que inibem tanto a língua dominante que, na verdade, acabam sendo mais lentos para falarfrutinha caça níquelcertos contextos", diz ela.
Em outras palavras, a língua dominantefrutinha caça níqueluma pessoa multilíngue pode sofrer um impacto maiorfrutinha caça níquelcertos cenários.
Por exemplo, na tarefafrutinha caça níquelnomear as cores, descrita anteriormente, pode levar mais tempo para um participante lembrar o nomefrutinha caça níqueluma cor no seu primeiro idioma quando estava sintonizado no segundo idioma antes,frutinha caça níquelcomparação com a situação inversa.
Em umfrutinha caça níquelseus experimentos, Gollan analisou as habilidadesfrutinha caça níquelalternânciafrutinha caça níquelidiomafrutinha caça níquelpessoas bilínguesfrutinha caça níquelespanhol-inglês, fazendo-as lerfrutinha caça níquelvoz alta parágrafos que estavam apenasfrutinha caça níquelinglês, apenasfrutinha caça níquelespanhol, e parágrafos que misturavam aleatoriamente inglês e espanhol.
Os resultados foram surpreendentes. Mesmo que estivessem com os textos bem ali na frente deles, os participantes ainda cometeriam "errosfrutinha caça níquelintrusão" ao lerfrutinha caça níquelvoz alta — dizendo acidentalmente, por exemplo, a palavra espanhola "pero" (que significa "mas"),frutinha caça níquelvez da palavra correspondentefrutinha caça níquelinglês "but".
Esse tipofrutinha caça níquelerro acontecia quase exclusivamente quando estavam lendofrutinha caça níquelvoz alta os parágrafos mistos, o que exigia alternar entre os idiomas.
O mais surpreendente foi que uma grande proporção desses errosfrutinha caça níquelintrusão não eram palavras que os participantes haviam "pulado".
Por meio do uso da tecnologiafrutinha caça níquelrastreamento ocular, Gollan efrutinha caça níquelequipe descobriram que esses erros eram cometidos mesmo quando os participantes olhavam diretamente para a palavrafrutinha caça níquelquestão.
E embora o inglês fosse a língua principal da maioria dos participantes, eles cometeram mais errosfrutinha caça níquelintrusão com palavrasfrutinha caça níquelinglês do que com as palavras que deviam dizerfrutinha caça níquelespanhol, idioma que não dominavam tanto — algo que, segundo Gollan, é quase como uma inversão do domínio do idioma.
"Acho que a melhor analogia é imaginar que há uma condição na qual vocêfrutinha caça níquelrepente se torna melhorfrutinha caça níquelescrever comfrutinha caça níquelmão não dominante", diz ela.
"Chamamos issofrutinha caça níqueldominância invertida, e estamos dando grande importância a isso, porque quanto mais penso sobre isso, mais percebo o quão único e louco isso é."
Isso pode acontecer, inclusive, quando estamos aprendendo uma segunda língua — quando os adultos estão imersos no novo idioma, podem achar mais difícil acessar as palavras nafrutinha caça níquellíngua nativa.
De acordo com Gollan, os efeitos da dominância invertida podem ser particularmente evidentes quando os bilíngues alternam entre os idiomasfrutinha caça níqueluma mesma conversa.
Ela explica que, ao misturar idiomas, os multilíngues fazem uma espéciefrutinha caça níquelmalabarismo, inibindo o idioma mais forte para equilibrar as coisas — e, às vezes, vão longe demais na direção errada.
"Os bilíngues tentam tornar as duas línguas igualmente acessíveis, inibindo a língua dominante para facilitar a alternância", diz ela. "Mas, às vezes, eles 'excedem' nessa inibição, e acabam falando mais devagar do que na língua que não é dominante."
Os experimentos conduzidos por Gollan também se depararam com a dominância invertidafrutinha caça níqueloutra área surpreendente: a pronúncia.
Os participantes, às vezes, liam uma palavra no idioma certo, mas com o sotaque equivocado. E, novamente, isso acontecia mais com as palavrasfrutinha caça níquelinglês (idioma dominante) do quefrutinha caça níquelespanhol.
"Às vezes, os bilíngues falam a palavra certa, mas com o sotaque errado, o que é uma dissociação realmente interessante que indica que o controle da linguagem está sendo aplicadofrutinha caça níqueldiferentes níveisfrutinha caça níquelprocessamento", diz Gollan.
"E há uma separação entre a especificação do sotaque e a especificaçãofrutinha caça níquelqual léxico você vai extrair as palavras."
Até mesmo o uso da gramática na nossa língua nativa pode ser afetadofrutinha caça níquelmaneiras surpreendentes, especialmente se você estiver muito imersofrutinha caça níquelum ambiente linguístico diferente.
"O cérebro é maleável e adaptável", explica Kristina Kasparian, escritora, tradutora e consultora que estudou neurolinguística na Universidade McGillfrutinha caça níquelMontreal, no Canadá.
"Quando você está imersofrutinha caça níquelum segundo idioma, isso afeta a maneira como você percebe e processa seu idioma nativo."
Como partefrutinha caça níquelum projeto mais amplo feito parafrutinha caça níquelpesquisafrutinha caça níqueldoutorado, Kasparian e seus colegas realizaram testes com pessoas cujo italiano era a língua nativa e que haviam migrado para o Canadá e aprendido inglês quando adultos.
Todos haviam declarado que seu italiano estava ficando enferrujado e que não o usavam muito no dia a dia.
Os pesquisadores mostraram aos participantes uma sériefrutinha caça níquelfrasesfrutinha caça níquelitaliano e pediram a eles para avaliar o quão aceitável eram gramaticalmente.
Ao mesmo tempo, a atividade cerebral deles também foi medida por meiofrutinha caça níquelum métodofrutinha caça níqueleletroencefalografia (EEG). As respostas deles foram comparadas àsfrutinha caça níquelum grupofrutinha caça níquelitalianos monolíngues que vivia na Itália.
"Havia quatro tipos diferentesfrutinha caça níquelfrases, e duas delas eram aceitáveis tantofrutinha caça níquelitaliano quantofrutinha caça níquelinglês, e duas delas eram aceitáveis apenasfrutinha caça níquelitaliano", diz Kasparian.
Os migrantes italianos eram mais propensos a rejeitar frases corretasfrutinha caça níquelitaliano como não gramaticais, se não correspondessem à gramática correta do inglês.
E quanto maior a proficiênciafrutinha caça níquelinglês, quanto mais tempo moravam no Canadá, e quanto menos usavam o italiano, maior a probabilidadefrutinha caça níquelacharem que as frases corretasfrutinha caça níquelitaliano estavam incorretas gramaticalmente.
Eles também apresentaram padrões diferentesfrutinha caça níquelatividade cerebralfrutinha caça níquelcomparação com os italianos que viviam na Itália.
E os pesquisadores descobriram que, quando apresentados a frases que eram gramaticalmente aceitáveis apenasfrutinha caça níquelitaliano (mas nãofrutinha caça níquelinglês), os italianos que moravam no Canadá apresentavam padrõesfrutinha caça níquelatividade cerebral diferentes dos que viviam na Itália.
Na verdade,frutinha caça níquelatividade cerebral era mais consistente com o que seria esperadofrutinha caça níquelfalantesfrutinha caça níquelinglês, diz Kasparian, sugerindo que seus cérebros estavam processando as frasesfrutinha caça níquelmaneira diferentefrutinha caça níquelseus homólogos monolíngues na Itália.
O inglês depende mais da ordem das palavras do que o italiano, explica Kasparian. E os migrantes confiavam mais nas pistas gramaticais do inglês, diz ela, embora estivessem lendofrutinha caça níquelitaliano.
"Até o primeiro idioma pode mudar, mesmo que seja um idioma que você usou todos os dias durante a maior partefrutinha caça níquelsua vida", afirma.
É claro que a maioria das pessoas multilíngues é capazfrutinha caça níquelmanter a gramáticafrutinha caça níquelsua língua nativa sem problema.
Mas o estudofrutinha caça níquelKasparian, assim como outros feitos como partefrutinha caça níquelseu projetofrutinha caça níquelpesquisa mais amplo, mostram que nossas línguas não são estáticas ao longo da vida, mas mutáveis, competindo ativamente e interferindo umas com as outras.
Navegar por essas interferências talvez seja parte do que torna difícil para um adulto aprender um novo idioma, especialmente se ele cresceu monolíngue.
"Toda vez que você fala esse novo idioma, é como se o outro idioma dissesse: 'Ei, estou aqui, pronto'", explica Matt Goldrick, professorfrutinha caça níquellinguística da Universidade Northwestern,frutinha caça níquelIllinois, nos EUA.
"Então o desafio é que você tem que suprimir essa coisa que é tão automática e tão fácilfrutinha caça níquelfazer,frutinha caça níquelfavor dessa coisa que é incrivelmente difícilfrutinha caça níquelfazer quando você está aprendendo (um idioma) pela primeira vez."
"Você está tendo que aprender a puxar as rédeasfrutinha caça níquelalgo que você normalmente nunca tem que inibir, que apenas sai naturalmente, certo? Não há razão para conter. E acho que essa é uma habilidade muito difícil que alguém tem que desenvolver, e é parte do motivo pelo qual é tão difícil."
Uma coisa que pode ajudar? Ficar imerso no ambiente da língua estrangeira.
"Você está criando um contexto no qual está retendo fortemente essa outra língua e está praticando bastante, retendo essa outra coisa,frutinha caça níquelmodo que dá espaço para a outra (nova) língua se tornar mais forte", diz Goldrick.
"E depois, quando você voltar dessa experiênciafrutinha caça níquelimersão, provavelmente estaráfrutinha caça níqueluma posição na qual será capazfrutinha caça níquelgerir melhor essa competição", acrescenta.
"Isso nunca vai acabar, essa competição nunca vai acabar, você só fica melhorfrutinha caça níqueldominá-la."
Esse domínio é certamente algofrutinha caça níquelque os multilíngues tendem a ter muita prática.
Muitos pesquisadores argumentam que isso oferece a eles certas vantagens cognitivas — mas é importante observar que ainda não existe um consenso, já que outros afirmam que suas próprias pesquisas não mostram evidências confiáveisfrutinha caça níqueluma vantagem cognitiva bilíngue.
Seja lá como for, o uso das línguas é sem dúvida uma das atividades mais complexas que os seres humanos aprendem a fazer. E ter que dominar vários idiomas tem sido associado a benefícios cognitivosfrutinha caça níquelmuitos estudos, dependendo da tarefa e da idade.
Alguns estudos mostraram que pessoas bilíngues apresentam um desempenho melhorfrutinha caça níqueltarefasfrutinha caça níquelcontrole executivo — por exemplo,frutinha caça níquelatividadesfrutinha caça níquelque os participantes precisam se concentrarfrutinha caça níquelinformações contraintuitivas.
Falar vários idiomas também tem sido associado a um retardo no aparecimento dos sintomasfrutinha caça níqueldemência.
E, claro, o multilinguismo oferece muitos benefícios óbvios que vão além do cérebro, inclusive o benefício socialfrutinha caça níquelpoder falar com muita gente.
Mas, embora meu multilinguismo possa ter me oferecido algumas vantagens, não poupou meus rubores.
Um tanto envergonhada, ainda não voltei àquela padaria desde meu incidente linguístico.
Talvez mais idas à padaria sejam necessárias então — tudofrutinha caça níquelnome da prática do domínio do idioma, é claro.
frutinha caça níquel Leia a versão original desta reportagem frutinha caça níquel (em inglês) no site BBC Future frutinha caça níquel .
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