Dieta vegana pode ser segura para crianças?:quadra da quina

Estima-se que 400 milhõesquadra da quinapessoas na Índia (o que representa 39% da população do país) identifiquem-se como vegetarianas por razões religiosas e outros motivos,quadra da quinacomparação com apenas cercaquadra da quina5% nos Estados Unidos.

A dieta vegetariana não é igual à vegana. Ela normalmente inclui, por exemplo, laticínios, enquanto a dieta vegana evita todos os produtos animais. Mas o legado vegetariano da Índia resultouquadra da quinauma culinária particularmente diversificada, com pratosquadra da quinaorigem vegetal que são facilmente adaptados às preferências dos veganos.

Aliada às novas descobertas científicas sobre dietasquadra da quinaorigem vegetal feitas por pesquisadoresquadra da quinatodo o mundo, essa experiência poderá também ajudar os pais a responder uma questão fundamental: a dieta vegana é segura para as crianças?

Veganismoquadra da quinacrescimento

O veganismo vem ganhando forçaquadra da quinatodo o mundo, apoiado por campanhas como o "Veganeiro" (que incentiva as pessoas a serem veganas por um mês,quadra da quinajaneiro), além do aumento da consciência sobre os benefícios da alimentação livrequadra da quinacarne e laticínios para o clima do planeta.

Cada vez mais pesquisas indicam que a alimentaçãoquadra da quinaorigem vegetal traz uma sériequadra da quinabenefícios para a saúde dos adultos. Na Índia, o crescente movimento vegano tira proveitoquadra da quinauma antiga tradição. Influenciadores e grupos veganos nas redes sociais destacam o poder nutricional dos cereais, leguminosas e grãos locais.

Os veganos da Índia trocam receitas tradicionaisquadra da quinagrupos como Cooking with Millets, no Facebook ("Cozinhando com milhetes",quadra da quinatradução livre). O grupo promove esse cereal que é endêmico na Índia.

Influenciadores veganos promovem os benefíciosquadra da quinaingredientes antigos, como lentilhas, grão-de-bico e feijão-mungo. Em 2016, a Academia Internacional Alemã - um internato na cidadequadra da quinaChennai, no sul da Índia - chegou às manchetes após tornar-se uma escola totalmente vegana.

E, embora muitos vegetarianos indianos sigam consumindo produtos lácteos como ghee (manteiga clarificada), iogurte e paneer (queijo cottage), Jain indica que, no passado, nem sempre isso acontecia, pois muitos pratos tradicionais indianos não contêm laticínios.

Mas, para as crianças, os riscos e benefícios da dieta vegana são um pouco mais complexos que para os adultos.

A dieta vegana segura

O aspecto mais importante a ser considerado talvez seja que uma criançaquadra da quinacrescimento precisaquadra da quinanutrientes específicos para cada fase do seu desenvolvimento. Se esses nutrientes não forem fornecidos, as consequências podem ser perigosas, especialmente para as crianças mais jovens.

A alimentação das crianças também precisa incluir alto teorquadra da quinaenergia e nutrientes, já que as porções dos alimentos são menores.

"As crianças e os bebês estão crescendo e se desenvolvendo rapidamente, especialmente na primeira infância. Eles têm enorme necessidadequadra da quinacertos nutrientes, mas seus estômagos são relativamente pequenos. Isso significa que os alimentos fornecidos devem oferecer o máximoquadra da quinanutrientes e energia suficientequadra da quinavolume relativamente pequeno", explica Mary Fewtrell, professoraquadra da quinanutrição pediátrica do Institutoquadra da quinaSaúde Infantil Great Ormond Street, do University College London (UCL).

Para os bebês, o leite materno é considerado a melhor formaquadra da quinafornecer a nutrição e a energiaquadra da quinaque eles precisam para crescer, enquanto a dieta vegana precisa ser cuidadosamente planejada para garantir que atenda às necessidades das crianças maiores.

De fato, o veganismo sem orientação já resultouquadra da quinatragédias nessa faixa etária que, embora raras, poderiam ter sido evitadas.

Em 2016, uma criança com um anoquadra da quinaidade, que recebia alimentação vegana, foi retirada dos seus paisquadra da quinaMilão, na Itália, depois que seus examesquadra da quinasangue revelaram níveis perigosamente baixosquadra da quinacálcio. A imprensa italiana noticiou que a criança, com um anoquadra da quinaidade, pesava o mesmo que um bebêquadra da quinatrês meses e que seu nívelquadra da quinacálcio era apenas o suficiente para que ele conseguisse sobreviver.

Em 2017, um tribunal da Bélgica condenou os paisquadra da quinaum bebêquadra da quinasete meses que havia morridoquadra da quinadesidratação e desnutrição, depois que o menino recebeu uma dietaquadra da quinaleite vegetal feitoquadra da quinaaveia, trigo sarraceno, arroz e quinoa.

Para as crianças mais velhas, as pesquisas indicam que a alimentação vegana pode ter benefícios, mas também algumas desvantagens.

Pesquisas revolucionárias

Em 2021, um estudo publicado pelo American Journal of Clinical Nutrition comparou os efeitos da alimentação vegana, vegetariana e onívora sobre a saúdequadra da quinacrianças polonesas com 5 a 10 anosquadra da quinaidade. O estudo pesquisou 63 vegetarianos, 52 veganos e 72 onívoros (este último grupo teve alimentação diversa, que incluiu carne e laticínios).

Malgorzata Desmond, a principal autora do estudo, agora é pesquisadora honorária do Institutoquadra da quinaSaúde Infantil Great Ormond Street do UCL. Segundo ela, "embora o númeroquadra da quinacrianças do nosso estudo fosse relativamente pequeno, este é o maior estudo do seu tipo já realizado especificamente com crianças veganas dessa idade - o primeiro que reuniu [mais de] 50 participantesquadra da quinacada grupoquadra da quinaalimentação vegetal, comparando-os com onívoros cuidadosamente selecionados".

Mary Fewtrell também foi autora do estudo, que identificou pontos bons e ruins para as crianças veganas.

"A boa notícia é que,quadra da quinacomparação com os onívoros, as crianças veganas ficavamquadra da quinamelhor forma e tinham melhores índicesquadra da quinarisco cardiovascular, como colesterol mais baixo", destaca ela. Isso pode colaborar para reduzir o riscoquadra da quinadoenças cardíacasquadra da quinafases posteriores da vida. "A desvantagem é que elas eram mais baixas e tinham menos massa óssea que o esperado para aquadra da quinaidade."

As crianças veganas tinham,quadra da quinamédia, 3cm a menosquadra da quinaaltura, mas isso não quer dizer que elas fossem raquíticas ou que seriam mais baixas para sempre, segundo Jonathan Wells, professorquadra da quinaantropologia e nutrição pediátrica do UCL e outro dos autores do estudo.

"As crianças veganas tinham menos massa gorda e tendência a pesar menos", afirma Wells. "É possível que elas atingissem a puberdade um pouco mais tarde. Nós observamos que as crianças que atingem a puberdade mais tarde, na verdade, ampliaram seu períodoquadra da quinacrescimento, pois elas passam mais anos crescendo."

Por isso, existe a possibilidadequadra da quinaque essas crianças fiquem mais altas quando ficarem adultas.

A única descoberta que os pesquisadores consideraram preocupante foi a densidade mineral óssea comparativamente mais baixa das crianças veganas.

"O osso atingequadra da quinadensidade ideal com pouco maisquadra da quina20 anosquadra da quinaidade. Por isso, se você não formar densidade óssea nessa idade, não conseguirá fazê-lo mais tarde", explica Wells.

As pessoas com densidade mineral óssea mais baixa na idade adulta sentirão seus impactos na terceira idade, tornando-se mais vulneráveis a doenças como a osteoporose, já que os ossos lentamente ficam mais frágeis.

"Por isso, a alimentação vegana pode ter mudado o perfil das doençasquadra da quinamaior risco para as pessoas à medida que envelhecem", segundo Wells. "Em vezquadra da quinadoenças cardiovasculares [doenças do coração], elas podem ter tendência a sofrer doenças dos ossos (ossos mais fracos). Mas isso não quer dizer que agora elas não sejam saudáveis."

Algumas das conclusões do estudo foram surpreendentes. As crianças vegetarianas, por exemplo, apresentaram tendência a consumir mais produtos não saudáveis, como pizza e refrigerantes - um lembretequadra da quinaque a alimentação vegetariana sozinha não é garantiaquadra da quinaum menu saudável e equilibrado.

E, como eraquadra da quinase esperar, os onívoros tiveram a ingestão estimadaquadra da quinaproteínas mais alta e os veganos, a mais baixa. Mas os vegetarianos tiveram a ingestão estimada mais altaquadra da quinacálcio (enquanto os veganos tiveram a mais baixa).

Cercaquadra da quinaum terço das crianças do estudo com alimentação vegana ou vegetariana não receberam suplementosquadra da quinavitamina B12, nem alimentos enriquecidos com vitamina B12 - embora esses suplementos sejam normalmente recomendados para pessoas com alimentaçãoquadra da quinaorigem vegetal.

A Academiaquadra da quinaNutrição e Dietéticos dos Estados Unidos, por exemplo, afirma que dietas veganas e vegetarianas bem planejadas são apropriadas para todos os estágios da vida, incluindo a gravidez e a infância. Mas ela também acrescenta que os veganos precisam garantir a ingestãoquadra da quinavitamina B12, seja na formaquadra da quinasuplementos ouquadra da quinaalimentos enriquecidos.

Uma conclusão possível é que algumas dessas dietasquadra da quinaorigem vegetal poderiam ter melhores resultados se incluíssem ingredientes mais nutritivos. Ou, como os autores afirmam no estudo: "crianças veganas e vegetarianas precisamquadra da quinaorientação para comerquadra da quinaforma saudável, alémquadra da quinaconselhos sobre suplementação".

Em termos gerais, os estudos sobre dietas vegetais - vegetarianas, não apenas veganas - tendem a concluir que elas são seguras para crianças.

Um estudo longitudinal envolvendo crianças com seis meses a oito anosquadra da quinaidade nos Estados Unidos concluiu que não há provasquadra da quinadiferenças clinicamente significativas no crescimento ou no estado nutricionalquadra da quinacrianças com alimentação vegetariana,quadra da quinacomparação com as demais. Mas as crianças vegetarianas (a amostra também incluiu crianças veganas) apresentaram maior possibilidadequadra da quinaficarem abaixo do peso.

A Sociedade Alemãquadra da quinaMedicina Pediátrica e dos Adolescentes também adotou uma posição geral favorávelquadra da quinaum estudoquadra da quina2019 sobre a alimentação vegetariana (incluindo vegana) para crianças e adolescentes. Ela afirmou que "as necessidades nutricionais das crianças e adolescentesquadra da quinacrescimento podem ser geralmente atendidas com uma dieta vegetal equilibrada", apenas acrescentando que a alimentação vegetariana na infância e na adolescência exige a supervisãoquadra da quinaum pediatra e que os veganos devem receber suplementaçãoquadra da quinavitamina B12.

E a alimentação baseadaquadra da quinacarne também pode apresentar seus próprios riscos, devido aos hormônios encontrados na carne e no leite. Mas as evidências a este respeito são contraditórias.

Os autoresquadra da quinauma análisequadra da quinaestudos sobre estrogênios no leitequadra da quinavaca e seus potenciais efeitos à saúde humana afirmam que "na pecuária intensiva, a concentraçãoquadra da quinaestrogênios no leite é mais alta devido aos longos períodosquadra da quinaordenha". Eles indicam que a exposição a esses hormônios pode afetar as crianças, prejudicando seu desenvolvimentoquadra da quinaformas que somente podem ficar evidentes na vida adulta - menor númeroquadra da quinaespermatozoides, por exemplo.

Mas eles também argumentam que o leite traz uma sériequadra da quinabenefícios para a saúde. A análise conclui que, embora a quantidadequadra da quinaestrogênios no leitequadra da quinavaca seja baixa demais para prejudicar a saúdequadra da quinahumanos adultos, mais pesquisas são necessárias para determinar o impacto sobre as crianças, especialmente nos primeiros estágiosquadra da quinadesenvolvimento.

De volta às raízes

Nos últimos anos, a atenção global tem se voltado com frequência para as novidadesquadra da quinaorigem vegetal. Queijos veganos ou hambúrgueres sem carne facilitaram para muitas pessoas a mudança para uma alimentação mais baseadaquadra da quinaplantas.

Mas o foco sobre essas surpreendentes inovações pode nos fazer esquecer outros ingredientes que estão disponíveis há séculos e poderiam corrigir possíveis falhas nutricionais nas refeições das famílias veganas.

Bhavya Chandra Prem, engenheira técnica com 33 anosquadra da quinaidade, cresceu no distritoquadra da quinaKunnur, no Estadoquadra da quinaKerala (sul da Índia). Sua alimentação era predominantemente não vegetariana e incluía carne, galinha ensopada e parathas (um tipoquadra da quinapão achatado indiano).

Em 2014, depoisquadra da quinamudar-se para cursar a universidade na Espanha, Prem tornou-se vegana quase que da noite para o dia, quando uma amiga vegana que morava com ela perguntou: "por que você iria querer matar e comer algo que você ama?"

Uma rápida pesquisa mostrou a ela a horrível realidade da indústria da carne e laticínios. "Assisti a alguns documentários, como Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade e Earthlings [Terráqueos, no Brasil] e não podia viver uma mentira consumindo produtosquadra da quinacarne, leite ou peixe. Desde então, eu me tornei vegana e não olhei mais para trás", conta Prem, que agora vive na República Checa.

Em 2020, quando soube que estava grávida, ela passou por enjoos matinais terríveis até o sexto mêsquadra da quinagestação e quase não conseguia manter nada no estômago, alémquadra da quinabolachas, arroz e sopa. Quando essa fase passou, ela começou a procurar alimentos veganos mais saudáveis e ricosquadra da quinanutrientes, com o apoio do marido, que é italiano. O ginecologistaquadra da quinaPrem disse que seguir uma dieta vegana não prejudicariaquadra da quinacriançaquadra da quinacrescimento, desde que ela comesse alimentos com alto teorquadra da quinaproteínas.

"Eu comia diferentes tiposquadra da quinadals [prato indiano preparado com leguminosas], lentilhas, legumes e toneladasquadra da quinasopas vegetais, tofu e produtosquadra da quinasoja", ela conta. Seus pratos preferidos eram cherupayaru (curry preparado com feijão-mungo) e os ensopados típicosquadra da quinaKerala, que costumam incluir leitequadra da quinacoco.

Em novembroquadra da quina2021, seu bebê nasceu saudável com 3,6 kg e está se desenvolvendo bem, segundo ela. Prem destaca que não quer impor seus próprios valores éticos ao seu filho, mas vai apresentar a ele alimentos mais diversificados, sem carne, à medida que ele crescer.

Ricosquadra da quinaproteínas

A nutróloga Edwina Raj, dos hospitais Aster CMIquadra da quinaBangalore, no sul da Índia, indica que os alimentos tradicionais da Índia oferecem muitas opções para os veganos.

"Temos visto veganos que dependem muito das farinhas refinadas e dos carboidratos", afirma ela. "Mas eles precisam concentrar-se nos carboidratos complexos. Nós indicamos as diversas variedadesquadra da quinaarroz integral - vermelho, marrom e preto. Os pais veganos precisarão terquadra da quinamente que a necessidadequadra da quinaproteína na alimentação équadra da quina1 g por kgquadra da quinapeso do corpo [por dia] e planejar as refeições adequadamente."

Raj recomenda milhetes, lentilhas, ervilhas verdes secas e feijão como fontesquadra da quinaproteínaquadra da quinaalta qualidade.

A nutricionista pediátrica vegana Karla Moreno-Bryce,quadra da quinaMinneapolis, nos Estados Unidos, argumenta que, independentemente da culinária escolhida pela família, pode ser relativamente fácil planejar refeições veganas saudáveis.

"Preparar refeições para crianças veganas exige apenas um poucoquadra da quinaatenção para garantir que os principais nutrientes (ferro, zinco, iodo, ômega 3, cálcio, vitamina D e vitamina B12) sejam oferecidos ao longo do dia com uma variedadequadra da quinaalimentos vegetais e suplementos alimentares", orienta ela.

"É particularmente importante que todas as crianças veganas recebam um suplemento confiávelquadra da quinavitamina B12, preferencialmente quando começarem a ingerir alimentos sólidos. Essa substância não existe na naturezaquadra da quinaalimentos vegetais e os suplementos, alémquadra da quinaalimentos enriquecidos, são a fonte mais confiável para fornecer esse importante nutriente", segundo Moreno-Bryce.

Ela afirma que, com a combinação corretaquadra da quinaingredientes, os pais podem oferecer versões veganas saudáveisquadra da quinamuitas culinárias diferentes. "Muitos pais veganos preocupam-sequadra da quinagarantir que as refeições dos seus filhos consistamquadra da quinalegumes e verduras. Embora sejam importantes e forneçam muitos nutrientes, eles não contêm as calorias [necessárias] para sustentar o crescimento e o desenvolvimento da criança."

"Eu aconselho os pais veganos a concentrar-sequadra da quinaoferecer alimentos ricosquadra da quinaferro (como feijão, lentilhas e tofu) e gordura (como abacate e manteigasquadra da quinanozes), pois estes são dois nutrientes importantes durante os períodosquadra da quinarápido crescimento", orienta Moreno-Bryce.

Para atender às crescentes necessidades nutricionais daquadra da quinafilha vegana na Índia, Ashish Kumar Jain procura verduras cultivadas naquadra da quinaregião, como os espinafres locais, methi (folhasquadra da quinafeno-grego), sementesquadra da quinacominho, coentro e folhasquadra da quinacurry, alémquadra da quinasementesquadra da quinagergelim, tofu e milhete, ricasquadra da quinanutrientes. Jain substitui o leite por extratosquadra da quinaamêndoas equadra da quinacoco e produz "queijo"quadra da quinacastanhasquadra da quinacaju e batatas, alémquadra da quinaiogurtequadra da quinaleitequadra da quinaamendoim.

"Nós nunca sentimos falta dos laticínios", ele conta. "E existem muitas razões para priorizar o veganismo, que vão além da alimentação e da saúde - a compaixão pelos animais, o clima e a sustentabilidade. O veganismo é um movimentoquadra da quinajustiça social, alémquadra da quinaser uma escolha saudável."

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Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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