'Devorado' por bactéria, Titanic pode desaparecerpasso a passo betanobreve:passo a passo betano

Restos do Titanic

Crédito, NOAA/Science Photo Library

Legenda da foto, Os restos do Titanic nas profundezas do Atlântico
Titanic

Crédito, World History Archive/Alamy

Legenda da foto, O Titanic afundou empasso a passo betanoprimeira viagem

O que se sabe sobre os micro-organismos responsáveis por isso?

A história começoupasso a passo betano1991, quando cientistas da Universidadepasso a passo betanoDalhousiepasso a passo betanoHalifax (Canadá) coletaram amostraspasso a passo betanoformaçõespasso a passo betanoferrugempasso a passo betanoformatopasso a passo betanopingente caindo do navio.

Só que apenaspasso a passo betano2010 um outro grupopasso a passo betanocientistas, liderados por Henrietta Mann, da mesma universidade, decidiu identificar que tipopasso a passo betanovida havia ali.

Eles isolaram uma das espéciespasso a passo betanobactéria e descobriram uma novidade para a ciência. Mann e seus colegas a chamarampasso a passo betanoHalomonas titanicae em homenagem ao navio.

A bactéria consegue sobreviverpasso a passo betanocondições completamente inabitáveis para a maioria das formaspasso a passo betanovida na Terra: água completamente escura e com uma forte pressão.

Mas ela tinha outro truque, ainda mais impressionante. Bactérias Halomonas frequentemente são encontradas vivendopasso a passo betanooutro ambiente extremo: pântanospasso a passo betanosal. Aqui, a salinidade da água pode variar dramaticamente por causa da evaporação, e as bactérias Halomonas evoluiram para lidar com o problema.

Pântano

Crédito, Stockimo/Alamy

Legenda da foto, Bactérias Halomonas frequentemente vivempasso a passo betanopântanospasso a passo betanosal

Não há muitos organismos capazespasso a passo betanofazer o que as bactérias Halomonas conseguem. Joe Saccai, do Instituto Laue-Langevinpasso a passo betanoGrenoble (França), faz partepasso a passo betanouma equipe internacionalpasso a passo betanocientistas que analisou como a bactéria consegue sobreviverpasso a passo betanocondições tão extremas e variáveis. Eles descobriram que as Halomonas usam uma molécula chamadapasso a passo betanoectoína para se proteger da pressão da osmose.

"Se uma célula sobreviverpasso a passo betanoum ambiente com sal flutuante, deve haver uma formapasso a passo betanocompensar isso ao ajustar a concentraçãopasso a passo betanosua solução interna", diz Zaccai. "A Halomonas produz ectoína para contrabalancear a pressão osmóticapasso a passo betanofora. Conforme a concentraçãopasso a passo betanosal externa flutua, a resposta da concentração da ectoína responderá a ela".

Em outras palavras, quanto mais salgada a água, mais ectoína a bactéria produz dentropasso a passo betanosuas células para impedir que a água saia. Porém, essa adaptação pode ser altamente perigosa para um organismo. Quanto mais material há dentropasso a passo betanouma célula, mais ele pode ficar acumulado entre as moléculaspasso a passo betanoágua, atrapalhando as propriedades únicas da água.

Sal

Crédito, incamerastock/Alamy

Legenda da foto, Bactérias Halomonas conseguem sobreviver a níveis altospasso a passo betanosal

O motivo pelo qual a água é tão necessária para a vida é que os laços únicos com seus átomos - conhecidos como ligaçõespasso a passo betanohidrogênio - permitem que ela aja como um solvente. Outros químicos podem ser dissolvidos nela e reagir juntos.

As reações da vida precisam acontecerpasso a passo betanouma solução, por isso que todas as nossas células estãopasso a passo betanoágua líquida. Além disso, RNA e DNA, as proteínas e enzimas responsáveis por realizar o trabalho diário da célula, e as membranas que lhes dão estrutura, precisam estar cercados por uma camadapasso a passo betanoágua para funcionar.

Essa camadapasso a passo betanoágua, conhecida como "conchapasso a passo betanohidratação", é crucial para manter as dobraduras corretas das proteínas para que elas funcionem. Se isso é interrompido, as proteínas podem desfiar e cair, o que pode matar a célula.

Como a bactéria é claramente capazpasso a passo betanoacumular concentrações extremamente altaspasso a passo betanoectoína dentropasso a passo betanosuas células - o estudo descobriu que a Halomonas produz tanta ectoína que corresponde por 20% da massa do micróbio -, a molécula precisa colocar essas propriedades importantes da água no lugarpasso a passo betanoalguma maneira.

Para investigar como isso acontece, os cientistas liderados por Zaccai bombardearam a bactéria com um feixepasso a passo betanonêutrons. Ao olhar para o padrão produzido pelo choque dos nêutrons nos átomos nas membranas e proteínas das células dos micróbios, os cientistas conseguiram olhar para as estruturas a nível molecular e atômico.

Há poucos lugares no mundo que são equipados para tais experimentos. Os pesquisadores trabalharam no Instituto Laue Langevin, um dos vários centrospasso a passo betanopesquisapasso a passo betanonêutrons no mundo.

"Ao observar como nêutrons foram dispersadospasso a passo betanodiferentes amostras, conseguimos demonstrar como e ectoína agepasso a passo betanoproteínas e membranaspasso a passo betanocélulas e, mais importante que isso, na água", diz Zaccai. "Em vezpasso a passo betanointerferir, a ectoína na verdade aumenta as propriedades solventes da água que são essencais para a biologia".

Acontece que, não importa quanta ectoína dissolvida exista dentro da célula, a cascapasso a passo betanoágua que cerca as proteínas e as membranas celulares continua sendo 100% água, o que permite que o metabolismo continue normal. Isso acontece porque, quando a ectoína forma ligaçõespasso a passo betanohidrogênio com a água, ela forma agrupamentos grandes que não caberão nas superfíciespasso a passo betanomembranas e proteínas, mas apenas água pura consegue ser mantida.

Bactérias colonizadoras

Investigações iniciais de H. titanicae mostraram que ela consegue crescerpasso a passo betanouma água com uma proporçãopasso a passo betanopeso/volume entre 0,5% e 25%, embora funcione melhor com uma concentraçãopasso a passo betanosal entre 2% e 8%.

No entanto, não está claro como, ou se, essa tolerância ao sal ajudou a bactéria a colonizar o navio naufragado.

A H. titanicae não é a única bactéria que adora habitar navios. Vários tipospasso a passo betanomicróbios colonizam restospasso a passo betanoembarcações imediatamente depoispasso a passo betanonaufrágios. Elas rapidamente formam películas grudentas sobre toda a superfície disponível, chamadaspasso a passo betano"biofilmes". Esses biofilmes são como um refúgio para corais, esponjas e moluscos, que porpasso a passo betanovez atraem animais maiores.

Rapidamente o navio afundado vira um tipopasso a passo betanorecife com abundânciapasso a passo betanovida.

Um resto ainda não identificado na áreapasso a passo betanoViosca Knoll, no Golfo do México

Crédito, BOEM

Legenda da foto, Um resto ainda não identificado na áreapasso a passo betanoViosca Knoll, no Golfo do México

Restos antigos viram alimentopasso a passo betanomicróbios que se alimentampasso a passo betanomadeira, enquanto navios mais modernospasso a passo betanoaço atraem bactéria como a H. titanicae, que amam comer ferro. Enquanto a H.titanicae pode eventualmente destruir o Titanic, muitas dessas bactérias podem na verdade proteger os naviospasso a passo betanocorrosão, um dos motivos por que ainda existem navios naufragados que datam do século 14.

Em 2014, uma equipepasso a passo betanocientistas do Escritório Americanopasso a passo betanoAdministraçãopasso a passo betanoEnergia do Oceano (BOEM) conduziu o que pode ser considerado o estudo mais aprofundado até hoje da vida microbióticapasso a passo betanonavios. Eles observaram oito restospasso a passo betanonavios na parte norte do Golfo do México. Entre os naufrágios, havia naviospasso a passo betanomadeira e aço do século 19, um do século 17 e três embarcaçõespasso a passo betanoaço da Segunda Guerra Mundial, uma das quais foi afundada por um submarino alemão.

Eles descobriram que o material do navio era o fator crucial que determina o tipopasso a passo betanomicróbio que será atraído. Naviospasso a passo betanomadeira estão repletospasso a passo betanobactérias que se alimentampasso a passo betanocelulose, hemicelulose e lignina encontrada na madeira. Naviospasso a passo betanoaço, por outro lado, estão cheiospasso a passo betanobactérias que se alimentampasso a passo betanoferro.

Estranhamente, apesarpasso a passo betanoa bactéria se alimentar do navio, elas também o protegem da corrosão.

O arco do iate naufragado Anona

Crédito, BOEM

Legenda da foto, O arco do iate naufragado Anona

"Basicamente, o que acontece é que qualquer embarcação que afunda, seja um naviopasso a passo betanomadeira do século 19 ou um naviopasso a passo betanoaço da Segunda Guerra, fica vulnerável a micróbios que rapidamente cobrem todapasso a passo betanosuperfície", diz a arqueóloga marinha Melanie Damour, da BOEMpasso a passo betanoNova Orleans (EUA), uma das cientistas que lideraram a expedição.

"Em um primeiro momento, o navio começará a ser corroídopasso a passo betanocontato com a água do mar, mas conforme os micróbios começam a colonizar o barco, eles formam um biofilme, que é uma camada protetora entre o navio e a água do mar", diz Damour.

Isso significa que qualquer tipopasso a passo betanoimpacto mecânico, como uma âncora sendo arrastada pelo naufrágio, quebrará essa superfície protetora e vai expor mais uma vez o metal à água do mar, acelerando a corrosão.

Não é apenas o impacto mecânico que tem esse efeito. O desastrepasso a passo betano2010 da Deepwater Horizon derrubou milhõespasso a passo betanogalõespasso a passo betanopetróleo no Golfo do México e boa parte dele chegou às profundezas do oceano. Em experimentospasso a passo betanolaboratório, a equipe descobriu que a exposição ao petróleo pode acelerar a corrosão do material do navio.

Isso sugere que o petróleo do derramamentopasso a passo betanoDeepwater Horizon pode estar acelerando a corrosãopasso a passo betanonavios no fundo no mar, mas os pesquisadores ainda não conseguiram confirmar essa hipótese.

Um naufrágio no fundo do Golfo do México

Crédito, BOEM

Legenda da foto, Um naufrágio no fundo do Golfo do México

"Cada bactéria, fungo e micróbio tem uma função específica que é resultadopasso a passo betanomilhõespasso a passo betanoanospasso a passo betanoevolução", diz Damour.

"Bactériaspasso a passo betanoreduçãopasso a passo betanosulfatopasso a passo betanoferro são atraídas pelo aço dos navios, mas outras amam os hidrocarbonetos que formam o petróleo, então elas se multiplicaram depois do derramentopasso a passo betano2010. No entanto, descobrimos que nem todos os micróbios conseguem lidar com a exposição ao petróleo e aos dispersantes químicos e alguns os consideram extremamente tóxicos. Mesmo quatro anos depois, o petróleo ainda estava presente no meio ambiente e o efeito destruidor que tevepasso a passo betanobactérias e biofilmes implica que os navios foram expostos à água do mar e o corroeram bem mais rápido".

A descoberta é alarmante. Há maispasso a passo betanodois mil navios naufragados no fundo do Golfo, desde embarcações do século 16 até os restospasso a passo betanodois submarinos alemães da Segunda Guerra. Esses navios são monumentos históricos importantes que dão uma visão única do passado. Eles também são o lar da vida marina profunda.

Porém, eventualmente, todos os navios - incluindo o Titanic no Atlântico - serão completamente devorados, seja por bactérias que se alimentampasso a passo betanometal ou corrosão da água do mar. O ferro da embarcaçãopasso a passo betano47 mil toneladas acabará no oceano. Em algum momento, parte dele será incorporado aos corpospasso a passo betanoanimais e plantas marinhos. O Titanic então terá sido reciclado.