As pinturas que revelam como realmente vemos o mundo:avatar 1xbet
As descobertasavatar 1xbetneurocientistas, filósofos e psicólogos comprovaram que os métodosavatar 1xbetCézanne apresentam curiosa similaridade com o processamento visual da mente humana. Ele contrariou séculosavatar 1xbetteorias sobre o funcionamento dos olhos ao ilustrar um mundoavatar 1xbetconstante movimento, influenciado pela passagem do tempo e repleto das memórias e emoções do próprio artista.
As visõesavatar 1xbetCézanne sobre a percepção humana representaram uma vida inteiraavatar 1xbetlenta experimentação. Seu quadro Açucareiro, Peras e Xícara Azul (1865-70), por exemplo, mostra Cézanne observando e pintandoavatar 1xbetforma relativamente tradicional. Exceto pelo manuseio mais rústico da tinta, trata-seavatar 1xbetum parente próximoavatar 1xbetcenas tradicionais como Natureza-Morta: Uma Alegoria das Vaidades da Vida Humana, do pintor holandês Harmen Steenwyck - obra da era barroca,avatar 1xbet1640.
Naquele ponto, Cézanne acreditava, respaldado por séculosavatar 1xbetteorias científicas, que o olho humano funciona exatamente como uma câmera: um portal para o fluxoavatar 1xbetverdade visual que constrói um panorama detalhado do nosso ambiente visível.
Esta visão filosófica é resumidaavatar 1xbetum diagrama (elaborado mais ou menos na mesma época da pinturaavatar 1xbetSteenwyck) do estudoavatar 1xbetRené Descartes sobre a visão, La Dioptrique,avatar 1xbet1637. Ele mostra o olho recebendo uma imagem estática do mundo exterior, que é compreendidaavatar 1xbetforma clara pelo cérebro, representado pelo homem idoso ao fundo.
A câmara escura - um dispositivo que projeta imagens nítidasavatar 1xbetuma caixa vedada, aprimorado nos séculos 16 e 17 - parecia confirmar que a percepção funcionava desta forma. Mas, no final dos anos 1870, Cézanne começou a questionar esta premissa.
No seu quadro Natureza-Morta com Pratoavatar 1xbetFrutas (1879-80), a borda do copo cheio d'água é exibidaavatar 1xbetperspectiva distorcida, o papelavatar 1xbetparede no fundo parece estar na frente do pratoavatar 1xbetfrutas (porque a pintura é aplicadaavatar 1xbetforma mais espessa) e a toalhaavatar 1xbetmesa branca parece estar suspensa no espaço, sem repousar realisticamente sobre a ponta da mesa.
Cézanne está nos mostrando que não quer ver a cena a partiravatar 1xbetum ângulo fixo. Ele adotou um olhar móvel, fixando-seavatar 1xbetum elementoavatar 1xbetcada vez. Com isso, quando os objetos são reunidos, podemos observar as inconsistências.
Esta é uma das formasavatar 1xbetque a abordagemavatar 1xbetCézanne se aproxima do que sabemos hoje sobre o processamento da visão humana.
Embora tenhamos pouca consciência disso, nossos olhos não ficam estáticos quando enxergamos. Eles fazem movimentos rápidos e minúsculos (conhecidos como "movimentos sacádicos") entre as áreasavatar 1xbetinteresse visual. A visão compartimentalizadaavatar 1xbetCézanne corresponde aos movimentos sacádicos.
O termo "sacada" foi usado pela primeira vez pelo oftalmologista francês Émile Javal. Ele descobriu o fenômeno mais ou menos na mesma épocaavatar 1xbetque Cézanne pintou Natureza Morta com Pratoavatar 1xbetFrutas:avatar 1xbet1878.
Segundo o escritor Joachim Gasquet, que visitou Cézanneavatar 1xbet1897, o artista ficava até 20 minutos olhando fixamente para pontos isolados dos seus modelos enquanto pintava. Obrasavatar 1xbetarte como Madame Cézanneavatar 1xbetuma Cadeira Amarela (1888-90) e Natureza-Morta com Pratoavatar 1xbetFrutas mostram as singularidades produzidas por essas observações, relacionadas à anatomia do olho humano e ao processoavatar 1xbetmovimentos sacádicos.
No centro da nossa retina (a região no fundo dos olhos), encontra-se um pequeno e denso conjuntoavatar 1xbet"cones" sensíveis que conseguem perceber as cores. Àavatar 1xbetvolta, encontram-se "hastes" que só podem detectar o claro e o escuro.
Por isso, o olho só pode perceber as coresavatar 1xbetuma faixa absolutamente minúscula - efetivamente, apenas alguns grausavatar 1xbetvoltaavatar 1xbetonde estamos olhando diretamente. À medida que os olhos fazem diversos movimentos sacádicos, a mente os "costura" continuamente, processando as informações isoladas para criar a ilusãoavatar 1xbetuma realidade contínua e consistente, comoavatar 1xbetuma fotografia.
Este processo pode parecer pouco intuitivo, mas pode ser comprovado. Se você fixar o olhoavatar 1xbetum único ponto por muito tempo,avatar 1xbetvisão periférica começa a se dissolver. Este fenômeno é conhecido como Efeitoavatar 1xbetTroxler.
Olhar fixo
Segundo o professor Paul Smith, da Universidadeavatar 1xbetWarwick, no Reino Unido, o métodoavatar 1xbetobservaçãoavatar 1xbetCézanne, fixandoavatar 1xbetatenção aos seus modelos, causava anomalias visuais.
Os rostos das pessoas sentadas nos seus retratos (como Madame Cézanneavatar 1xbetuma Cadeira Amarela) parecem ser máscaras, pois ele se concentravaavatar 1xbetpequenas áreasavatar 1xbetdetalhes faciais e não permitia queavatar 1xbetmente observasse o rosto como um todo holístico.
Em Natureza-Morta com Maçãs e um Vasoavatar 1xbetPrímulas (c. 1890), a folha no lado direito não tem caule, o que indica que a fixação visual ininterrupta do pintor sobre a região causou o Efeitoavatar 1xbetTroxler.
O fatoavatar 1xbetque Cézanne mantinha erros intencionalmente nas suas pinturas não significa que ele fosse descuidado. Pelo contrário, Cézanne era cuidadoso e estudado, segundo uma das curadoras da exibição da galeria Tate Modern, Natalia Sidlina.
"Cézanne traduzia originaisavatar 1xbetlatim por diversão", afirma ela, "e era amigoavatar 1xbetalguns dos principais cientistasavatar 1xbetcampos como as ciências naturais, a geologia e a óptica".
Um dos desenvolvimentos mais notáveis da ciência e da óptica ocorridos durante a vidaavatar 1xbetCézanne foi a invenção da fotografia.
Sabemos que Cézanne tinha e até copiava fotografias. Mas as primeiras câmeras, como o daguerreótipo (inventado por Louis Daguerre e apresentado ao públicoavatar 1xbet1839) e o calótipo (inventado por Henry Fox Talbot e apresentadoavatar 1xbet1841), reproduziram o antigo pontoavatar 1xbetvista do "olho" estático, concebido por Descartes.
Elas foram uma desilusão para muitos pintores do século 19, incluindo Cézanne, pois representavam uma alternativa parda e opaca do mundo visto pelos olhos humanos.
No quadro Natureza-Morta com Cupidoavatar 1xbetGesso (c. 1894), Cézanne explorou ainda mais a magia e a excentricidade da percepção humana.
Nessa cena que parece retiradaavatar 1xbetAlice no País das Maravilhas, o espaço não faz sentido lógico. O piso do estúdio, ilustrado no lado direito, é inclinado para cima e a maçã no canto do cômodo é do mesmo tamanho das frutas no prato no plano central.
Se você olhar com cuidado, irá observar que Cézanne pintouavatar 1xbetestatuetaavatar 1xbetCupidoavatar 1xbetvários ângulos - o pé estáavatar 1xbetfrente para nós, mas os quadris parecem girar a 90 graus, como se a estátua fosse observadaavatar 1xbetdiversos pontosavatar 1xbetvista ao mesmo tempo.
Uma natureza-morta convencional como a pinturaavatar 1xbetSteenwyck (e a fotografiaavatar 1xbetDaguerre) nos fornece um momento congelado no tempo, mas essa visãoavatar 1xbetrealidade não condiz com a experiência vivida.
A observação é sempre contínua. Cézanne nos diz que o presente não existe - apenas um fluxo contínuo entre o passado e o futuro.
A forma como experimentamos o tempo tornou-se um tema importante na influente filosofiaavatar 1xbetHenri Bergson (1859-1941) e na literatura do século 20, particularmente na técnicaavatar 1xbetfluxoavatar 1xbetconsciência usada por escritores como T. S. Eliot, James Joyce e Virginia Woolf.
Cézanne causou impacto direto sobre o desenvolvimento do cubismo, inspirando Pablo Picasso e Georges Braque a incorporar a dimensão do tempo àavatar 1xbetpintura, ilustrando pontosavatar 1xbetvista simultâneosavatar 1xbetuma única composição.
Em paisagens como A Montanhaavatar 1xbetSanta Vitória (1902-06), Cézanne explorou como a realidade é uma construção da mente e não dos olhos.
É uma abordagem que vaiavatar 1xbetencontro ao trabalhoavatar 1xbetcientistas do século 19, como o médico alemão Hermann von Helmholtz e o neurologista inglês W. J. Dodds. Ambos demonstraram que a visão não é simplesmente óptica, mas sim influenciada pelas nossas memórias, desejos e pelos sentidos do olfato, paladar e tato.
A profunda familiaridadeavatar 1xbetCézanne com a paisagemavatar 1xbetvolta da Montanhaavatar 1xbetSanta Vitória - seu terreno irregular, mudanças anuaisavatar 1xbetcoloração e diversas perspectivas da própria montanha, indicadas pelos seus vários contornosavatar 1xbetazul - permeouavatar 1xbetformaavatar 1xbetrepresentação.
O feitoavatar 1xbetCézanne, portanto, foi usar o atoavatar 1xbetpintar para analisar a percepção humana com honestidade e curiosidade sem precedentes.
"Cézanne foi o precursor dos movimentos da arte modernista do século 20", resume Natalia Sidlina. "Ele colocou questões no ponto central do que estava fazendo, ele colocou o processo à frente do resultado."
Ao fazê-lo, ele se afastou da noção tradicional dos olhos como câmeras "passivas" e a substituiu por uma consideração mais sutil da percepção como falível, móvel, improvisada, temporal e sempre inerentemente incorporada. E, quanto mais descobrimos sobre a formaavatar 1xbetque o olho interage com a consciência humana, mais a arte cética e investigativaavatar 1xbetCézanne faz sentido.
Talvez por isso, ele continua a ser uma figura tão envolvente na história da arte.
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