Como nasceu e fracassou a invasão da Baía dos Porcosf13 betCuba há 60 anos:f13 bet
José Carlos Cueto |
BBC News Mundo |
Johnny Lópezf13 betla Cruz sente que está sufocado. Trancadof13 betum caminhão com maisf13 bet100 prisioneiros, ele mal consegue respirar.
Dentro do contêiner, os presos se desesperam. Começam a suar. Vários desmaiam.
Alguns arrancam as fivelas do cinto militar para perfurar o teto e deixar entrar um poucof13 betar.
Eles ganham tempo, mas a maioria acha que eles vão ser fuzilados assim que chegarem a Havana.
A viagem termina sete horas depois. Os militares castristas abrem as portas. Vários corpos inertes caem no asfalto. Nove prisioneiros morreram no trajeto.
Quando chega a vezf13 betJohnny sair, ele mal consegue saltar do caminhão.
No "caminhão da morte", eles não são os únicos prisioneiros. No total, distribuídos por diversos veículos, há cercaf13 bet1,1 mil capturados.
São f13 bet los sobreviventes da Brigada 2506, um exércitof13 bet1,4 mil jovens que poucas horas antes fracassou na tentativaf13 betinvadir Cuba, derrotados na Praia Girón pelas tropasf13 betFidel Castro.
A maioria são cubanos exilados que, após o triunfo da revolução, foram recrutados e treinados pela CIA para derrubar o governo revolucionário na ilha.
Fidel Castro havia chegado ao poder dois anos antes, ao vencerf13 bet1ºf13 betjaneirof13 bet1959 o governo golpistaf13 betFulgêncio Batista, a quem acusavamf13 betautoritário e corrupto.
Mas, apesar do grande apoio popular, muitos outros cubanos não compartilhavam das ideias revolucionáriasf13 betCastro e se exilaram.
O ataque à Baía dos Porcosf13 bet1961, no entanto, estava condenado ao fracasso antes mesmo do primeiro disparo. E a Brigada ainda responsabiliza Washington.
Da Casa Branca, o então presidente John Fitzgerald Kennedy cancelou na última hora os ataques aéreos que iriam neutralizar as aeronaves castristas.
Isso aconteceu porque os Estados Unidos não podiam figurar como a força motriz por trás da invasão. Não só prejudicavaf13 betimagem internacional, como também dava uma desculpa à União Soviética, que se consolidava como aliada-chavef13 betCastro, para retaliar e provocar um conflito nuclear sem precedentes.
Assim, os jovens determinados, mas também inexperientes, que sonhavamf13 bet"libertar Cuba do castrismo", resistiram menosf13 bet72 horas.
Eles desembarcaram na madrugadaf13 bet17f13 betabrilf13 bet1961. Na tardef13 bet19f13 betabril, já haviam sido derrotados.
Os sobreviventes da Brigada 2506 foram libertados após intensas negociações no Natalf13 bet1962, um ano e meio depois.
Os brigadistas que ainda estão vivos seguem aguardando no exílio a queda do governo socialista cubano.
Enquanto isso, Cuba comemora todo dia 19f13 betabril como uma pequena nação derrotou um exércitof13 bet"mercenários" financiados pelo país mais poderoso do mundo.
Já passaram 60 anos
Esta é a históriaf13 betcomo a invasão foi concebida, por que fracassou e o quanto marcou seus protagonistas.
Por que deixeif13 betapoiar Fidel e me juntei à invasão
Johnny Lópezf13 betla Cruz
Johnny Lópezf13 betla Cruz, hoje com 80 anos, é o atual presidente da Associaçãof13 betVeteranos da Brigada 2506. Ele fez parte do batalhãof13 betparaquedistas da invasão da Baía dos Porcos. Ele conta como se exilou e se juntou à Brigada:
Abri meus olhosf13 betrelação a Castro no diaf13 betque mataram o sargento Benítez.
O sargento Benítez era da políciaf13 betBatista, um bom amigo da família que nunca saiuf13 betCuba por considerar que não havia feito nadaf13 beterrado.
Eu apoiava Castro no início. Ele nunca disse ser comunista. Do contrário, ninguémf13 betCuba teria aceitado.
Mas logo começaram a fuzilar as pessoas, confiscar propriedades, estatizar e tirar terras.
Um dia, dois homensf13 betCastro apareceram e levaram Benítez para ser julgado. Eu estava lá para apoiá-lo.
Durou menosf13 betmeia hora. Não o deixaram nem depor. Ele e outros quatro réus foram considerados culpados e levados para um cemitério abandonado fora da cidade.
Foram fuzilados e jogadosf13 betuma cova.
Acordei. Não entendia como era possível fuzilar alguém sem defesa. Aquilo era abusof13 betautoridade.
Comecei então a participarf13 betatividades contrarrevolucionárias. Distribuíamos manifestos e escrevíamos 'Abaixo Fidel' nas paredes.
Mas eles prenderam dois do meu grupo. E pessoas próximas disseram que eu era o próximo.
Foi assim que três companheiros e eu fomos para Havana e voamos para Miami com documentos falsos.
Quando cheguei aos Estados Unidosf13 bet1960, já sabia que outros exilados estavam sendo treinados pela CIA na Guatemala para invadir Cuba. Fui para lá alguns dias depois.
Entre 1959 e 1960, milharesf13 betjovens anticastristas, como Lópezf13 betla Cruz, chegaram à conclusão que a única saída era o exílio ou o pegarf13 betarmas.
A maioria foi para os Estados Unidos, um país disposto a financiar a quedaf13 betCastro.
As estatizaçõesf13 betindústrias e negócios americanos e o fortalecimento dos laços comerciais e militares com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) logo colocaram Cuba na posiçãof13 betdesafeto dos Estados Unidos.
Castro havia se tornado uma ameaça real à influência regional do país mais poderoso do mundo.
A CIA, agênciaf13 betinteligência americana, o Pentágono e a Casa Branca, sob o governof13 betDwight Eisenhower, se propuseram a acabar com o líder revolucionário.
E encontraramf13 betum grupof13 betcubanos exilados o exército perfeito para executar o plano.
No total, foram recrutados cercaf13 bet1,4 mil homens.
Cuba, enquanto isso, se preparava diante das suspeitasf13 betuma invasão iminente.
"Herói da Pátria"
Jorge Ortega Delgado
Jorge Ortega Delgado lutou do lado fidelista durante a invasão. E quando se lembra disso, um brilho ofusca seus olhos. Sentado no terraçof13 betsua casaf13 betHavana, aos 77 anos, ele contou à BBC como se juntou às milícias:
Venhof13 betuma família operária muito humilde. Quando a revolução triunfou, eu tinha 15 anos e me juntei imediatamente às atividades revolucionárias.
Os Estados Unidos começaram a intervir e a tentar atacar Cuba e,f13 betoutubrof13 bet1959, foram fundadas as milícias nacionais revolucionárias.
Me alistei e participeif13 bettodos os treinamentos durante 1959 e 1960.
No fimf13 betoutubrof13 bet1960, Fidel Castro, o comandante-chefe, apareceu no treinamento.
Fidel pediu para reunir todos os milicianos. Éramos quase 1,5 mil.
E, naquela ocasião, pediu aos jovens com menosf13 bet20 anos que se juntassem à artilharia antiaérea.
Naquela tarde, pedi permissão aos meus pais para poder me apresentar. Eles concordaram.
Entramos para a bateria 30. Foi quando nosso treinamentof13 betartilharia antiaérea começou.
O plano original da CIA e do governo Eisenhower era que os exilados partissemf13 betPuerto Cabezas, na Nicarágua, e desembarcassem perto f13 bet da cidadef13 betTrinidad, no sulf13 betCuba.
O objetivo principal era ocupar a região e resistir por tempo suficiente para estabelecer um governof13 betoposiçãof13 betlíderes no exílio que logo seria apoiado pelos Estados Unidos.
Trinidad fica perto f13 bet das montanhas do Escambray , onde já havia membros da resistência anticastrista que se juntariam às tropas invasoras e organizariam, se necessário, uma guerraf13 betguerrilhas semelhante à que Fidel Castro saiu vitorioso na Sierra Maestra poucos anos antes.
Para facilitar o desembarque, f13 bet 16 aviões bombardeariam previamente os principais aeródromosf13 betCastro , inutilizandof13 betforça aérea e ganhando assim vantagem no céu cubano.
Mas o roteiro mudou radicalmente quando Kennedy se tornou presidentef13 betjaneirof13 bet1961.
Ele concordouf13 betcontinuar com o plano, mas não sob essas condições. Invadir Trinidadf13 betplena luz do dia parecia estrondoso demais.
"Kennedy queria negar qualquer envolvimento na invasão. Tinha que ser encoberta. Desembarcarf13 betTrinidad durante o dia demonstrava muito poderio, que os EUA estavam por trás", explica à BBC News Mundo Peter Kornbluh, diretor do Projetof13 betDocumentaçãof13 betCuba do Arquivof13 betSegurança Nacional dos Estados Unidos.
"A operação tinha que ser o mais secreta possível, e Kennedy deu à CIA três dias para refazer um plano que havia sido tramado durante um ano inteiro", acrescenta o especialista, que conseguiu divulgar o relatório do fracasso que se mantevef13 betsigilo por 37 anos.
f13 bet Kennedy reduziu os aviõesf13 bet16 para oito e instou a CIA a mudar o local e o horáriof13 betdesembarque.
Nesta área, a costa é hostil.
É uma área pantanosa, com muitos manguezais intransponíveis e "dentesf13 betcachorro", como são conhecidas as concentraçõesf13 betrecifesf13 betCuba, afiados.
Um cenário difícil para desembarcarf13 betsigilo e com fluidez.
Perto da Baía dos Porcos havia um aeroporto, essencial para que os aviões invasores pudessem reabastecer.
15f13 betabril
Jorge Ortega Delgado completa seu primeiro treinamentof13 betcanhões antiaéreos e aguarda ansiosof13 bet15f13 betabril para dar uma volta. São vários mesesf13 betformação militar.
Mas naquela mesma manhã o alarmef13 betcombate toca. Aviões invasores bombardearam dois aeroportosf13 betHavana e outrof13 betSantiagof13 betCuba.
"Saímos imediatamente, nos mandaram pegar os canhões e nos colocaram numa praia. Quando chegamos, nos contaram que, ao amanhecerf13 bet15f13 betabril, aviões mercenários atacaram nossos aeroportos e mataram sete do nosso lado", lembra Ortega.
"Todos os jovens sentiram um repúdio completo. Não podíamos acreditar. Estávamos dispostos a fazer o que fosse necessário para defender a pátria ", acrescenta o ex-combatente, ainda com fervor na voz.
O bombardeiof13 bet15f13 betabrilf13 bet1961 era o primeiro dos que Kennedy havia autorizado f13 bet para inutilizar os aviõesf13 betCastro antes do desembarque, previsto para 17f13 betabril.
Os oito aviões decolaram na madrugadaf13 bet15f13 betabril da basef13 betPuerto Cabezas, na Nicarágua, e lançaram granadas sobre os aeródromosf13 betSantiagof13 betCuba, no leste do país, e Ciudad Libertad e San Antoniof13 betlos Baños, ambosf13 betHavana.
Apesarf13 better deixado sete mortos, apenas poucas aeronaves cubanas foram danificadas, algumas já imprestáveis.
A força aérea castrista ficou praticamente intacta e, além disso, conseguiu abater um dos aviões invasores.
Após o bombardeio, um avião se passando por cubano pousouf13 betKey West, na Flórida. O piloto alegou ser um desertor das forças armadasf13 betCastro.
Na verdade, era parte do plano da CIA para não envolver os Estados Unidos no ataque.
Dessa forma, pareceria que havia eclodido uma rebelião interna anticastristaf13 betCuba,f13 betvezf13 betuma ação promovida pelo alto comando dos Estados Unidos.
"Mas a história do desertor durou apenas algumas horas. Embora os Estados Unidos negassem, todo mundo ficou sabendo que os aviões eram americanos e que pretendiam fingir que o ataque fora perpetrado por desertores cubanos", explica Kornbluh.
Com a suspeitaf13 betenvolvimento dos Estados Unidos, Kennedy cancelou o restante dos ataques. Um golpe decisivo contra as aspirações da Brigada 2506, que não teria apoio aéreo suficiente.
"Sempre digo que a guerra estava perdida antesf13 betcomeçar", lamenta Lópezf13 betla Cruz.
Mas, naquele momento, nenhum dos invasores sabia.
17f13 betabril
1h da manhã. As lanchas com invasores se aproximam da Praia Larga, no final da estreita Baía dos Porcos.
Eles não querem fazer barulho. Surpreender é parte essencial do plano.
Mas Castro pressente há meses um ataque. Ele sabe que uma guerra contra os Estados Unidos é como uma batalhaf13 betDavi contra Golias — e se preparou bem.
"Ele tinha milícias patrulhando praticamente todas as praias da ilha", explica Kornbluh.
Uma dessas patrulhas escuta ruídos. E abre fogo.
Os invasores respondem. Conseguem capturar alguns dos patrulheiros, que haviam tido tempof13 betdar o alerta. O elemento surpresa havia ido por água abaixo.
As tropasf13 betCastro já estão se mobilizando para conter a invasão, e ainda faltam muitos para desembarcar.
"Barcosf13 betpapel"
Humberto López Saldaña
Humberto López Saldaña tem 83 anos. Em 1960, deixou Cuba e se exilou com a famíliaf13 betMiami, onde logo se juntou à Brigada. Ele estavaf13 betum dessas lanchas invasoras e contou à BBC News Mundo como foi o desembarque:
Tivemos muitas dificuldades. Começamos a combater cedo demais. Isso atrasou o desembarque.
Além disso, nossas lanchas eram muito pequenas. Cada vez que se chocavam contra os recifes, ficavam praticamente destruídas. Muitas afundaram.
O desembarque durou até as primeiras horas da manhã. Esperamos a maré baixar para ter uma visão melhor e evitar os recifes. Da costa, nos jogaram uma corda para chegar à terra firme.
Por volta das 6h da manhã apareceu a força aérea castrista. As bombas caíam do lado. Nossos barcos cambaleavam como se fossemf13 betpapel.
Pouco depois, um foguete atingiu meu barco, o Houston.
O pânico se instalou. Vários companheiros morreram. O capitão jogou o Houston contra os recifes para facilitar o acesso dos demais à terra.
Alémf13 betinutilizar o Houston, os aviõesf13 betCastro também afundaram o Rio Escondido. Nessas embarcações tínhamos muita munição e toneladasf13 betgasolinaf13 betaviação. Perdemos tudo.
"Quando você começa a disparar, se exalta e perde o medo"
Jorge Ortega ef13 betbateria chegaram à provínciaf13 betMatanzas, onde fica a Baía dos Porcos, no dia 17f13 betabril por volta das 5h da tarde.
Lá soube que lutaria contra os 1,2 mil homens que haviam conseguido desembarcar, além do batalhãof13 betparaquedistas que foi lançadof13 betoutras áreas próximas.
Ortega se lembraf13 betouvir os milicianos, a explosãof13 bettanques e morteiros.
"No dia 16f13 betabril, ouvimos com atenção o discursof13 betFidelf13 bethomenagem aos nossos sete compatriotas que morreram nos bombardeios. No caminho para Havana, o povo saía com bandeiras às ruas nos pedindo para derrotar o inimigo", recorda Ortega sobre as horas antesf13 betse posicionar atrás do canhão.
f13 bet Foi nesse discurso que Castro declarou pela primeira vez o caráter socialista da revolução e exortou o povo a expulsar os mercenários.
Na manhãf13 bet18f13 betabril, Ortega avistou aviões inimigos. Foi a primeira vez que ele disparou um canhão.
"Você se sente inibido. Todos nós sentimos medo. Quem diz que não, está mentindo. Mas você olha para o lado e vê o resto firme e determinado. Quando você começa a disparar, se exalta e perde o medo", conta Ortega.
Nesse mesmo dia,f13 betbateria entrou com mais tropas nas imediaçõesf13 betPraia Larga, já cercando grande parte do exércitof13 betexilados.
"Ao amanhecerf13 bet19f13 betabril, vimos cair no mar um dos aviões que derrubou nossa bateria. Outro avião caiuf13 betum canavial. O copiloto morreu carbonizado, mas o piloto saltouf13 betparaquedas e tentou fugir. Morreu lutando cercado por nossas tropas", relata o ex-combatente.
Com os ataques prévios ao desembarque cancelados, os aviões B-26 que acompanharam a invasão foram presas fáceis diante da frota praticamente intactaf13 betCastro.
Os barcos que transportavam o combustível foram perdidos, e os aviões invasores não podiam usar o aeroporto próximo à Praia Girón como pretendiam.
Para reabastecer, eram necessárias quatro horasf13 betvoof13 betida e volta até a base da Nicarágua. Cada vez que voltavam a Cuba, tinham menosf13 betuma hora para bombardear.
As metralhadoras traseiras foram removidas para deixá-los mais leves — e isso os tornou mais vulneráveis.
Mal haviam se passado 24 horas desde o desembarque na madrugadaf13 bet17f13 betabril, e os invasores já haviam perdido dois dos seis barcos e metade da frota aérea.
O restante das embarcações partiu para alto mar para evitar maiores danos diante da reaçãof13 betCastro.
Em 19f13 betabril, quatro instrutoresf13 betvoo americanos que aguardavam na Nicarágua foram acudir os brigadistas que combatiam sozinhos, mas as forças fidelistas os derrubaram.
"Não era a hora deles morrerem, mas sentiram que deveriam nos apoiar. Foi um grande gesto", lamenta Lópezf13 betla Cruz.
19f13 betabril
Castro conhece as dificuldades do inimigo. Por isso se apressa e avança com tudo para encurralá-los na costa e impedir que escapem.
Suas tropas chegamf13 betondas: caminhões com mais homens, tanques blindados, morteiros, aviões.
No terceiro dia, os invasores não têm mais munição, tampouco aviões ou rotaf13 betfuga. Eles se rendem por volta das 17h30 da tardef13 bet19f13 betabril.
É complicado fornecer f13 bet dados exatos sobre o númerof13 betmortos do lado invasor.
"Havia o pessoal da marinha nos barcos que afundaram e ali perdemos a contabilidade exata", explica De la Cruz.
O presidente da Associaçãof13 betVeteranos estima que houve 103 mortos e outros 100 feridos.
Ele considera que as baixas foram mínimas levandof13 betconta que não pararamf13 betlutar durante três dias.
Do lado cubano, um dos comandantes que liderou a resistência, José Ramón Fernández, estimou o saldof13 bet176 mortos, 300 feridos e 50 incapacitadosf13 betum livro sobre a invasão que escreveu com Fidel Castro.
"Um atof13 betarrogância"
"A invasão da Baía dos Porcos foi um errof13 betcálculo tremendamente arrogante por parte da CIA", avalia Kornbluh.
O alto comando estava convencidof13 betque a revoluçãof13 betCastro era impopular e que bastava uma invasão militarf13 betopositores para que o povo se voltasse contra ele.
"Mas a verdade é que Castro era muito popular nessa região. Havia levado eletricidade e apoio agrícola. f13 bet A CIA confiouf13 betsuposições falsas e pobres para armar a invasão."
"Também não era difícil imaginar que dezenasf13 betmilharesf13 betmilitares cubanos derrotariam rapidamente 1,4 mil invasores", diz Kornbluh.
Humberto López Saldaña conta à BBC News Mundo o que aconteceu após ser capturado:
Antesf13 betsermos transferidos para a prisão, Che Guevara chegou. Nos perguntou o que fazíamos antesf13 betdeixar Cuba. Parecia muito calmo, mas sempre pensei que a qualquer momento poderia levar um tiro.
Nos transportaramf13 betvários caminhões. Um estava muito cheio. Fechado hermeticamente. Nesse, morreram nove companheiros.
O meu foi com as portas abertas. Enquanto estávamos sendo transferidos, as pessoas gritavam na rua: "Mercenários, traidores da pátria, vamos fuzilar vocês!"
Depois,f13 betHavana, nos trancaram na prisãof13 betCastillo del Príncipe. Lá o tratamento não foi bom.
Algumas celas estavam superlotadas e você tinha que dormir no chão.
Se nossos familiares nos mandavam algo, os guardas jogavam no chão. As pessoas brigavam para pegar. Tínhamos que nos organizar e repartir as coisas.
Conseguir charutos era muito difícil. Alguns prisioneiros fumavam até cascaf13 betlaranja.
Quando saíamos para caminhar no pátio, um guarda nos cutucava com baionetas se não andássemos rápido.
Uma coisa bem tétrica é que éramos cercaf13 bet150 por galeria e só havia um banheiro.
Nos ofereciam um café com leite que, na verdade, era água suja — e, muitas vezes, cuspiam nele antesf13 betentregar. O pão que nos davam era duro como pedra. Jogavam no chão e não acontecia nada com ele. Você tinha que molhar para poder comer. A comida era muito escassa.
Lópezf13 betla Cruz passou maisf13 bettrês mesesf13 betuma cela solitária porque tentou escapar e passou a integrar a categoriaf13 betpresos perigosos.
Por isso, foi colocado no último avião que mandou os prisioneiros livresf13 betvolta a Miami.
Era Natalf13 bet1962.
Kennedy havia enviado um famoso advogado para negociar com Castro.
Era James B. Donovan, quef13 betfevereirof13 bet1962 havia conduzido uma trocaf13 betprisioneiros entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Ele viajou pela primeira vez a Havanaf13 bet30f13 betagostof13 bet1962 e, no dia seguinte, se reuniu por quatro horas com Fidel Castro.
Nos meses seguintes, Donovan se encontrou várias vezes com o líder cubano.
As negociações foram tratadas como um processof13 bet"indenização", mais do que uma troca humanitária, "algo que Castro exigiu desde o início porque queria que Cuba fosse compensada pelos custos da invasão", explica Kornbluh.
Meses antes da libertação, os prisioneiros haviam sido julgados publicamente por traição à pátria.
Muitos acreditavam que acabariam sendo fuzilados, mas foram condenados a 30 anosf13 betprisão e f13 bet impuseram uma fiança no valor totalf13 betUS$ 62 milhões.
No fimf13 betdezembrof13 bet1962, Donovan acordou com Castro que os presos seriam libertadosf13 bettrocaf13 betUS$ 53 milhõesf13 betremédios e alimentos que seriam distribuídos ao povo cubano.
Quando os primeiros carregamentosf13 betmantimentos chegaramf13 bet23f13 betdezembro, os aviões da Pan American Airlines estavam transferindo os prisioneiros para Miami, onde uma recepção com 10 mil pessoas os aguardava no agora extinto auditório Dinner Key.
Enquanto isso,f13 betCuba, era celebrada a "segunda vitóriaf13 betGirón", por terem vencido "a batalha pela indenização".
No último avião da Pan Am, Lópezf13 betla Cruz lembraf13 betolhar pela janela e pensar que seria muito difícil voltar ao seu país.
"As pessoas dizem que nos trocaram por latasf13 betcompota, mas não nos sentimos humilhados. Pela nossa libertação, Cuba recebeu muitas roupas, alimentos e remédios que o governo distribuiu àf13 betmaneira", diz López Saldaña.
Nenhum dos dois exilados voltou a pisarf13 betCuba.
Jorge Ortega: "Sempre serão nossos inimigos"
Se um dia eu poderia sentar com um deles e tomar um rum? Para mim, parece muito difícil depois dos companheiros que morreram ou acabaram mutilados.
Conversar, sim, Cuba está sempre disposta a dialogar. Mas precisa haver igualdadef13 betcondições. Enquanto houver um embargo, não é possível.
Os integrantes da Brigada são mercenários porque se venderam a um país que os contratou.
Eles sempre serão nossos inimigos. Nunca deixaramf13 betser e,f13 betMiami, continuam influenciando e apoiando este bloqueio contra nosso país.
É verdade que Obama esteve recentementef13 betCuba e pediu a retomada do diálogo.
Mas ele também pediu para esquecer a história. A história não se esquece. Sempre a temos presente.
Heróisf13 betMiami
A invasão da Baía dos Porcos é vistaf13 betCuba como um ataquef13 bettraidores da pátria vendidos aos Estados Unidos.
Todo dia 19f13 betabril, é comemorado com marchas e paradas militares o que o governo cubano considera a "primeira grande derrota do imperialismo na América Latina".
A 145 quilômetros, no entanto, o sentimento é muito diferente.
Pelas ruasf13 betMiami, ecoa a nostalgia do que poderia ter sido. Monumentos, museus e parques homenageiam os heróis da Brigada 2506.
Os sobreviventes não gostamf13 betfalar hoje, 60 anos depois, sobre quantos cubanos do outro lado mataram durante a invasão.
"A verdade é que prefiro não dizer. Sabíamos que íamos para a guerra, mas ninguém jamais vai dizer que gostamosf13 betmatar pessoas. No fundo, éramos todos irmãos ", diz Lópezf13 betla Cruz.
"Alguém vai matar ou ser morto. Hoje parece diferente, é verdade que éramos todos cubanos. Mas naquela época estávamos simplesmente pensandof13 betlibertar Cubaf13 bettodo o horror que estava acontecendo", reflete López Saldaña.
Os veteranos da Brigada ainda sonhamf13 bettestemunharf13 betvida a queda do governo cubano.
Há dois presidentes americanos na história que eles têm dificuldadef13 betperdoar: Kennedy e Obama.
"Kennedy não estava à altura. Foi uma estupidez porque, embora ele quisesse proteger os Estados Unidos, estava claro que eles estavam envolvidos. Com o passar dos anos, entendif13 betdecisão, mas é verdade que muita gente se sente traída e decepcionada com o que ele fez", diz Lópezf13 betla Cruz à BBC News Mundo.
Os veteranos são ainda mais críticosf13 betrelação a Obama.
"Ele quis cair nas graças do regimef13 betCastro e negociar, mas foi ingênuo. Cuba abriu as portas para eles sem mudar nada. Foi uma política desastrosa ", diz López Saldaña.
Grande parte da comunidade cubana exilada na Flórida continua a apoiar uma política linha dura contra a ilha e venera ex-brigadistas como heróis no exílio.
"Temos uma satisfação tremenda. Cumprimos nosso dever, embora não tenhamos alcançado o objetivo. Aquif13 betMiami somos muito respeitados. O próprio Donald Trump se encontrou conosco várias vezes. Em setembrof13 bet2020, na verdade, ele nos convidou para ir à Casa Branca. Estamos muito orgulhosos", reafirma López Saldaña.
Créditos
Pesquisa e reportagem: José Carlos Cueto
Edição: Daniel Garcia Marco e Liliet Heredero
Design e ilustração: Cecilia Tombesi
Programação: Catherine Hooper
Com a colaboraçãof13 betWill Grant, Adam Allen e Sally Morales
Projeto liderado por Liliet Heredero e Carol Olona