'Ele disse que estava com nojoestrela bet funcionamim. Aí me deixou', diz jovem abandonada por paiestrela bet funcionabebê com microcefalia:estrela bet funciona
Os dramas enfrentados pelas mulheres atendidas aqui se sobrepõem. Pobreza, gravidez precoce, abandono pelos parceiros – são problemas corriqueiros.
Jaqueline Loureiro, psicóloga da unidade, diz que todas as mulheres aqui têm padrões socioeconômicos baixos e muitas vivem apenas do Bolsa Família.
Diversas foramestrela bet funcionafato abandonadas pelos parceiros, como Ianka; mas Jaqueline diz que há muitos outros casosestrela bet funcionaabandono velado. Os maridos ficam, mas não se fazem presentes. Ela calcula que apenas 10% das mulheres atendidas pelo ambulatórioestrela bet funcionafato recebem o apoio necessário dos maridos.
'Não tem mais mulher nesta casa?'
"Muitas delas não recebem suporte nem financeiro, nem emocional (dos parceiros). Porém, não se veem como tendo sido deixadas por não ter sido um abandono oficializado", diz Jaqueline.
"As mulheres têm que tomar a frenteestrela bet funcionatudo sozinhas. E a gente sabe que essa história está apenas começando", aponta.
O Nordeste, afirma ela, é uma região "predominantemente machista", e isso se reflete nos relatos que as profissionais ouvem no ambulatório. A fisioterapeuta Jeime Leal diz que os maridos esperam que as mulheres continuem cuidando da casa.
"'Por que você não fez a janta? Não tem mais mulher nesta casa?' Elas têm que ouvir cobranças como essas, alémestrela bet funcionatodo o cuidado que precisam ter com a criança. São crianças que choram muito e requerem muitos cuidados. Às vezes elas passam noites e noites sem dormir."
Sem chanceestrela bet funcionatrabalhar
Ianka largou a escola aos 15 anos, quando engravidou do primeiro filho. Pensavaestrela bet funcionavoltar a estudar e estava procurando emprego quando engravidouestrela bet funcionaSofia. Ela mora com os paisestrela bet funcionaCampina Grande a não tem a menor perspectivaestrela bet funcionasairestrela bet funcionacasa.
"Láestrela bet funcionacasa são nove pessoas, contando meus dois filhos. Só meu pai trabalha, ele é pedreiro. É um pouco difícil por causa disso. Eu durmo na cama dos meus pais com meu filho, a Sofia no berço, e meu pai e minha mãe dormem no chão. Eles cederam a cama para a gente", diz sorrindo com um mistoestrela bet funcionavergonha e gratidão.
Na prática, muita da responsabilidade recai sobre a mãeestrela bet funcionaIanka, Edivânia Barbosaestrela bet funcionaLima, que a acompanha sempre ao hospital e é como se fosse uma mãe também para a neta.
"Ianka é muito dependenteestrela bet funcionamim. Como o rapaz não quis mais viver com ela, ela vive comigo e eu faço tudo por ela. Na horaestrela bet funcionatrocar o bebê, ela fala, ó, mãe, toma. Eu troco, com o maior amor. Não me queixo", conta.
A maternidade precoce está na família. Edivânia também engravidou pela primeira vez aos 15 anos, e hoje, aos 36 anos, tem cinco filhos e os dois netos.
"Quando Sofia nasceu, eu levei um choque muito grande quando a vi. Mas agora todo mundo láestrela bet funcionacasa é louco por ela", diz. "No começo eu sofri muito pela situação, pelo probleminha dela. Mas acho que Deus só dá para você o que você pode cuidar. Vou fazer tudo que puder pela minha neta."
Demora no salário-benefício
A salaestrela bet funcionaespera do ambulatório no Pedro 1º se assemelha a uma sessãoestrela bet funcionaterapia coletiva. Na tardeestrela bet funcionauma quinta-feira, as mães conversavam animadamente, falavamestrela bet funcionaseus bebês,estrela bet funcionasuas famílias,estrela bet funcionasuas experiências. Há pausas pensativas, mas também gargalhadas.
Essa rotina se repete duas vezes por semana e a essa altura as mães parecem velhas amigas. Muitas levam horas para chegarestrela bet funcionacidades vizinhas, buscadasestrela bet funcionamadrugada pela condução que vem sendo oferecida pela prefeitura.
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Francileide Ferreira vemestrela bet funcionaGalante, município a cercaestrela bet funcionameia horaestrela bet funcionaCampina Grande. Ela tem 30 anos e Rafael,estrela bet funcionatrês meses, é seu quinto filho.
Somado, o dinheiro que recebe do Bolsa Família – R$ 200 por mês – e dos bicos que o marido arranja não têm dado para comprar o leiteestrela bet funcionapóestrela bet funcionaRafael, alémestrela bet funcionafraldas, pomadas. Ela tem pedido ajuda para as outras mães, as médicas e os familiares.
"Dá vergonha, mas tem momento que a gente tem que se humilhar mesmo", diz com um sorriso sem graça.
Francileide deu entrada no início do ano no pedido para receber o Benefícioestrela bet funcionaProteção Continuada, programa do governo que paga um salário mínimo a famíliasestrela bet funcionapessoas com deficiência que tenham renda mensalestrela bet funcionaaté R$ 220.
O benefício é operado pelo INSS, e o trâmite demanda uma perícia tanto para comprovar a deficiência no bebê quanto para aferir o baixo padrãoestrela bet funcionarenda.
Francileide só conseguiu agendar a visita da perícia para março, e enquanto isso continua dependendo da caridade dos outros. A história se repete entre as outras mães no ambulatório – a demora para conseguir o benefício faz com que muitas ainda não tenham se animado a tentar, como é o casoestrela bet funcionaIanka.
'Quando Deus dá, não tem problema não'
Francileide nos permite acompanhá-la até aestrela bet funcionacasa, uma construção simples e inacabada numa ruaestrela bet funcionaparalelepípedosestrela bet funcionaGalante; mas busca evitar a atenção dos vizinhos ao entrarestrela bet funcionacasa com uma equipeestrela bet funcionareportagem.
A primeira coisa que faz é pedir para a filha mais velha,estrela bet funciona13 anos, preparar a mamadeiraestrela bet funcionaRafael – que parouestrela bet funcionaaceitar logo cedo o peito da mãe por dificuldadeestrela bet funcionasugar. Enquanto isso, coloca o filho na banheira para tentar refrescar seu corpo franzino depois do trajeto quente na traseiraestrela bet funcionauma ambulância.
Ela veste o filho com um macaquinho branco com o desenhoestrela bet funcionaum cachorro e uma meia esgarçada que fica caindo do seu pé – até que Francileide a prende com um elástico ao redorestrela bet funcionaseu tornozelo. A meia puída decerto passou por seus outros filhos; é estampadaestrela bet funcionamicro-ônibus e caminhões, com a palavra "HERO" (herói) escritaestrela bet funcionainglês.
O mosquiteiro sobre a camaestrela bet funcionaFrancileide não foi suficiente para evitar as manchas vermelhas e dor nas juntas que apareceram no início da gravidez, com febre e dorestrela bet funcionacabeça. Meses depois, ela soube que o filho tinha microcefalia e estava com "líquido na cabeça".
"Achei estranho. Porque nunca tive filho assim, com problema. Aí o quinto ser assim. Nunca penseiestrela bet funcionater um filho assim", conta ninando o filho no colo, remédio certeiro contra o berreiro que acabaraestrela bet funcionaabrir.
Francileide costumava trabalharestrela bet funcionalavouras na região. "Cultivava milho, feijão. Eu gostava. Mas agora não vou mais poder trabalhar", diz ela, resignada.
"É mais trabalhoso, criança com deficiência. Mas Deus quis assim, e quando Deus dá, não tem problema não. Vou cuidar dele como cuidei dos outros", diz ela, a Bíblia a seu lado no sofá.
Faseestrela bet funcionanegação
Mas a fé das mães e a confiança no futuro das crianças às vezes deixa as profissionais no Hospital Pedro 1º com o coração na mão.
"Muitas delas ainda estãoestrela bet funcionanegação", afirma a psicóloga Jaqueline Loureiro. "Os bebês têm comportamento similar a qualquer outra criança nessa faseestrela bet funcionadesenvolvimento. As dificuldades que essas crianças vão ter ainda não estão tão perceptíveis."
"A maioria imagina que é só o tamanho da cabeça. Falam que quando o cabelo começar a crescer, vai cobrir a cabeça, e ninguém vai perceber", conta a fisioterapeuta Jeime Leal, acrescentando que muitas dizem não ver a horaestrela bet funcionaas crianças estarem correndo pelo corredor.
"Elas nem sempre têm noçãoestrela bet funcionaque esse tamanho vai fazer com que o cérebro não se desenvolva e a criança não alcance os objetivos que deveriam ser alcançados."
Não lhes cabe desconstruir essa esperança, afirmam elas – e sim procurar dar suporte para as mães ao longoestrela bet funcionatodas as fases do caminho.