'Descendentes precisam saber que história da África é tão bonita quanto a da Grécia':classicslot
<bold><link type="page"><caption> </caption><url href="www.facebook.com/bbcbrasil" platform="highweb"/></link></bold>
<link type="page"><caption> Leia também: "Por que você, um diplomata, um homem tão letrado, não vai estudar a Grécia?"</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/11/151119_alerta_antibioticos_tg" platform="highweb"/></link>
Filho do poeta piauiense Antônio Francisco da Costa e Silva, nasceuclassicslotSão Paulo e viveu no Ceará até aos 12 anos, quando mudou-se para o RioclassicslotJaneiro. Cresceu entre livros e costuma dizer que, como no verso do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), seu berço "ao pé da biblioteca se estendia".
Foi entre livros, quadros e esculturas, no apartamentoclassicslotque guarda lembrançasclassicslotvários lugares do Brasil e do mundo, que ele recebeu a BBC Brasil às vésperas do Dia da Consciência Negra para falar da história do continente pelo qual se apaixonou.
classicslot BBC Brasil: Como o Brasil aprendeu a história da África?
classicslot Alberto da Costa e Silva: A história da África durante muito tempo foi uma espécieclassicslotcapítuloclassicslotantropologia e etnografia do continente africano. Eram livros que árabes e europeus escreveram sobre suas viagens. Data do fim da Segunda Guerra Mundial a consolidação a história da África como disciplina à parte, semelhante à história da Idade Média europeia, ou à história da China.
Entre 1945 e 1960 seu estudo começa a ganhar grandes voos, tanto na África quanto na Europa, sobretudo Inglaterra e França. Curiosamente o Brasil esteve ausente disso. Os historiadores brasileiros sempre viam a história das relações Brasil-África com a África figurando como fornecedoraclassicslotmãoclassicslotobra escrava para o Brasil, como se o africano que era trazido à força nascesse num navio negreiro.
<link type="page"><caption> Leia também: Como estão as investigações do desastreclassicslotMariana?</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/11/151117_mariana_investigacoes_cc" platform="highweb"/></link>
Era como se o negro surgisse no Brasil, como se fosse carenteclassicslothistória. Nenhum povo é carenteclassicslothistória. E a história da África é uma história extremamente rica e que teve grande importância na história do Brasil, da mesma maneira que a história europeia.
De maneira geral, quando se estuda a história do Brasil, o negro aparece como mãoclassicslotobra cativa, com certas exceçõesclassicslotgrandes figuras, mulatos ou negros que pontuam a nossa história. O negro não aparece como o que ele realmente foi, um criador, um povoador do Brasil, um introdutorclassicslottécnicas importantesclassicslotprodução agrícola eclassicslotmineração do ouro.
classicslot BBC Brasil: O senhor poderia citar alguns exemplos?
classicslot Costa e Silva: Os primeiros fornosclassicslotmineraçãoclassicslotferroclassicslotMinas Gerais eram africanos. Fizemos uma históriaclassicslotescravidão que foi violentíssima, atroz, das mais violentas das Américas, uma grande ignomínia e motivoclassicslotremorso. Começamos agora a ter a noção do que devemos ao escravo como criador e civilizador do Brasil.
Quando o ouro é descobertoclassicslotMinas Gerais, o governadorclassicslotMinas escreve uma carta pedindo que mandassem negros da Costa da Mina, na África, porque "esses negros têm muita sorte, descobrem ouro com facilidade". Os negros da Costa da Mina não tinham propriamente sorte: eles sabiam, tinham a tradição milenarclassicslotexploraçãoclassicslotouro, tanto do ouroclassicslotbateia dos rios quanto da escavaçãoclassicslotminas e corredores subterrâneos. Boa parte da ourivesaria brasileira tem raízes africanas.
<link type="page"><caption> Leia também: Por queclassicslottoda tragédia surgem heróis anônimos?</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/11/151118_vert_fut_heroismo_ml" platform="highweb"/></link>
Temosclassicslotestudar o continente africano não como um capítulo à parte, um gueto. A história da África está incorporada à história do mundo, porque ela foi parte e é parte da história do mundo. Que a história do negro no Brasil não seja isolada, como se o negro tivesse sido um marginal. O negro foi essencial na formação do Brasil.
classicslot BBC Brasil: Qual a importânciaclassicslotum personagem como Zumbi?
classicslot Costa e Silva: Havia um suplemento juvenil do jornal A Noite, sobre grandes nomes da história, e eu me lembro perfeitamenteclassicslotum caderno sobre Zumbi. Zumbi está aliadoclassicslottal maneira à ideiaclassicslotliberdade que é difícil escrever sobre ele sem ser apaixonado.
Zumbi não é um nome, é um título da etnia ambundo, significa rei, chefe. Palmares era como um Estado africano recriado no Brasil. Na África era muito comum isso. Em tornoclassicslotum núcleoclassicslotpoder forte se aglomeravam vários povos e formavam um novo povo. Isso é uma hipótese.
classicslot BBC Brasil: O senhor vê um aumento do interesse dos brasileiros pela questão negra?
classicslot Costa e Silva: Tenho a impressãoclassicslotque todos temos dentroclassicslotcada umclassicslotnós um africano. Podemos não ter consciência disso, mas é permanente. Há naturalmente hojeclassicslotdia uma percepção mais nítida do que é a África, a escola começa a dar uma visão mais clara.
Mas ainda apresenta visões distorcidas. Uma vez uma professora veio me dizer que era absurdo que apresentássemos Cleópatra como uma moça branca, quando ela era negra. É um equívoco isso. Cleópatra não era negra nem mulata. Era grega. Os Ptolomeus, uma dinastia grega, governavam o Egito e não se misturavam.
classicslot BBC Brasil: Na África também havia escravos, não?
classicslot Costa e Silva: Escravidão houveclassicslottodas as culturas no mundo. Todos nós somos descendentesclassicslotescravos. Houve escravidãoclassicslottoda a Europa, na Indonésia, entre os índios americanos, na Inglaterra. Na África havia todos os tiposclassicslotescravidão, e até hojeclassicslotcertas regiões africanas os descendentesclassicslotescravos são discriminados. Quase toda a África teve escravidão.
A escravidão transatlântica, da África para as Américas, a nossa, tem uma diferença básica: pela primeira vez era uma escravidão racial. Era um especial aspecto da perversidade dela. No início não, mas a partirclassicslotcerto momento, passa a ser exclusivamente negra. Foi o maior deslocamento forçadoclassicslotgenteclassicslotuma área para outra que a história já conheceu, e o mais feroz.
O Brasil foi o último país das Américas e do Ocidente a abolir a escravidão. O último do mundo foi a Mauritânia (na África),classicslot1981.
classicslot BBC Brasil: Como analisa o racismo hoje no Brasil?
classicslot Costa e Silva: Existe racismo, e muitíssimo. No nosso racismo, não temos um partido racista, mas temos repetidas manifestaçõesclassicslotracismo no seio da sociedade. É dificílimo, para um negro, ascender socialmente. A discriminação se exerceclassicslotforma muitas vezes dissimulada, mas que os marca muito. Mas está mudando. Sinto mudanças.
É importante que os descendentesclassicslotafricanos saibam que eles têm uma história tão bonita quanto a história da Grécia. Que eles não eram bárbaros, que não são descendentesclassicslotescravos. São descendentesclassicslotafricanos que foram escravizados.
Para mim o importante não é que haja cota na universidade. Acho que temclassicslothaver cotaclassicslottudo. Se você vai se candidatar a um cargoclassicslotatendenteclassicslothotelclassicslotprimeira classe, se você for negro, você tem dificuldade. O preconceito é discriminatório. Ele não impede vocêclassicslotusar o mesmo banheiro, o mesmo bebedouro, mas dificulta o acesso (do negro) às camadas das classes média e alta.