'Descendentes precisam saber que história da África é tão bonita quanto a da Grécia':1xbet handicap 1 (0)
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Filho do poeta piauiense Antônio Francisco da Costa e Silva, nasceu1xbet handicap 1 (0)São Paulo e viveu no Ceará até aos 12 anos, quando mudou-se para o Rio1xbet handicap 1 (0)Janeiro. Cresceu entre livros e costuma dizer que, como no verso do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), seu berço "ao pé da biblioteca se estendia".
Foi entre livros, quadros e esculturas, no apartamento1xbet handicap 1 (0)que guarda lembranças1xbet handicap 1 (0)vários lugares do Brasil e do mundo, que ele recebeu a BBC Brasil às vésperas do Dia da Consciência Negra para falar da história do continente pelo qual se apaixonou.
1xbet handicap 1 (0) BBC Brasil: Como o Brasil aprendeu a história da África?
1xbet handicap 1 (0) Alberto da Costa e Silva: A história da África durante muito tempo foi uma espécie1xbet handicap 1 (0)capítulo1xbet handicap 1 (0)antropologia e etnografia do continente africano. Eram livros que árabes e europeus escreveram sobre suas viagens. Data do fim da Segunda Guerra Mundial a consolidação a história da África como disciplina à parte, semelhante à história da Idade Média europeia, ou à história da China.
Entre 1945 e 1960 seu estudo começa a ganhar grandes voos, tanto na África quanto na Europa, sobretudo Inglaterra e França. Curiosamente o Brasil esteve ausente disso. Os historiadores brasileiros sempre viam a história das relações Brasil-África com a África figurando como fornecedora1xbet handicap 1 (0)mão1xbet handicap 1 (0)obra escrava para o Brasil, como se o africano que era trazido à força nascesse num navio negreiro.
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Era como se o negro surgisse no Brasil, como se fosse carente1xbet handicap 1 (0)história. Nenhum povo é carente1xbet handicap 1 (0)história. E a história da África é uma história extremamente rica e que teve grande importância na história do Brasil, da mesma maneira que a história europeia.
De maneira geral, quando se estuda a história do Brasil, o negro aparece como mão1xbet handicap 1 (0)obra cativa, com certas exceções1xbet handicap 1 (0)grandes figuras, mulatos ou negros que pontuam a nossa história. O negro não aparece como o que ele realmente foi, um criador, um povoador do Brasil, um introdutor1xbet handicap 1 (0)técnicas importantes1xbet handicap 1 (0)produção agrícola e1xbet handicap 1 (0)mineração do ouro.
1xbet handicap 1 (0) BBC Brasil: O senhor poderia citar alguns exemplos?
1xbet handicap 1 (0) Costa e Silva: Os primeiros fornos1xbet handicap 1 (0)mineração1xbet handicap 1 (0)ferro1xbet handicap 1 (0)Minas Gerais eram africanos. Fizemos uma história1xbet handicap 1 (0)escravidão que foi violentíssima, atroz, das mais violentas das Américas, uma grande ignomínia e motivo1xbet handicap 1 (0)remorso. Começamos agora a ter a noção do que devemos ao escravo como criador e civilizador do Brasil.
Quando o ouro é descoberto1xbet handicap 1 (0)Minas Gerais, o governador1xbet handicap 1 (0)Minas escreve uma carta pedindo que mandassem negros da Costa da Mina, na África, porque "esses negros têm muita sorte, descobrem ouro com facilidade". Os negros da Costa da Mina não tinham propriamente sorte: eles sabiam, tinham a tradição milenar1xbet handicap 1 (0)exploração1xbet handicap 1 (0)ouro, tanto do ouro1xbet handicap 1 (0)bateia dos rios quanto da escavação1xbet handicap 1 (0)minas e corredores subterrâneos. Boa parte da ourivesaria brasileira tem raízes africanas.
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Temos1xbet handicap 1 (0)estudar o continente africano não como um capítulo à parte, um gueto. A história da África está incorporada à história do mundo, porque ela foi parte e é parte da história do mundo. Que a história do negro no Brasil não seja isolada, como se o negro tivesse sido um marginal. O negro foi essencial na formação do Brasil.
1xbet handicap 1 (0) BBC Brasil: Qual a importância1xbet handicap 1 (0)um personagem como Zumbi?
1xbet handicap 1 (0) Costa e Silva: Havia um suplemento juvenil do jornal A Noite, sobre grandes nomes da história, e eu me lembro perfeitamente1xbet handicap 1 (0)um caderno sobre Zumbi. Zumbi está aliado1xbet handicap 1 (0)tal maneira à ideia1xbet handicap 1 (0)liberdade que é difícil escrever sobre ele sem ser apaixonado.
Zumbi não é um nome, é um título da etnia ambundo, significa rei, chefe. Palmares era como um Estado africano recriado no Brasil. Na África era muito comum isso. Em torno1xbet handicap 1 (0)um núcleo1xbet handicap 1 (0)poder forte se aglomeravam vários povos e formavam um novo povo. Isso é uma hipótese.
1xbet handicap 1 (0) BBC Brasil: O senhor vê um aumento do interesse dos brasileiros pela questão negra?
1xbet handicap 1 (0) Costa e Silva: Tenho a impressão1xbet handicap 1 (0)que todos temos dentro1xbet handicap 1 (0)cada um1xbet handicap 1 (0)nós um africano. Podemos não ter consciência disso, mas é permanente. Há naturalmente hoje1xbet handicap 1 (0)dia uma percepção mais nítida do que é a África, a escola começa a dar uma visão mais clara.
Mas ainda apresenta visões distorcidas. Uma vez uma professora veio me dizer que era absurdo que apresentássemos Cleópatra como uma moça branca, quando ela era negra. É um equívoco isso. Cleópatra não era negra nem mulata. Era grega. Os Ptolomeus, uma dinastia grega, governavam o Egito e não se misturavam.
1xbet handicap 1 (0) BBC Brasil: Na África também havia escravos, não?
1xbet handicap 1 (0) Costa e Silva: Escravidão houve1xbet handicap 1 (0)todas as culturas no mundo. Todos nós somos descendentes1xbet handicap 1 (0)escravos. Houve escravidão1xbet handicap 1 (0)toda a Europa, na Indonésia, entre os índios americanos, na Inglaterra. Na África havia todos os tipos1xbet handicap 1 (0)escravidão, e até hoje1xbet handicap 1 (0)certas regiões africanas os descendentes1xbet handicap 1 (0)escravos são discriminados. Quase toda a África teve escravidão.
A escravidão transatlântica, da África para as Américas, a nossa, tem uma diferença básica: pela primeira vez era uma escravidão racial. Era um especial aspecto da perversidade dela. No início não, mas a partir1xbet handicap 1 (0)certo momento, passa a ser exclusivamente negra. Foi o maior deslocamento forçado1xbet handicap 1 (0)gente1xbet handicap 1 (0)uma área para outra que a história já conheceu, e o mais feroz.
O Brasil foi o último país das Américas e do Ocidente a abolir a escravidão. O último do mundo foi a Mauritânia (na África),1xbet handicap 1 (0)1981.
1xbet handicap 1 (0) BBC Brasil: Como analisa o racismo hoje no Brasil?
1xbet handicap 1 (0) Costa e Silva: Existe racismo, e muitíssimo. No nosso racismo, não temos um partido racista, mas temos repetidas manifestações1xbet handicap 1 (0)racismo no seio da sociedade. É dificílimo, para um negro, ascender socialmente. A discriminação se exerce1xbet handicap 1 (0)forma muitas vezes dissimulada, mas que os marca muito. Mas está mudando. Sinto mudanças.
É importante que os descendentes1xbet handicap 1 (0)africanos saibam que eles têm uma história tão bonita quanto a história da Grécia. Que eles não eram bárbaros, que não são descendentes1xbet handicap 1 (0)escravos. São descendentes1xbet handicap 1 (0)africanos que foram escravizados.
Para mim o importante não é que haja cota na universidade. Acho que tem1xbet handicap 1 (0)haver cota1xbet handicap 1 (0)tudo. Se você vai se candidatar a um cargo1xbet handicap 1 (0)atendente1xbet handicap 1 (0)hotel1xbet handicap 1 (0)primeira classe, se você for negro, você tem dificuldade. O preconceito é discriminatório. Ele não impede você1xbet handicap 1 (0)usar o mesmo banheiro, o mesmo bebedouro, mas dificulta o acesso (do negro) às camadas das classes média e alta.