'Brasil pode se tornar país mais obeso do mundoebet15 anos':ebet
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O médico aponta o dedo para "ações insuficientes do governo", para "escolas omissas", para o marketing que bombardeia crianças com propagandas ligadas a alimentos nada saudáveis – e alerta para os danos físicos e psicológicos nas crianças obesas. Confira os principais trechos da entrevista.
ebet BBC Brasil - O que significa ter metade das crianças pequenas brasileiras comendo bolachas e boa parte delas bebendo refrigerante e suco artificial?
ebet Coutinho - Esses dados dão a medidaebetuma tendência que outros estudos já haviam mostrado. O consumo excessivoebetalimentos e bebidas pouco saudáveis estão hoje é um problema seríssimo no Brasil. E, se continuarmos nesse ritmoebetcrescimento da obesidade, seremos o país com mais obesos do mundoebet15 anos.
ebet BBC Brasil - E esse risco também atinge as crianças?
ebet Coutinho - Certamente. A obesidade infantil no Brasil é um cenário muito preocupante,ebetque algumas ações foram tomadas, mas ainda estão longeebetserem suficientes. É preciso se fazer muito mais. Para começar, nossas crianças são alvoebetuma pressão exagerada da mídia e do marketing que incentivam o consumo desses produtos.
ebet BBC Brasil - Mas e ações não diretamente ligadas a crianças, como a que ocorreuebetum jogo recente do Corinthians (jogadores causaram polêmica ao usar meiõesebetuma campanhaebetparceria com uma redeebetfast food), também são prejudiciais?
ebet Coutinho - Claro, porqueebetuma maneira ouebetoutra isso acaba atingindo as crianças que estão assistindo ao jogo. Nossa organização prega uma ética nas açõesebetmarketing e isso envolve não direcionar essas campanhas a crianças.
ebet BBC Brasil - Olhando o lado da alimentação da criança brasileira, quem são os principais vilões atualmente?
ebet Coutinho - Há os vilões invisíveis, especialmente sucoebetfruta artificial e iogurte. O pai e a mãe acham que estão dando algo saudável para as crianças, mas são produtos que tem muitíssimo açúcar. Fora isso, é preciso lembrar que os alimentos mais baratos são os que mais engordam.
ebet BBC Brasil - E como isso é prejudicial?
ebet Coutinho - É um fenômeno chamadoebettransição nutricional,ebetque as pessoas que conseguem superar a faltaebetalimentos começam a ter acesso aos produtos mais baratos, que costumam ser altamente industrializados. Sair do supermercado com saquinhoebetbatata frita, salgadinhos, biscoitos e chocolates é mais barato do comprar frutas e verduras. A populaçãoebetbaixa renda também costuma ter menos tempo e infraestrutura para praticar atividade física.
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ebet BBC Brasil - Quais alternativas que poderiam mudar esse cenário? Taxar alimentos poucos saudáveis, como aconteceu na França, com a chamada "taxa da nutella"?
ebet Coutinho - Eu vejo com bons olhos essas iniciativas, mas pra que elas sejam mais justas e mais efetivas, o valor arrecadado com esses impostos deve ir diretamente para o subsídioebetalimentos saudáveis. Sem isso, não adianta.
ebet BBC Brasil - E punir os pais, é uma alternativa? Há casosebetque inclusive pais perderam temporariamente a guardaebetfilhos obesos, por serem acusadosebetnão fazerem o suficiente para a criança emagrecer.
ebet Coutinho - Esse tipoebetmedida é muito polêmica, não só no que diz respeito à obesidade, mas também a outros tiposebetnegligência. Mas o outro lado da moeda é que há crianças obesas cujos pais não têm nenhuma culpa, no casosebetuma tendência genética, por exemplo. Então, acho que só seria efetiva se fosse analisado caso a caso detalhadamente.
ebet BBC Brasil - Agora, falandoebetatividade física. As crianças brasileiras também estão sendo negligenciadas nesse aspecto?
ebet Coutinho - Claro. Basta ver que tipicamente nas escolas só se tem atividade física uma vez por semana. Isso é inaceitável. Além disso, a violência urbana faz com que muitas crianças fiquem presasebetcasa, na frente da TV, não conseguem ir a pé nemebetbicicleta para a escola.
ebet BBC Brasil - Quais os principais impactosebetalguém que passa pela infância sendo obeso?
ebet Coutinho - O impacto na saúde da criança é mais conhecido. A obesidade traz problemas graves como hipertensão arterial muito alta, problemas osteoarticularesebetpartes do corpo como joelho, coluna e tornozelo, alémebetasma e diabetes.
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Mas também há o lado psicológico, que muitas vezes é subvalorizado. As pessoas não se dão conta do impacto psicológicoebetapelidos dados a essas crianças, do isolamentoebetque elas vivem eebetestereótipos como o menino gordinho que só pode jogar no gol, por exemplo. São situações que causam traumas que podem ser levados para a vida adulta.
ebet BBC Brasil - Mas afinal,ebetquem é a culpa, das escolas, dos pais, do governo?
ebet Coutinho - O desafio da obesidade no mundo é comparável ao do aquecimento global, porebetcomplexidade e por envolver diversos fatores e atores. Governo, comunidade científica, pais e a sociedade como um todo.
É claro que, no Brasil, a escola tem culpa. Muitas são extremamente omissas. Se, por um lado, alguns Estados já têm leis proibindo a vendaebetguloseimas e refrigerantes nas escolas, por outro, há escolas que vão no caminho contrário. No Rio, a lei que proíbe refrigerante só vale nas públicas. Em muitas das particulares, a pressão do dono da cantina fez com que o refrigerante fosse liberado.
ebet BBC Brasil - E o governo?
ebet Coutinho - Todos os níveis do governo precisam estar envolvidos, incluindo o Legislativo e o Judiciário. O governo tomou algumas medidas interessantes, mas são insuficientes. E algumas das ações que têm por objetivo o aquecimento da economia acabam prejudicando o cenário da obesidade no país.
Um exemplo é a redução dos impostosebetcarros e geladeiras – itens que trazem conforto mas que estão relacionados à obesidade. É preciso pensar na saúde pública quando se quer estimular as vendas.