'Acreditei na pacificação, mas ébetanomentira', diz mãebetanomototaxista morto no Alemão:betano
Consultada pela BBC Brasil, a DelegaciabetanoHomicídios (DH), que investiga o caso, diz que o inquérito ainda estábetanoandamento. "Foi realizada períciabetanolocal. Familiares e testemunhas foram ouvidos, além dos policiais militares. As armas foram apreendidas e encaminhadas para confronto balístico, e a delegacia aguardo o resultado dos laudos da perícia", informou a DHbetanonota.
Ocupado há quase quatro anos pelas Forças Armadas, o complexobetanofavelas vive hoje o pior momento desde que recebeu quatro basesbetanoUPPs (UnidadesbetanoPolícia Pacificadora). Com o retorno da lógicabetanoguerra, tiroteios, entradabetanotropas do Bope e do BatalhãobetanoChoque, e uma elevaçãobetanomortesbetanocivis ebetanopoliciais, o momento vivido pela comunidade é emblemáticobetanouma situação que afeta diferentes unidades do programabetanopacificação desde o começo do ano.
Somente nas últimas semanas a Rocinha registrou tiroteios frequentes. Nas proximidades do Complexo do Lins (zona norte) houve ônibus incendiados e trocasbetanotiros numa importante avenida que liga o centro à zona oeste, fechada por maisbetanocinco horas.
No início da semana o corpobetanoum policial do Alemão foi encontrado carbonizado dentro do seu carro na Baixada Fluminense. Além disso, três policiais da UPP Jacarezinho (zona norte) estão respondendo por acusaçãobetanoestupro coletivo, e a lista continua, com denúnciasbetanoabusos policiais e a elevação dos númerosbetanoPMs assassinados ebetanopessoas que morrerambetanoconfronto com a polícia.
"O programabetanopacificação no RiobetanoJaneiro estábetanocrise, e não é nos últimos dias não, é nos últimos meses. Só não vê e não admite isso quem está com a responsabilidade do governo, porque a população não nega, os policiais não negam, e a opinião pública também não nega", diz o sociólogo Ignacio Cano, do LaboratóriobetanoAnálisebetanoViolência da UERJ.
"É verdade que há uma situação diferentebetanocada unidade. Em algumas ainda há uma situação positiva,betanooutras há problemas já bem complicados, ebetanooutras, como no Complexo do Alemão, há um descontrole. A situação lá está fora do controle mesmo", complementa o especialista.
Para ele, apesar do cenário mais ou menos gravebetanocada unidade, é indiscutível que a políticabetanopacificação no RiobetanoJaneiro se encontra num momentobetanofortes revezes. "A questão é que o projeto foi desenvolvido para solucionar o problemabetanotodas as comunidades, não sóbetanoalgumas, e apesarbetanoainda haver impacto positivobetanocertos locais, é possível afirmar, sim, que o programa como um todo estábetanocrise".
Para Denize Moraes da Silva, o que restou após a morte do filho foram os dois netos,betanotrês anos e um ano, que se converteram embetanomaior fontebetanoforça. Para ela, a dor a transformou numa defensora dos direitos dos moradores da comunidade.
"Aqui todo mundo está muito desconfiado. Meu avô foi um dos fundadores do lugar onde eu moro, e a gente já viu vários períodosbetanoviolência, mas agora estou muito preocupada. Com o tráfico era difícil, mas hoje temos medo da polícia. Medo e antipatia. Tem muito morador inocente morrendobetanobecos, vielas, eles matam mesmo. E eu não posso me calar, tenho que ajudar a mudar essa história. Hoje sou uma outra pessoa, virei uma guerreira", conta.
<link type="page"><caption> Leia mais: ChefebetanoUPPs rejeita crise e alerta sobre expansão no próximo governo</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2014/08/140820_upp_ping_jp.shtml" platform="highweb"/></link>
Crise, desafios e tráfico
Além do retorno da lógicabetanoguerra a algumas comunidades, a cidade tem amargado mortesbetanopoliciais, sejabetanoserviço oubetanofolga. Sóbetano2014 já foram 73.
Já o númerobetano"autosbetanoresistência", como são caracterizadas as mortesbetanocivisbetanoconfronto com a polícia, também sofreu elevação. Segundo o InstitutobetanoSegurança Pública (ISP), houve 139 homicídios do tipo no primeiro semestrebetano2014, contra 115 no primeiro semestrebetano2013.
Apesar do cenário negativo e do retornobetanocenasbetanoconfrontos que têm assustado os cariocas, para o coronel Frederico Caldas, coordenador das UPPs que chegou a ser ferido num tiroteio na Rocinha no começo do ano, o momento não ébetanocrise, mas simbetano"grandes desafios".
"Em março nós tivemos uma sequênciabetanomortesbetanopoliciais no Alemão, uma crise aguda, muito pior. Numa análise do todo, das 38 UPPs, pode-se dizer que hoje a gente vive um momentobetanoestabilidade, mas ainda com esses desafios pontuais no Alemão e na Rocinha, e que não dá para caracterizar isso como uma crise do processobetanopacificação, mas sim um desafio proporcional à importância que esses lugares tiveram para o tráficobetanodrogas", afirma.
Caldas diz que é preciso lembrar que o Alemão é uma região muito extensa e complexa, com topografia difícil, e que até 2010 era um lugar tido como intransponível e inacessível, funcionando como o quartel-general do Comando Vermelho.
Questionado sobre os ataques recentes, o coronel diz que trata-sebetanouma "nova geração"betanotraficantes. "Especificamente no Alemão a utilização da mãobetanoobra jovem é algo feitobetanolarga escala. Muitos dos principais líderes foram mortos, presos ou fugiram e com isso a gente observa que houve uma renovação. Nós temos relatos dos nossos policiais,betanojovensbetano13 anosbetanoidade com pistola na mão. Isso é uma tragédia social".
Quanto ao controle que o Estado detém sobre as regiões que vêm apresentando confrontos e tiroteios, Caldas admite quebetanoalguns pontos há um "controle relativo".
Críticas, futuro e eleições
João Trajano Sento-Sé, doutorbetanoCiência Política e Sociologia e pesquisador da UERJ, relembra outro fator que colocabetanodúvida o futuro das UPPs.
Para ele, o programa tornou-se uma bandeira política do atual governo do RiobetanoJaneiro, que comandou a Segurança Pública por dois mandatos. Essa lógica política acabou primando pelo que ele avalia como uma "expansão exagerada e não planejada", a pontobetanoafirmar que a ocupação do Alemão foi um "tiro que saiu pela culatra".
Além da crise atual e das eleiçõesbetanooutubro, outro desafio é iminente para o Rio: a pacificação do Complexo da Maré, ocupado pelas Forças Armadasbetanomarço deste ano, onde o Exército vem registrando fortes confrontos. Para especialistas, é preciso aprender com as lições do Alemão e da Rocinha antesbetanoiniciar o processo na Maré.
Na visãobetanoTrajano a ocupação do Complexo do Alemão poderia ter tido um planejamento melhor e deveria ter sido aguardada - o argumento oficial do Estado ébetanoque a tomada do Alemão foi antecipada devido a uma ondabetanoataques. "Fica difícil você querer um novo padrãobetanopoliciamento, sem hostilidade, sem enfrentamento, sem violência. É até irresponsável. Acho que foi um mau passo para o programa como um todo. Surgiu esta crise", diz.
Apesarbetanomostrar apreensão com o futuro, Trajano diz que não vê outro modelo melhor neste momento e que acredita que as UPPs sejam "o melhor experimentobetanopoliciamento do RiobetanoJaneiro dos últimos 30 anos", mas que acabaram adotando uma lógica política, e não técnica.
"Por isso houve esse crescimento desordenado, para o qual a polícia sequer tinha recursos humanos para responder. Hojebetanodia há setores da própria Polícia Militar descrentes do programa, então o novo governo que assumirá a partirbetanojaneiro terá que fazer ajustes necessários para planejar essa expansão, conter um pouco o crescimento, protegendo as UPPs até mesmo do fogo amigo", diz o especialista, que não acredita que um novo governo interrompa o programa.
"Tudo o que um novo governador não precisa é a volta das altas taxasbetanohomicídios", avalia.
Já o coordenador das UPPs, coronel Frederico Caldas, admite a necessidadebetanoum aperfeiçoamento ebetanouma lógicabetanoexpansão que não coloquebetanorisco o programa como um todo, mas cobra do governo mais investimentosbetanoprogramas sociais e melhorias nas comunidades pacificadas.
"É preciso que ocorram os investimentos sociais, que sejam levados também os serviços essenciais, porque senão fica injusto demais que o policial permaneça sozinho ali sendo o responsável por tudo. Então o futuro da UPP é fazer esses ajustes no processo, avançar com a cautela necessária, para que a gente não perca a possibilidadebetanocontrole ou que os problemas se tornem tão grandes a pontobetanotornar o programa como um todo muito vulnerável. Já são 9.500 policiaisbetano38 UPPs, e o lixo continua sendo acumulado, ainda há questões como a vala negra, a escola, a saúde, e sobretudo os empregos. É preciso que haja um futuro, uma ocupação para estes jovens, porque muitos estão sendo cooptados pelo tráfico".