Cursos superiores podem ser 'desperdício' no Brasil, diz estudioso:greenbet.app
"Muitos acabam sendo mais uma extensão do ensino básico e fundamental do que uma faculdade ou universidade propriamente ditas."
Segundo a última pesquisa do Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope, divulgada no ano passado, quatrogreenbet.appcada dez estudantes do ensino superior no Brasil não são "plenamente alfabetizados" - ou seja, não conseguem interpretar um texto, gráficos ou tabelas, nem fazer contas matemáticas um pouco mais complexas - por exemplo, envolvendo porcentagens.
"O problema é que o domínio da linguagem e da matemática são ferramentas básicas para que se possa avançar na aprendizagemgreenbet.appconteúdos mais complexos", diz Ana Lúcia Lima, diretora do Instituto.
'De mentira'
A opiniãogreenbet.appum ex-professorgreenbet.apparquitetura sobre a qualidade dos alunos e do ensino na faculdadegreenbet.appque ele deu aula por cinco anos dá a medida dos desafios que envolvem a expansão do acesso à universidade no Brasil: "Esses cursos dão a muitos jovens uma chancegreenbet.appconseguir empregos que pagam um pouco melhor, mas quem vive o dia-a-diagreenbet.appalgumas dessas faculdades privadas sabe que classificá-los como ‘curso superior’ é uma grande mentira", diz ele.
O ex-professor,greenbet.appSão Paulo, conta que algunsgreenbet.appseus alunos chegavam a salagreenbet.appaula sem saber fazer uma equaçãogreenbet.appprimeiro grau ou escrever um texto "que fizesse sentido" - e boa parte do trabalho do corpo docente da instituição era tentar suprir as carênciasgreenbet.appum ensino básico e fundamental deficiente.
"Havia alguns alunos bons e muitos problemáticos - e os professores eram pressionados a aprovar a maior parte dos matriculados mesmo que seu aproveitamento do curso fosse mínimo", diz ele.
Desde 2001, o númerogreenbet.appinstituiçõesgreenbet.appensino superior no país passougreenbet.app1.004 para cercagreenbet.app2,5 mil e a quantidadegreenbet.appmatrículas mais que dobrou, chegando a 6,7 milhões no ano passado, segundo dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostragreenbet.appDomicílios (Pnad).
O relato do ex-professor, porém, não chega a ser uma surpresa para Tristan MacCowan.
"Não há como negar que o Brasil fez avanços significativos na expansão do acesso ao ensino superior - e isso é positivo - mas essa expansão precisava ser acompanhadagreenbet.appum controle sobre a qualidade das novas instituições e um desenvolvimento significativo dos mecanismosgreenbet.appregulação e supervisão do setor, o que parece não ter ocorrido", acredita MacCowan.
Segundo o especialista, na comparação com outros países, o caso brasileiro se destaca justamente pela faltagreenbet.apprigidezgreenbet.appsua regulamentação. "Chama a atenção a facilidade com a qual grupos privados que visam o lucro podem abrir instituiçõesgreenbet.appensino no país, por exemplo, - o que implicagreenbet.appriscos significativos", alerta.
O governo tem feito um esforço para ampliar a ofertagreenbet.appuniversidades públicas, principalmente no interior do país, mas 74,6% dos estudantes ainda estão matriculadosgreenbet.appinstituições privadas, segundo a última Pnad, que registrou um aumentogreenbet.app1,4 pontos nesse porcentualgreenbet.app2011 para 2012.
ProUNI
Segundo especialistas, a expansão da educação superior no Brasil na última década foi o resultadogreenbet.appdois processos combinados.
De um lado,greenbet.appum cenáriogreenbet.appmaior crescimento e menor desemprego, muitos jovens da classe C se sentiram estimulados a estudar mais que seus pais para ampliar suas oportunidades no mercadogreenbet.apptrabaho e perspectivasgreenbet.apprendimento.Também aumentou a quantidadegreenbet.appfamílias com recursos para investirgreenbet.appeducação - o que ampliou a demanda por cursos e serviços nessa área.
Simultaneamente, foram adotadas uma sériegreenbet.apppolíticas públicas para garantir que tal demanda fosse atendida.
Desde 2007, o Governo Federal procurou ampliar a ofertagreenbet.appvagas na rede pública via Programagreenbet.appApoio a Planosgreenbet.appReestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e universidades federais começaram a adotar sistemasgreenbet.appcotas raciais ou para alunosgreenbet.appescolas públicas.
Para as instituições privadas, o maior estímulo foi o Programa Universidade para Todos (ProUNI), que tem financiado, com bolsas parciais ou integrais, milharesgreenbet.appestudantesgreenbet.appbaixa rendagreenbet.appcursos superiores por todo o país.
Com tais impulsos, o ensino superior privado tornou-se um dos segmentos mais promissores da economia brasileira. Em 2012, empresas do setor estiveram entre as que mais se valorizaram na Bovespa e não demorou muito para que se estabelecesse uma dinâmicagreenbet.appformaçãogreenbet.appmegagrupos para atender o filão.
Por todo o país, novas faculdades têm recebido jovens que recebem bolsa do governo ou trabalhamgreenbet.appdia para pagar os cursos que frequentam à noite.
"Temos pela frente um grande desafio para expandir a qualidade desses cursos e da formação básica dos estudantes que chegam a suas salasgreenbet.appaula", diz Lima. "Isso é essencial para evitar que a escolaridade dos brasileiros avance apenas no papel."