Após passagem pelo Haiti, Congo impõe desafio a general brasileiro da ONU:esporte net se
'Brigadaesporte net seintervenção'
Militares brasileiros vêm liderando a missão no Haiti desde 2004. Mas, desde maio, o homem que comanda os militares da ONU na RDC também é da mesma nacionalidade. Trata-se do general Carlos Alberto dos Santos Cruz.
Ele foi escolhido para o cargo pelo Conselhoesporte net seSegurança pela fama e experiência adquiridas após liderar por maisesporte net sedois anos a Minustah, a missãoesporte net sepaz do Haiti. Atuou principalmente durante o processoesporte net sepacificação da favelaesporte net seCité Soleil - um dos últimos bastiões rebeldes no país, que caiuesporte net se2007.
O convite a Santos Cruz ocorreuesporte net seum momentoesporte net seque a missão na RDC estavaesporte net seum processoesporte net sereformulação - depois que um grupo rebelde congolês conhecido como M23 invadiu e se retirou logoesporte net seseguidaesporte net seGoma,esporte net senovembroesporte net se2012. Os rebeldes não sofreram praticamente nenhuma resistência da ONU durante o episódio.
O fracasso fez o Conselhoesporte net seSegurança da ONU repensar a operação e abrir um precedente na história das missõesesporte net sepaz, com a criação formalesporte net seuma "brigadaesporte net seintervenção". A unidade tem poderes para perseguir e atacar os grupos rebeldes do leste da RDC – mesmoesporte net secaráter preventivo, sem vinculação necessária a alguma agressão específica, como ocorre nas missõesesporte net sepaz tradicionais.
No pouco tempoesporte net seque está na RDC, Santos Cruz já identificou dificuldades que não estavam presentes do cenário haitiano. A primeira delas é o fato do país ter maisesporte net se27 mil quilômetros quadrados (contra 2,3 mil do Haiti) - grande parte deles cobertos por selva e sem estradas.
A extensão territorial dificulta o posicionamento dos cercaesporte net se20 mil militares que compõe a força internacional e exige o estabelecimentoesporte net seuma estrutura complexaesporte net setransportes. Para se ter ideia, a capital, Kinshasa, onde ficam as sedes da ONU e do governo no oeste do país, está a 1,5 mil quilômetrosesporte net seGoma, um dos principais focosesporte net seconflitos.
Já no Haiti, a maioria dos combates se concentrou somente na capital, onde gangues e rebeldes controlavam favelas da região central. O deslocamentoesporte net serecursos da ONUesporte net seuma área para outra podia ser feitoesporte net seminutos.
Rebeldes
Antes da pacificação, o Haiti possuía como grupos hostis à ONU uma milícia formada por ex-militares do Exército extinto, um grupo armado ligado ao partido político Fanmi Lavalas, do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, e uma redeesporte net segangues que atuava na capital Porto Príncipe. Não havia, porém, qualquer fator étnico para motivar as hostilidades.
Segundo Santos Cruz, a RDC tem hoje maisesporte net se50 diferentes grupos armados ativos, formados por contingentes que variam entre 100 e 2 mil integrantes.
A maioria atua no leste do país e é responsável por uma sérieesporte net seabusosesporte net sedireitos humanos, como o empregoesporte net secriançasesporte net semilícias, o uso do estupro como armaesporte net seguerra, alémesporte net semutilações e assassinatos contra a população civil.
Algumas dessas milícias lutam por motivos étnicos e chegaram a ser financiadas por países vizinhos, como Ruanda e Uganda.
Um dos grupos mais famosos e numeroso é o M23 – formado por ex-militares. “É um grupo que tem formação militar. Eles desertaram do Exército levando armamento pesado e mantêm a mesma hierarquia militar. Mas também recrutam pessoas sem formação militar, a maioria menoresesporte net seidade, as crianças-soldado”, diz o general à BBC Brasil.
Também estão presentes a Forças Democráticas para a Libertaçãoesporte net seRuanda,esporte net seformação étnica hutu, e o Exército da Resistência do Senhor.
Além deles, atuam no país dezenasesporte net segrupos conhecidos como Mai-Mai. Eles são milícias tribais armadas pelo governo no passado para se defender contra forças externas. Hoje esses grupos lutam entre si e contra o M23 e a ONU.
Deficiências do Estado
De acordo com Santos Cruz, a principal dificuldade na RDC é, no entanto, a ausência do poder do Estadoesporte net seáreas remotas do país, algo que ocorre também no Haiti.
A faltaesporte net segovernança cria um vácuoesporte net sepoder, que acaba sendo ocupado pelas milícias, orientadas por seus próprios interesses.
Alémesporte net setentar explorar os recursos minerais do país à revelia do governo e cometer abusos e crimes contra a população, esses grupos se entrelaçamesporte net seuma redeesporte net seinteresses e alianças que desestabilizam todo o leste do país e a região dos Grandes Lagos.
Está agora nas mãos da ONU o desafioesporte net sedesestruturar essa rede pela negociação e talvez com ajuda do uso da força.
*O repórter da BBC Brasil Luis Kawaguti esteve no Haiti sete vezes entre 2005 e 2010.