Novo banco e fundoreserva fortalecem articulação dos Brics:

Os líderes dos Brics (AFP)
Legenda da foto, Líderes dos Brics acertaram criaçãobanco e usoreservascrises

A cúpula dos Brics na cidade sul-africanaDurban, que terminou nesta quarta-feira, foi a primeira realizadaum clima marcado por grandes incertezas econômicas para esse clubepaíses emergentes, com a China desacelerando e o Brasil crescendo a um ritmomenos1% ao ano.

Não chega a ser uma surpresa, então, que o resultado mais relevante do encontro entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul tenha sido o avançodois projetos que visam aumentar as fontesfinanciamento para esses cinco países.

Como era esperado, os cinco países do grupo deram sinal verde para o BancoDesenvolvimento dos Brics, cujo objetivo é financiar projetosinfraestrutura nos países do grupo.

"(Esse banco) é mais um elemento para expandir a nossa capacidadeobter recursos”, disse a presidente Dilma Rousseff. “O grande desafio das economias dos Brics é justamente ampliar seus investimentos na áreainfraestrutura."

Na última reunião dos Brics, os cinco países do grupo tinham incumbido seus ministros das Finançasavaliar a viabilidade do projeto desse banco.

Antes do encontroDurban, havia especulação sobre qual poderia ser o capital aportado por cada país, como o banco iria atuar e onde ficariasede.

A julgar pela faltadetalhes sobre a estrutura dessa instituição financeira no comunicado conjunto divulgado pelos cinco líderes dos Brics, porém, aparentemente eles não conseguiram chegar a um consenso sobre tais temas.

Também não ficou claro quando exatamente esse banco sairá do papel – e segundo algumas fontes do governo brasileiro isso pode não ocorrer antes2016.

Reservascontingência

O segundo projeto a receber aval dos Brics foi o chamado ArranjoReservasContingência - um fundoUS$ 100 bilhões que servirá para socorrer países com problemasliquidez financeira.

"Trata-seum acordo importantíssimo porque estamos assistindo a uma grande volatilidade no mundo. Tivemos a crise do Lehman Brothers2008, recentemente o problemaChipre e tudo que ocorreu no ano passado com os países europeus", disse Dilma.

"Nenhum país dos Brics sofreu nenhuma crise, nem bancária nem financeira. E o acordoUS$ 100 bilhões é muito significativo porque é mais uma contribuição para a estabilidade da moeda (desses países)."

Dilma disse ver a aprovação dos dois projetos como uma "realização do Brasil".

"No encontro (dos Brics)Los Cabos (cidade do México,2012), nós tivermos uma atuação no sentidoconfirmar a importância tanto do BancoDesenvolvimento dos BRICS como desse acordo sobre o ContingenteReservas", afirmou.

Outros acordos

Além das duas iniciativas, os Brics também chegaram a um acordocofinanciamento para projetosdesenvolvimentoenergia limpa e infraestrutura na África.

Outra novidade do encontro foi a criação do Conselho Empresarial dos Brics, um órgão formado por cinco empresárioscada país que vai dar sugestões e fazer avaliações sobre como ampliar a cooperação econômica e comercial no bloco.

Para completar, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que será realizadoMoscou,junho, o primeiro encontro sobre política antidrogas dos Brics.

Na declaração conjunta, os Brics também procuraram se pronunciar sobre os mais diversos temas da agenda política global – desde o conflito na Síria e na República Centro Africana até a admissão da Palestina como membro observador da ONU e o programa nuclear iraniano.

Alguns dos textos das declarações, porém, são bastante vagos. Eles permitem aos cinco países acomodar (ou esconder) as diferençasseus posicionamentos, segundo analistas.

"Se por um lado os países do grupo vocalizaram objetivos etéreos como 'conclamar a comunidade internacional a uma maior estabilidade dos mercados globais', por outro houve avanços concretos no estabelecimento do BancoDesenvolvimento dos Brics", avaliou,entrevista à BBC Brasil Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da UniversidadeColúmbia, nos Estados Unidos.

História

O acrônimo Bric (sem o SÁfrica do Sul) foi criado pelo economista Jim O’Neill como um instrumentoanálise financeira e originalmente se referia aos quatro países que, segundo ele, teriam mais peso econômico que as nações desenvolvidas por volta2040.

Em 2009, os países dos Bric resolveram transformar o acrônimouma entidade política e,2011, incluíram no grupo a África no Sul - transformando-oBrics.

Entre as principais reivindicações do grupo está uma reforma que dê mais voz aos emergentes nas instituiçõesgovernança política e econômica globais, como o FMI e o Banco Mundial.

Mas, apesara função desse novo BancoDesenvolvimento dos Brics se assemelhar a do Banco Mundial, Troyjo diz não ver “qualquer tomconfrontação” no projeto.

"Pelo contrário, creio que há um sentidocomplementaridade, derivada dessa noçãoque o Banco Mundial tem frentes demais (para atuar) e, portanto, não dispõe do vigor necessário para projetosgrande porte originados a partir dos Brics", opina o especialista.