'Como escapei do Boko Haram após ser levada para missão suicida':

Legenda do vídeo, Como fugi do Boko Haram após ser obrigada a usar coleteexplosivos para missão suicida

A nigeriana Falmata tinha apenas 13 anos quando foi sequestrada pela primeira vez pelo grupo extremista Boko Haram.

No cativeiro, foi forçada a fazer uma escolha: se casar com um combatente ou ser integradauma "missão". Ela se recusou a se casar.

"Disse a eles que ainda era muito nova", lembra.

Mas Falmata não tinha ideiaque missão seria aquela. Era, na verdade, um ataque suicida.

A garota, no entanto, teve sorte e sobreviveu para contarhistória.

Ela lembra do diaque os extremistas se aproximaram e colocaram uma bombavoltasua cintura. Se matasse “infiéis”, disseram, iria direto para o paraíso.

Como no casooutras mulheres na mesma situação, o alvoFalmata seria um mercado ou outro local movimentado.

"Estava com tanto medo que comecei a chorar. (Me falaram que) ao chegar ao paraíso, tudo seria melhor", recorda.

Duas outras meninas do acampamento também foram atadas a explosivos. As três foram, então, levadas para os subúrbiosuma cidade. Lá, foram ordenadas a caminhar para áreas movimentadas - e disseram que elas estariam sendo observadas. Nas mãos, carregavam pequenos detonadores caseiros.

No caminho, as três conversaram sobre a possibilidaderealizar a "missão" ou abandoná-la e fugir. Por fim, decidiram não fazer o ataque.

Falmata pediu ajuda para um estranho para remover o cinto explosivo. Mas logo depois, alguém também ligado ao Boko Haram, que pertencia a uma unidade diferente, voltou a sequestrá-la.

Depoiscercaum mês no novo cativeiro, a garota teve que escolher novamente entre casamento ou missão. E, novamente, se recusou a se casar.

De novo, um cintoexplosivos foi colocadovoltasua cintura.

Desta vez, porém, Falmata correu para dentro da floresta assim que os extremistas a deixaramum local para realizar o ataque.

"No caminho, eu encontrei alguns agricultores e perguntei se podiam me ajudar a remover o cinto-bomba. Eu falei que estava sendo forçada a realizar um ataque, mas não gostariafazer isso".

Depoister o cinto retirado por eles, Falmata passou diversos dias na floresta tentando encontrar o caminhovolta para casa.

"Não conheço a floresta. Qualquer barulho me assustava. Quando conseguia, eu dormia no alto das árvores. Acho que eu passei uma semana sem comida. Usava água parada para beber e lavar minhas mãos e pés quando rezava. Eu rezavaduas a três vezes por dia, sempre que encontrava água. Eu estava muito assustada, mas Deus me ajudou e cheguei a uma cidade."

Uma família local lhe deu abrigo por alguns dias e depois a ajudaram a retornar paraterra natal. Ao chegar lá, Falmata se escondeu por meses. Tinha medoque as autoridades descobrissem sobre ela e a levassem para a prisão.

Como muitas famílias no norte da Nigéria, a família dela foi separada pelos conflitos. A menina está agora vivendo commãeum campo para refugiados. As condições são difíceis, mas pelo menos ninguém sabe dahistória verdadeira.

O Boko Haram é considerado um dos grupos mais violentos da história moderna. Desde 2009, só na Nigéria, eles mataram mais27 mil inocentes - incluindo muçulmanos.

Muitos mais foram mortosCamarões, Chade e Níger. Os conflitos já desalojaram mais2 milhõespessoas.