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Como mudanças climáticas podem transformar café e chocolatebetano plataformaitensbetano plataformaluxo:betano plataforma
Como as lagostas, as ostras há muito tempo são associadas com refeições finas e ocasiões especiais,betano plataformagrade medida devido a seu alto preço. Mas elas também nem sempre desfrutaram desse status. As ostras costumavam ser consumidas pelos mais pobres da sociedade europeia no século 19. "Elas eram tão abundantes e baratas que eram adicionadas a ensopados e tortas para se livrarem delas", diz a historiadorabetano plataformaculinária Polly Russell.
No início do século 20, as ofertasbetano plataformaostras na Inglaterra começaram a diminuir devido à pesca excessiva e à poluição industrial. Enquanto ficavam mais escassas, seu status foi elevado, e as ostras passaram a ser vistas como algo especial, afirma Russell.
Nós vemos o oposto com produtos como açúcar e salmão, que costumavam ser difíceisbetano plataformaadquirir e disponíveis apenas para os mais ricos. Esses alimentos perderambetano plataforma"áureabetano plataformaluxo" ao longo do tempo, quando as pessoas passaram a produzi-los e, como resultado, eles se ficaram menos escassos, afirma Richard Wilk, professor eméritobetano plataformaAntropologia da Universidadebetano plataformaIndiana (EUA).
Muitas frutas, verduras e legumes costumavam ser muito mais escassos do que são hoje. Algumas frutas, como morangos e framboesas, costumavam estar disponíveis apenas no verão, mas hojebetano plataformadia podemos comprá-las pelo ano todo. "Isso muda a percepçãobetano plataformaluxo", afirma Peter Alexander, pesquisador sêniorbetano plataformaagricultura global e segurança alimentar na Universidadebetano plataformaEdimburgo (Escócia, Reino Unido).
Nossa obsessão com a aquisiçãobetano plataformaalimentos escassos e luxuosos vem com um custo alto para o planeta. Quando uma espécie específicabetano plataformapeixe ou fruto do mar torna-se mais escassa, seu preço sobe. O aumentobetano plataformavalor dá às pessoas um incentivo para pescá-la com mais intensidade e assim obter as unidades restantes, o que pode levar a uma espiralbetano plataformaextinção, afirma Wilk.
Quando e onde nós comemos alguns alimentos também determina quanto nós os valorizamos. "O contextobetano plataformaque comemos é realmente importante para criar desejo", afirma Esther Papies, professorabetano plataformapsicologia social na Universidadebetano plataformaGlasgow (Escócia). Segundo ela, alimentos luxuosos estão geralmente associados a ocasiões especiais, como comerbetano plataformarestaurantes ou viagensbetano plataformaférias.
Estudos mostram que estarbetano plataformaum ambiente associado a comida cara pode aumentar a atratividade da comida ou da bebida tipicamente consumida nesse lugar e a disposição das pessoas a pagar mais. Um recente estudo identificou que o desejo das pessoas por sushi aumentava se elas comiam o pratobetano plataformaum restaurantebetano plataformasushi,betano plataformavezbetano plataformana praia.
Lembranças positivas e calorosasbetano plataformacompartilhar uma refeição com outras pessoas também aumentam o valor que as pessoas dão a certos alimentos, diz Papies. Comidas luxuosas são frequentemente compartilhadas com amigos e família, como no Natal, por exemplo.
Durante os confinamentos provocados pela pandemiabetano plataformacovid-19, a experiênciabetano plataformacomer com outras pessoas tornou-sebetano plataformasi um artigobetano plataformaluxo, diz Russell. "As pessoas estavam loucas para cozinhar juntas e comerbetano plataformauma forma social", afirma ela. "Num mundo onde recursos são limitados, e a disponibilidadebetano plataformacomida é precária, a experiênciabetano plataformacomer junto pode se tornar um artigobetano plataformaluxo."
As próximas comidasbetano plataformaluxo
Apesarbetano plataformahistoricamente alguns alimentos, como café, chocolate e especiarias, terem sido itensbetano plataformaluxo, hoje essas comidas são itensbetano plataformasupermercadobetano plataformagrande parte do mundo. Entretanto, o aquecimento global e as chuvas mais intermitentes podem fazer com que isso mude novamente ao longo das próximas décadas.
No auge da civilização maia, as sementesbetano plataformacacau eram uma moedabetano plataformavalor, usada para pagar trabalhadores e comercializadasbetano plataformatrocabetano plataformabens no mercado. Comerciantes europeus levaram o cacau para a Europa, onde ele se tornou um popular capricho nas cortes reais. Em 1828, o químico holandês Coenraad Johannes van Houten inventou um processo para tratar grãosbetano plataformacacau com sais alcalinos e produzir chocolatebetano plataformapó, que poderia ser misturado na água. Esse processo transformou o chocolate num produto acessível que podia ser produzidobetano plataformamassa.
O café um dia foi uma iguaria pouco conhecida usada para rituais religiosos na Etiópia, antesbetano plataformacomerciantes ocidentais levarem a aromática bebida para seus paísesbetano plataformaorigem no século 17 e passarem a servi-labetano plataformacafeterias, popular entre trabalhadores do setorbetano plataformatransporte, corretores e artistas. Depois que os holandeses garantiram suas mudas, o cultivo do café expandiu-se rapidamente pelo mundo todo e tornou-se uma bebida popular, consumida diariamente.
"O chocolate e o café podem ambos se tornar alimentos escassos ebetano plataformaluxo novamente por causa das mudanças climáticas", afirma Monika Zurek, pesquisadora sênior do Environmental Change Institute (Institutobetano plataformaMudança Ambiental), da Universidadebetano plataformaOxford (Inglaterra, Reino Unido).
Vastas áreasbetano plataformaGana e Costa do Marfim (países vizinhos na costa oeste da África) podem se tornar inviáveis para a produçãobetano plataformacacau se a elevação da temperatura global alcançar 2 graus Celsius,betano plataformaacordo com um estudobetano plataforma2013. "O cacau costumava ser para reis e mais ninguém. As mudanças climáticas estão atingindo fortemente áreasbetano plataformaprodução… O cacau pode se tornar um alimento maisbetano plataformaluxo novamente", diz Zurek.
As mudanças climáticas podem eliminar, até 2050, metade das terras usadas para o cultivobetano plataformacafé no mundo todo, segundo um estudo publicadobetano plataforma2015. Outro estudo sugere que áreas apropriadas para o cultivobetano plataformacafé na América Latina podem ser reduzidasbetano plataforma88% até 2050, devido à elevação das temperaturas.
Durante milharesbetano plataformaanos, as especiarias foram símbolobetano plataformariqueza e poder. A demanda por temperos aromáticos deu início às primeiras rotas comerciais globais, estabeleceram vastos impérios e acabaram definindo a economia global. Hoje especiarias estão por toda parte e são frequentemente os itens mais baratos nas prateleiras dos supermercados. Mas elas podem voltar a ser itensbetano plataformaluxo, afirma Zurek.
As lavourasbetano plataformaespeciarias já estão sofrendo os efeitos das mudanças climáticas. Chuvas intensas e umidade oferecem condições propícias para pragas como pulgão e doenças como oídio. Na Caxemira, a maior região da Índia produtorabetano plataformaaçafrão, condições secas destruíram as colheitas desse vistoso ingrediente culinário.
A produçãobetano plataformabaunilhabetano plataformaMadagascar (ilha no leste da África) tem sido atingida nos últimos anos por condições climáticas extremas. Um ciclone devastou 30% das lavouras da ilhabetano plataforma2017, levando os preços para um recordebetano plataformaUS$ 600 (R$ 3,3 mil) o quilo, o que brevemente deixou a especiaria mais cara que a prata.
"O perigobetano plataformaprodutos do dia a dia se tornarem itensbetano plataformaluxo é desolador", afirma Monique Raats, diretora do Food, Consumer Behaviour and Health Centre (Centrobetano plataformaAlimentos, Comportamento do Consumidor e Saúde) da Universidadebetano plataformaSurrey (Inglaterra, Reino Unido). "Muitos alimentos podem se tornar inacessíveis para muitas pessoas."
'Carne não'
Não são apenas as mudanças climáticas e a escassez que podem transformar alimentos do nosso cotidianobetano plataformaitens para poucos. As mudançasbetano plataformacomportamento e gostos das pessoas também terão um impacto sobre a situação dessas comidas.
"Uma outra formabetano plataformapensar sobre alimentosbetano plataformaluxo é como algo que você não deveria comer com frequência nembetano plataformagrande quantidade", afirma Raats, citando a carne como um grande exemplo.
A carne, que atualmente é partebetano plataformauma refeição regular para muita gente, provavelmente se tornará um produtobetano plataformaluxo nas próximas décadas, com mais pessoas adotando uma dieta à basebetano plataformavegetais para reduzir suas pegadasbetano plataformacarbono, diz ela. As pessoas também podem adotar a mudança devido à grande quantidadebetano plataformaterras agrícolas incorporadas pela produçãobetano plataformacarne, o que pode não ser mais viável com o crescimento populacional no planeta.
Comer carne pode se tornar socialmente inaceitável e vistobetano plataformaforma semelhante a como é visto hoje o fumo, afirma Alexander. "Pode chegar a um pontobetano plataformaque comer um hambúrguer não será uma coisa legal para fazer com os amigos."
Mas para chegar a esse ponto o caminho não é simples e direto, diz Papies. "Comer carne é a norma - torna-se partebetano plataformauma identidade nacional. Desviar disso é difícil", afirma ela, acrescentando que muitos veganos e vegetarianos têm dificuldades com o fatobetano plataformaque precisam explicar, ou justificar, por que não comem carne.
O veganismo,betano plataformaparticular, parece suscitar fortes emoções, da irritação à fúria apaixonada. Oferecer mais exposição a opções sem carne, na propaganda ebetano plataformalojas, pode ajudar a lidar com a dificuldade com a identidade vivenciada por muitos veganos e vegetarianos, afirma Papies. "Ajudaria a tornar a coisa mais equitativa."
O verdadeiro custo da comida
Numa tentativabetano plataformareduzir suas emissões, países podem também optar por aplicar impostos sobre a carne, como muitos fizeram com o açúcar, diz Alexander. A medida, polêmica e com efeitos colaterais, elevaria os preços da carne e faria dela um produto maisbetano plataformaluxo.
A criaçãobetano plataformaanimaisbetano plataformafazendas é responsável por 14,5% das emissões globaisbetano plataformagases causadores do chamado efeito estufa, e a produçãobetano plataformacarne vermelha representa 41% dessas emissões.
A produção globalbetano plataformabife causa emissões semelhante às produzidas pela Índia e exige 20 vezes mais terra por grama comestívelbetano plataformaproteína do que culturas vegetais ricasbetano plataformaproteína, como feijão.
De acordo com a FAO, agênciabetano plataformaalimentos da ONU, "existe uma preocupante desconexão entre o preçobetano plataformaalimentos no varejo e o verdadeiro custobetano plataformasua produção"betano plataformamuitos países.
"Como consequência, a comida produzida a um custo ambiental alto, na formabetano plataformaemissãobetano plataformagases causadores do efeito estufa, poluição da água, poluição do ar, destruição do habitat, pode parecer mais barata que alternativas produzidasbetano plataformaforma mais sustentável", escreveu a agência da ONU num relatório sobre sustentabilidade agrícola.
Quando comemos carne, diz Alexander, nós não estamos pagando pela degradação ambiental causada pela indústria da carne. "Nós não estamos calculando o valor desses resultados e pagando por eles quando comemos carne."
Um imposto sobre a carne refletiria alguns desses impactos ambientais danosos, mas segue sendo uma ideia impopular politicamente e com potenciais efeitos danosos sobre a população mais pobre, que já tem dificuldadebetano plataformacomprar a proteína.
"Isso pode mudar", afirma Alexander, à medida que mais gente veja a carne como "algo que não podemos nos dar o luxobetano plataformacomer,betano plataformatermosbetano plataformasustentabilidade".
"Esperamos que, no futuro próximo, nós tenhamos preços mais corretos e subsídios agrícolas que reflitam a comida que nós produzimos e nos ajude a criar um sistema mais sustentável", afirma Papies.
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