'Estou apenas sangrando': como suecas tentam acabar com estigma da menstruação:apostaganha brasil

Desenhoapostaganha brasiluma patinadora sentada com as pernas abertas, sangrando, com a legenda: 'Tudo bem. (Só estou sangrando) '

Crédito, Liv Strömquist

Legenda da foto, 'Está tudo bem (só estou sangrando)': uma nova visão feminista da cançãoapostaganha brasilBob Dylan "I'm alright, Ma (I'm only bleeding)".

"Para mim, pessoalmente, a menstruação sempre havia sido algo muito doloroso e vergonhoso. Não podia falar com ninguém a respeito", segundo a artista. "Achei que seria interessante explorar a menstruação como algo que estáapostaganha brasiltoda a sociedade: como um sentimentoapostaganha brasilvergonha por uma experiência tão natural vivida pela metade da humanidade,apostaganha brasilvezapostaganha brasilinterpretá-laapostaganha brasilalguma forma psicológica pessoal."

A ideia era que as patinadorasapostaganha brasilStrömquist enfatizassem a ideiaapostaganha brasiluma sociedadeapostaganha brasilque a menstruação não fosse razão para um estigma.

O impacto

As imagens causaram forte debate na imprensa local e global, bem como nas redes sociais.

Patinadora sangrando

Crédito, Liv Strömquist

Legenda da foto, As imagens criadas por Strömquist representa a utopiaapostaganha brasilum mundo sem estigmas para as pessoas que menstruam

"É um pouco chocante ter essas imagensapostaganha brasilum espaço público como o metrô. Acho que éapostaganha brasilmau gosto", declarou na época à BBC uma mulher no tunnelbana. Um homem disse: "talvez você me chameapostaganha brasilconservador ou intolerante, mas para mim é uma aberração".

Houve quem se manifestasse atirando tinta sobre as obras. Políticos da oposiçãoapostaganha brasildireita argumentaram que expor essas obrasapostaganha brasilpúblico seria uso inapropriadoapostaganha brasildinheiro público.

Já outras pessoas ficaram encantadas. "Acho genial. E também meio divertido", opinou outro homem no metrô. "Para mim, são intrigantes. É algo muito natural. É genial, deveria haver mais obras assim!", declarou uma mulher.

Por que esconder o absorvente?

A Suécia normalmente é considerada um dos países mais feministas do mundo, com licenças-maternidade generosas, cuidado infantil acessível e um históricoapostaganha brasilmulheres na política. As controvérsias sobre a arte no metrô foram um sinalapostaganha brasilque, até na Suécia, os tabus milenares sobre a menstruação continuam presentes. Mas também foram um sinalapostaganha brasilque as coisas estão mudando.

Patinadoras sangrando

Crédito, Liv Strömquist

Legenda da foto, As ilustraçõesapostaganha brasilStrömquist no metrôapostaganha brasilEstocolmo foram seguidas por uma sérieapostaganha brasilobrasapostaganha brasilarte que tinham a menstruação como tema.

"O atoapostaganha brasilexpor essas obrasapostaganha brasilarte significava que havia iniciativas vindasapostaganha brasilcima indicando que não havia problemasapostaganha brasilexibir a menstruaçãoapostaganha brasilum local público para que as pessoas a vissem todos os dias", ressalta Louise Klinter, da Universidadeapostaganha brasilLund, na Suécia, que investigou o estigma criado sobre a menstruação.

A exposição no metrô chamou atenção da mídia internacional. Strömquist já havia abordado o tema dois anos antesapostaganha brasilum programaapostaganha brasilrádio, que também foi um catalisador importante. Ela comentou como achava estranho não poder falar abertamente sobre menstruação e coisas tão presentes no cotidianoapostaganha brasilmulheres como o hábitoapostaganha brasiltrocar absorventes.

"Foi um podcast muito popular, também ouvido por pessoas mais idosas, que não necessariamente recebem esse tipoapostaganha brasilmensagem sobre a desestigmatização da menstruação", relembra ela.

Na segunda metade da décadaapostaganha brasil2010, o tema estava "quente" no país, sendo abordadoapostaganha brasilexposições artísticas e atéapostaganha brasilmusicais no Teatro Nacional.

Liv Strömquist

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A quadrinista, apresentadoraapostaganha brasilrádio, cientista política e ativista sueca Liv Strömquist, posando no Teatro Dramaten,apostaganha brasilEstocolmo,apostaganha brasil2021

"[A menstruação] começou a aparecer por toda parte, houve uma forte mudança na formaapostaganha brasilanúncio dos produtos e a linguagem foi completamente renovada, visual e verbalmente", afirma Strömquist.

De azul para vermelho

Em 2017, uma ousada campanha publicitáriaapostaganha brasilabsorventes higiênicos utilizou líquido vermelho para retratar o sangue menstrual —apostaganha brasilvezapostaganha brasilum líquido azul que vinha sendo usado até então.

A campanha foi criada pela agênciaapostaganha brasilpublicidade AMV BBDO para a multinacional sueca Essity. A agência indicou que uma pesquisa havia concluído que 74% das pessoas queriam ver uma representação mais honesta nos anúncios.

O comercial também mostrava uma mulher no chuveiro com sangue correndo pelas pernas e um homem comprando absorventes higiênicos.

Propagandoapostaganha brasilabsorvente com tinha vermelha representando sangue

Crédito, Bodyform

Legenda da foto, O usoapostaganha brasillíquido vermelho (no lugar do azul)apostaganha brasilcomerciaisapostaganha brasilabsorventes atendeu aos anseios das pessoas por representações mais honestas nos anúncios

Na Suécia, falar dos períodos menstruais era cada vez mais comum, mesmo nos ambientes dominados pelos homens.

A primeira empresa sueca certificada como "localapostaganha brasiltrabalho amigo da menstruação" foi uma start-upapostaganha brasilaplicativos esportivosapostaganha brasilGotemburgo chamada Forza Football. Para obter o certificado, a empresa foi avaliada pela organização sem fins lucrativos Mensen, criada durante a ondaapostaganha brasilativismo contra a estigmatização da menstruação.

Entre as medidas introduzidas pela start-up estava o fornecimentoapostaganha brasilabsorventes higiênicos internos e externos gratuitos e capacitação dos funcionários sobre como a menstruação pode afetar mais algumas pessoas do que outras.

"Um dos gruposapostaganha brasiltrabalho da nossa empresa ajustou seu trabalhoapostaganha brasilfunção do ciclo menstrualapostaganha brasiluma das participantes, ao perceber que, desta forma, eles seriam mais eficazes", segundo o CEO (diretor-executivo) da Forza Football, Patrik Arnesson. "Acredito que este seja um exemplo perfeitoapostaganha brasilcomo o conhecimento dos ciclosapostaganha brasiluma pessoa pode tornar o localapostaganha brasiltrabalho mais produtivo."

ilustração com menina sentindo cólica menstrual

Crédito, Ilustraçãoapostaganha brasilLotta Sjöberg

Legenda da foto, Ilustração do livro da organização Mensen "Mensmegafonens bok om mens" ("O megafone da menstruação",apostaganha brasiltradução livre), que é uma ferramenta educativa para os jovens

Da mesma forma que os desenhosapostaganha brasilStrömquist, o projeto dividiu os suecos. "Não acredito, sinceramente, que meu período menstrual seja assunto do meu chefe", disse Linda Nordlund, comentarista política do jornal sueco Expressen, à BBC.

"Acho que a ideiaapostaganha brasilque os corpos das mulheres são frágeis e emocionalmente instáveis é exatamente o mesmo argumento apresentado 100 anos atrás pelos homens que não queriam não dar às mulheres o direito ao voto. As mulheres devem ser vistas como profissionais no localapostaganha brasiltrabalho, sem que sejam reduzidas a um corpo feminino e seu funcionamento", afirma Nordlund.

A Mensen insiste que as pessoas nunca devem sentir-se obrigadas a falar sobre seus ciclos menstruais. A decisão deve ser pessoal.

Capa do livro "Mensmegafonens bok om mens" ("O megafone da menstruação",apostaganha brasiltradução livre), da organização Mensen.

Crédito, Ilustraçãoapostaganha brasilLotta Sjöberg

Legenda da foto, Capa do livro "Mensmegafonens bok om mens" ("O megafone da menstruação",apostaganha brasiltradução livre), da organização Mensen.

À medida que controvérsia inicial foi perdendo impacto, cada vez mais empresas começaram a anunciar iniciativas similares. Diversas start-ups introduziram sistemasapostaganha brasilassinaturaapostaganha brasilabsorventes higiênicos internos e externos para empresas. Em 2021, o próprio Exército sueco começou a distribuir absorventes entre as soldadas. E, neste mesmo ano, a Mensen foi chamada para assessorar cinco sindicatos importantes na Suécia.

"Mas ainda há muito a fazer", destaca Klinter. Uma áreaapostaganha brasilque os ativistas querem concentrar-se é a educação das crianças.

Quando começar?

A Suécia tem um longo históricoapostaganha brasileducação sexual obrigatória. Desde a décadaapostaganha brasil1950, os alunos geralmente aprendem sobre a menstruação com cercaapostaganha brasil10 anos,apostaganha brasilclassesapostaganha brasilgêneros mistos.

Mas menos da metade das mulheres com 16 a 21 anosapostaganha brasilidade consultadasapostaganha brasiluma pesquisa recente da Mensen respondeu que tinha conhecimento suficiente sobre a menstruação antes do seu primeiro período.

Anna Samuelsson (à dir.) e Maja Meurling (à esq.), autoras do livro "Liv Livmoder".
Legenda da foto, Anna Samuelsson (à dir.) e Maja Meurling (à esq.), autoras do livro "Liv Livmoder".

Algumas pessoas acham que as lições deveriam começar na pré-escola. Uma delas é a escritora Anna Samuelsson, que acabaapostaganha brasilescrever o primeiro livro da Suécia sobre menstruação para criançasapostaganha brasil3 a 6 anos. "As crianças pequenas são muito observadoras", afirma ela.

E, a julgar pelo que declarou à BBC uma das mães após ler o livroapostaganha brasilum centro cultural, Samuelsson tem razão. "Minha filha está muito interessada na menstruação e vinha fazendo uma porçãoapostaganha brasilperguntas que eu realmente não sabia como responder." Jáapostaganha brasilfilha Mila,apostaganha brasil5 anos, achou que "o livro é muito interessante porque fala sobre o corpo".

A personagem principal chama-se Liv devido a livmoder, a palavra sueca para útero. "No livro, também conhecemos todos os amigos do útero: a vagina, o cérebro e o hormônio. Eles brincam dentro do corpo. E,apostaganha brasilrepente, um dia o útero sente que algo está acontecendo e temapostaganha brasilprimeira menstruação."

Calcinha manchadaapostaganha brasilsangue

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A educação das crianças sobre a menstruação é uma preocupação dos ativistas e especialistas.

O livro já vendeu milharesapostaganha brasilcópias desde que foi publicadoapostaganha brasil2019 e acabaapostaganha brasilser relançado. A reação dos principais meiosapostaganha brasilcomunicação foi positiva, ao contrárioapostaganha brasilalguns fóruns online.

Para a estudiosaapostaganha brasildesestigmatização Louise Clint, nunca é cedo demais para começar a falar do tema. "Em muitos lugares do mundo, as meninas começam a menstruar com 9 anosapostaganha brasilidade. Muitas vezes, elas não têm ideia do que está acontecendo e pensam que estão morrendo. É horrível! Quanto mais pudermos normalizar a menstruação, mais poderemos eliminar todos os outros estigmas relacionados (a ela)."

Ecos do passado

O custo dos produtos é outra prioridade para os ativistas. Embora a Suécia seja um país rico onde a maioria das pessoas pode pagar pelos absorventes internos e externos, os ativistas afirmam que torná-los mais baratos garante que a sociedade os veja como produtos essenciais.

Ativista com cartaz dizendo "Nós sangramos e votamos"apostaganha brasilum protesto contra os impostos sobre os produtosapostaganha brasilhigiene menstrualapostaganha brasilKatmandu, no Nepal, no dia 6apostaganha brasiloutubroapostaganha brasil2021.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Ativista com cartaz dizendo "Nós sangramos e votamos"apostaganha brasilum protesto contra os impostos sobre os produtosapostaganha brasilhigiene menstrualapostaganha brasilKatmandu, no Nepal, no dia 6apostaganha brasiloutubroapostaganha brasil2021.

Mas, embora outros países como França, Índia, Irlanda e Inglaterra estejam reduzindo ou eliminando impostos e a Escócia os ofereça gratuitamente, a Suécia não seguiu a mesma tendência: os produtos menstruais são taxados com 25%apostaganha brasilimpostos.

E, falandoapostaganha brasilimpostos, você se lembra dos debates sobre o usoapostaganha brasildinheiro público para projetos culturais devido às obrasapostaganha brasilLiv Strömquist no metrô?

Em 2019, uma coalizão liderada pelos nacionalistas Democratas da Suécia, que governam a cidade costeiraapostaganha brasilSölversborg, anunciou que deixariaapostaganha brasilcomprar o que chamouapostaganha brasil"arte contemporânea desafiadora".

A ceramista Linnea Håkansson havia sido convidada a participarapostaganha brasiluma exposição municipal. Mas, quando disse aos funcionários municipais que planejava mostrar fluxos menstruais, ouviui o argumentoapostaganha brasilque a exposição "não poderiam ser tão política".

Os organizadores recusaram o pedidoapostaganha brasilentrevista apresentado pela BBC, mas um porta-voz dos Democratas da Suécia enviou uma nota afirmando que as obrasapostaganha brasilHåkansson eram um exemplo do tipoapostaganha brasilarte que eles não acreditam contar com apoio dos contribuintes.

"Não entendo por que esse sangue é tão difícilapostaganha brasilaceitar na arte", afirma a artista. "Existem muitos exemplos, como Jesus na cruz e as batalhas sangrentas. Mas não conseguimos aceitar o sangue menstrual. Por algum motivo, as pessoas pensam que ele é repulsivo."

Manequinsapostaganha brasilLinnea Håkansson

Crédito, Renudes

Legenda da foto, Os fluxos menstruaisapostaganha brasilLinnea Håkansson: "arte contemporânea desafiadora".

'Arte menstrual'

Assim como as imagensapostaganha brasilStrömquist no metrô, a polêmicaapostaganha brasilSölversborg alimentou os debates sobre a menstruação na Suécia.

Anualmente, um grupo dos principais linguistas do país, denominado Conselho do Idioma Sueco, publica uma listaapostaganha brasilpalavras que se tornaram parte da conversação diária. Em 2019, uma dessas palavras foi menskonst, traduzida literalmente como "arte menstrual" — embora ela tenha começado a ser utilizada para denominar aquilo que os críticos consideram feminista demais ou radical.

Em breve, caberá a outro município, Halmstad, exibir a obraapostaganha brasilHåkanssonapostaganha brasiluma exposição pública sobre a arte da menstruação.

"Visualizar as coisas é muito importante para desestigmatizar. Quando conseguimos nos ver na cultura eapostaganha brasiloutras coisas, nós normalizamos as coisas e podemos começar a lidar com esse estigma internalizado com o qual fomos criadas", afirma Klinter.

Apesar dos progressos já alcançados, a Suécia continua muito longe da utopiaapostaganha brasilLiv Strömquist. Para muitos, ainda é muito incômodo falar sobre a menstruação.

*Esta reportagem da BBC News Mundo (o serviçoapostaganha brasilespanhol da BBC) é uma adaptação do documentário do Serviço Mundial da BBC "Only bleeding: how Swedes opened up about periods" ("Apenas sangrando: como os suecos se abriram para a menstruação",apostaganha brasiltradução livre). Ouça aqui o documentário (em inglês) na formaapostaganha brasilpodcast no site BBC Sounds.

raya

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