'Estou apenas sangrando': como suecas tentam acabar com estigma da menstruação:vbet linha
"Para mim, pessoalmente, a menstruação sempre havia sido algo muito doloroso e vergonhoso. Não podia falar com ninguém a respeito", segundo a artista. "Achei que seria interessante explorar a menstruação como algo que estávbet linhatoda a sociedade: como um sentimentovbet linhavergonha por uma experiência tão natural vivida pela metade da humanidade,vbet linhavezvbet linhainterpretá-lavbet linhaalguma forma psicológica pessoal."
A ideia era que as patinadorasvbet linhaStrömquist enfatizassem a ideiavbet linhauma sociedadevbet linhaque a menstruação não fosse razão para um estigma.
O impacto
As imagens causaram forte debate na imprensa local e global, bem como nas redes sociais.
"É um pouco chocante ter essas imagensvbet linhaum espaço público como o metrô. Acho que évbet linhamau gosto", declarou na época à BBC uma mulher no tunnelbana. Um homem disse: "talvez você me chamevbet linhaconservador ou intolerante, mas para mim é uma aberração".
Houve quem se manifestasse atirando tinta sobre as obras. Políticos da oposiçãovbet linhadireita argumentaram que expor essas obrasvbet linhapúblico seria uso inapropriadovbet linhadinheiro público.
Já outras pessoas ficaram encantadas. "Acho genial. E também meio divertido", opinou outro homem no metrô. "Para mim, são intrigantes. É algo muito natural. É genial, deveria haver mais obras assim!", declarou uma mulher.
Por que esconder o absorvente?
A Suécia normalmente é considerada um dos países mais feministas do mundo, com licenças-maternidade generosas, cuidado infantil acessível e um históricovbet linhamulheres na política. As controvérsias sobre a arte no metrô foram um sinalvbet linhaque, até na Suécia, os tabus milenares sobre a menstruação continuam presentes. Mas também foram um sinalvbet linhaque as coisas estão mudando.
"O atovbet linhaexpor essas obrasvbet linhaarte significava que havia iniciativas vindasvbet linhacima indicando que não havia problemasvbet linhaexibir a menstruaçãovbet linhaum local público para que as pessoas a vissem todos os dias", ressalta Louise Klinter, da Universidadevbet linhaLund, na Suécia, que investigou o estigma criado sobre a menstruação.
A exposição no metrô chamou atenção da mídia internacional. Strömquist já havia abordado o tema dois anos antesvbet linhaum programavbet linharádio, que também foi um catalisador importante. Ela comentou como achava estranho não poder falar abertamente sobre menstruação e coisas tão presentes no cotidianovbet linhamulheres como o hábitovbet linhatrocar absorventes.
"Foi um podcast muito popular, também ouvido por pessoas mais idosas, que não necessariamente recebem esse tipovbet linhamensagem sobre a desestigmatização da menstruação", relembra ela.
Na segunda metade da décadavbet linha2010, o tema estava "quente" no país, sendo abordadovbet linhaexposições artísticas e atévbet linhamusicais no Teatro Nacional.
"[A menstruação] começou a aparecer por toda parte, houve uma forte mudança na formavbet linhaanúncio dos produtos e a linguagem foi completamente renovada, visual e verbalmente", afirma Strömquist.
De azul para vermelho
Em 2017, uma ousada campanha publicitáriavbet linhaabsorventes higiênicos utilizou líquido vermelho para retratar o sangue menstrual —vbet linhavezvbet linhaum líquido azul que vinha sendo usado até então.
A campanha foi criada pela agênciavbet linhapublicidade AMV BBDO para a multinacional sueca Essity. A agência indicou que uma pesquisa havia concluído que 74% das pessoas queriam ver uma representação mais honesta nos anúncios.
O comercial também mostrava uma mulher no chuveiro com sangue correndo pelas pernas e um homem comprando absorventes higiênicos.
Na Suécia, falar dos períodos menstruais era cada vez mais comum, mesmo nos ambientes dominados pelos homens.
A primeira empresa sueca certificada como "localvbet linhatrabalho amigo da menstruação" foi uma start-upvbet linhaaplicativos esportivosvbet linhaGotemburgo chamada Forza Football. Para obter o certificado, a empresa foi avaliada pela organização sem fins lucrativos Mensen, criada durante a ondavbet linhaativismo contra a estigmatização da menstruação.
Entre as medidas introduzidas pela start-up estava o fornecimentovbet linhaabsorventes higiênicos internos e externos gratuitos e capacitação dos funcionários sobre como a menstruação pode afetar mais algumas pessoas do que outras.
"Um dos gruposvbet linhatrabalho da nossa empresa ajustou seu trabalhovbet linhafunção do ciclo menstrualvbet linhauma das participantes, ao perceber que, desta forma, eles seriam mais eficazes", segundo o CEO (diretor-executivo) da Forza Football, Patrik Arnesson. "Acredito que este seja um exemplo perfeitovbet linhacomo o conhecimento dos ciclosvbet linhauma pessoa pode tornar o localvbet linhatrabalho mais produtivo."
Da mesma forma que os desenhosvbet linhaStrömquist, o projeto dividiu os suecos. "Não acredito, sinceramente, que meu período menstrual seja assunto do meu chefe", disse Linda Nordlund, comentarista política do jornal sueco Expressen, à BBC.
"Acho que a ideiavbet linhaque os corpos das mulheres são frágeis e emocionalmente instáveis é exatamente o mesmo argumento apresentado 100 anos atrás pelos homens que não queriam não dar às mulheres o direito ao voto. As mulheres devem ser vistas como profissionais no localvbet linhatrabalho, sem que sejam reduzidas a um corpo feminino e seu funcionamento", afirma Nordlund.
A Mensen insiste que as pessoas nunca devem sentir-se obrigadas a falar sobre seus ciclos menstruais. A decisão deve ser pessoal.
À medida que controvérsia inicial foi perdendo impacto, cada vez mais empresas começaram a anunciar iniciativas similares. Diversas start-ups introduziram sistemasvbet linhaassinaturavbet linhaabsorventes higiênicos internos e externos para empresas. Em 2021, o próprio Exército sueco começou a distribuir absorventes entre as soldadas. E, neste mesmo ano, a Mensen foi chamada para assessorar cinco sindicatos importantes na Suécia.
"Mas ainda há muito a fazer", destaca Klinter. Uma áreavbet linhaque os ativistas querem concentrar-se é a educação das crianças.
Quando começar?
A Suécia tem um longo históricovbet linhaeducação sexual obrigatória. Desde a décadavbet linha1950, os alunos geralmente aprendem sobre a menstruação com cercavbet linha10 anos,vbet linhaclassesvbet linhagêneros mistos.
Mas menos da metade das mulheres com 16 a 21 anosvbet linhaidade consultadasvbet linhauma pesquisa recente da Mensen respondeu que tinha conhecimento suficiente sobre a menstruação antes do seu primeiro período.
Algumas pessoas acham que as lições deveriam começar na pré-escola. Uma delas é a escritora Anna Samuelsson, que acabavbet linhaescrever o primeiro livro da Suécia sobre menstruação para criançasvbet linha3 a 6 anos. "As crianças pequenas são muito observadoras", afirma ela.
E, a julgar pelo que declarou à BBC uma das mães após ler o livrovbet linhaum centro cultural, Samuelsson tem razão. "Minha filha está muito interessada na menstruação e vinha fazendo uma porçãovbet linhaperguntas que eu realmente não sabia como responder." Jávbet linhafilha Mila,vbet linha5 anos, achou que "o livro é muito interessante porque fala sobre o corpo".
A personagem principal chama-se Liv devido a livmoder, a palavra sueca para útero. "No livro, também conhecemos todos os amigos do útero: a vagina, o cérebro e o hormônio. Eles brincam dentro do corpo. E,vbet linharepente, um dia o útero sente que algo está acontecendo e temvbet linhaprimeira menstruação."
O livro já vendeu milharesvbet linhacópias desde que foi publicadovbet linha2019 e acabavbet linhaser relançado. A reação dos principais meiosvbet linhacomunicação foi positiva, ao contráriovbet linhaalguns fóruns online.
Para a estudiosavbet linhadesestigmatização Louise Clint, nunca é cedo demais para começar a falar do tema. "Em muitos lugares do mundo, as meninas começam a menstruar com 9 anosvbet linhaidade. Muitas vezes, elas não têm ideia do que está acontecendo e pensam que estão morrendo. É horrível! Quanto mais pudermos normalizar a menstruação, mais poderemos eliminar todos os outros estigmas relacionados (a ela)."
Ecos do passado
O custo dos produtos é outra prioridade para os ativistas. Embora a Suécia seja um país rico onde a maioria das pessoas pode pagar pelos absorventes internos e externos, os ativistas afirmam que torná-los mais baratos garante que a sociedade os veja como produtos essenciais.
Mas, embora outros países como França, Índia, Irlanda e Inglaterra estejam reduzindo ou eliminando impostos e a Escócia os ofereça gratuitamente, a Suécia não seguiu a mesma tendência: os produtos menstruais são taxados com 25%vbet linhaimpostos.
E, falandovbet linhaimpostos, você se lembra dos debates sobre o usovbet linhadinheiro público para projetos culturais devido às obrasvbet linhaLiv Strömquist no metrô?
Em 2019, uma coalizão liderada pelos nacionalistas Democratas da Suécia, que governam a cidade costeiravbet linhaSölversborg, anunciou que deixariavbet linhacomprar o que chamouvbet linha"arte contemporânea desafiadora".
A ceramista Linnea Håkansson havia sido convidada a participarvbet linhauma exposição municipal. Mas, quando disse aos funcionários municipais que planejava mostrar fluxos menstruais, ouviui o argumentovbet linhaque a exposição "não poderiam ser tão política".
Os organizadores recusaram o pedidovbet linhaentrevista apresentado pela BBC, mas um porta-voz dos Democratas da Suécia enviou uma nota afirmando que as obrasvbet linhaHåkansson eram um exemplo do tipovbet linhaarte que eles não acreditam contar com apoio dos contribuintes.
"Não entendo por que esse sangue é tão difícilvbet linhaaceitar na arte", afirma a artista. "Existem muitos exemplos, como Jesus na cruz e as batalhas sangrentas. Mas não conseguimos aceitar o sangue menstrual. Por algum motivo, as pessoas pensam que ele é repulsivo."
'Arte menstrual'
Assim como as imagensvbet linhaStrömquist no metrô, a polêmicavbet linhaSölversborg alimentou os debates sobre a menstruação na Suécia.
Anualmente, um grupo dos principais linguistas do país, denominado Conselho do Idioma Sueco, publica uma listavbet linhapalavras que se tornaram parte da conversação diária. Em 2019, uma dessas palavras foi menskonst, traduzida literalmente como "arte menstrual" — embora ela tenha começado a ser utilizada para denominar aquilo que os críticos consideram feminista demais ou radical.
Em breve, caberá a outro município, Halmstad, exibir a obravbet linhaHåkanssonvbet linhauma exposição pública sobre a arte da menstruação.
"Visualizar as coisas é muito importante para desestigmatizar. Quando conseguimos nos ver na cultura evbet linhaoutras coisas, nós normalizamos as coisas e podemos começar a lidar com esse estigma internalizado com o qual fomos criadas", afirma Klinter.
Apesar dos progressos já alcançados, a Suécia continua muito longe da utopiavbet linhaLiv Strömquist. Para muitos, ainda é muito incômodo falar sobre a menstruação.
*Esta reportagem da BBC News Mundo (o serviçovbet linhaespanhol da BBC) é uma adaptação do documentário do Serviço Mundial da BBC "Only bleeding: how Swedes opened up about periods" ("Apenas sangrando: como os suecos se abriram para a menstruação",vbet linhatradução livre). Ouça aqui o documentário (em inglês) na formavbet linhapodcast no site BBC Sounds.
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