Mortecaça niquelGeorge Floyd: as semelhanças entre 2020 e o histórico anocaça niquel1968 nos EUA:caça niquel
Durante os anos 1950 e 1960, o movimento negro se articulou sob lideranças como Martin Luther King Jr. e Malcom X para lutar por bandeiras como os direitos civis e o fim da segregação racial nos Estados Unidos, oficial pelo menos desde o fim da escravidão,caça niquel1865. Em 1964, uma lei passou a proibir que brancos e negros fossem separadoscaça niquelescolas ou no transporte públicos. E,caça niquel1965, os Estados Unidos aboliram restrições ao direito ao voto, como contribuição fiscal ou nívelcaça niquelescolaridade, que na prática impediam a participação política da população negra.
Em 1968, Luther King expandiu o escopo do movimento e engrossou fileiras contra a Guerra do Vietnã, que naquele momento matava maiscaça niquelmil soldados americanos por mês. Mas,caça niquelabrilcaça niquel1968, o próprio Luther King foi assassinado com um tirocaça niquelfuzil no rosto pelo supremacista branco James Earl Rey, mais tarde condenado pelo crime. O assassinato foi o estopim para manifestaçõescaça niquelmaiscaça niquelcem cidades. O movimento popular chegaria a seu augecaça niquelagosto daquele ano, com cenascaça niquelbatalha campal entre manifestantes e a políciacaça niquelChicago, que resultoucaça niquelmaiscaça niquel600 civis e 130 policiais feridos.
Thompson enumera algumas das semelhanças entre 1968 e 2020. "Assim como agora, os protestoscaça niquel1968 foram motivados pela desigualdade racial, mas também pela injustiça econômica e incompetência das autoridades, como na guerra do Vietnã. Em 1968, as pessoas sentiram que era horacaça niqueldar um basta, como vemos agora. O movimento era muito energizado por jovens, como agora. E, comocaça niquel1968, os protestoscaça niquel2020 vão aumentandocaça niquelcidadecaça niquelcidade e parece que não há fim", afirmou.
Há ainda uma sériecaça niquelparalelos possíveis entre 1968 e 2020: os questionamentos sobre os métodoscaça niquelmanifestação, as divisões dentro do movimento negro, o ambiente pré-eleitoral e a disseminaçãocaça niquelinformações pelos meioscaça niquelcomunicação - no primeiro caso a televisão, no segundo, as redes sociais.
"O ano mais traumático na história moderna dos Estados Unidos foi 1968. O segundo mais traumático é 2020, mas ainda faltam sete meses para ele terminar", resume James Fallows, correspondentecaça niquelassuntos nacionais da revista americana The Atlantic.
Protesto pacífico ou violência e saques?
As manifestações da última semana se apresentaramcaça niquelmuitas formas. Em Denver, capital do Estado do Colorado, milharescaça niquelpessoas se deitaram na rua com o rosto colado ao chão, como Floyd foi morto, e gritaramcaça niquelcoro suas últimas palavras "eu não consigo respirar". Cena semelhante se repetiucaça niquelcidadescaça niquelMichigan e da Califórnia.
Em Baltimore, um protesto comandado pelo pastor Wetley West reuniu pessoas para se ajoelharem no chão e repetirem o nomecaça niqueldezenascaça niquelnegros mortos por policiais, sob o olhar da polícia. West desafiou um agente a também repetir os nomes das vítimas, o que ele fez. Ambos se cumprimentaram.
"Obrigado. Estou agradecido. Não viemos aqui para destruir nossa cidade. Só queremos que nossa voz seja ouvida", disse West ao policial, segundo reportagem do jornal Baltimore Sun. As palavras do pastor ecoam o desagradocaça niquelparte dos manifestantes com cenascaça niquelviolência, depredação e saques para os quais têm degringolado protestos inicialmente pacíficos.
Nos últimos cinco dias, os arredores da Casa Branca, sede do Executivo americano, tiveram centenascaça niquellojas e restaurantes parcialmente destruídos e saqueados. Aindacaça niquelWashington D.C., o monumento memorial ao ex-presidente Abraham Lincoln foi vandalizado - e na noitecaça niquelontem fortemente protegido pelo Exército - e o porão da Igreja St. John foi incendiado.
Em Los Angeles e Nova York, manifestantes pulavam sobre viaturas policiais que acabavam completamente destruídas.
Na tentativacaça niquelse adiantar aos ataques, comerciantes têm coberto a fachada dos estabelecimentos com tapumescaça niquelmadeiracaça niquelque eventualmente deixam recados aos manifestantes: "não sobrou nada para roubar".
Ao jornal The New York Times, o iraquiano Hussein Aloshani, donocaça niqueluma doceriacaça niquelMinneapolis, onde Floyd foi morto, passou a ficar na porta da loja implorando para que o local não fosse destruído. "Por favor, eu não tenho seguro", ele gritava.
Martin Luther King Jr., cujos métodoscaça niquelreivindicação previam desobediência civil e marchas não violentas, passou a ser lembrado para criticar os contornos violentos das marchas atuais,caça niqueluma leitura que especialistas afirmam ser errada do papel histórico do líder e divisiva para o movimento negro.
Emcaça niquelconta no Twitter, um dos filhoscaça niquelLuther King Jr., Martin Luther King III tentou refutar aqueles que se apropriaram das palavrascaça niquelseu pai para direcionar críticas a quem está nas ruascaça niquel2020: "Como meu pai sempre falou ao longo da vida, o motim é a vozcaça niquelquem não é escutado", escreveu King III.
Malcom X foi um dos principais defensorescaça niquelque a violênciacaça niquelprotestos não representava barbárie, mas sim autodefesa e uma forma legítimacaça niquelcomunicação.
Para a historiadora Thompson, no entanto, há um exagero na diferenciação entre Martin Luther King e Malcom X. "As pessoas diziam que Malcolm X queria violência e Martin Luther King queria não-violência. Simplesmente não é verdade. Malcolm X disse muito claramente que acreditavacaça niquelautodefesa, o que é muito diferentecaça niquelpregar a violência. Ele está dizendo que vai protegercaça niquelcomunidadecaça niquelvezcaça niqueldar a outra face. Ambos estão debatendo como responder à violência. E, neste caso, violência estatal. Portanto, a ideiacaça niquelque a violência é partecaça niqueluma ala específica do movimento negro faz parte do modo como escrevemos essa história e não é necessariamente a verdade", afirma Thompson.
Malcolm X, no entanto, não chegou a ver os levantescaça niquel1968, já que foi assassinadocaça niquel1965. Curiosamente, a mortecaça niquelLuther King ajuda a determinar o surgimento ou fortalecimentocaça niquelmovimentos negros que usam da violência como instrumento. Os Panteras Negras, por exemplo, adotaram esse caminho e passaram a instituir uma patrulhacaça niquelcidadãos negros armados para supervisionar a abordagem policial a negros nas ruas das cidades americanas e reagir caso julgassem necessário.
Em 1968, as manifestações foram pacíficas - com festivaiscaça niquelmúsica - mas também violentas - alémcaça niquelquebra-quebra nas ruas, saques, eventuais tiroteios, houve até mesmo o sequestrocaça niquelpessoas "para transmitir uma mensagem": foi o que fizeram estudantes da Universidade Columbia que, para denunciar práticas racistas, fizeram cárcere privadocaça niqueltrês funcionários da instituição por 24 horas.
Nos atuais protestos, existe uma carênciacaça niquelliderança clara, mas alémcaça niquelmovimento antirracismo, há ainda atuaçãocaça niquelsegmentos adeptos a violência como grupos anarquistas e antifascistas, declarados terroristas nos últimos dias pelo presidente americano Donald Trump via Twitter.
"As pessoas estão cansadascaça niquelserem intimidadas e assassinadas pela polícia, especialmente os negros. É isso o que você obtém quando trata as pessoas assim. Anarquia", afirmou ao The New York Times o manifestante Don Hubbard,caça niquel44 anos, que vivecaça niquelMinneapolis.
Há ainda, tantocaça niquel1968 quantocaça niquel2020, a acusação recorrentecaça niquelque brancoscaça niquelorganizações fascistas ecaça niquelultra-direita poderiam estar por tráscaça niquelparte dos atoscaça niquelvandalismo vistos nos protestos.
Cartas trocadas pelos diretores da CIA e do FBIcaça niquel1967 e divulgadas apenas três anos atrás mostram que as forçascaça niquelsegurança já diziam que distúrbios violentoscaça niquelmovimentos negros por direitos civis costumavam ser açãocaça niquelalguma das quatro principais organizaçõescaça niquelsupremacistas brancos que atuavam nos Estados Unidos naquele momento.
Agora, há novas evidências a indicar interferência desses grupos nas manifestações. Nesta segunda, o Twitter tirou do ar uma contacaça niquelum suposto grupo antifascista americano que incitava as pessoas a saquearem áreascaça niquelmaioria branca no país. De acordo com a plataforma, o perfil era falso e pertencia a um grupocaça niquelsupremacistas brancos.
Trump tenta repetir efeito Nixon
Para a historiadora Thompson, os protestoscaça niquel1968 foram entendidos naquele momento como quebra da ordem social. "As pessoas não viram os atos como estratégicos para defender direitos. Olhamos para Chicago, 68, e dissemos: 'Oh meu Deus, os manifestantes antiguerra são tão violentos, os estudantes são muito violentos, ou os manifestantes negros dos direitos civis são tão violentos'."
Uma pesquisacaça niquelopinião pública do Instituto Gallup feita pouco depois do protestocaça niquelagostocaça niquel1968caça niquelChicago mostrou que 56% da população aprovou a dura repressão policial ao ato e apenas 14% dos respondentes concordavam que os manifestantes tiveram cerceado seu direito a se posicionar.
A campanha do republicano Richard Nixon entendeu o sentimento dos eleitores e ele passou a se apresentar como o candidato da "lei e da ordem" e o representante da "maioria silenciosa" que na pesquisa admitia incômodo com os levantes. A bandeira contra a desordem foi um fator decisivo para a vitóriacaça niquelNixon na corrida pela Casa Branca naquele ano.
A cinco mesescaça niquelenfrentar as urnas para tentar a reeleição, Trump está afinado com a estratégia Nixon. Nos últimos três dias, ele foi várias vezes ao Twitter repetir o slogan "lei e ordem" e,caça niquelpronunciamento à nação, se colocou como o braço forte contra o caos social, inclusive mencionando que lançaria mão do Exército se prefeitos e governadores falhassemcaça niquelconter manifestações violentas. Nesta terça-feira, Trump tuitou a expressãocaça niquelNixon, "maioria silenciosa".
"Ele percebeu uma janelacaça niqueloportunidade política,caça niquelabraçar essa bandeira que pode ser popular com muita gente. Trump está atravessando duas crises históricas: a econômica e a sanitária. Se depender desse cenário, ele perde. Então se ele puder ficar até novembro falandocaça niquel"lei e ordem" e condenando protestos, ele tem uma chance. Esse é o ambientecaça niquelque ele prospera", avalia o professorcaça niquelrelações internacionais da Faap Carlos Gustavo Poggio, especialistacaça niquelhistória política americana.
Trump também já chamou os manifestantescaça niquel"bandidos" e afirmou via Twitter: "quando os saques começam, os disparos começam". A frase não é original do atual presidente. Ela foi ditacaça niquel1967 pelo chefe da políciacaça niquelMiami Walter Hedley, durante um depoimento a autoridades que o questionaram sobre suas ações diantecaça niquelprotestos pelos direitos civis dos negros. Na mesma ocasião ele ainda afirmou: "eu não me importocaça niquelser acusadocaça niquelbrutalidade policial".
Especialistas afirmam que,caça niquelvezcaça niquelacalmar os ânimos nas ruas, as açõescaça niquelTrump tem levado à escalada no tamanho dos protestos e na violência. "As pessoas estão na rua pedindo Justiça e até agora nenhuma autoridade anunciou qualquer mudançacaça niquelcomo os casoscaça niquelviolência policial são investigados e julgados. Não temos uma liderança capazcaça niquelacalmar as ruas. Na verdade, Trump inflama as pessoas", diz Thompson. A impunidade para policiais acusadoscaça niquelmatar negros foi a tônica nos últimos anos, mesmocaça niquelcasos rumorosos, como ocaça niquelEric Garner, estrangulado e mortocaça niqueluma abordagem policialcaça niquel2014caça niquelNova York por vender cigarros não certificados.
Segundo Thompson, outra vez se coloca a questão da narrativa. "Se esses protestos forem entendidos como caóticos, violentos e sem propósito, então fica mais fácil para o eleitor dizer:'sou a favor dos direitos civis, mas esse povo na rua é só um bandocaça niquellouco queimando tudo, então vou votar no Trump'", diz a historiadora.
Há, no entanto, diferenças importantes entre Nixon e Trump. A começar pelo fatocaça niquelque Trump já é o presidente. Já Nixon era o candidatocaça niqueloposição ao presidente democrata Lyndon Johnson, tão impopular que àquela altura havia desistido do concorrer à reeleição. "Trump pode vir a ser responsabilizado pela má condução da crise e pelas políticas que levaram à revolta social", diz Thompson.
Uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos e pela Agência Reuters nas últimas segunda e terça mostrou a ambivalência da situação. Se por um lado, 64% dos americanos se disseram simpáticos aos manifestantes e 55% desaprovavam a respostacaça niquelTrump, 75% disseram que a violência nos protestos enfraquecia o pleito das manifestações e que apoiavam atos pacíficos.
Outro aspecto relevante é o tempo. Os protestoscaça niquel1968 aconteceram pouco maiscaça niqueldois meses antes da eleição, enquanto que agora há quase um semestre até que os americanos compareçam às urnas. "É muito tempo pra segurar com esse discurso, mas pode ser que os protestos ajudem a tirar o foco dos outros problemas agora e, secaça niquelagosto a economia começar a reagir, pode ser que a estratégia funcione. De qualquer maneira, nada é certo e o movimento é arriscado. Mas a história nos serve como um guia", diz Poggio.
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